Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 19
Capítulo 19




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799059/chapter/19

Mil coisas se passavam na cabeça de William naquele momento. Ele sentia como se seu tempo fosse marcado numa grande ampulheta, onde cada grão de areia significasse o fim da vida de sua filha. Nem queria pensar nisso, mas era inevitável. O sujeito sabia exatamente o endereço que Katlyn morava com a ex –esposa do jornalista.

Ele pegou o telefone e tentou ligar para Helen novamente enquanto se dirigia em alta velocidade para a casa dela. O som de “chamando” cada vez mais prolongado o deixava cada vez mais angustiado. Teria o pior já acontecido?

Ele pensou em mil possibilidades. Seria apenas uma ameaça vazia? William achava que não. Quem quer que estivesse na casa de sua filha estava falando muito sério e estando tão perto do alvo seria despretensioso não agir. Mas poderia ser agora só um aviso. Um sinal como acontecera ao rei. Porém, ele não queria pagar pra ver.

Pensou em ligar para a polícia, mas como iria provar as ameaças se as mensagens tinham sido apagadas pelo seu remetente desconhecido? Ligou para Charlote e avisou do que poderia estar acontecendo. Era melhor que alguém próximo estivesse a par de tudo caso algo de pior acontecesse.

Sua respiração voltou a ficar mais rápida do que o normal ao entrar no endereço de sua ex - esposa. Não pôde evitar lembrar-se do momento em que isso aconteceu antes. Seu coração também estava acelerado quando na manhã de 19 de fevereiro chegou à maternidade no quarto 11. Não era desespero, mas ansiedade. Tinha virado pai e aquele pacotinho rosa significativa o mundo para ele. Quando viu pela primeira vez aquele pequeno bebê de olhos puxados, todo rosado, e com movimentos lentos, sabia que sua vida tinha mudado pra sempre. Ressentia-se muito por ter perdido o nascimento dela e ainda mais por não estar ali no momento certo para salvá-la. Revirou a cabeça perturbado. Não podia perder a esperança.

Parou em frente a casa e notou que haviam muitas pessoas ao redor. Seguiu em frente e encontrou a porta aberta, o tranco estava quebrado. O coração de William batia cada vez mais forte a cada passo que ele dava. Não falou com ninguém, só queria ver Helen ou Katlyn. Os móveis desajeitados e alguns objetos quebrados davam o sinal de luta. Onde elas estavam? Ele seguiu as pessoas e viu que elas se amontoavam na cozinha.

— Com licença! – pediu William enquanto tentava encontrar uma passagem.

Depois de empurrar alguns braços viu Helen sentada na cadeira com uma garotinha ao lado. As duas estavam ensanguentadas, mas conscientes. Ele se aproximou e sentiu os braços daquele que um dia foi o seu grande amor lhe envolver em desespero.

— Helen...

Olhou para o lado e viu que a garotinha não era Katlyn. Não sabia se sentia alívio ou mais desespero com essa visão. Ele afastou um pouco Helen e a examinou. Tinha alguns ferimentos, mas nada grave. A menina não parava de chorar ao lado deles.

— Onde está Katlyn?

— Ele não está aqui. Graças a Deus! Ela foi para casa de uns colegas para terminar um trabalho da escola.

William sentiu como se toda a carga pesada em suas costas fosse esvaindo como um balão que perdia o ar. Tanto que ele acabou tendo que se segurar na cadeira para não cair.

— O que aconteceu?

— Um homem veio aqui. Ele estava mascarado, não pude ver o rosto dele. Mas me parecia um maluco. Falava coisa por coisa....

As lágrimas de Helen a impedia de continuar falando. William a abraçou e sentiu os braços dela o envolver. Há quanto tempo os dois não ficavam assim?

— Nada mais vai acontecer a você. Eu prometo. Acabou!

Ela nada disse. Estava mesmo muito abalada para não lhe devolver uma resposta grosseira. William sabia que tinha culpa por tudo que aconteceu nessa tarde. Aliais, por tudo que acontecera antes no passado. Helen tinha vários rancores contra ele e todos merecidos.

Quando ele a conhecera naquela noite de sexta –feira num pub próximo ao The Globe, não pôde resistir aos encantos dela, mas também não pôde abdicar de sua carreira cada vez mais ascendente. De colunista, tinha virado o principal redator político do jornal e um dos mais comentados do país. Quando Katlyn nasceu, ele já tinha um programa de rádio. Estava cobrindo um dos furos jornalísticos mais intensos no parlamento quando a filha veio ao mundo. É claro que Helen ficara chateada por ele não ter estado ao lado dela e ele também. Lembrava-se de prometê-la que iria deixar o trabalho um pouco de lado para ficar com as duas. Porém, os inúmeros compromissos e chamadas vindas da redação fazia com que essa promessa ficasse cada vez mais vaga.

