Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 46
Capítulo 46




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3 de Agosto de 2045

Dia 3 de agosto, uma data para nunca esquecer. Não que o seu pesadelo tivesse começado daí, mas muito antes. Lembrava daquela manhã há um ano atrás e parecia que tudo havia sido exatamente alguns segundos atrás de tão vívido que estava em sua mente.

Ela tinha ido para casa. Estava cansada demais. Os dois dias em que Bella passara no hospital depois do acidente haviam sido uma verdadeira luta silenciosa contra o relógio. Lembrava de ficar olhando para os aparelhos e esperar uma mudança, mesmo que pequena, mas nada acontecia. Sabia que em casos de morte cerebral era muito raro haver alguém que voltasse a ter atividades normais. Mesmo assim não perdera a esperança. Ficara lá Edward, Charlie e ela a todo instante. Não saiam pra nada. Antony viera visitar Bella na noite anterior, mas não queria vê-la. Dizia que não queria ter aquela imagem de sua mãe. Renesme respeitou mesmo não concordando. Fora ele que a convencera a ir para casa descansar e assim foi.

Mas logo cedo Renesme foi acordada com o som de seu celular. Levantou num salto. Esperava ouvir que Bella enfim dera algum sinal. Mas só em ouvir a voz do médico dizendo que não haviam mais chances, ela secou como um balão. Ele explicara que haviam passado 48 horas que Bella havia sido ligada aos aparelhos e a morte cerebral havia sido confirmada pelos protocolos. A princesa então respirou fundo e deu-se por vencida. Sabia que sua mãe havia partido naquele fatídico dia primeiro de agosto e eles só estavam prolongando a dor com várias esperanças falsas.

Agora ali na Igreja assistindo a sua missa de um ano de falecimento era tão doloroso quanto naquele momento em que estiveram todos assitindo o desligamento dos aparelhos e Bella partindo como um sopro definitivo. Renesme tinha certeza que aquele sentimento ruim nunca acabaria. O tempo não ameniza nada. Mãe não se conjuga no passado e nem o amor que ela sentia.

Era reconfortante saber que tantas pessoas amavam sua mãe ainda com tanta intensidade de quando a conheceram. Renesme sempre soube o quanto Bella era alguém extremamente diferente de qualquer membro da família real e pessoas assim não apareciam sempre. O povo a adolatrara no primeiro minuto. Ela não sabia bem o porquê, não sabia se ela tinha um brilho diferente que encandescia a vista de todos. Mas ela era e continuava sendo amada.

Edward havia determinado que a missa de Bella teria que ser algo pequeno, íntimo apenas para os amigos e familiares. Escolheu a Igreja de Santa Eudoxia para a ocasião. Mas no minuto que chegaram lá estava óbvio que não poderia ser assim. As pessoas estavam em peso na entrada do templo. Faziam as suas próprias homenagens. Encheram o chão de pedra com flores, velas, presentes e carregavam cartazes de carinho, alguns pediam justiça. Não teria como ser diferente diante do clamor que estava na mídia a respeito do caso da morte de Bella. Renesme fez questão de ao chegar ir com Alec falar e agradecer todas aquelas pessoas. Em alguns momentos não conseguiu conter as lágrimas.

Quando o padre encerrou a missa, a princesa ainda se sentia anestesiada. Mas logo percebeu que tudo acabara quando Alec tocou a sua mão. Ela olhou para ele como se tivesse acordado de um longo sono. Olhou para os lados e todos já saiam de seus lugares. Inclusive Antony. Sim, o seu irmão viera para a missa, porém, não falou com ninguém a não ser com Esme e Renée, que também havia vindo dos Estados Unidos para o momento. Ela olhou para Antony com intenção de trocar algumas palavras, mas ele já estava quase de saída.

— Está tudo bem? – Alec perguntou gentilmente. – Eu sei como momentos como esse podem ser difíceis.

— Sim, são. Mas está tudo bem.

— Papai fez questão de pedir que preparassem um almoço. Não é o momento de comemorações, mas é para podermos esperecermos um pouco. Caius e Jane estão aqui.

E lá vamos nós!”, Renesme pensou enquanto assentia para o marido. Ambos seguiram em frente pela nave central e ela deixou que ele segurasse a sua mão. Alec não era muito chegado a carinhos. Não sabia bem como expressar emoções. Mas quando momentos como aquele aconteciam e partiam dele, ela deixava-se levar, principalmente quando ocorriam sem a presença da família dele. Era como se fosse algo terapeutico para ele, para que vassasse suas emoções e desbloqueassem questões antigas. Era um tanto reconfortante pra ela também.

