Coincidence Of Love ✖ GSR escrita por Fénix Fanfics


Capítulo 70
Especial ✖ Capítulo 2 (Rafaela e Roberto)


Notas iniciais do capítulo

Desfrutem ♥



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Rafaela caminhava na rua, procurando um estabelecimento, o Google Maps lhe dava uma ajuda para achar exatamente ao local.

“Você chegou ao seu destino.”, o aplicativo disse. E bingo, ali estava quem procurava.

Era uma academia, que ficava no centro da cidade. Ela entrou e ficou procurando alguém entre os homens que estavam lá, até encontrá-lo malhando no Leg Press. Com um sorriso travesso na cara, ela se encostou no equipamento.

— Achei que homens só malhavam braços. – Ela disse rindo.

— Rafa? O que está fazendo aqui? – Disse surpreso, travando o equipamento e saindo dele, visivelmente cansado e suado.

— Depois de três dias de mensagens ignoradas, você achou que eu não ia procurar você?

— Raika te disse onde eu tava? – Ele riu.

— Sim. – Admitiu.

— E também deve ter te dito que eu não ignorei suas mensagens, mas que meu celular estragou.

— Estragou? Você derrubou ele numa privada. E quem fica três dias sem telefone? Se você fosse pobre que nem eu, eu até entenderia, mas você pode comprar a própria fabricante se quiser. – Negou com a cabeça rindo.

— Não sou tão apegado a tecnologia, sobrevivo alguns dias sem telefone. – Piscou.

— Mas podia ter avisado. Aposto que a Sara você avisou.

Ele rolou os olhos achando graça. 

— Bom, para você vir aqui atrás de mim, alguma coisa aconteceu. Diga.

— Não é nada demais. Sara anda super ocupada, e não tenho muitos amigos. Minha rotina tá muito monótona e você é meu último recurso para não morrer de tédio. Falta muito aí? Podemos beber alguma coisa? Vi um barzinho ali na esquina.

— Quando foi mesmo que eu aceitei ser seu amigo para ser tratado desse jeito? E beber? Você sabe que horas são?

— Deve ser oito da noite em algum lugar do mundo. – Piscou.

— Eu já estava na última série aqui mesmo. Vou tomar uma ducha e a gente vai. Me acompanha até os armários, por que daí pelo menos você faz alguma coisa de útil e fica com a minha mochila. – Ele disse debochado.

— Você é ridículo. – Ela riu.

Eles seguiram caminhando em direção ao vestiário, os vestiários eram separados em masculino e feminino, porém os armários ficavam do lado de fora. 

— Mas agora, sério, por que veio até aqui?

— É que eu parei de receber no whatsapp bom dia acompanhados de foto de girassol que minha tia me mandava, aí eu lembrei que a tia era você. – Ela riu.

— Todo esse deboche era para dizer que estava preocupada comigo? Quanta dificuldade em admitir ein. – Ele negou com a cabeça rindo.

Destrancando o armário, ele pegou sua mochila. Tirou uma muda de roupas limpas. Tirou a camisa para já deixar na mochila e quando fez percebeu que Rafaela olhava para ele. Estava pronto para fazer uma brincadeira com ela, pelo fato da forma fixa que ele olhava seu corpo, quando percebeu que ele não analisava seu físico de forma a admirar ele, na realidade estava estática com um ar preocupado. E ele percebeu que o que ela olhava era outra coisa: suas cicatrizes. 

— Você está bem? – Ele perguntou para ela com certa preocupação.

— Tô…Tô sim. – Disse ela desconcertada. – É que eu nunca tinha visto você sem camisa. E… – Ela não sabia o que dizer.

— Eu sei que eu deixo mulheres sem palavras, mas não pensei que era para tanto.

Roberto riu, tentou aliviar o momento, mas percebeu que não tinha funcionado. De alguma forma, ela ainda estava séria. Angustiada.

— Vai lá tomar seu banho… Eu vou te aguardar lá fora. – Ela sorriu.

— Tá bom.

Ele tomou uma ducha rápida, apenas para tirar o suor e assim que se vestiu encontrou Rafaela do lado de fora da academia. Ela parecia mais leve, ainda sim, não tinha a mesma animação de quando chegou.