Ele tinha acabado de assumir o seu primeiro programa jornalístico quando Helen engravidara novamente. Não tinha sido fácil desde o princípio. Ela não confiava mais nele. Os seus ciúmes, que William achava bonitinho no início, acabaram por serem torturantes na relação. Ele nem sabia se Helen tinha mais ciúmes de quaisquer colegas de trabalho dele ou da sua profissão. As brigas ficavam cada vez mais intermináveis e quem sofreu com isso foi o seu filho que ainda nem tinha nascido.

Da última vez que vira Helen chorar em desespero, assim como agora, tinha sido quando perdera o garotinho deles, com apenas 6 meses de gestação. Um pequeno bebê que se chamaria Sam, como o pai dela. Fora a gota d’água para o fim do casamento de 3 anos.

— Alguém sabe que Katlyn está na casa dos colegas?

— Não...

— Temos que ser rápidos, Helen. Preciso ter Katlyn nas minhas vistas.

Ela assentiu e pegou a garotinha que estava ao lado deles e a pôs no colo. A menina podia ser uns 4 anos mais nova que a filha deles. Teria o sujeito a confundido com Katlyn? Os traços asiáticos das duas poderiam enganar, mas demonstrava que ele não estava tão bem informado assim. Ou agira por mais pura maldade e ainda talvez estivesse em busca da verdadeira filha de William. Ele não poderia esperar.

Foi só a ambulância chegar para levar às duas que William rapidamente se dirigiu a porta. Mas antes pedira o endereço de onde Katlyn estava e prometeu a Helen que logo estaria ao lado dela novamente. Sem pensar mais, ligou o carro e saiu rapidamente em busca da filha.

No palácio estava Renesme. Já era quase noite e ainda não tivera notícias satisfatórias do que acontecera com o seu avô. Todos estavam apavorados. Não podiam negar que havia sido um tremendo golpe dentro da instituição. Ninguém lembrava de a vida de um monarca ser posta em risco dessa forma. Era como um fim premeditado.

O vovô está bem!”, era isso que tentava pensar diante de tanta aflição. Odiava conflitos, gostava de estabilidade, e em momentos movediços feito o de agora precisava agarrar a coisas sólidas. Procurou um lugar vazio e deixou a porta entre aberta. Queria se afastar de toda a confusão, mas queria se manter a par de tudo que estava acontecendo. Quase sorriu ao lembrar do que sua mãe sempre dizia sobre o fato de que não importava onde estivesse, Renesme sempre estaria com as antenas ligadas captando quaisquer informações. Ela Pegou seu celular e ligou a caixa, se preocupando em não manter o volume muito alto. Alongou e pôs as sapatilhas de balé.

Enquanto tentava lembrar dos passos que aprendera ainda na infância, sentia um pouco de nostalgia. Era bom poder se transportar para tempos mais leves, sem preocupações. Lembrava que seus pais a haviam colocado nas aulinhas de balé quando ela tinha quatro anos. Todos concordavam que era uma coisa bem de menina, ideal para uma princesa. Sua mãe sempre lhe dissera que ela poderia escolher em continuar ou sair para fazer outras coisas. Isso a fez que ela choramingasse para sair antes mesmo de terminar todas as lições. Tinha ficado tempo demais e o desenho agora era a sua praia. Hoje sentia que talvez não tenha valorizado o balé como deveria. Mas de qualquer forma ele a tinha moldado. A dança era a sua vida.  A cada passo que dava sentia a adrenalina se esvair. Por isso que gostava da dança por que ela era capaz de mover o corpo a outras dimensões sem muito esforço e fazia com que ela libertasse seu lado mais interior, assim como as suas pinturas, que mostravam quem realmente ela era.

Cada movimento do lado de fora a fazia parar por uns instantes. “Nada mais uma vez”, pensou, já sentindo a irritação subir mais uma vez. Aumentou um pouco mais o som e acelerou os passos de dança. Pensou em quem poderia ter atirado no seu avô. Seu pai vinha tentando a todo custo pressionar a polícia para obter respostas o mais rápido possível. Renesme sabia que ele se dividia em saber que fizera essa barbaridade contra Carlisle ao mesmo tempo que se compadecia com os revolucionários. Era culpa e mágoa juntas e isso gerava uma tensão muito grande. Maior do que já estava proliferada pelos poros do palácio.