Na saída, encontraram uma verdadeira multidão de pessoas que não deixaram a igreja em nenhum segundo. A polícia tinham colocado grades de proteção, mas não tinham como combater os inúmeros fotografos afoitos por informações. Havia saído na imprensa sobre o depoimento de Caan e suas revelações a polícia. O caso de Bella agora explodiam na mídia e só se falavam sobre isso. William tinha dado o seu jeito de convencer os colegas do “The Globe” a escreverem algo mais incitador a respeito, principalmente coisas que envolvessem discussos antigos de Bono Donnalson que incitassem ódio e crimes como esse, de forma que a população refletisse a respeito.

Edward já tinha tido compelido ao primeiro ministro a abrir uma CPI e Bóris não se ôpos. Em tempos eleitorais, tudo valia para derrubar o inimigo. No final era isso que importava, porém para que houvesse uma investigação no parlamento era necessário o apoio de um terço dos deputados, faltavam três. Era ai que Aro deveria entrar.

Os flashes cegavam os olhos de Renesme ao sair da Igreja. Alec segurou mais forte a mão dela, e ela sentiu que as dele suavam. James e outro segurança foram mais rápidos para evitarem que os repórteres se aproximassem demais. Foi um alívio poder entrar no carro e seguir em frente.

— Não é inacreditável que tudo isso esteja acontecendo? – Alec falou encerrando o silêncio de ambos. – Sua mãe seria a futura rainha consorte do país e agora ela é um caso policial.

— Não por que ela queria.

— Eu sei. A forma que tudo aconteceu foi muito brutal. Mas o que me impressiona é o fato de acontecer isso logo com ela. Onde estava a segurança do palácio?

— Eu penso o mesmo, acredite. Porém, pessoas como ela, com a bondade e a integridade que ela tinha são mais propícias a serem vítimas daqueles que não prestam.

— Isso é. Mas espero que tudo se resolva. Ela merece isso.

— Todos nós merecemos.

Alec tinha uma inocência sobre o caso tanto quanto o restante da população. Renesme não se admirava pelo fato de Aro não ter conversado com o filho a cerca de tudo que acontecia nos bastidores. Ele como todos ficaram surpresos quando começou a pipocar em tudo que era lugar que Bella não havia morrido num simples acidente de carro. Alguém tentara silenciá-la e Alec ficou horrizado com isso. Os dois começaram até a se aproximar mais depois que saiu a notícia do depoimento de Caan. Ele de certa forma a compreendia, mesmo que não tivesse acontecido o mesmo com a mãe dele. Mas essa dor profunda da perda de alguém os unia. Era reconfortante para a princesa ter alguém para conversar sobre isso, alguém que entendia de verdade.

O carro parou em frente ao palácio e Renesme já pôde ver Aro na porta da frente na espera deles. Era um carcereiro nato! Tinha o mesmo sorriso falso de sempre e tinha em seus movimentos gestos tranquilos, como se nada no mundo estivesse prestes a desmoronar. Ela viu Edward descer e o cumprimentá-lo. Não imaginava que ele faria parte do tal almoço. Datas assim era significavam recolhimento para ele. Renesme olhou para os lados ao descer e não viu nenhum sinal de Antony, apenas seus tios e primos, como de costume. Não imaginava mesmo que ele viria a estar ali. Devia estar hospedado em Seraf, no sítio.

— Oh minha querida nora! – Aro falou com uma voz fina que fazia Renesme embrulhar o estômago. – Queria muito ter estado lá. Mas houverem alguns arranjos que precisaram da minha atenção. Correu tudo bem?

Aro abraçou Renesme com um aperto desnecessário. Ela queria apenas que ele desaparecesse.

— Tudo foi como era para ser, pai.- Alec respondeu.

— Sim! Sim! Vamos entrando. Imagino que estejam com fome. Caius e Jane já estão aqui.

Alec passou na frente ao mesmo tempo em que o restante da família entrava. Mas por algum motivo, Aro não tinha soltado os seus braços em torno de Renesme. Ele se aproximou mais e sussurou no ouvido dela:

— Você me pediu para que conversasse com os nobres deputados a cerca da CPI de Bono Donnalson. Não digo que foi algo fácil. Eles têm muitas questões emboladas, mas acredito que eu já tenha convecido aqueles que precisavam para completar a cota necessária. Na segunda, você ouvirá a notícia que a investigação será iniciada.

— Assim espero.

— Eu também espero que Alec e vocês nos tragam boas notícias em breve.

Aro se afastou e piscou para a princesa e ela sentiu a repulsa dentro de si. Recado dado, mas ela não tinha pressa para dar a ele as notícias que ele queria no momento. Estava mais preocupada em vigiá-lo e todos em sua volta. Era tempo de observar para tirar as mil caraminholas que rondeavam a sua cabeça desde aquele último comentário dele dias atrás.

