Graveyard of Flowers — Gardenia escrita por crowhime


Capítulo 4
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799038/chapter/4

Eu estava determinado. Mas, sinceramente, não sabia direito como me reaproximar de Regulus. Decidi que uma boa ideia era tentar adentrar o território em que ele se sentia mais seguro – eu ainda não sabia como fazer isso, mas o próximo jogo da temporada era Sonserina contra Corvinal e eu ainda não havia tido a chance de ver Regulus jogando. Se eu queria me aproximar, eu deveria tentar conhecê-lo melhor antes. Essa era a linha de pensamento, mesmo que eu não fosse lá o maior fã de quadribol do mundo. Eu entendia pouco, só via os jogos da Grifinória e não me interessava me aprofundar, mas já que a Sonserina iria jogar, Regulus iria jogar. Era sua primeira partida após o retorno e eu não podia perder.

Usando roupas casuais, me misturei aos alunos da Corvinal, sentando-me ao fundo da arquibancada. Sabia que se me atrevesse a pisar no território verde e prata, eram altas as chances de ser reconhecido e rechaçado. Já com os azuis, mesmo que me reconhecessem na arquibancada, era um território mais amigável. Na prática, eles nem me notavam.

Assistindo ao jogo, eu vi que não precisava entender de quadribol para perceber que Regulus era bom. Muito bom. Mesmo munido de binóculos, era difícil acompanhá-lo no ar. Ele voava rápido, cortando o ar como se não houvesse resistência, e fazia manobras que meus amigos saberiam dizer o nome. Se eles estivessem ali, eu podia ter perguntado, mas não os convidei – Sirius eu até percebia que estava preocupado, mas ele se fazia de cabeça dura e não era a melhor pessoa lidando com sentimentos, então não sabia se reaproximar do mais novo; e os outros dois definitivamente não tinham nada a ver com Regulus, embora às vezes até perguntassem sobre por se preocuparem conosco.

Enquanto o acompanhava, a sensação era de que eu quem estava voando. Não porque me sentia nas nuvens, mas porque meu coração estava tão disparado que eu podia estar à beira de um ataque cardíaco – e não me importava de fato, porque o sorriso que por vezes podia ver através das lentes do binóculo me fazia perder o fôlego. Confiante, magnético e impertinente, como se soubesse que era o rei dos céus. Lembrava-me de ver essa expressão algumas vezes em sua face quando implicava comigo, e só então me perguntei: há quanto tempo eu não o via sorrindo? Regulus sempre foi mais elegante e contido, mas agora era como se uma chama se acendesse em seu olhar.

Eu quase sentia ciúmes. Mas entendia que quadribol era uma das únicas coisas que ele fazia por si mesmo. E não era sempre que Regulus parecia feliz. Pelo contrário: quanto mais reviro minha memória em busca de lembranças, percebo como ele ficava cada vez mais fechado e distante.

Doía perceber isso.

Antes que o mal estar tomasse conta, houve uma explosão de gritos vindo da arquibancada adversária, junto ao anúncio de que Regulus Black havia capturado o pomo de ouro, encerrando a partida com maestria. E eu precisei me conter para não vibrar em meio aos corvinos frustrados.

Ver aquele sorriso afiado e seus olhos brilhando, me fez decidir de vez. Pro inferno Crouch e suas ameaças. Eu iria dar um jeito de me aproximar de Regulus e fazer com que ele me enxergasse mais uma vez.

Ansioso, acabei por seguir o time, entretanto, era difícil encontrar uma brecha. A Sonserina estava ávida pela vitória e o comboio acompanhando e ovacionando o time não era pouca coisa. Compreensível: em sua primeira partida da temporada, perderam para nós da Grifinória – em grande parte pela ausência da estrela do time. Ainda assim, estava ficando irritado por não conseguir me aproximar. E tão concentrado na tarefa, quase gritei quando ouvi a voz de alguém atrás de mim.

— Remus Lupin, é impressão minha ou você está me evitando?

Consegui sufocar o grito e me poupar uma cena patética na frente da garota mais inteligente do nosso ano. Quando me virei, Lily me encarava com os braços cruzados e uma das sobrancelhas arqueadas.

— Não sei de onde tirou isso, Lily. Parece que estou te evitando, pra você?

Devolvi, soando o mais natural possível. Na verdade, eu estava sim, simplesmente porque não queria correr o risco dela trazer o assunto das flores à tona. Ela me encarou com aqueles olhos que pareciam ver minha alma – e eu sabia que ela estava lendo minha ansiedade para continuar seguindo o grupo de sonserinos – e apenas suspirou, relaxando a postura.