Ele chegaram no bar, e como de costume, sentaram-se ao balcão. Não costumavam sentar em mesas, e mesmo com o bar praticamente vazio, foi onde preferiram ficar. Roberto pediu uma dose de whisky duplo, e Rafaela um martini rosé.

— Se eu soubesse que ia fica desse jeito, não tinha tirado a camisa na sua frente. – Ele disse com sinceridade ao ver que ela ainda estava séria.

— Desculpa, eu não sei por que, mas isso me deixou um pouco impressionada. – Ela sorriu de canto. – É besteira minha.

— Não é besteira. Você sempre me escuta falar dos meus sentimento, por que eu não posso fazer o mesmo por você. O que aconteceu?

— É que a gente sempre ouve falar em guerra, mas não vive em uma, e para nós acaba sendo algo surreal da qual só ouvimos falar sem ter ideia de como realmente é. E quando eu vi, pareceu algo tão palpável, é como se caísse a ficha de tudo que você passou lá. E me deixou meio angustiada. – Suspirou. – Me lembrou algo que Sara me disse anos atrás.

— O que ela te disse? – Perguntou curioso.

— Não importa. – Negou com a cabeça.

— Importa sim, eu gostaria de saber.

— Que desde que você chegou da guerra, você se pune, você não se sente merecedor de amor e de felicidade completa e é por isso que nunca se desprendeu desse sentimento. Por ela. Pela Sara.

— Talvez em parte ela tenha razão. E eu sei que como um bom amigo eu deveria te tirar essa angustia, mas como eu sou um péssimo amigo. – Ele sorriu. – Eu na realidade posso te dizer que essas marcas não são nada, que essas marcas não representam nem metade do que acontece lá e que a realidade é pior do que parece. Eu sempre odiei a guerra, mas desde que eu voltei, parece que eu não me encaixo novamente aqui, e que lá é o único lugar certo para estar, eu fiquei por que tinha que manter Raika segura. Mas não, eu não mereço a felicidade, nem a que eu tenho e nem a que eu abri mão. – Ele pegou o copo de whisky e bebeu um pouco.

— Por que você acha isso? – Ela também pegou a taça de martini, mas não bebeu, esperava a resposta.

— Por que eu sou culpado de muitas mortes. Eu destruí muitas famílias.

— Você quer me contar?

— Eu nunca contei isso para ninguém. – Ele suspirou e virou o copo tomando tudo de uma vez só. – Mais um! – Pediu ao barman.

— Eu não sou ninguém. – Ergueu a sobrancelha.

Eles abandonaram o balcão, ao fundo do bar, haviam algumas mesas que ao invés de cadeiras, tinham alguns sofás, sendo cada um deles para dois lugares. Foram para o mais isolado, e ao invés de ficarem um de frente para o outro, eles se sentaram no mesmo sofá. Roberto então começou a contar algumas coisas sobre a guerra, coisas que ele guardava para si há anos.

— Quando eu soube que eles sequestravam outras crianças na mesma situação de Raika, eu senti que não podia ficar quieto. – Ele disse por fim.

— Eu também não conseguiria ficar. Mas o que eles faziam com essas crianças?

— Algumas eles doutrinavam, outras eles torturavam. Muitas eram violadas ou morriam. – Ele disse com pesar. – Mas meu superior não queria que eu me envolvesse com isso.

— Por que?

— Eu não sabia na época, mas ele tinha seus motivos.

— Mas você não conseguiu ficar quieto, não foi?

— Sim. – Apesar de parecer heróico Rafaela percebeu que ele não se sentia orgulhoso por aquilo. – Eu tinha a informação de onde os extremistas escondiam as crianças. Chamei alguns soldados e cabos para irem comigo. Deixei Raika no abrigo com alguém da minha confiança, prometi que traria aquelas crianças. Ela estava tão orgulhosa de mim. – Ele disse com os olhos cheio de lágrimas. – Traçamos um plano, e quando chegamos lá nada… Absolutamente nada. Baixamos a guarda. Não havia ninguém lá e nunca havia tido. Voltamos ao abrigo. Achava que meu superior vendia informações de guerra, não confiava nele. Levei o meu grupo para uma tenda.

