Ceci e Lipe escrita por Nami Buvelle


Capítulo 5
50.




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Comprei um cupcake e, sozinha, apaguei as velas.

Me mudei, há dois anos, do Rio de Janeiro para São Paulo, graças ao trabalho de Ravi. Ele insistiu que seria uma excelente oportunidade para ambos e que iniciaríamos, agora, de fato, nossa vida como casados do zero.

Não mentiu quando disse que iniciaríamos nossa vida do zero, apenas não como casados. Não tardou um ano para que me traísse com a secretária e para que eu descobrisse publicamente. Todos os que eu conhecia – em geral, colegas de trabalho dele – em São Paulo me viam como coitada. E por mais que SP fosse enorme, as notícias se espalhavam rápido demais. Estava tendo uma certa dificuldade para me readaptar.

Suspirei, um suspiro cansado, não meditativo. Não seria o primeiro aniversário que eu iria dormir cedo. Tinham os de quando eu era criança, e teve também aqueles na casa dos quarenta, nossa! Traumáticos. Pelo menos agora eu estava livre. Não tinham braços para me segurar, não tinha ninguém para controlar com quem eu falava na minha própria festa, quem eu convidava...

— Cecília? Ceci? – Uma voz abafada e conhecida batia à porta.

Mas não fazia sentido. Sentido algum. Se fosse... Bom, ele estava chateado comigo. Magoado há muito tempo. Eu tinha interrompido o nosso para sempre, dado um tempo muito curto para a eternidade, e isso não se faz. Entendia manter contato no Rio, por costume, por respeito, talvez. Mas aqui, tão longe?

Corri até a porta, meus pés mal se seguravam no chão. A abri.

— Felipe? – Perguntei, embasbacada.

— Ceci... – Ele respirou fundo.

Estava molhado de chuva e com os cabelos bagunçados. Sua blusa estava amarrotada, típico visual de uma longa viagem, e suas malas apoiadas na parede.

— Entra, por favor! – Ainda surpresa, escancarei a porta.

Conversamos a noite toda. Rimos, nos abraçamos. Parecia que nunca tínhamos nos afastado e eu cheguei a crer que não tínhamos mesmo.

— E então a Clarinha disse "tio, eu sou carnívora, para que que vou comer salada?"

— Ah, meu Deus! – Gargalhei. – Igualzinha a Laura! Filha de peixe, peixinho é.

— E, não é? – Lipe gargalhou também. – Quem diria... Vai fazer onze anos já!

— Como é?

— Clarinha vai fazer onze anos.

— Não acredito! Meu Deus, estamos ficando velhos! – Ri, mas murchei um pouco quando repeti:

— Estamos velhos...

Lipe se aproximou e deitou a cabeça no meu ombro.

— Estamos novos, Ceci. Nunca se é velho demais para recomeçar.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu não podia ver os de Lipe pela posição, mas senti que os dele também.

Não sei o que me deu, ou talvez eu soubesse há anos, apenas não admitisse, só que beijei Felipe. Um beijo urgente, como minhas corridas de infância. Um beijo frenético e agitado. E logo depois nos beijamos de novo. Um beijo mais calmo. De velhos amigos. De um "para sempre" reatado. E quando ele viu a cordinha vermelha no meu pulso, bem ali de onde ela nunca devia ter saído, fui beijada outra vez.

 


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