S.H.I.E.L.D.: Guerreiros Secretos (Marvel 717 2) escrita por scararmst


Capítulo 25
Onda de Choque




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Mack era um homem simples, que gostava de coisas simples e situações simples. Robôs não eram simples. Nem fantasmas e, definitivamente, nem zumbis. Zumbis controlados por um experimento esquisito, então, pior ainda. Quando os soldados começaram a se levantar, alguns com pernas e braços quebrados em ângulos estranhos demais para serem capazes de ficar de pé, Mack percebeu o tamanho do problema.

— Agente Ngozi! — Ele continuou chamando no comunicador, levantando a escopeta e mirando no zumbi mais próximo.

Excelente. Ali estava ele, dando tiros de escopeta em uma horda zumbi como se estivesse dentro de um videogame. Quando pensava que nada de novo ia lhe acontecer na S.H.I.E.L.D….

— Agente Ngozi, responda! O que raios está acontecendo nessa base?

— Mack? — Hunter chamou, a arma I.C.E.R. clicando sem munição. Ele tirou a arma de munição de pólvora do coldre, começando a atirar nos joelhos e nas pernas dos soldados, mas isso não parecia estar ajudando nem metade do quanto deveria.

Mack resmungou, apertando o comunicador insistentemente e tentando atirar em qualquer lugar dos zumbis o qual pudesse mantê-los no chão. Pés, pernas, tentou de tudo, mas não demorou para a horda ficar grande o bastante para começar a pressionar a dupla para o fundo da sala. Vários recuperaram suas armas. Mack arrancou a perna inteira de um dos zumbis com um tiro, e ele continuou se contorcendo no chão, tentando se levantar.

O diretor já não sabia mais se atirava ou apertava o comunicador, e começava a considerar um plano de fuga em sua cabeça. Não fosse por Theo, poderiam ter saído e vivido para lutar mais um dia, mas não sabia se o garoto estava estabilizado o suficiente para ser movido até o avião, e até isso acontecer, precisavam manter o local seguro. Uma tarefa na qual vinham falhando de maneira espetacular.

Os dois acabaram recolhidos de volta à frente das portas do fundo do armazém, ambos começando a ficar sem munição, mas sem dizer em voz alta. Não precisavam dos zumbis sabendo disso, e com certeza não queriam admitir a si mesmos para não tornar a situação real demais. E enquanto Mack trocava mais cartuchos em sua escopeta, enfim ouviu o ruído de estática no comunicador e a voz que tanto esperava ouvir.

— Aqui é a agente Ngozi, eu escuto. Me desculpe, tivemos um problema com…

— Depois! — Mack cortou. O que quer que tivesse acontecido na base poderia ser lidado depois. A situação agora era de vida ou morte. — Precisamos de um jeito de derrubar uma horda de zumbis! Atirar nas pernas não está ajudando muito…

Mack conseguiu ouvir a exclamação confusa de Niko do outro lado da linha, mas torceu para ela não ficar remoendo muito a situação e só começar a resolver logo o problema deles.

— Ok. Zumbis. Entendi. Infernos, fui parar num filme de terror e ninguém me avisou?

Mack recarregou a escopeta. Se ela achava que estava em um filme de terror, imagine ele, quem pessoalmente estava a cargo de atirar em zumbis. Já estava com as costas coladas na parede e tinha desistido de um mínimo de senso. Não ia ter jeito. Era ou os zumbis, ou eles.

Bastou o primeiro tiro na cabeça para Hunter seguir seu exemplo, mirando nas testas dos adversários. Esses, sim, caíam e não se levantavam mais, mas não era necessário um gênio matemático para perceber que a munição não bastaria para todos eles. Além disso, fazer esforço para atirar nos zumbis armados antes deles atirarem em si, em um campo aberto como aquele, com certeza estava resultando em desperdício de munição, pois nem sempre conseguiam mirar na cabeça de um deles com precisão.

— Tiro na cabeça funciona — Hunter comentou, apertando um comunicador. — Mas eles estão se armando aos poucos e não vamos ter munição pra sempre. Então…

— Só na cabeça? No peito não?

— Não. Eu tentei.