Um barulho maior chamou a atenção da princesa. Ela desligou o som e percebeu que agora sim o seu avô havia chegado. Saiu correndo para os corredores e parou em frente ao quarto dele. Haviam várias pessoas ao redor, mas ela não se incomodou em afastá-las e não ser nada educada, pelo menos uma vez. Precisava vê-lo para que ele se tornasse real e ali estava. O velho homem de quase noventa anos deitado em sua cama, não parecia um rei, mas apenas alguém cansado demais. Renesme pôde notar que apesar dos curativos, ele parecia bem.

— Oh Ness! Que bom ver você.

Renesme foi até o avô rapidamente e pegou as enrugadas mãos dele.

— Ver você assim com essas roupas de balé me fez me lembrar da garotinha que você era. Quantos anos você tinha? Uns quatro ou cinco? Sempre foi tão viva e esperta. Lembro que chegou até mim e perguntou por que eu usava essa coroa o tempo todo. Você se lembra, querida?

Ela apenas deu um sorriso de leve e não pôde deixar de soltar algumas lágrimas. “Ele está bem!”.

— O que fizeram com você foi tão horrível!

— É à força dos tempos, minha querida. Nada permanece pra sempre.

— Mas você parece ótimo...

— Ah não me refiro a mim. O médico disse que vou viver mais um pouco. Foi só de raspão, sabe? Eu fico feliz, mas não posso evitar também sentir um pouco de culpa. Sabe se lá qual a situação desse pobre coitado.

— Independente de tudo que está acontecendo, vô, não é com violência que as coisas vão se resolver.

— Eu sei, meu bem. Mas se ele tivesse me acertado pra valer pelo menos eu teria partido com a sensação que pelo menos, por um momento, eles teriam vingado a minha negligência.

— Não pense assim, vovô. Você não governa sozinho. Já faz tanto por esse país. Mudou tanta coisa ao longo dos anos. Nos ensinou tanto! As pessoas amam você. Não pode ouvi-las gritarem do lado de fora? Elas estão orando por você desde cedo.

Renesme olhou para o avô esperando uma resposta dele, mas só pôde ouvir o seu ronco saindo baixinho de sua boca. Adormeceu tranquilamente. Sentiu as mãos de Esme nos ombros dela e então resolveu se levantar.

— São os remédios que deram a ele no hospital, querida.

— Sim, é claro. Vou deixá-lo descansar.

Viu o sorriso de agradecimento sincero no rosto da avó e saiu pelos corredores do palácio.

William segurava a filha nos braços como se ela ainda fosse um bebezinho de colo. Sabia que ela, já com dez anos, devia estar achando isso horrível. Filhos tendiam a rejeitar os pais no início da puberdade, mas ele não ligava pra isso. Ela estava ali com ele e bem. Isso era tudo que importava.

Helen tinha sido liberada do hospital. Levou alguns pontos na cabeça e ganhou uns curativos pelo corpo, mas estava bem. A menina, que era a sobrinha desafortunada de Helen que estivera aos cuidados de sua tia logo num dia ruim como aquele, tinha tido menos sorte, teve que ficar em observação por mais tempo. William ficou aliviado por ver a esposa bem o suficiente para não ficar internada. Os seus planos era passar na delegacia, prestar conta e ir embora o mais rápido possível de Belgonia.

Ele não pôde evitar um sorriso ao pensar que estaria saindo do país em alguns minutos. Era irônico por que a primeira vez que isso acontecera fora para ir em busca da então esposa e filha. Helen esperou apenas o tempo do resguardo do filho falecido para pegar Katlyn e partir para longe de William sem deixar um recado.

O jornalista lembrava-se bem da aflição que foi chegar em casa no fim do dia e não encontrar as duas como ele esperava. Helen tinha ido para Londres, onde nascera e vivera antes de casar com William. Estava disposta a por um fim de vez no casamento e determinada a recomeçar longe de seu esposo. Ele podia entender perfeitamente as atitudes dela, reconhecia os seus erros, mesmo tendo implorado para que ela voltasse, mas não podia admitir o fato dela querer afastar Katlyn dele.

Foram anos e anos de uma relação complicada com Helen para tentar resolver as coisas e conseguir um acordo amigável com ela. Mas foram incontáveis vezes que teve que enfrentar um juiz cara a cara, ou fazer um verdadeiro jogo de gato e rato apenas para tentar ver a filha que era afastada dele toda vez que ele se aproximava.

