Ceci e Lipe escrita por Nami Buvelle


Capítulo 1
10.


Notas iniciais do capítulo

"Se não fossem as minhas malas cheias de memórias
Ou aquela história que faz mais de um ano
Não fossem os danos, não seria eu."

Capitão Gancho, Clarice Falcão



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799056/chapter/1

— Manhê! Oh, manhê! – gritei, enquanto corria para lá e para cá, confundindo minhas perninhas.

Precisava ser rápida! Rápida, rápida! Só não me lembrava exatamente do porquê.

— Ceci! – Dona Silvia, pros íntimos, mais conhecida como minha mãe, trombou comigo.

E quando digo que trombou comigo é porque ela trombou mesmo. Caí de bumbum no chão.

— Ceci. – Minha mãe suspirou.

Sempre acho engraçado quando ela suspira. Será que as pessoas sabem que o suspiro é como se fosse uma meditação, tipo, hiper-rápida? Sim, a gente suspira em várias situações, mas sempre com objetivos em comum: nos acalmar, tranquilizar a respiração, buscar a paz interior etc. Meditação. Só que hiper-rápida! Tipo pipoca de micro-ondas. Foi a mãe da Laurinha quem me contou tudo isso, quando ela não parava de suspirar olhando o moço que vende frutas na nossa rua. Minha mãe medita a beça!

— Meu amor... – Continuou, meditando mais uma vez. – Você já é uma mocinha, cuidado ao correr por aí.

Ela sorriu para mim. Um sorriso lindo e brilhante e eu sorri para ela também.

— Eu estava com pressa, era muito importante!

Mamãe passou a mão pelo meu cabelo.

— Eu acredito, Ceci. Bom, é bom ser criança, não é?

Balancei a cabeça para cima e para baixo muitas e muitas vezes. É verdade! Amo correr por aí e não vejo muitas pessoas mais velhas fazendo isso.

— Tudo bem. Hoje o dia é seu, meu amor. Só tenta não derrubar nenhum moço ou moça das bandejas, ok?

— Ok! – Me estiquei e sorri sem mostrar os dentes, como a maioria dos adultos.

— Ok... Eu amo muito você. Ah, nunca perca essa energia, tá bom? – Cutucou meu nariz. – Está pronta?

Pulei nos braços dela. Sim! É claro que estava pronta! Uma tarde inteirinha com todo mundo que eu amo juntinho? Amigos e família? Com brincadeiras, salgadinhos e docinhos? Eu estava pronto tinha um mês já! Mais do que isso! Estava pronta tinham muitos meses! Todos os meses que juntos formam um ano! São catorze, não é? Enfim, estava pronta desde o ano passado!

Ai, cansei de pensar. Estava tão pronta que cochilei a caminho da festa. Estar pronta gasta energia, sabe? E que bom que cochilei, porque foi só eu chegar lá que brinquei muito! Corri para lá e para cá – só para variar – brinquei com balões e bolas e sem nada também, ou devo dizer com a imaginação? Me diverti demais com a Laurinha, com a Fátima, com o Felipe... Ai, ai, o Felipe. Meu melhor amigo.

— Feliz aniversário, Ceci! – Ele disse e me entregou uma folha meio verde.

— O que é isso, Lipe?

— Minha mãe comprou um troço para você, disse que era meu presente. Mas não era, sabe? Presente é do coração. É como ter um amigo: a gente escolhe, não tem como escolherem pela gente. Então eu escolhi essa folha, olha só como ela é bonita!

E não é que a bendita da folha era bonita mesmo?

— Concordo!

— E a folha é da árvore. Bom, eu imagino que seja. E árvores são dos parques, ou das ruas, que estão cheias delas. De lugares onde a gente passeia e fica feliz. Ela é parte da nossa felicidade. Assim como você.

Felipe sabe como usar as palavras certas para mim. Abracei ele.

— Amigos para sempre! – Falei.

Na verdade, acho que gritei, porque ele riu e tampou os ouvidos.

— Para sempre!

— Ceci, querida! – Mamãe veio falar comigo.

Como estava engraçada! Sua voz, mais fininha. Seu cabelo, molhado de suor e ela parecia meio feliz demais. Sempre via mamãe feliz demais quando segurava copos de bebidas amarelas, seja lá o que elas sejam.

— Hora do bolo!

— Bolo! – Eu e Lipe comemoramos juntos.

Eu amo a hora do bolo, é verdade, sempre amei. Mas não amo a hora da despedida, que geralmente vem logo depois.

— Ceci, a gente vai ser amigo para sempre, lembra? Amanhã a gente já está juntos na escola de novo! – Ele disse e segurou minha mão, como se lesse meus pensamentos.

E ele lê, sempre leu. Eu amo o Lipe. Amigos para sempre!

— Parabéns para você... – Todos os meus amigos e família cantaram juntos.

Pulei de alegria! Alegria que não cabia em mim! Tanto que assim que acabaram de cantar, é claro, corri de lá para cá. Era urgente, era feliz e eu queria mostrar para todo mundo isso!

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ceci e Lipe" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.