— Regulus de novo?

— Mas-- Como assim, de novo?

Fiquei confuso, ela não podia realmente me ler, podia?

— Não sou cega, Remus. Não acha que te vi indo atrás dele no outro dia?

A expressão de Lily era suave, ao mesmo tempo tinha o dom de fazer com que eu me sentisse pressionado a falar a verdade. Era quase como se eu falasse com minha mãe: ou seja, impossível esconder qualquer coisa. No entanto, me sentia um pouco... envergonhado.

— Você gosta dele, não é?

— Bem... sim.

Encolhi os ombros, desviando o olhar como se fosse impedi-la de continuar vendo meus sentimentos.

— Eu torço por você, Remus. Você parecia feliz perto dele. Antes de... bem, você sabe.

Concordei com a cabeça, encarando meus pés. Não só envergonhado, porém arrependido. Lily sabia da história com Sirius e, mais do que James, de quem vinha se aproximando, ela parecia ter um desprezo particular por ele especialmente após o que aconteceu no último ano. Ela tinha não só um, mas os dois pés atrás com o Black. E eu nem conseguia encontrar palavras para descrever, sabendo quantos corações de amigas dela ele havia partido de um jeito ou de outro.

— Eu... não acho que seja recíproco — murmurei, quase sem voz.

— Vocês pareciam se dar bem... O que houve?

Eu respirei pesadamente. E ela não precisou perguntar duas vezes. Agachei-me próximo à parede, utilizando-a de apoio, seguido por Lily que me imitou, e então comecei a falar. A verdade é que aquela situação toda me sufocava, e guardar para mim ainda mais. Sendo sincero, eu não sentia como se pudesse abrir tudo para meus amigos. Sim, eram meus melhores amigos e já passamos por inúmeras situações juntos, mas eu temia o julgamento que se seguiria. Com Lilian eu não sentia essa pressão e uma simples pergunta mais incisiva dela era suficiente para me fazer desabafar. Contei tudo, sobre como eu era um idiota, como não entendia meus sentimentos e por isso fiz bobagem e como ele me tratava de modo frio e distante (omitindo apenas Crouch da história, sabendo que ela seria rápida em dar uma detenção nele na primeira chance e eu não precisava alimentar mais o sentimento vingativo que ele tinha contra mim).

Lilian era uma boa ouvinte, deixando que eu falasse o quanto quisesse, consolando-me com um toque delicado e esperando que eu me desse por satisfeito. Pode parecer bobagem, mas só de colocar para fora tudo que sentia, aliviava um pouco o peso em meu peito. Quando me voltei para ela, havia tristeza em seus olhos.

— Remus, se tem algo que eu aprendi... é que quando você gosta de alguém, você tenta. E se esforça para dar certo. Se você sente que ainda vale a pena.

A expressão melancólica me delatava que ela falava por experiência própria. Eu me sentia um pouco mal... sabendo que a briga que ela e Severus tiveram foi indiretamente causada por nós. Ele quem foi um babaca, claro, porém nós o pressionamos. Tínhamos nossa parcela de culpa, mesmo que Lily não passasse pela cabeça de Lily nos acusar.

— Eu... Você tem razão, Lily. — Não havia mais o que dizer. — Dessa vez, eu vou me esforçar. Obrigado.

Foi em tom de promessa que o disse. E era sincero. Eu não queria ter mais arrependimentos – e Regulus valia a pena.

A conversa com Lily me fez perder o comboio de sonserinos, mas ao menos me sentia mais leve com a confirmação de que eu não estava louco ou sonhando demais. De que estava tudo bem em tentar mais uma vez.

Agora, era descobrir como me aproximar dele. Tinha certeza de que a comunal da Sonserina faria uma festa e eu pensava nas possibilidades de me infiltrar: muito arriscado, especialmente porque eu precisaria da capa da invisibilidade de James para ter a mínima chance e eu não queria envolvê-los no assunto. Talvez eu pudesse emboscar Regulus depois do jantar, isso é, se ele não estivesse com Bartemius grudado no pé dele e correndo o risco de assustá-lo... Nunca havia percebido quão difícil era se aproximar do herdeiro Black, muito provavelmente porque ele constantemente estava próximo a mim e eu nunca pensei muito sobre.

