Contos de Hogwarts - Marotos escrita por LittlePhoenix


Capítulo 1
O segredo de Remus Lupin


Notas iniciais do capítulo

Como James, Sirius e Peter descobriram que Remus era um lobisomem e deixaram sua amizade ainda mais forte.

Ano de 1972 - Hogwarts



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O sol nascia ao horizonte, o tempo estava fresco indicando a chegada do outono e as folhas das árvores caiam nos terrenos de Hogwarts. Em uma das torres do castelo, no quarto dos garotos do segundo ano da Grifinória, cinco meninos dormiam profundamente enquanto os primeiros raios de sol começavam a invadir as janelas. Porém, um sexto garoto se trocava silenciosamente em meio a penumbra.

Remus Lupin andou pé ante pé para sair do quarto, tomando o maior cuidado para não acordar seus colegas. Porém, pego de surpresa, tropeçou em uma vassoura que estava jogada no chão e caiu em cheio em cima de um dos malões, fazendo um estardalhaço. James Potter, o dono do malão e da vassoura, se sentou na cama assustado procurando os óculos, Sirius Black se levantou de um salto, Louis Bonnes olhou para a cena com os olhos cerrados, sem se dar o trabalho de se levantar, Peter Pettigrew apenas se remexeu na cama sem acordar e Robert Stone se levantou sacando a varinha e pronto para atacar. O plano de Remus de sair discretamente claramente havia falhado.

— Remus? – Perguntou Sirius se aproximando do amigo para ajudá-lo a se levantar. – O que aconteceu, cara?

— Ah, é só você. Posso voltar a dormir, então. – Falou Robert se jogando novamente na cama e voltando a dormir. Louis, que nem havia se levantado, o acompanhou.

— Tropecei nessa... vassoura. – Respondeu Remus se dando conta do que tinha acontecido.

— Desculpa, ela deve ter caído no chão durante a noite. – James comentou, já de pé e com os óculos devidamente colocados.

— Mas aonde você vai tão cedo? – Continuou Sirius. – O sol nem nasceu e hoje é sábado.

Remus realmente não esperava encontrar ninguém na sua saída, então não tinha pensando em uma desculpa para inventar. Teve que pensar rápido.

— Bem... Minha mãe está doente mais uma vez. – Ele encarava os pés para não olhar diretamente aos amigos. - Terei de ir visitá-la um pouco.

James e Sirius trocaram olhares. Aparentemente a mãe de Remus ficava doente com uma grande frequência e eles sempre se sentiam mal pelo amigo.

— Sinto muito cara. – Falou James dando um tapinha amigável no ombro do amigo. – Espero que ela fique bem logo. – Remus apenas concordou com a cabeça.

— Sim, espero que ela fique bem. – Concordou Sirius.

— Obrigado. – Remus deu uma breve olhada nos amigos. – Bom, preciso ir andando. Dumbledore deve estar me esperando.

Os amigos se despediram e Remus seguiu seu caminho para fora do quarto. James e Sirius ficaram de pé, em silêncio, por um momento.

— Sirius. – Falou James em um sussurro. – Podemos conversar rapidinho.

— O sol nem nasceu, cara. – Falou Sirius dando um bocejo.

— É um pouco urgente. – James foi em direção a porta do quarto fazendo sinal para que Sirius o acompanhasse, o garoto deu mais um bocejo, mas acompanhou o amigo.

Os dois desceram, ainda de pijamas, rapidamente para a sala comunal, que estava vazia, e pararam próximos à uma janela que dava para os jardins de Hogwarts.

— Certo. – James começou. – Não acha um pouco estranho Remus simplesmente precisar ir resolver alguma coisa todo o mês por exatamente uma semana?

— Ele sempre disse que tem problemas com a família, não é? – Comentou Sirius com uma voz sonolenta.

— Mas problemas de família que acontecem todos os meses, por 7 dias a mais de um ano? Não acha tudo isso meio estranho? – James refletia sobre isso há algum tempo.