— A que foi bombardeada?

— Eles não deviam estar na tenda. A maioria deles tinha entre dezoito e vinte anos. – Sua voz embargou. – Eu matei aquelas crianças. Eu matei eles.

— Rob, você não fez isso. Você fez o que achava certo.

— O que eu achava certo e o certo eram coisas diferentes. Não justifica que meninos morreram por minhas decisões, decisões erradas. – Ele suspirou. – Tivemos que fugir, eu não sabia quem vendia as informações. Eu deveria ter vindo pra casa, ter deixado Raika em segurança. Isso era prioridade. – As lágrimas começaram a escorrer pelos seus olhos. – Eu sabia que estavam nos caçando. Raika e eu trocávamos os turnos de vigília, e eu dormi, por alguns minutos, eu apaguei. E levaram a Raika, e me deixaram lá. Não me mataram, só levaram ela.

— Eu achei que você tivesse sido capturado também…

— Eu fui, algum tempo depois eu encontrei o verdadeiro esconderijo. Ingênuo, entrei sozinho. Obvio que me pegaram. 

— Foi assim que ganhou as marcas?

— A maioria delas. – Admitiu. – Eles diziam que eu era um bom soldado. E queriam me converter ao lado deles. E eu não queria. Todos os dias eles me torturavam, me agrediam, me deixavam em uma cela que eu mal cabia em pé. E tudo acabaria se eu matasse uma daquelas crianças. Eu me recusei. – Ele tremia, mas pediu mais uma dose de whisky, era a única forma de conseguir terminar. – Eu juro, me recusei, todas as vezes, disse que poderiam me matar e seguia me recusando.

— Quanto tempo isso aconteceu?

— Eu perdi a conta depois de um tempo. Eu só conseguia pensar em morrer ou fugir dali. Eu tinha que tirar Raika de lá, não sabia o que estava acontecendo com ela, mas sabia que estava viva. Então eles tiveram a ideia de usar Raika contra mim. 

— O que eles fizeram?

— Nos colocaram uma sala. Ela estava dopada, completamente desmaiada e ferida. Trouxeram uma criança uma menina. Me disseram que se eu quisesse que Raika ficasse bem, eu tinha que matar aquela criança. – Ele colocou as mãos no rosto. – Eu ainda ouço os gritos daquela criança, todas as noites nos meus pesadelos. Raika não sabe disso, ela me odiaria.

Se antes Rafaela estava angustiada, agora ela estava completamente chocada. Ela sentia a impotência dele naquele momento, queria abraçá-lo, mas por um momento algo a travou, ela não conseguiu.

— Mas você não teve escolha. Ela é sua filha. Isso não faz de você um monstro. Ela nunca te odiaria.

— Eu não me sinto assim.

— E como vocês fugiram?

— Foi dificil, mas naquela mesma noite, Raika, eu e duas crianças escapamos de lá. Consegui contato com meu superior, e conseguimos resgatar as outras crianças algumas semanas depois. Raika e eu então voltamos para o país, e ficamos algum tempo em reabilitação, somente depois disso liguei para Sara. 

— Eu achei que tinha ligado para Sara assim que voltou.

— Ela também supôs isso. – Ele disse com pesar. – Só que… Eu não podia voltar para minha vida antes.

— Você já sabia do casamento com Sara e do Gil então? E da crise?

— Do casamento sim, da crise não.

— Rob. – Ela se virou para ele, fazendo ele tirar as mãos dos rosto. Era visível que ele sentia culpa e vergonha pelo que havia ocorrido. – Você é a vítima aqui, não o monstro. E eu sei que fica dificil levar a vida a diante, e esquecer o que aconteceu, mas você pode contar comigo, ok?

Ele assentiu com a cabeça.

— Raika é uma menina visivelmente forte e feliz, e eu tenho certeza que ela herdou isso de você. Isso já faz mais de seis anos, e você já se puniu o suficiente por algo que não é culpa sua. – Ela o incentivou. – Se permita amar, se permita ser feliz por completo.