A princesa seguiu para dentro do prédio até o jardim, onde tendas ofereciam comidas saborosas e o ar fresco. Caius sorria e falava alto. Renesme imaginou que ele estava contando vantagem de suas ações novamente. Jane olhava para todos com o desdém de sempre. Ela se imaginava muito superior até com membros da realeza como a dela.

— Como está você, meu bem? – Esme perguntou já saudando a neta.

— A medida do possível bem. Não tem como estar feliz diante de tudo que aconteceu e vem acontecendo.

— Eu sei disso, querida. Bella nos faz falta todos os dias.

— Aro tem uma percepção diferente de dias tristes.

— Oh sim! Tentei amenizar ao máximo as ideias dele. Mas concordo quando ele diz que precisamos esparecer um pouco.

Renesme tocou as mãos enrugadas da avó e acariciá-las. Quanta história ela presenciou. Tanto ela passou. Queria ter a força que ela tinha, ao menos o mínimo para passar por toda aquela tempestade e estar com uma expressão tão firme como a dela.

— Como podemos chegar a esse estágio, vovó? – Renesme perguntou baixinho. – Era como imaginei. Ele controla tudo ao redor.

— Não se aflinja com isso, meu bem. Ele pensa que controla tudo. Mas Aro está onde eu quero que ele esteja.

Ela deu sorrisinho que podia parecer tímido, mas era um ledo engano para quem não a conhecia. Esme Cullen era ardilosa. Henry se juntou as duas e saudou a avó com um beijo no rosto.

— Olha só Ness quem resolveu aparecer! – Esme falou com um tom de animação enquanto Henry se aproximava de ambas.

— Verdade vovó! Henry gosta de sumir.

— Não falem isso! Estava trabalhando.

— Então, se é assim, está perdoado. Mas diga para a sua avó onde você esteve dessa vez.

— Tive em tantos lugares! Madrid, Barcelona, Lisboa, Berlim. Onde tinha partidas importantes da UEFA eu estava lá cobrindo. Seu neto acaba de ser promovido como jornalista chefe da sessão de esportes do The Globe.

— Que maravilha! Fico muito feliz! Não que isso me impressione de alguma forma. Eu sempre soube de seu talento.

— Obrigado vó.

— Esme, querida! – Aro a chamou de longe. – Estamos ansiosos para saber um pouco mais sobre essas louças maravilhosas!

A Rainha mãe apenas deu um sorriso amarelo para Aro e voltou-se para os netos.

— Tenho que deixá-los por enquanto. Aparentemente as louças da família estão sendo adoradas mais do que deviam.

Renesme e Henry sorriram enquanto acompanhavam a avó se retirar com toda a elegancia e formalidade que a situação exigia. A princesa atribuia isso aos anos que convivera na corte, onde teve que ficar calejada diante das hipocrisias do meio.

— Ela é imbatível, não é? – Comentou Henry enquanto sentava-se a sombra com a prima.

— Vovó é uma rainha em cada polegada.

— Verdade. E você, ein mocinha? Não sou só eu que não dou notícias.

Renesme pegou um refresco e começou a misturar o líquido de cabeça baixa. O que poderia ela dizer a ele? Nada tinha acontecido de bom em sua vida.

— Me desculpa. Eu devia ter te ligado.

— Devia mesmo! Não perdoo! – Henry disse sorrindo. – Sabe que eu te adoro, não é? Quero notícias suas sempre! Aliais se não fosse por William, eu não saberia como você está.

— William tem falado de mim para você?

Henry ajeitou-se na cadeira e olhou para Renesme de esguelha.

— William só fala sobre você.

— É mesmo? – Renesme corou. – Acho que é pelo fato de estarmos muito próximos.

— Pois é não? Pensei que não gostasse dele. Não entendi por que o contratou. Quando ele me falou me apareceu absurdo.

— Digamos que o compreendi mal. William possui muitas qualidades e muitas delas podem vir acalhar para mim.

Henry olhou para o lado com um sorriso discreto. Renesme sabia exatamente o que ele estava pensando.

— Eu lhe disse. William é um ser humano fora de série! Inteligente, gentil, cavalheiro. Não é como uns e outros por ai.

Renesme sabia bem que Henry se referia a Alec. Seu primo foi outro contra o seu casamento com o príncipe de Volterra. Não tentou explicar a ele os seus motivos. Não podia, na verdade. Mas sabia que ele teria intervido com certeza.

— William lhe falou do projeto que idealizei? Nós dois estamos trabalhando nisso no momento e era algo que eu queria conversar com você.

— William chegou a me falar por cima, assim... Inclusive, ele me disse por horas o quanto você era ótima para elaborar projetos, resolver burocracias e logísticas. Isso atrapalhou para eu saber bem o que era o teor da coisa.