Todos os meses Remus precisava sair da escola e a cada vez era uma história diferente. Ou a mãe estava com alguma doença, ou ele próprio não se sentia muito bem, ou algum parente distante que precisava ser visitado com urgência. James nunca tinha ouvido falar sobre nenhum aluno que saia tanto da escola. Sirius não pensava muito nisso, afinal, quem era ele para julgar os problemas que uma pessoa poderia ter? Nesse momento, Sirius olhou distraidamente pela janela e viu um movimento estranho nos jardins da escola.

— Quem são aquelas pessoas andando no jardim uma hora dessas? – Falou se aproximando mais da janela. James o acompanhou. – Seria...

— Remus! E Dumbledore! – Falou James. – Estão indo na direção daquela árvore maluca que tem vida própria.

— Vão acabar sendo arremessados como um balaço se chegarem mais perto.

Dumbledore e Remus chegaram suficientemente perto da árvore para não serem arremessados, Dumbledore pegou algo que parecia um graveto e encostou na árvore, que imediatamente congelou. Ele e Remus chegaram mais perto e sumiram pelo que parecia ser um buraco próximo às raízes. James e Sirius se encararam boquiabertos.

— Tudo bem, isso foi muito estranho. – Falou Sirius.

Durante o café da manhã no salão principal James e Sirius colocaram Peter a par de suas suspeitas e do que tinha acontecido. O amigo também achou tudo um pouco suspeito. Passaram o dia sentados nos gramados da escola, encarando o grande Salgueiro Lutador e criando hipóteses sobre o que Remus vinha escondendo deles, mas nada de concreto surgiu.

— Talvez eles não tenham entrado em um buraco. As vezes só passaram por ela e tiveram impressão de que entraram em um buraco. – Comentou Peter quando iam para a sala comunal naquela noite.

— Temos certeza de que vimos eles entrando no buraco. – Retrucou James, que já havia repetido isso diversas vezes.

Os três se sentaram em algumas cadeiras próximas a janela em que era possível avistar o salgueiro lutador. O vento soprava as folhas da árvore e afastou algumas nuvens que cobriam a belíssima e brilhante lua cheia. James se lembrou que na última vez que Remus havia saído da escola para resolver um de seus problemas era também lua cheia, se lembrava disso pois tiveram uma aula de astronomia especificamente sobre as fases da lua e ficaram um bom tempo analisando sua face cheia. Talvez... não poderia ser. Mas e se fosse?

— E se ele for um... – James pediu para que os amigos chegassem mais perto, então sussurrou – Um lobisomem. – Sirius se afastou espantado, Peter se tremeu.

— Não pode ser, ouvi dizer que lobisomens são criaturas terríveis, envolvidas com artes das trevas. – Comentou Sirius.

— Sim, minha mãe já me contou coisas horríveis. – Comentou Peter. – Remus não parece com alguém que seria um... lobisomem. – Peter sussurrou a última palavra.

— Vejam bem, ele some uma vez por mês, pelo menos as últimas duas vezes me lembro de serem lua cheia e ele também tem uma cicatriz bem estranha no rosto. – Sirius e Peter trocaram olhares.

— Não acho que seja o caso. – Concluiu Peter.

— É, eu acho que pode fazer sentindo. – Falou Sirius, Peter estranhou a discordância do amigo. – Me lembro de algumas vezes serem lua cheia mesmo.

— Acho que deveríamos perguntar para ele. – Falou James.

— Está maluco? – Espantou-se Peter. – Não pode sair por aí acusando as pessoas de serem lobisomens.

— Ele tem razão. – Disse Sirius. – Mas, podemos pensar em alguma forma de levantar o assunto e ver se ele diz algo.

— É uma boa ideia. – Concordou James.  – Já ouvi falar sobre um livro que diz como identificar um lobisomem. Podemos verificar as dicas e já aproveitar para puxar o assunto com o Remus.

— Fechado. – Concluiu Sirius.

— Não sei se acho uma boa ideia. – Comentou Peter.

— Mas até aí, você não acha nada uma boa ideia. – Disse James. Ele e Sirius riram, mas Peter parecia inseguro com a decisão dos amigos.