— Talvez sejam os neurônios. Funciona porque estão cortando a conexão com o cérebro… Tem outra coisa que pode dar certo pra isso. Eletricidade — disse Niko.

Eletricidade? Onde conseguiriam isso? Mack recarregou a escopeta com as últimas balas que tinha, mirando na cabeça de um zumbi no exato instante o qual o inimigo em questão mirou uma arma em sua perna, dando um tiro. Mack resmungou, levando a mão ao local e agradecendo profundamente por ter sido de raspão. Atirou na cabeça do zumbi sem demora depois. Um mar de corpos tinha começado a se formar entre eles e os zumbis e, se isso fosse impedir os inimigos de avançarem, então já servia de alguma coisa. Mas não era a solução definitiva. Eletricidade. Eletricidade…

Mack ergueu o rosto, visualizando M.O.D.O.K. no fundo da sala. Eletricidade! Se conseguissem acertá-lo com um surto elétrico forte o suficiente, era provável que as ordens disparadas por ele para os zumbis se perdessem. Mas para tanto, precisavam cancelar também o casulo de terrígeno.

— Mack — Hunter chamou, trocando o pente de sua arma. — Os bastões de Bobbi. Com eles eu consigo atravessar isso aqui e chegar em M.O.D.O.K.. Só vou precisar de uma forma de fazer a carga chegar nele.

O diretor disparou seu último tiro e a escopeta clicou, sem mais nenhuma bala dentro dela. Ele pensou por um instante, então tirou sua última pistola de pólvora do coldre, começando a recuar.

— Estou ficando sem munição!

— Tudo bem, busque os bastões da Bobbi pra mim, eu tenho bala pra aguentar! É só não demorar muito! “Comida de zumbi” não é bem como eu imaginei minha morte. Nada glorioso.

Também não era como Mack tinha imaginado a sua, mas tinha se imaginado aposentado tantas vezes e ignorado todas elas que mais uma surpresa violenta dessas não devia ser grande coisa.

— Já volto — Mack anunciou, disparando na cabeça de mais um zumbi antes de dar as costas e correr para dentro da sala de servidores.

Conseguia ouvir as vozes de Bobbi e Yo-Yo do andar de baixo, e subiu as escadas com a maior velocidade que conseguiu. As duas estavam agachadas sobre o corpo de Theo, Yo-Yo pressionando um tecido preto muito ensanguentado contra o abdômen dele enquanto Bobbi se encurvava sobre a ferida, com uma pequena caixa de primeiros socorros aberta ao seu lado. Ele parecia perigosamente pálido. Mack engoliu em seco, tentando se focar na missão. Uma coisa de cada vez. Se resolvessem aquilo, poderiam levar Theo para o avião. Dar a ele um atendimento adequado.

— Não pode correr com ele para o avião? — Mack perguntou, e Yo-Yo inclinou um pouco a cabeça em dúvida antes de responder.

— Não é uma ideia muito boa. Ele não está estável, levá-lo a uma velocidade tão alta assim pode piorar muito o estado dele. Sem falar no tempo que precisaria deixar ele sozinho lá enquanto venho buscar a Bobbi.

Mack conteve um resmungo; esse tipo de reação não ajudaria em nada. Tinha problemas demais e soluções de menos. Precisava pensar, uma coisa de cada vez.

Theo estava ferido e precisava de cuidados imediatos. Não podiam levá-lo ao avião com todos aqueles soldados da I.M.A. no armazém, não conseguiriam atravessar metade do local. E enquanto M.O.D.O.K. estivesse ali, seria impossível derrubar o exército de vez e, mesmo com os bastões de Bobbi, seria arriscado demais para Hunter lutar sozinho.

Mack enfiou a mão no bolso da jaqueta, tirando um pequeno binóculo e se aproximando da janela que dava para a área aberta do armazém. Seu coração estava disparando, mas já tinha estado em outras situações de pressão iguais ou piores que essa. Conseguia se focar no necessário, mesmo com medo de Theo parar de respirar a qualquer instante, ou Hunter ser dominado pelas hordas lá embaixo.