Percebi que a minha salvação – exagero, eu sei, mas a cada dia que passava, a lua cheia também se aproximava, então somado a toda à situação, eu só conseguia ficar mais e mais ansioso – era que Regulus tinha certo limite de tolerância a festas e aglomerações. Durante o jantar, observando-o discretamente por cima das páginas do livro que fingia ler, percebi que ele enrolava para terminar de comer. E também não falava muito com Crouch, embora estivessem sentados lado a lado como de costume. Para observadores menos atentos, provavelmente parecia normal, mas ultimamente eu andava reparando demais em Regulus e seus arredores. Até mesmo falei para meus amigos voltarem primeiro ao dormitório e, apesar dos olhares estranhos (o que me fazia ter certeza de que eles começariam a falar sobre mim assim que saíssem do salão) que recebi, eles aceitaram sem maiores argumentações. Quando se aproximava a época da minha transformação, eles passavam a respeitar um pouco mais meu espaço.

Eu sabia que não estava normal, mesmo para épocas de lua cheia. Toda minha atenção estava tão focada em Regulus que era como uma fixação, mas eu não conseguia conter a urgência que crescia dia após dia em meu peito.

O verdadeiro motivo da minha demora é que eu queria segui-lo.

Talvez eu fosse mesmo um stalker.

No entanto, em minha defesa, a euforia foi inevitável, especialmente quando Crouch saiu primeiro da mesa. Era minha chance perfeita! Não demorou muito depois disso para que ele se levantasse e eu o imitei.

Para meu alívio, ele não fez o caminho para as masmorras, evitando assim que eu tivesse de abordá-lo para um sequestro. Segui o mesmo caminho que ele fazia para o jardim, precisando ajustar melhor o cachecol ao meu pescoço. Não havia neve, o que era presumível devido à barreira que protegia o terreno inclusive das mudanças climáticas, mas ainda era inverno e estava frio. Várias flores se encontravam fechadas, entretanto algumas espécies pontilhavam o jardim, mantendo-o colorido apesar da estação.

Eu mantive distância entre nós, aguardando um momento antes de me mostrar. Não queria que ele percebesse que estava sendo seguido, embora o achasse um pouco insano de passar tempo ao ar livre com aquele clima, mesmo com a noite limpa e céu escuro, que permitia que as estrelas brilhassem em todo seu esplendor. Porém, precisava admitir que era uma noite linda. E o perfume das flores pairava no ar, em meu íntimo não conseguia deixar de pensar como aquele cenário tinha um ar romântico.

— O que você quer, Lupin?

A voz de Regulus soou alta, fazendo com que eu me assustasse. Ele havia parado embaixo de um caramanchão, a estrutura de madeira pintada em branco mal sendo visível entre as folhas e flores que abraçavam a estrutura.

— Desde quando me percebeu? — respondi após pigarrear sem graça, vestindo um sorriso constrangido embora ele estivesse de costas para mim.

Ele suspirou.

— Desde que saímos do salão e então você não seguiu o caminho para sua torre.

— Ah.

Eu devia imaginar. Regulus estava agindo mais cauteloso do que de costume, ainda assim, a percepção de ter sido pego o seguindo me deixava sem graça. Vencendo a vergonha, eu me aproximei, focando no pensamento de que se nos aproximamos uma vez, poderia acontecer uma segunda. Às vezes me perguntava se não era a criatura dentro de mim me deixando mais obstinado, porém preferia ignorar o pensamento. Eu não era aquele monstro, dizia internamente, mesmo que ele vivesse dentro de mim.

Enquanto me aproximava, percebi que algumas flores brancas na estrutura me eram terrivelmente familiares. Elas se destacavam no meio das folhas verde escuro, brilhantes e seu perfume fazia minha garganta coçar.

Gardênias.

Não só o perfume era familiar, mas havia lido mais sobre elas. Suas folhas não caíam durante o inverno. Certamente Hogwarts tinha alguma magia para manter seu jardim florido, ainda assim não conseguia deixar de pensar que elas me lembravam a Regulus, de algum jeito.

Instintivamente, cocei a garganta, temendo ter uma crise de tosse na frente do garoto que eu gostava. Podia imaginar o olhar enojado dele em minha direção, me achando uma aberração por cuspir pétalas... Mas ele se virou, me encarando com uma das sobrancelhas arqueadas, e consegui ignorar o desconforto ao mudar o foco de minha atenção.

— E então?

Eu tinha até me esquecido da pergunta e eu tinha certeza de que parecia um idiota naquele instante. Desviei a atenção para uma das flores, fugindo daqueles olhos que tanto me perseguiam em meus sonhos – e agora, na realidade, me deixavam mais nervoso do que eu gostaria.

— Achei que vocês iam comemorar hoje... Você sabe, a vitória.

— Vão fazer uma festa na comunal.