A semana seguiu, James achou seu livro que dava dicas sobre como identificar um lobisomem na biblioteca. Ele e Sirius acharam que todas as descrições batiam com Remus, mas Peter ainda achava tudo aquilo uma grande bobagem, não fazia sentido o amigo ser um lobisomem e não contar nada para eles.

Finalmente o final de semana chegou, os três estavam no salão principal tomando café da manhã e esperando ansiosamente a chegada de Remus. Porém só o encontraram no saguão de entrada, quando se encaminhavam para os jardins. O garoto de cabelos castanhos estava muito abatido, como costumava ficar depois de suas saídas.

— Olha quem está de volta. – Falou Sirius indo na direção de Remus. Peter e James o acompanharam.

— Olá, pessoal! – Remus acenou para os amigos com uma voz sonolenta.

— Como está sua mãe? – Perguntou James.

— Minha mãe? – Remus fez uma pausa como se se lembra-se de algo. – Ah, claro. Está ótima, bem melhor. – James e Sirius trocaram olhares.

— Estamos indo nos sentar nos jardins, de repente faria bem um pouco de sol, está pálido como o Ranhoso. – Disse Sirius.

— Eu estou me sentindo um pouco cansado.... Sabe, viagem longa. – Disse Remus. – Acho que vou me deitar.

— Te acompanhamos até a sala comunal, então. – Se apressou em dizer, James.

Remus acenou positivamente com a cabeça, mas talvez apenas não tinha coragem de dispensar os amigos, porque, no fundo, queria ficar sozinho. O grupo caminhou para a sala da Grifinória e se manteve em silêncio por um momento. Sirius e James trocavam olhares toda hora, tentando encontrar o melhor momento e forma de iniciar a conversa.

— Como estão as aulas? – Perguntou Remus quebrando o silêncio.

— Entediantes como sempre. – Comentou Sirius. – Aposto que o professor Bins morreu de tédio, se quer saber. – Remus deu uma risada fraca.

— Sabe, nos passaram um dever interessante em defesa contra as artes das trevas. – Falou James. – Inclusive, precisávamos da sua ajuda.

— Sobre o que seria? – Questionou Remus franzindo a testa.

Ele se dava muito bem nas matérias, mas James e Sirius não ficavam atrás de jeito nenhum, não era tão comum pedirem sua ajuda assim.

— Precisamos listar as características para identificar um lobisomem. – Continuou James. 

Remus gelou e parou de andar, de alguma forma, ficou mais pálido do que estava. Percebeu que os amigos o olhavam e continuou como se nada tivesse acontecido.

— Puxa, parece ser um tema complicado, não sei se posso ajudar. – Sua voz estava tremula.

— Claro, que pode! Você é muito bom em defesa contra as artes das trevas. – Falou Sirius.

— Mas nós já encontramos algumas informações bem úteis. – Falou James. – Os Lobisomens sempre se transformam na lua cheia.

— Normalmente ficam muito abatidos durante o ciclo de transformações. – Continuou Sirius.

Nessa hora Remus estava meio esverdeado, sentia-se enjoado, como se fosse vomitar. James e Sirius se olhavam, meio preocupados com o amigo e meio satisfeitos que estavam chegando no ponto que queriam.

— A maioria prefere carne mal passada. – Disse James. – E podem apresentar algumas cicatrizes no rosto e mãos.

— Vocês parecem estar bem adiantados. Não acho que precisem de mais ajuda. – Remus parecia se esforçar muito para dizer essas palavras. – Eu vou indo me deitar.

Ele apertou o passo quase correndo à frente dos amigos. James e Sirius correram na frente dele e o pararam, Peter ficou atrás com olhar assustado.

— Olha, Remus. – Falou James com muita cautela. – Nós sabemos... suspeitamos que você seja um lobisomem. – Sirius concordou com a cabeça.

                Remus olhou de um para o outro, pareciam que lagrimas queriam se formar nos seus olhos, ele empurrou os amigos e saiu correndo pelos corredores.