A princesa corou e abaixou a cabeça para disfarçar o seu constrangimento. Não sabia se Henry estava exagerando ou William pensava tudo isso mesmo dela. Sabia que o príncipe queria dar um de alcoviteiro, mas ela não morderá a isca. Era lisonjeiro e até gostosa a sensação de saber que havia um homem aparentemente tão encantado por ela, mas não podia pensar nisso. Alec merecia todo o seu respeito, além do que, ela própria estava cansada das peças que romances assim lhe pregava.

— Quero montar um projeto grande independente do guarda-chuva da “Royal Foudation”. Algo que abragesse todas as minorias de forma bem assitencialista. Eu sinto que programas como o “Talk” fazem a diferença, mas não é o suficiente diante dessa crise que estamos vivendo.

— E de que forma você quer atingir essas minorias?

— Na verdade, eu queria alcançar principalmente o público jovem e infanto-juvenil. Com programas que possam lhe ajudar de uma forma definitiva. Mamãe e Elton pensavam em criar centros que serviriam a população LGBTQUIA+ com projetos educacionais, artísticos, esportísticos. Mas se existissem centros para todos os públicos? Mulheres, negros, deficientes... Eu queria programas que pudessem formar técnicos, tirar crianças das ruas, oferecer oportunidades, entende?

— É algo realmente bonito e bem ambicioso. Já pensou na prática?

— Pensei. Sei que algo assim levaria tempo e dinheiro. Sei que não há como o fundo real bancar tudo. Mas queria ao menos unir todos esses projetos existentes em um só para que a verba se destine a um só lugar. Por exemplo, pegar o “Sport Time” do seu pai, o “Talk” da mamãe e colocá-los numa única finalidade. Criar programas dentro de escolas, fundações, hospitais nos centros de assistência já com a finalidade para ajudar a essas pessoas enquanto a gente não cosntroi um prédio maior.

— Entendo. E o que o seu pai pensa a respeito. Os projetos de sua mãe costumavam ser barrados...

— Eu já enviei para ele e recebi um ok. Só falta a burocracia aqui da Instituição. Aro está supervisionando tudo, mas eu sei de uma forma de contornar impecilhos de um jeito que mamãe não sabia. Basta usar as palavras certas.

Renesme piscou e Henry sorriu. Ele sabia o quanto a prima era esperta o suficiente para ter tudo e todos na hora que ela bem queria.

— Parece que você já está com tudo pronto. Mas como eu entraria nessa história?

— Bom, preciso de ajuda e de apoio. Queria que você, eu e Antony unamos força para fazermos uma buscativa nos pontos críticos, na organização dos espaços existentes para aplicarmos as nossas ideiais e claro, na hora de conversar com essas pessoas, sabe? Eu não sou muito boa em comunicação, você me conhece... Mas se unirmos forças podemos alcançar mais pessoas. William me prometeu que ajudaria na divulgação.

— Por mim parece ótimo! Você sabe que eu nunca quis trabalhar para a monarquia. Acho ótimo ser desvinculado da “firma”, mas acho que trabalhos assim engradecem. Sempre achei lindo o que papai faz com aqueles adolescentes, eu queria participar de algo assim.

— Poderia assumir com ele os trabalhos ligados ao esporte. A intenção é unir o “Sport Time” dentro de uma Instituição própria. Você sabe que como projeto, ele não recebe verbas o suficiente. Mas como uma Fundação. Ai sim! Podiamos ter apoio do parlamento também sem estar totalmente vinculado aos trabalhos da monarquia.

— Mentes unidas trabalham mais! Gostei! Algo como “Youngs Together”. – Henry falou abrindo os braços com entusiasmo.

— Exatamente isso! Jovens juntos! Acho que no dia como hoje não a homenagem maior para a mamãe do que fazer o que ela mais quis fazer em seus últimos dias, ajudar as pessoas que mais precisam.

— Pode contar comigo, minha prima!

— Obrigada! Sabia que podia contar contigo.

— Sempre!

— O que minha bela esposa está falando, ein? – Alec falou se aproximando de Renesme e Henry virou o rosto encomodado.

— Sobre uma Fundação que eu e Henry vamos montar juntos. “Youngs Together”. Para trabalhos sociais.

— Que maravilha! Se eu puder ajudar de alguma forma...

— É claro!

— Bom... Papai já mandou servir o almoço. Vamos?

— Sim. – Renesme pegou a mão do primo lhe forçando a olhar para ela. – Vamos marcar um encontro para conversarmos mais a respeito, sim?

— Certo.