Ele deu de ombros como se não fosse nada. Sendo monitor ele provavelmente deveria tentar impedir os contrabandos, mas no final todos nós fazíamos vista grossa com nossas comunais.

— E você não deveria estar lá? Deve ser a estrela da festa...

— Eu... vou. — Sua voz hesitou por um instante. — Só preciso de um tempo antes.

Eu conhecia a personalidade de Regulus. Não foi uma surpresa sua resposta. Ele podia brilhar e atrair multidões e se comportar muito bem perante um grupo – mas também precisava de um instante sozinho. Sem conseguir conter minha boca, emendei outro assunto, que vinha me incomodando desde o jantar:

— Reparei que não está com Crouch hoje. Queria saber se está tudo bem...

Eu devia parabenizá-lo pela vitória – o que seria mais educado – mas minha curiosidade estava falando mais alto. Não que eu tivesse muita esperança de que ele a saciasse.

— Nós não somos uma pessoa só. — A resposta veio brusca, quase agressiva por trás da ironia como se eu tivesse tocado em um tema sensível, e de algum jeito eu a merecia, mas o ouvi suspirando e então o fitei a tempo de vê-lo balançando a cabeça em uma negativa. — Não, desculpe. É só...

Ele hesitou, mordendo o lábio inferior discretamente. Era perceptível a sua relutância, ele inclusive fitava algum ponto no chão entre nossos pés. Eu precisava lembrar a mim mesmo que a informação que Bartemius havia me dado tinha altas chances de ser verdade, tentando assim não me chatear com a desconfiança direcionada a mim.

— Eu pedi um tempo.

— O quê?! — precisei limpar a garganta para conter a felicidade que aquela exclamação transbordava, mantendo-me sério. — Puxa, eu... sinto muito, Regulus.

— Não tem que sentir. — murmurou, como se soubesse que eu não sentia muito. — É melhor assim.

— Vocês pareciam bem próximos.

Se ele conseguiu perceber o ciúme em minhas palavras, fez um bom trabalho em ignorar, embora ainda não me olhasse diretamente. A vegetação ao redor parecia mais interessante, pelo visto. Por mais que me chateasse, eu não podia julgá-lo. Eu era apenas o amigo do irmão dele; na prática, eu deveria soar como um desconhecido intrometido.

— Nós somos. — Sua resposta foi firme. — Mas... não parecia certo.

Dessa vez, embora querendo pressioná-lo a continuar elaborando, fiquei quieto. Se Regulus estava mais disposto a conversar comigo, eu precisava saber meus limites e deixar que ele se sentisse confortável para continuar – ou não – o assunto. Ele me deu as costas, avançando para uma das extremidades do espaço, tocando de modo sutil uma das flores em sua altura.

— Eu... não acho que era justo com ele. Eu sei que ele realmente gosta de mim. E justamente por isso...

A voz dele era controlada, despida de emoções, mas baixa, tornando difícil de ouvir. Meu coração falhou, mesmo que eu não compreendesse em plenitude a que ele se referia. Ele estava realmente insinuando que não gostava de Bartemius – ao menos, não tanto quanto ele gostava de Regulus? Seria um sinal?

Minha boca ressecou, enquanto ensaiei um passo na direção dele, tentando controlar a taquicardia. Eu precisava falar algo. Dizer o quanto gostava dele. Será que ele fugiria? Me acharia louco?

— Regulus—

— Diga, Lupin...

Ele se virou subitamente, ao mesmo tempo em que tentei chamá-lo, encarando meus olhos de verdade pelo que pareceu a primeira vez aquela noite, como se pudesse ler minha alma. Apertei os lábios, surpreso pelo modo firme como ele me chamara, sua voz se sobrepondo à minha quase inexistente. A brisa fria arrastava os cabelos escuros e o cachecol verde de Regulus, mas dentro do meu corpo era como se eu entrasse em ebulição apenas mediante aquele olhar e a forma como seus passos o traziam para perto de mim.

— Aquele dia na biblioteca... Você realmente quis dizer aquilo?

Sua voz era sussurrada como um segredo, embora apática. Ele não estava tão perto assim. Havia se aproximado, porém mantendo distância suficiente para que me encarasse sem precisar levantar a cabeça. Ainda assim, era como se eletricidade percorresse o espaço vazio que existia entre nossos corpos, envolvendo-me através do ar e fazendo com que uma descarga elétrica fosse dada em mim. Eu não queria balbuciar ou parecer inseguro, relembrando o que eu havia dito: que eu me importava. Assim, engoli uma lufada de ar frio, retomando a compostura.

— Sim, eu quis. Eu me importo com você, Reg.