Não era nisso que precisava se focar. Ele deu zoom no binóculo, aproximando a visão o máximo possível de M.O.D.O.K.. De perto, a situação era ainda mais triste: conseguia ver o corpo de um humano comum debaixo daquela monstruosidade. Ele tinha sido alguém, talvez alguém com amigos e família, e Agnes havia destruído uma pessoa apenas para alcançar algum propósito doentio. E só descobririam esse propósito se conseguissem levá-lo de volta vivo, então precisava encontrar uma fraqueza, qualquer uma…

Naquele ângulo, Mack percebeu algo preso nos braços do homem. Canos da espessura de um de seus dedos, transportando um gás branco azulado diretamente para dentro do corpo dele.

De repente, tudo clicou na cabeça de Mack. Ele guardou o binóculo às pressas, correndo até a outra janela e analisando a outra sala do armazém, a de experimentos. Ela parecia conter uma quantidade de equipamentos médicos, o suficiente para fornecer um tratamento imediato mais adequado a Theo se pudessem levá-lo até lá. Mas isso dependia de um caminho livre, sem risco de levar uma bala perdida e piorar a situação. Mas ao menos agora, Mack sabia o que fazer, ou esperava saber.

— Eu tenho um plano — ele disse, abaixando-se ao lado das duas e pousando a mão no ombro de Yo-Yo. — Troque de lugar comigo. Eu vou ajudar Bobbi com Theo, preciso que você vá até o avião e busque uma bomba de pulso eletromagnético.

Yo-Yo franziu a testa, soltando a pressão sobre Theo para Mack fazê-la em seu lugar, mas sem ainda sair em direção ao avião. Parecia confusa. Mack sabia o porquê.

— O que eu devo fazer com uma bomba dessas?

— Você vai colocar ela atrás de M.O.D.O.K. e explodir. Isso vai desligar a cadeira dele e desnortear o exército zumbi.

— Mack, se eu fizer isso, vai desligar os meus braços. Eu não vou poder mais ajudar — ela explicou, ainda parecendo confusa, quase como se não entendesse porque Mack não estava pensando naquele detalhe.

Mas ele estava.

— Eu sei, mas Hunter vai. Quando sair daqui, leve os bastões de Bobbi até ele. Ele vai saber o que fazer. Sem cadeira, não tem proteção de terrígeno e podemos pegar ele de vez. Vá, Yo-Yo, rápido!

Ele não precisou pedir duas vezes. Yo-Yo se levantou, trocando um olhar breve com Mack, ainda sem conseguir ver toda a imagem do plano dele, mas sabendo que precisava confiar. E seria na base da confiança mesmo, pois não estava ansiosa para o quanto de dor ia sentir ao soltar essa bomba. Ainda assim, não fez mais perguntas. Apenas pegou os bastões nos coldres de Bobbi e correu.

Não era difícil para ela passar impune pelo armazém, e com certeza era angustiante ver Hunter se virando sozinho daquele jeito. Torcendo para Mack ter razão, ela se aproximou, vendo o mundo ao seu redor se mover em câmera lenta, e colocou os bastões nos coldres de Hunter, torcendo para ele perceber e pegá-los assim que possível. Ela lançou um único olhar pra os corpos no chão, vários com tiros na cabeça, e tantos outros com tiros nas pernas para não se levantarem. Havia uma poça de sangue considerável no chão, e Yo-Yo esperava que aquilo significasse um bom sinal da competência e capacidade de sobrevivência de Hunter, pois no momento não ficaria ali para ajudar.

Ela acelerou em direção ao avião, batendo em alguns soldados pelo caminho, mas se dando conta muito rápido de como seus golpes não adiantavam em nada para mantê-los no chão. Por fim desistiu, percebendo onde estavam suas esperanças. A inumana acelerou para fora do armazém, correndo pelo quarteirão e pelas ruas, seguindo o mais rápido que conseguiu na direção do avião. A meio caminho, seu tempo acabou, e ela precisou parar de correr. Mas começou de novo. E começaria quantas vezes fossem necessárias, até encontrar o que precisava.

Yo-yo chegou ao avião já com a respiração atravessada e forçada. Revirou as caixas às pressas, procurando a bomba e a encontrando sem muita dificuldade. Respirou fundo. Ainda precisava correr de volta.