Nunca tinha conseguido perdoar a ex-esposa por descontar a sua raiva na relação dele com Katlyn, mas por ironia do destino lá estavam eles todos juntos novamente.

— Eles querem ouvir você agora. – falou Helen o tirando de seus devaneios.

William deixou a filha com a mãe e seguiu até a sala do delegado. Não pôde evitar o estremecimento ao se lembrar de tudo que vivenciara nesse dia pavoroso. Ao entrar, ficou feliz ao reconhecer que era Bill o delegado do distrito. Não sabia que o encontraria ali e ficou satisfeito.

— Ora se não temos William Lamb de carne e osso na minha frente.

— Como vai, Bill?

Bill e William eram conhecidos de longa data. Quando o primeiro ainda era um policial e ajudava o segundo com casos pavorosos para inspirarem o jornalista em ascensão a criar as suas matérias. Isso tinha fortalecido os laços dos dois.

— Que dia, ein?

— Nem me fale. Nem nos nossos melhores tempos de trabalho poderíamos ter encontrado um acontecido tão surreal.

— Verdade. Sua ex-esposa, nossa ainda não posso acreditar nisso... – William sorriu. Bill estava no pub quando ele conhecera Helen e viu como o amigo ficara nos dias posteriores. – Ela me falou que acredita que o tal cara estava procurando se vingar de você.

— Eu acho que dessa vez ela pode ter razão. Escute, você sabe que na minha profissão, com as minhas matérias, pode atrair inimigos.

O delegado apenas assentiu e William continuou.

— Eu havia recebido umas duas mensagens bem estranhas pouco antes do ocorrido. Eram ameaças a mim e a Katlyn. Diziam que hoje tinha sido só o começo que eu era o próximo. Acho que ele estava se referindo ao atentado ao rei nessa manhã. Nas mensagens ele tinha deixado bem claro que sabia onde minha filha estava e isso soou como se ele quisesse.... Machucá-la para me deter.

— Você tem as mensagens por aí?

— Não, eu não as tenho. Por mais incrível que possa parecer, o remetente as apagou alguns segundos depois de eu lê-las.

— Ele queria que apenas você as lesse.

— E queria que eu não tivesse provas. Mas tenho o número aqui.

William pegou o celular e deu a Bill. Este anotou os números e ligou para a sala ao lado para que fizessem um rastreio.

— Se ele for um cara inteligente deve ter mandado as mensagens de um celular pré-pago e jogado o chip fora.

— Está reconhecendo isso de algum lugar?

Bill não pôde evitar o sorriso. William sempre fora perspicaz.

— Você sempre com as perguntas certas.

— Não posso evitar, não é? Ossos do ofício.

— Uma testemunha do caso do Elton Rust falou que ele vinha recebendo essas mensagens antes de morrer, mas que não tinha como mostrá-las a polícia por que elas eram apagadas.

— Foi o meu caso e você sabe, ando muito envolvido com matérias contra Bono Donalson. Isso pode ter me colocado na mira de um de seus adoradores.

— Não podemos afirmar nada agora. Mas prometo que vou colocar os meus melhores homens no caso.

— Agradeço.

— Você já tinha recebido alguma ameaça antes dessa de hoje? Notou alguém te seguir ou alguma coisa estranha ao seu redor?

— Não. Hoje foi a primeira vez e quero que seja a única. Na verdade, eu estava achando estranho que não tivesse acontecido antes.

— É mesmo estranho. Mas deve ter cuidado daqui pra frente. Lembre-se você não é mais aquele solteirão.

— Eu sei bem disso e agradeceria muito se liberasse a mim e a minha família para sairmos do país. Não quero mantê-las perto do perigo.

— Tem mais alguma coisa que queira me contar?

— Não.

— Então, está liberado. Mas talvez eu vá precisar de você ou Helen para darem alguns esclarecimentos ao longo da investigação.

— Estamos à disposição.

— Ótimo!

Bill pegou o testemunho de William que havia sido transcrito pelo escrivão e entregou o papel impresso para que o jornalista assinasse. Ele apressou-se no ato. Mal via a hora de estar longe dali e manter Katlyn e Helen longe do perigo.

— Está liberado, Will. Mas não esqueça, a pessoa que tentou fazer isso a sua família não vai desistir. É melhor dar um tempo nas suas matérias para tentar acalmar um pouco as coisas.

— Eu sei, Bill.

William apertou a mão do velho amigo e saiu da sala o mais rápido que pôde. O voo deles para Paris sairia daqui a alguns minutos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Os comentários de vocês são sempre bem - vindos! Me deixe saber o que você está achando da história.