Gara desconfiava de Takamura. Poderia ele, obstinado por Lin, iniciar uma série de ataques para pressioná-la? Pensou muito se deveria perguntar-lhe, mas temia que isso fosse motivo para ele colocá-la contra a parede. Decidiu seguir em frente, buscando desviar-se de qualquer provocação.

“Você tem alguma coisa a ver com o ataque a Shadam na noite passada?” Ela o surpreendeu no hall do Palácio.

“Quê? Tá louca? Digo, perdão pela insolência.” Shoichiro exaltou-se, mas desculpou-se logo em seguida. “Tenho nada a ver com isso. Estava executando o plano, como você mesma me ordenou fazer.”

“A noite toda?”

“Depois eu fui dormir, oras.”

Ela ficou sem resposta, mas não se convenceu.

“Por que essa desconfiança toda?” Pausa. “Tá com medo de perder seu queridinho?” Ele ri de deboche. “Eu não tenho nada a ganhar mexendo com ele. Shadam é muito mais forte que eu. Agora, com licença, me deixe fazer meu trabalho.”

“E como está o plano?”

“Correndo muito bem, como você viu. Houou Ranger está encantada comigo. Posso usá-la contra os próprios Dairangers.”

“Eu quero ver.”

“Você vai ver o resultado em breve.”

“Não, eu quero ver o plano sendo executado.”

“Não tem necessidade. E se Lin perceber sua presença, vai dar tudo errado.”

Ela se convenceu e preferiu deixá-lo seguir como havia planejado, apesar de um certo desconforto.

Takamura retornou à cidade e voltou a gravar clipes com Lin. Havia tomado a decisão de não retirar o Ki de sua amada. Porém, ainda era um Gorma, sedento por poder, sem escrúpulos. Para disfarçar, gravou vídeos com outras modelos e cantoras, retirando uma porção de sua energia vital e acumulando em cápsulas. Passou algumas horas nessa tarefa e logo voltou ao Palácio Gorma, ansioso por colocar uma ideia em prática. Tinha combinado com um Cotpotro que lhe avisasse quando Shadam não estivesse ocupando seu quarto. Entrou no recinto e vasculhou os pertences dele. Fez questão de se lembrar como havia encontrado os objetos para guardá-los e não ser descoberto. Encontrou algo que o surpreendeu e serviria ao seu propósito. Saindo do quarto, ordenou que o Cotpotro iniciasse a limpeza dos cômodos, com sua equipe. Qualquer alteração de lugares cairia na conta dos soldados rasos.

Ele sabia que, em algum momento, Gara pediria contas de sua atuação, e não teria tanto Ki para lhe apresentar. Pelo menos, havia o que coletou no início, antes de se apaixonar por Lin. Não tardou em descobrir uma possível solução. Nem Gara demorou a cobrar-lhe um relatório do que havia feito naquela tarde. Acomodaram-se em uma mesa e ele lhe expôs as cápsulas.

“Acontece o seguinte: o Ki da Houou Ranger é insuficiente para o plano. Preciso atrair outro Dairanger. Não se preocupe, tenho tudo em mente.”

Ela esboçou um sorriso de satisfação. Dois Rangers enganados e prejudicados: parecia uma ideia melhor. Um Cotpotro veio e serviu-lhes vinho. Então, da bandeja em que estavam as taças caiu um papel. Ela se apressou em pegar da mesa e virou para ver o que era. Ficou desconcertada.

“Você está bem?” Takamura perguntou.

“Estou...” Suspirou. “Só não sei como isso foi parar aqui.”

Ela mostrou-lhe: era uma antiga foto de Shadam e sua esposa, mãe de Kou e Akomaru. Mas Gara pouco sabia do passado de seu parceiro e não conhecia a mulher da foto. Não saía de sua mente que Shadam podia estar envolvido com outra naquele momento. Takamura sorria por dentro. Seu objetivo foi alcançado. Se ela estava abalada, havia algo a mais na história toda. Esse momento ficou gravado em sua memória fotográfica.

“Tenho que devolver isso para Shadam.” Não conseguia pensar direito. Também não conseguiu conter algumas lágrimas.

“Não, não faça isso pessoalmente. Você não parece bem. E ele ainda vai achar que você pegou sem a permissão dele. O Cotpotro devolve. Aliás, deve ter sido um deles que trouxe sem querer depois de limpar os quartos.” Takamura respondeu.

“Melhor mesmo.” Gara entregou a foto ao Cotpotro. O soldado devolveu a fotografia ao seu lugar no tempo propício.