Podia ir o quão longe quisesse no tempo de uma batida de coração. Voltar para a base levou três batidas, considerando a pausa para pegar um ar entre cada uma delas, e assim Yo-Yo continuou até estar de volta no armazém.

O tempo mal havia passado. Hunter estava um passo a mais para a frente, mas fora isso, tudo parecia igual. Não importava agora, ela tinha que terminar sua missão. Não era algo que queria fazer, já estava incomodada antes da hora, mas não tinha jeito. Ela se aproximou da cadeira, colocou a bomba no chão e, no mesmo instante, viu uma crosta de terrígeno começar a crescer muito devagar sobre a pele do homem na cadeira. Estava a pressentindo ali, ao seu lado, mas seria incapaz de reagir a tempo.

Yo-Yo apertou o botão.

Não conseguiria fugir do efeito nem se quisesse, mas estava pronta para o impacto. O pulso se alastrou em uma velocidade impressionante, e ela ouviu seus braços estalaram e desligarem ao mesmo tempo, ficando caídos e inúteis em sua frente. O desligar imediato também afetou as conexões das próteses com seu sistema nervoso, e Yo-Yo sentiu o corpo tremer e começar a convulsionar devagar.

Estava zonza. Caiu ao chão e tentou rolar para longe, gritando pela dor nos ombros, mas sabendo que apenas uma coisa era certa: não podia continuar ali. Hunter conseguiria resolver. Só precisava deixar nas mãos dele agora.

Céus. Estavam dependendo de Hunter.

— Díos mio…

Aos poucos, a visão de Yo-Yo se encheu de pontos escuros e ela perdeu a consciência.

[...]

Era sempre uma sensação curiosa receber algo de Yo-Yo em alta velocidade. Hunter sentiu o tranco nos quadris, se desequilibrou um pouco e quando enfim olhou em volta para tentar entender de onde tinha vindo o impacto, foi para ver os bastões de Bobbi alojados em seus coldres.

Ele sorriu. Terminou de descarregar as pistolas, já com poucas balas sobrando, e as largou no chão, tirando os bastões dos coldres. Hunter girou a base, ativando a função de choque deles, e avançou, enfiando a ponta do bastão na testa de um dos zumbis.

A eletricidade chilreou como um taser, estalando na cabeça do zumbi e o jogando no chão. Ele parou de se mexer; mal parecia estar respirando.

— Niko, sua geniazinha em miniatura — ele elogiou, o sorriso sádico se alargando em seu rosto.

Mais ou menos nesse instante, ele ouviu um pulso estático e os soldados todos gelaram no lugar. Hunter não sabia porquê, mas na situação onde se encontrava, não se daria ao luxo de procurar motivos e fazer perguntas. Ele girou o bastão nas mãos e atacou.

O estupor dos zumbis durou apenas alguns segundos, tempo o bastante para Hunter fritar a cabeça de mais dois, e então eles voltaram à ativa. Mas Hunter tinha uma vantagem em mãos: o que as armas não faziam, colocar os soldados no chão com um golpe, os bastões estavam fazendo com folga.

— Quem é Moisés pra abrir o Mar Vermelho agora? — Hunter brincou, espalhando pancadas com os bastões, usando os corpos de alguns dos zumbis desativados para se proteger de um ou outro engraçadinho que ainda tivesse uma arma.

E depois de tantos tiros, “mar vermelho” nem parecia muito longe da realidade, julgando a poça de sangue se espalhando no chão. Hunter continuou seu caminho fritando os soldados um a um, parado no lugar e deixando eles caminharem até si como os zumbis idiotas que eram, andando em direção à sua morte igual mosca voando na lâmpada.

Ele acertou a testa de um, agarrando o corpo dele em seguida e o abraçando em sua frente para usar como escudo. Dali, acertou um segundo que tentava atirar nele, jogando o corpo escudo por cima do homem a tempo de usar o outro bastão para acertar um terceiro. Aos poucos, Hunter avançou, e eles caíram.

E, finalmente, ali estava. A aberração de Agnes. Hunter esquadrinhou o fundo do armazém com os olhos por um instante, vendo Yo-Yo apagada em um canto e encolhida em posição fetal, com uma certa quantidade de fumaça saindo de seus braços. Isso não era bom. Não podia perder tempo, ela devia precisar de ajuda também.