Alec pegou a cintura da esposa e olhou para os dois irmãos. Renesme odiava quando o esposo tentava exibi-la aos outros. Quando gestos de carinho eram espontâneos tudo bem, mas quando ele tentava usá-la para provar alguma coisa era inaceitável! Ela só não soltou a mão dele para não passar uma má impressão. Renesme imaginava que o príncipe se achava incapaz com relação aos irmãos, especialmente Caius. E tentava ao máximo mostrar o contrário. Lamentável!

— Ora vejam se não é a minha adorável cunhada! – Caius falou ao avistarem. – Acho que o casamento lhe fez muito bem!

— O casamento fez bem a todos nós. – Alec respondeu ao irmão. – Renesme e eu estamos muito animados a seguir numa vida nova. Não é, meu bem?

— Sim, com certeza!

— Fico feliz em ver, irmãozinho, que você conseguindo segurar o tranco com Renesme. É um homem de verdade.

A princesa fraziu a testa e se segurou para não voar em cima dele. A mão de Alec suava em suas costas, ela sabia que ele queria o mesmo. Desde que começou a conviver com os Volturi soube que eram todos muito desagradáveis. Aro com aquela arrogância, Jane com sua frieza e Caius com o seu orgulho infundável. Alec era o mais diferente e isso só firmava a pena que sentia por ele ter sido criado diante de tantas cobras.

— Que bobagem é essa, Caius? Seu irmão não precisa provar a masculinidade dele pra ninguém.

— Era só uma brincadeira! – Caius falou em meio ao riso.

Renesme pegou a mão do marido o conduziu até onde estavam as comidas para serem servidas. Caius era um narcizista nato! Dar palco para suas ações era o que ele queria.

— Não ligue para as coisas do meu irmão. Ele gosta de fazer brincadeiras.

— Brincadeiras perversas! Olha aqui Alec! – Renesme falou com firmeza para o esposo. – Não se deixe levar por essas idiotices. Você não tem que ficar se provando para ninguém.

— Eu sei. – Alec falou cabisbaixo.

A princesa apenas pegou o prato e colocou algumas verduras nele. Estava com raiva e ao mesmo tempo triste demais. Era um misto de emoções tão grande que a fez perder completamente o apetite. Queria que tudo acabasse logo para que ela pudesse ir para a sua cama. Ao terminar de se servir, seguiu para a mesa principal, sentando-se ao lado de sua avó materna.

Nunca fora tão próxima de Renée como deveria. As distâncias nunca ajudavam. Mesmo assim, Bella sempre fez o possível para estar presente ao lado da mãe e para que ela convivesse com os seus netos. Iam aos Estados Unidos nas férias ou em algum feriado prolongado, mas ainda assim Renesme achava que deveria ter tido mais oportunidade. Ela achava a avó materna um máximo. Sempre descomprometida e bem humorada. Passava uma boa sensação de leveza. Bella venerava a mãe e a princesa sabia bem disso.

— Olá vovó! Quase não tivemos tempo de nos vermos ontem quando chegou.

— Não se preocupe, querida. Eu sei o quanto a vida de vocês é agitada.

— Não pensa em ir para os Estados Unidos agora. Não é?

— Bom, não comprei as passagens ainda. Mas quer saber? Esse lugar é muito parecido com Bella.

— Eu sei. Não tem como não vincular a ela, não é?

— Eu lembro quando vim aqui pela primeira vez. Era tão inacreditável pensar que a minha filha estava namorando com um príncipe é tanto como acreditar que ela não está mais aqui. Isso não é o natural das coisas. Os filhos nunca devem morrer antes dos seus pais.

Renesme acariciou as costas da avó. Hoje ela a via de um jeito diferente. Na verdade, Renée nunca deixou transparecer tristeza. Nem mesmo no dia do entenrro de Bella. Não era frieza, Renesme interpretava aquilo como uma capa protetora. Ela tentava sempre não se deixar abater e tentar encarar tudo com leveza. Mas como fazer aquilo diante de uma perda tão grande?

— Mas eles nunca morrem de verdade. – Alec falou enquanto sentava ao lado de Renesme. – Eu sempre sinto que estou perto de minha mãe de alguma forma. Eu entendo que momentos como o dia de hoje sempre são dolorosos, não é Jane?

A irmã gêmea de Alec apenas desviu o rosto do celular e olhou para o irmão como se ele tivesse pouca importancia, sempre com aquele nariz empinado. Quando ela baixou o celular, Renesme viu que estava em uma conversa com Antonius. Ela sabia que a cunhada mantinha um romance com o primo. Aro fingia que não via, usava a filha para garantir o trono de Volterra e Jane queria apenas se dar bem. Não sabia qual era a de Antonius para se deixar levar por aquilo. Sabia que Jane não gostava dele e que terceiras e quartas intenções havia. Será que ele não via aquilo?

— Mas passa. Tudo passa.

Renesme virou o rosto e desejou nunca mais ter que conviver com aquela família de novo.