Roberto olhou para Rafaela, e naquele momento, ele sentiu que devia fazer algo. Algo que já havia pensado algumas vezes, mas que nunca havia tido coragem. O álcool e o momento colaboraram para aquilo, mas ele segurou o rosto de Rafaela e a beijou. Ela, para a surpresa dele, retribuiu, colocou as mãos no rosto dele, e o sentiu úmido pelas lágrimas. O beijo seguiu lento e demorado. Mas assim como iniciou, ele mesmo quem finalizou o beijo.

— Me desculpa. Eu agi por impulso. – Ele se desculpou quase imediatamente.

— Há quanto tempo não está com uma mulher? – Ela questionou com certo interesse.

— Sinceramente?

— Sinceramente.

— A última vez que estive com uma mulher ou beijei uma, foi antes da guerra. – Admitiu com vergonha.

— Sara?

— Sara. – Concordou.

— Você esta pagando penitência mesmo. Por que não vira um padre de uma vez? – Ela começou a tossir.

— Hey, o que foi? – Ele foi acudir ela quando percebeu que ela não parava de tossir.

— Nada não. – Ela disse com ar de deboche. – Me engasguei com as teias de aranha que estavam na sua boca. – Ela riu.

— Besta, me deixou preocupado. – Ele rolou os olhos, rindo.

Ela tinha esse poder, Rafaela conseguia ele fazer se sentir leve e livre de culpa. Foi um dos motivos de ter se aproximado dela, de terem virado amigos, quando estava com ela, se sentia bem. E agora, ele pensava, se ela estivesse certa? Se ele estivesse se prendendo a sentimentos antigos? E se ele não merecesse mais essa punição que ele auto infligia?

— Rafa, eu… Sei lá… Posso te beijar de novo? – Ele sorriu para ela.

— Bom, ao menos dessa vez pediu permissão. – Riu, brincando.

Eles se beijaram novamente. E mais algumas vezes.

— Por que você não paga as nossas bebidas e vamos para um local mais reservado?

— E desde quando eu pago a sua bebida? – Ele riu.

— Desde que você me tascou um beijo. É o mínimo que eu espero de um cara com quem tô ficando. – Piscou.

— Desculpa, mas acho que temos um pequeno mal entendido aqui.

— Como assim?

— Eu posso ser meio antiquado, até por que sou um pouco, apenas um pouco, mais velho que você, mas eu não sou exatamente um cara de ficar. Achei que isso já era tipo um namoro. – Ele tentava conter o riso e permanecer com um ar sério.

— Você é meio rápido. Mas ok. – Ela sorriu. – Então tem que pagar a minha bebida e meu lanche.

— Como era aquele negócio de ficante mesmo? – Ele riu.

— Deixa de ser besta. Paga logo, por que to afim de limpar mais umas teias de aranha.

— Garçom, por favor, fecha a conta aqui rápido! – Ele disse brincando.

— Idiota, isso aqui é um bar e não um restaurante.

— Então vou lá no caixa pagar antes que você mude de ideia. – Ele riu.

Assim que eles pagam a conta, eles começam a ir a pé para o apartamento de Rafaela, que não ficava muito longe dali. Roberto, não estava em condições de dirigir. 

— Rafa, eu estava brincando. Se você não quiser, eu vou entender. A gente se deixou levar pelo momento e…

— Eu não agi por impulso, já faz um tempo que eu gosto de você. Mas me dá receio.

— Gosta? – Ele pergunta surpreso.

— Uhum. – Admitiu um pouco tímida.

— E do que você tem receio?

— De estragar a nossa amizade, porque sei que nunca vou ser a primeira no seu coração. E eu não sei até quando vou me contentar em ser a segunda opção.

— Sara não é mais uma opção. Faz muito tempo. – Rafaela olhou pra ele como se não acreditasse. – Não estou dizendo que não amo mais ela. Apenas que, o nosso timing passou, se é que me entende. O casamento dela está ótimo, e mesmo que acontecesse algo e eles se separassem, já não teria mais espaço para nós dois, além do que já temos.

— Acho que eu entendo. – Disse ainda sem convicção.

— Eu sei que estar com um cara com tantas sombras é muito difícil, e se você não quiser, eu entendo. Mas eu adoraria tentar. – Ele sorriu.

— Eu também.


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