— Com uma testa desse tamanho — Hunter comentou, aproximando-se em passos pesados e apertando os bastões em mãos. — Eu com certeza não vou errar.

E não errou, de fato. A cadeira estava desligada, e M.O.D.O.K. não conseguiu flutuar para longe. Hunter avançou, apontando os dois bastões para o homem, subindo em um dos braços da cadeira para dar altura e colando os bastões na testa dele.

M.O.D.O.K. resistiu, balançando a cadeira e grunhindo de dor. Hunter não ligou muito, girando mais a base dos bastões para tentar conseguir potência máxima. Precisou insistir por quase um minuto inteiro, o suficiente para ver um ou outro zumbi engraçadinho que não tinha sido eletrocutado direito tentar se levantar.

— Infernos, pare de resistir!

O homem gritou, balançando a cabeça para o lado, e o peso desequilibrou a cadeira, jogando Hunter no chão. Mas era o suficiente. Ele apagado, e olhando mais de perto, parecia até morto. Os poucos zumbis os quais tinham tentado se levantar no processo tombaram. Hunter suspirou, exausto, começando a sentir vários lugares doloridos no corpo à medida que a adrenalina começava a abaixar. Tinham vencido, certo? Era o fim?

Hunter levou a mão ao comunicador no ouvido, apertando-o e respirando fundo, tentando recuperar o ar.

— Venci — ele disse, sem nem saber quem tinha o atendido. — Mas acho que matei o bicho. Desculpa Mack, sei que você queria perguntar coisas pro negócio. Os zumbis estão todos apagados, mas não sei por quanto tempo. Temos de sair logo daqui.

— Como está a Yo-Yo? — Mack perguntou, e Hunter virou o rosto para encontrar a mulher caída ao seu lado.

— Mal. Acho que os braços dela fritaram.

Hunter ouviu um suspiro, e ele mesmo queria soltar um palavrão sonoro, então não tinha como culpar a reação. Esperou mais um tempo depois da comunicação cortada, e virou o rosto para o banho de sangue ao seu lado. Estava ficando nojento demais até para Hunter. Não queria continuar ali. Vai que um zumbi levantava de novo.

— E então?

— Agnes apagou os servidores — Mack respondeu. — Vamos embora de mãos abanando, mas pelo menos saímos com vida. Theo está estável. Você consegue trazer o avião aqui perto sozinho?

— Tá brincando? Eu era do Serviço Aéreo-Espacial.

— Não foi o que eu quis di...

Hunter desligou e se colocou de pé, guardando os bastões nos coldres e apertando um ponto dolorido no lado da coluna. Queria tirar o colete para dar uma olhada, mas isso era uma péssima ideia enquanto não estivessem a salvo no ar, então era melhor seguir logo com sua tarefa.

Ele não tinha a supervelocidade de Yo-Yo, portanto mancou o mais rápido que pôde em direção a onde tinham parado o avião, o que foi um tempo de uns tantos minutos.

Hunter se sentou na cadeira de piloto, iniciando o protocolo de voo e pegando o manche. Assim que o Zephyr saiu do chão, porém, entendeu porque Mack tinha o perguntado se conseguia dar conta disso. A dor em sua coluna estava incomodando bastante e o Zephyr era muito exigente quanto à capacidade do piloto. Ainda assim, Hunter não admitiria estar tendo dificuldades, e colocou o avião no ar apesar da dor que sentia. Teve alguma dificuldade para pousar aquela monstruosidade na frente do armazém sem atingir nada nem ninguém, mas acabou dando certo, e manteve as turbinas ligadas. Não sabia se poderiam precisar de uma decolagem de emergência.

— Estou aqui fora. Podem vir — anunciou, esperando em seguida.

Primeiro, viu Mack e Bobbi saírem do armazém carregando Theo em cima de uma maca improvisada, provavelmente roubada da sala de operações do armazém. Os três entraram e Hunter aguardou em sua cadeira enquanto levavam Theo para a ala de emergência e contenção do avião. Depois de um tempo, Mack saiu sozinho, voltando logo em seguida com Yo-Yo, acordada, mas carregada nas costas dele.