— Tem notícias de Antony, vovó?

— Bom... Não tanto quanto gostaria. Conversamos ás vezes. Ontem, inclusive quando ele chegou passamos horas ao telefone. Ele está bem apaixonado, não é?

— Sim. A garota é bem simpática. Precisa conhecê-la.

— Oh sim! Vai ser um prazer! Por que ele não está aqui?

— Seu irmão é mesmo bem escorregadio, não é cunhadinha. – Jane falou com desdém.

— Ele não é escorregadio, Jane. Acontece que o dia de hoje não é de celebrações e não temos que ficar fazendo sala para quem não se importa.

Jane apenas deu sorriso amarelo diante daquela resposta. Renesme sabia que tinha sido o suficiente. Ela não lhe devia explicações. Aro tocou levemente o garfo na tarça e chamou a atenção de todos. Renesme respirou fundo. Outro exibicionismo para ela aguentar.

— Queria a atenção de todos, por favor. Obrigado! Sei que hoje não é um dia propício para comemorações. Queria ter podido conviver mais com a nossa duquesa Bella, mas acredito que devemos nos curvar para as notícias boas também. Acabo de receber o resultado de uma pesquisa que confirma que a popularidade da família real cresceu 30% e que boa parte dos entrevistados a considera promissora.

Aro levantou a tarça e todos o seguiram. Renesme ouviu algumas salvas, mas dentro de sua própria família mesmo não havia assim tanta alegria. Alec a olhou com contentamento e ela o devolveu um sorriso cerrado. Pra ela não importava tanto esse tipo de coisa. Claro que ela queria que sua família estevisse segura no trono, mas ela tinha quase certeza que a maré ruim que passaram no início do ano era apenas a sombra do que Bono Donnalson dizia e agora era ele que estava se acabando. Começava a crer que o seu casamento com Alec não teria sido tão necessário assim. Ela sabia que tinha caído num jogo político perverso. Aro convenceu o parlamento como quis.

— Tenho certeza que o casamento dos meus jovens filhos contribuiu muito para isso. – Aro estendeu a tarça em direção a Renesme e ela apenas tomou um gole da sua.

— As notícias ficarão ainda melhores quando a nossa economia se restabelecer e o mal for totalmente liquidado, vocês entendem o que eu falo não é? – Esme falou e Renesme sorriu. Sua vó sempre sensata!

— Claro que sim e é que vamos lutar para conseguir. – Aro disse desconcertado.

Renesme esperou apenas o tempo suficiente para sair à francesa pelos corredores do palácio, já tinha aguentado o suficiente. Ainda teria muito trabalho no dia seguinte. Em passagem pelo seu escritório viu umas lindas orquídeas roxas em sua mesa. Ela foi até elas e aspirou o cheiro gostoso que vinha delas. No cartão havia apenas uma mensagem curta: “Me ligue.” e um W que ela sabia que era de William.

É claro que ela se chateara quando não o viu na igreja naquela manhã. Ele sabia o quão importante era aquele momento para ela. Mas sinceramente, não via William somado na equação Volturi. Entendia de certa forma, porém não exclui o fato de que ela o querer ali. Pegou o celular no bolso e apertou o nome dele na discagem rápida. Nem esperou muito para ouvir a voz dele do outro lado da linha.

— Como está a minha princesa hoje? – Renesme sorriu. William não perdia o seu galanteio. – Gostou das orquídeas?

— Sim, são lindas!

— Foram colhidas aqui em Brocken Hall. Estamos em período em que elas florescem por causa do calor. Queria que recebesse as mais bonitas hoje!

— Obrigada. – “queria que você tivesse aqui”, Renesme pensou, mas não disse. – Esperei que fosse a missa hoje.

William respirou profundo no outro lado da linha, tanto que Renesme pôde ouvir.

— Eu sei o quão o dia de hoje é importante. Queria que me desculpasse profundamente por não ter estado na missa, mas eu não conseguira estar perto daqueles vampiros.

Sim, William tinha apelidado os Volturi de vampiros. Era uma piada interna que ela amava. Não havia melhor definição para Aro. Renesme sorriu. Ela amava o jeito descontraído do jornalista. Ele sempre tinha um jeito descontraído de levar a vida, até mesmo em momentos de dissabores.

— Levei orquídeas para o túmulo de sua mãe também, se não se importa... Eu gostava muito de Bella.

— Eu sei e não me importo. Eu deveria ter ido lá também, mas eu não consigo. Não quero reviver memórias ruins.

— Entendo. Meu coração está com você.

— Obrigada.

— Queria muito ter conversado mais com ela. Acho que nos dariamos bem. Bella tinha uma força inabalável. Não esqueço o dia em que me “sequestrou” para falar comigo. Impagável!