Queria mostrar minha seriedade. Queria que ele acreditasse em mim. Eu precisava que ele acreditasse em mim. Temi que ele se incomodasse pelo apelido, porém ele estava ocupado demais esquadrinhando meu rosto, provavelmente em busca de algum traço de brincadeira. Sem encontrar seja lá o que estivesse procurando, ele estalou os lábios em frustração.

— Isso... não faz sentido.

Eu devia estar alucinando, pois a voz dele parecia assustada.

A expressão de Regulus mal se alterava quando em minha presença, que dirá demonstrar medo? Ele era um Black. Conseguia disfarçar bem suas emoções. Eu definitivamente estava louco.

Mas, se eu estivesse, a esse ponto eu já não me importava mais.

— Talvez não faça. Talvez você não se lembre. Mas eu me lembro, Regulus. — Percebi que ele se retraiu, surpreso, porém não seria isso que me faria parar. Avancei um passo, mantendo a distância que ele ameaçava aumentar estabelecida, e continuei: — Eu me lembro de como você sorri ou de como revirava os olhos quando eu fazia ou falava algo idiota. Até mesmo quando vinha falando como se soubesse todas as respostas e me irritava, porque geralmente você estava certo. E eu... mesmo disso, eu sinto falta... — soltei o ar pesadamente, sentindo a tristeza tomar conta de mim agora que me lembrava de tudo que estava perdendo. — Eu... sinto sua falta, Regulus.

Ele virou o rosto, não sabia dizer se constrangido ou enojado. Percebi que ele fazia menção de se virar, talvez fugir de mim, mas eu o segurei pelo pulso, impedindo que se afastasse.

Tinha medo de que, se o deixasse ir mais uma vez, nunca mais o veria.

— Eu sei que não faz sentido, que parece repentino, mas... Mas eu... eu gosto de você, Regulus.

— Me solte.

Ele fez resistência com o braço, impedindo que eu o trouxesse para muito perto. O que me fez soltá-lo, no entanto, não foi o pedido, mas sua voz fria. Eu o soltei, sentindo a coragem em mim vacilar, tentando chamá-lo mesmo assim.

— Regulus...

Tive certeza de que tinha estragado tudo, no entanto, para minha surpresa, ele continuou ali. De cabeça baixa, punhos cerrados, assim como os dentes, mas ainda na minha frente. Ao meu alcance.

— Não faz sentido. — Ele balançou a cabeça em uma negativa, fitando-me mais uma vez, seus olhos vazios. — Não consigo entender. Eu mal te conheço. Mas... por que quando eu te vejo eu sinto esse vazio?... É como se algo estivesse faltando, como se eu tivesse perdido algo, mas eu não faço a menor ideia do que é.

Ele ofegou, como se fosse difícil pronunciar aquelas palavras.

— Mesmo com você dizendo tudo isso, eu... não sinto nada. Apenas dói. É como se desaparecer fosse melhor, apenas para não sentir essa dor. Você deveria significar nada para mim, mas... Eu não entendo, Remus. O que eu estou esquecendo?

Regulus apertava os dedos contra as roupas na altura do peito, sua respiração oscilando como se algo estivesse o impedindo de respirar apropriadamente. O ar ao redor dele era denso e pesado, como sombras o atormentando. Ele tinha uma expressão dolorida no rosto, mas nenhuma lágrima se formava em seus olhos, e eu não sabia o que fazer.

A dor não era minha, mas meus olhos marejaram.

Ele podia me repelir o quanto quisesse. Tanto tempo me perguntando se eu o fazia sofrer tanto assim... Foi então que entendi. E em um movimento súbito, eu o abracei.

— Está tudo bem... — sussurrei, afundando meu rosto nos cabelos escuros. — Mesmo que você não se lembre. Mesmo que não possa retribuir meus sentimentos agora. Vou construir tudo de novo. Do começo.

Não era eu quem o fazia sofrer. Ao menos, não nesse momento.

Podia ser só uma esperança ingênua. Mas se doía me ver, não era o caso de desistir.

No fundo, ele sabia que eu era importante.

E, naquele instante, o que mais doía nele era justamente não se lembrar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, eu revivi das cinzas!! Depois de muito tempo, capítulo novo. Estava um pouco travada e desanimada, mas tive uma iluminação e agora estamos aqui. Chegamos em um ponto de virada da história, talvez por isso tenha empacado haha
Espero ao menos que tenham gostado da atualização. Agora já tenho mais ideias e a próxima atualização não deve demorar (espero) :')
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Graveyard of Flowers — Gardenia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.