— Vamos embora — disse Mack, e não precisava falar duas vezes. Hunter fechou o hangar e preparou o protocolo de decolada, logo os tirando do chão e traçando um curso de volta para a base.

Depois disso, Hunter deixou o piloto automático tomar conta, saiu de sua cadeira e foi se deitar nos bancos do meio do avião. Estava exausto. Só de pensar em como Theo e Yo-Yo estavam, ficava ainda mais exausto. Se precisassem dele, seria chamado, tinha certeza, então não se importou nem um pouco de se acomodar ali, fechar os olhos e cair no sono.

Acordou algum tempo depois. Ninguém tentou acordá-lo, mas teve um pressentimento e acabou despertando assim mesmo. Ao abrir os olhos, estava bem de frente para a cabine do piloto, e encontrou Bobbi sentada ali, sozinha, encarando o céu à sua frente enquanto o avião avançava.

Hunter se sentou às pressas. Se Bobbi estava ali, Theo não precisava mais dela, por um motivo ou por outro. Por quanto tempo tinha dormido? Ele se levantou, cambaleando um pouco até a cadeira de copiloto e se sentando ao lado de Bobbi. Ela não se virou para olhá-lo, séria e calada, ainda encarando o lado de fora.

— Esse é um silêncio do tipo bom ou do tipo ruim? — O homem perguntou, sabendo não precisar dar mais detalhes. Ela saberia o que ele queria dizer.

A primeira resposta de Bobbi foi pegar o saco de gelo de trás de seu ombro e entregá-lo a Hunter, certamente reparando como a mão dele estava repousada sobre as costelas. Ele tirou o colete, o qual ainda estava usando quase sem se dar conta, e aceitou a bolsa, colocando-a sobre o local dolorido. O alívio foi imediato. Suspirou, encostando a cabeça para trás na cadeira.

— Theo está estável e fora de perigo por agora — ela respondeu enfim, a voz tão distante quanto o olhar. — Bem o suficiente para aguentar uma viagem de volta para a base mais próxima. Nós temos tudo necessário aqui para ajudar se algo acontecer, mas não acho que vá. É provável que ele precise de uma cirurgia quando chegarmos.

— Onde vamos descer?

— Lyon. Já estão nos esperando com uma equipe para atender ele.

Hunter assentiu, apertando um pouco mais o gelo contra o ponto dolorido em seu tronco. Ao menos ele estava fora de perigo. Ou ao menos queria ter certeza de estar.

— E Yo-Yo?

— Mack está na oficina com ela reajustando as próteses. O impacto doeu, mas ela tomou uns analgésicos e já está se sentindo melhor.

Boas notícias. Ou quase. Hunter conhecia aquela expressão no rosto de Bobbi, o olhar preocupado que ela dirigia para um ponto no vazio, pensando em algo, em silêncio. Remoendo problemas. Imaginando soluções. Havia algo a incomodando, e ela não tinha dividido com ele do que se tratava ainda.

— O que está cutucando sua cabeça? — Perguntou, cruzando os pés para cima do painel do avião. A posição ajudou um pouco a aliviar a dor em seu tronco.

— Não podemos ficar com eles, Hunter. Sequer sei se vai ser seguro voltar pra base pra pegar nossas coisas. Talvez devêssemos só ir embora quando o Zephyr pousar em Lyon e depois o Mack dá um jeito de mandar nossas coisas para nós.

— O que quer dizer? — Hunter perguntou, pois de fato, havia duas coisas as quais não entendia naquela frase. Primeiro, porque não podiam voltar para a base. E depois, porque ela estava se referindo aos dois no plural daquele jeito.

— Agnes sabe sobre nós — Bobbi respondeu, virando-se para encará-lo pela primeira vez desde que a conversa tinha começado. — Ela pode nos entregar a qualquer instante. Se provarem que estávamos com Mack e com a S.H.I.E.L.D., isso pode causar problemas sérios.