— Mamãe era bem assim. Quando colocava algo na cabeça...

— Você também é assim. Só precisa de mais confiança.

— Estou ganhando e você tem me ajudado muito com isso. Acredito que mamãe sentiu o mesmo ao seu lado.

— Fico honrado por estar ajudando em algo. Queria poder ter feito mais. Quando ela morreu eu fiquei devastado. Me senti um fraco por ter saído do país e ter tecnicamente deixado a luta.

— Não fique. A segurança da sua família vale mais. Aliais, como está a minha pequena fã? Você tinha me falado dela outro dia.

— Sim, ela é mesmo a sua pequena fã. Katlyn está ótima! Estamos passando o verão juntos aqui em Brocken Hall e acho uma benção. Queria poder dedicar mais tempo a ela, mas... – “Está ocupado demais com um caso de assasinato.” Renesme sabia que William iria dizer isso e não disse.

— Olha, William... Se você precisar de mais tempo para se dedicar a ela, eu...

— Não está me forçando a nada Renesme. Estou nesse caso por que quero estar e estou no palácio por que eu sinto que devo ficar ao seu lado.

Renesme sentiu os pêlos todos se arrepiarem com aquela frase e até ficou sem voz. Não sabia por que William a deixava dessa forma. Desde o minuto que o viu seus sentimentos ficavam alterados. Não sabia bem se ele dizia todas aquelas palavras doces e fazia tudo aquilo de coração ou era por que ele tinha um espirito sedutor. Ela não poderia dizer, tinha sido enganada diversas vezes por homens que se diziam terrivelmente apaixonados por ela.

— Amanhã estarei por ai. Mal posso esperar!

— Sim, nos vemos amanhã.

E a ligação encerrou. Renesme ainda ficou alguns minutos apreciando as belas orquídeas roxas e William olhava para o celular como se esperasse outro toque. Ele pensava nela mais do que o normal, essa era a verdade. Talvez a convivência diária o estivesse deixando pior. Olhar para ela e sentir tudo que sentia e não poder fazer nada era um martírio. Sabia que ela era casada, com um idiota, mas casada! Além dos 15 anos de diferença que eles tinham. Talvez a princesa não gostasse de homens velhos.

— Com essa cara só pode ter uma mulher no pensamento.

William saiu do transe e viu Joel adentrar o escritório. Havia esquecido que havia marcado uma reunião com ele.

— No momento só penso em duas mulheres. Na verdade, uma menina e uma mulher.

— Sei não William... Acho que essa convivência toda com a princesa vai acabar dando errado. Pra você, principalmente.

— Pode ser... Como eu queria que fosse diferente, mas o que posso fazer? Precisamos descobrir alguma coisa sobre o que aconteceu com Bella. Estar com Renesme é um conforto do que eu não posso ter.

— Bem, e como vão as coisas lá dentro. Deu para captar algo?

— Confesso que tem sido mais difícil do que eu imaginava. As pessoas continuam bem arredias na minha presença. “O Intruso”, sabe? Mas eu tenho sentindo umas coisas estranhas. Acho que Renesme tem percebido o mesmo. Aro chegou e dominou tudo muito rápido. Você precisa ver o quanto ele vigia aquele lugar. Como uma pessoa de longe conseguiu tanto? Estamos falando de uma instituição extremamente fechada e muito tradicional aos seus modos.

— Entendo. Se você não conseguiu por que ele consegue? Acha que isso pode ter haver com Bella?

— Não posso afirmar nada ainda, mas estou de olho e Renesme também. Mas tem muita coisa no caso que me deixa cabreiro, sabe? O fato de não se preocuparem com o carro de Bella. Tom garantiu que havia sido alguém de dentro do palácio que havia também mexido no carro dela.

— Sim, além do fato de Bella não ter passado por uma perícia, mesmo quando suspeitaram de que algo mais poderia ter acontecido. Não acho que a duquesa não recebeu nem segurança e nem crédito o suficiente.

— Isso é certo. Mas com relação à passagem pela perícia, sou capaz de entender. Bella tinha “morrido” no hospital e a morte dela naquele momento não parecia suspeita. Outras situações me preocupam mais. Acredito que a morte dela foi tão bem arquitetada que ela sairia de cena sem deixar qualquer suspeita, mesmo pela uma perícia criminal.

— Isso é. Nunca me conformei com fato de quererem culpar Bella. Queriam por força a declararem louca e encerrar o caso. Como a vítima pode ser culpada por algo?

— Bizarro! A polícia que cuidou do caso dela e de Elton era bem porca.

— Bem, tenho uma explicação para isso ao menos. Saiu o resultado da pesquisa que foi feita sobre Bengt, aquele que Caan citou como chefe, lembra?

— Sim e ai? Estava ansioso por isso.