                - Eu disse que era uma má ideia. – Comentou Peter, que já tinha alcançado os amigos.

                - Péssima hora para de vangloriar, Peter. – Falou Sirius. – Péssima hora.

                Remus estava sozinho no quarto dos garotos, deitado em sua cama e com as cortinas fechadas. Quando Dumbledore disse que poderia ir para Hogwarts foi um dos dias mais felizes da sua vida, poderia ser um garoto normal e viver uma vida normal. O segundo melhor dia foi 1º de setembro, quando conheceu James, Sirius e Peter, nunca teve amigos antes e foi uma sensação incrível sentir que fazia parte de algum grupo. Agora eles suspeitavam de sua condição e muito provavelmente nunca mais iriam querer falar com ele. Talvez espalhassem para todos a verdade, pais enfurecidos iriam querer tirar seus filhos da escola e muito provavelmente Dumbledore o faria partir, pelo bem de todos. Mais uma vez seria excluído em sua casa. Esses pensamentos invadiram sua mente e o deixaram muito infeliz, desejou ser como os outros garotos, não ter esse tipo de preocupações. Ouviu, então, a porta se abrir.

                - Remus. – Ouviu a voz de James chamá-lo. Não respondeu. – Desculpa, cara, não queríamos te ofender assim.

                - Apenas ficamos curiosos. – Continuou a voz de Sirius. – Talvez um pouco demais.

Silêncio. 

— Sabe, não vemos problema nenhum em ser um lobisomem. – Falou James, agora mais perto da cama dele.

— É, o que tem de mais? – Falou Sirius.

Remus se sentou na cama abrindo a cortina de repente.

— O que tem de mais? – Falou Remus, tomada por uma enorme raiva e frustação. – As pessoas te julgam pela sua condição e se afastam de você. Uma vez por mês, por longos sete dias, você sofre o tempo todo, se machuca e não consegue fazer nada para impedir. A vida inteira vai ter um monstro dentro de você correndo o risco de ferir todos que estão por perto. Claro que não veem problema, vocês têm uma vida ótima e normal!

Os amigos o olharam por alguns segundos. Remus então percebeu o acesso de fúria que teve e que tinha confessado seu segredo, olhava para os pés se sentindo muito desconfortável. Nesse momento, teve certeza de que perderia seus únicos amigos da vida.

— Tem razão. – Falou James quebrando o silêncio. – Nós não entendemos o que você passa e talvez nunca poderemos entender. Mas podermos estar aqui e te ajudar a passar por isso. – Remus ergueu os olhos.

— Por que me ajudariam? – Perguntou.

— Ora, porque somos seus amigos! – Falou Sirius, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Como assim? Não podem ainda querer ser meus amigos. – Falou Remus.

— E por que não? – Falou James inconformado.

— Eu sou literalmente um monstro. – Remus abaixou novamente o olhar.

— Que bobagem. – Falou Sirius inconformado. - Conhecemos você há um ano inteiro. Nunca conheci uma pessoa melhor do que você! Definitivamente não conheci nenhum monstro. Você conheceu, James?

— Com certeza não. Meu pai me ensinou como reconhecer monstros imediatamente e não encontrei nenhum até o momento. – Falou James. – Peter?

— Definitivamente nenhum monstro.

— Então ainda somos amigos? -  Falou Remus levantando o rosto e abrindo um sorriso sem graça.

— Claro que sim! – Exclamou James. – E vamos te ajudar todos os meses a passar pela sua... situação cabeluda.

— Como vão me ajudar? – Perguntou Remus desconfiado.

— Pensaremos em um jeito. – Falou Sirius dando um sorriso ao amigo.

Remus se sentiu muito aliviado após a conversa, nunca havia tocado nesse assunto com ninguém. Poder ser ele mesmo, mesmo que não gostasse de todas as partes, era tirar um grande peso das costas. Se sentia novamente feliz sabendo que tinha com quem contar, que tinha amigos de verdade.

— Na verdade. – Disse James com um olhar pensador. – Acho que tive uma ideia.


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Notas finais do capítulo

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