Oh. Oh, droga, Agnes. Tinha se esquecido disso. Hunter conteve um gemido de frustração, jogando a cabeça para trás e apertando um pouco mais a bolsa de gelo. Logo quando estava se acostumando com a base e com as pessoas de lá… Mas não era a mesma coisa há algum tempo, não? Parecia que fazia anos desde quando tinham se sentado para comer cachorro-quente do Brasil, todos juntos na sala de espera. Desde então, Clint tinha ido para uma cela, Agnes tinha os traído, Sirius tinha se tornado um casulo, Erasmus tinha ido embora e só o destino sabia o que seria de Theo.

Não. Não era a mesma coisa.

— Para onde vamos? — Hunter perguntou, de repente achando uma ótima ideia partirem sem nem mesmo voltarem para a base. Deixarem tudo isso para trás até a poeira abaixar.

— Não sei. Algum lugar tranquilo. Um resort não seria nada ruim, eu gostaria de mais férias como as últimas que tivemos. Mas podemos pensar nisso depois, não é?

Bobbi fechou os olhos, recostando a cabeça no encosto e parecendo relaxar. Hunter bem gostaria de relaxar também, mas agora só conseguia encarar o céu como ela estava fazendo antes. Bem diziam que a descida ao inferno era fácil. Tudo parecia ter desandado e saído do lugar. Talvez Bobbi tivesse razão. Talvez o melhor que podiam fazer era ir embora por um tempo. Deixar tudo e não olhar para trás.

 

[...]

Agnes sequer piscava enquanto observava a tela do tablet em seu colo. Ela assistiu, atenta, Bobbi e Yo-Yo tentando salvar Theo enquanto Mack e Hunter tentavam lutar contra M.O.D.O.K. e seu exército. A coisa toda acabou em muito menos animação do que tinha esperado, com a equipe descobrindo a fraqueza de eletricidade de alguma forma e usando isso para destruir seu projetinho.

— Que lástima — ela reclamou, cruzando as pernas no banco do avião e jogando o tablet no assento ao lado. Em sua frente, Strucker bebeu um gole de seu champagne, ainda encarando a janela por um tempo, através de seu monóculo antes de dizer algo.

— Pensei que M.O.D.O.K. fosse apenas o protótipo. Eles não servem justamente para corrigir os erros?

Agnes deu de ombros.

— Continua sendo meu projetinho. E eles quebraram ele.

Emburrada, ela pegou um meme de “Look how they massacred my boy” do Poderoso Chefão, abriu no tablet e virou a tela para Strucker.

A reação do homem foi suspirar, e colocar a taça de lado.

— Aperfeiçoe seu projeto. Não podemos falhar depois que tivermos resgatado a cobaia final.

— Por que raios você faz tanta questão desse cara?

— É conveniente. Ele tem conexões, dinheiro, e raiva. Afinal de contas, os mutantes são a maior pedra no sapato do nosso projeto, que nós mesmos criamos, e não vai ser ruim ter a contribuição de alguém que os odeia tanto quanto ele. Aprimore, Jäger. Não vou pedir duas vezes.

A mulher suspirou, revirando os olhos. Podia estar acostumada com o jeito de Strucker, mas isso não queria dizer que não era incômodo. De qualquer forma, ele tinha razão. Seu protótipo tinha falhado. Precisava fazer o projeto funcionar.


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Notas finais do capítulo

Link pro grupo de whatsapp: https://chat.whatsapp.com/DrHNqXKPp8cBfLb7UGgbAL

Considere favoritar essa fic e Homem de Gelo também. Vai deixar meu coração bem quentinho ♥

Além dessa, tenho vagas também para uma interativa original sobre revoltas civis. Acesse aqui:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/a-rosa-do-tempo--interativa-19350882/

Considere também dar uma olhada nas minhas outras histórias? :D Eu tenho coisas para vários gostos ^^

Leia a duologia Hunters! Comece aqui: https://fanfiction.com.br/historia/771022/Hunters_Hunters_1/

Leia minha original de fantasia urbana, Carmim! https://fanfiction.com.br/historia/787245/Carmim/

Leia minha fanfic de Harry Potter! https://fanfiction.com.br/historia/781763/Marcas_de_Guerra_Historias_de_Bruxos_1/
Fanfic 2 atualizando atualmente: https://fanfiction.com.br/historia/799894/Amargos_Recomecos_Historias_de_Bruxos_2/



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