— Adivinhe! Ele é capitão de polícia em um dos distritos chaves de Belgravia. Não sei como não reconheci antes. Acho que por que o chamamos de outro nome, enfim... Isso explica muita coisa.

— Claro! Não me surpreenderia o fato de que a polícia esteja envolvida num clompô em favor de Donnalson e até recebessem para isso. Desculpe-me Joel, mas acho a classe policial mais podre que existe. Com um conservadorismo, um tom de superioridade tão desnecessária!

— Não, isso é verdade. Desde o início eu já sentia que toda aquela falta de investigação vinha de um grupo que não estava nem ai para o caso e só queriam se livrar daquilo. Por isso lhe procurei, lembra? Era um descaso total!

— Sim, era como se eles quisessem que nada fosse descoberto. Tenho por mim que Bono se sentiu inteiramente culpado pela morte de Bella e queria que isso não viesse à tona.

— Graças a Deus que agora as coisas estão caminhando. O rei tem ajudado muito nisso. Quando ele trocou o chefe do Serviço Secreto, ai eu vi tudo deslanchar. Eu conheço o Timur, ele é duro na causa. Foi ele que conseguiu o depoimento de Caan.

— Te contei que Renesme me ligou naquela noite me dizendo que Aro tinha dito a ela que tinha conseguido aquele depoimento? Isso foi esquisitissímo!

— Ela me falou. Isso acendeu várias lanternas me cabeça. Mas não acredito que o depoimento dele seja inventado.

— Também não acho. Mas ele veio fácil demais. Mas, enfim... Não sei bem qual o contexto que ela te contou isso, mas precisa saber como é a relação dela com Aro para entender melhor. Não vou te contar agora por que eu não tenho a permissão dela. Mas acredite, tem muito mais em jogo.

Joel respirou fundo e coçou a cabeça. Nesse caso nunca deixaria de aparecer pontas soltas.

— Tomara que ela venha a confiar em mim, então. Quero lhe dizer que Timur colocou um detetive novo no caso. Ele está mudando toda a equipe, o que é muito bom por que tem entrado gente mais competente. Adem Hughes é jovem, mas tem uma experiência boa.

— Precisaremos conversar com ele. Quanto mais ele souber melhor.

— Verdade. Tenho fé que vamos descobrir tudo agora.

William uniu as mãos em oração e desejou profundamente que isso se concretizasse. Enquanto isso, Renesme ainda permanecia em seu escritório quando sentiu alguém entrar. Ficou agradecida por ser Renée.

— Que flores lindas, meu bem! Alec é muito gentil!

— Não foram mandadas por Alec, vó. É de um amigo, William Lamb. Ele trabalha comigo.

— É mesmo? Parece ser um cavaleiro, então.

Renesme assentiu passando a mão pelas pétalas das rosas. Renée percebeu logo tudo. Sua neta estava em apuros. Provavelmente apaixonada ou se apaixonando por um homem que não era seu marido. Não quis importuná-la com isso, esperava que estivesse errada. Mas no momento tinha algo mais importante para dizê-la.

— Você viu a postagem que seu irmão foi citado?

Renesme se ajeitou na cadeira e tentou imaginar o que seria. Não ficaria surpresa se fosse algo relacionado às suas aventuras. Tony era bem esse tipo de pessoa, que se arriscava para tentar acalentar algo. Ela pegou o celular e abriu o Twitter. Sim, seu irmão era o assunto mais comentado.

— Uma moça, que suponho que seja a namorada dele, postou uma foto no Instagram deixando a entender que estava noiva com Antony.

A princesa rapidamente abriu o aplicativo e discou o nome de Ashley e não demorou muito para ver a foto que todos comentavam. E lá estavam os dois sorrindo, abraçados e Ashley estava com um anel bem conhecido por Renesme. Um que fora de Bella, presente de Edward quando completrama bodas de prata. Sua mãe amava aquele anel! Junto com a bela foto havia a seguinte descrição: “Há amor onde você menos espera. Sei bem disso por que Tony e eu estamos nessa aventura por um tempo e agora sim estamos prontos para subir de nível. Em alguns dias vocês encontraram um menino bonito e uma menina de vestido branco por ai. Tão feliz e ansiosa por esse momento!”.

— Bom, não sei se Anthony comunicou isso pra vocês ou se ele realmente está noivo com essa garota. Mas pelo que eu entendo de realeza comunicar assim algo tão importe não é muito bom.

Renesme apenas assentiu, tinha a total certeza que Antony e Ashley estavam noivos. Claro que ele não contaria, Tony gostava de fazer tudo a sua maneira. Sua vó tinha razão uma bomba estava prestes a estourar e já podia ver problemas à vista. AGUARDO OS COMENTÁRIOS DE VOCÊS ;)


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