Sara quase caiu enquanto corria até o quarto, Grissom foi logo atrás. Quando chegou lá, a menina chorava desesperada.

— Meu amor… Meu amor. – Sara sentou-se na cama pegando as pequenas mãos infantis de sua filha. – O que aconteceu? Você não está se sentindo bem?

— Meu cabelo mamãe. Meu cabelo. – Ela chorava copiosamente, já soluçando.

Nesse momento Sara respirou fundo, mais tranquilizada que a filha estava bem, olhou os cabelos caídos sobre o travesseiro. Era uma mecha grande, Julia estava assustada, apavorada para falar a verdade. Sara já havia falado sobre isso com Julia, mas percebeu como ela havia ficado chocada, era somente uma criança, e com certeza não podia cobrar que ela entendesse o que a quimioterapia faria com ela Lhe doía ver sua menina sofrer, mas não podia fazer mais nada além de confortá-la. Seu sentimento era de pura impotência.

Ela puxou a menina para si e envolveu em seus braços. Grissom em pé, observa a cena, e mesmo sendo sua filha, sendo realmente sua filha, ele não se sentia íntimo o suficiente para falar ou fazer algo. Ainda sim, sabia que deveria.

— Ei, Jujuba, está tudo bem. – Ele sentou-se do outro lado da cama, ficando no campo de visão da menina. – Está tudo bem. Seu cabelo está caindo por que o tratamento está dando certo… –  Ele não sabia se isso era verdade, provavelmente não, mas precisava acalmá-la e lhe dizer algo que a conformasse.

— Eu não quero ficar careca. – Ela suplicou a mãe, olhando para cima. As lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Sara não sabia o que responder. Seu coração estava partido. Poderia dizer que não, não ficaria careca, mas não queria mentir. Sabia que mentir para ela não era o correto, nem a saída mais adequada. Ela estava confusa.

— Jujuba, você tem que ser forte. – Grissom respondeu de modo gentil. – Infelizmente eu não posso te prometer que seu cabelo não vai cair. Mas eu posso fazer outra coisa pra você.

— O que? – Ela perguntou curiosa.

— Bom, eu conheço uma pessoa que faz perucas de cabelo de verdade. Eu posso pedir para ele vir aqui, e a gente pode cortar o seu cabelo e fazer uma peruca para você. Assim, ao invés do seu cabelo cair, a gente pode pegar ele e fazer uma peruca linda? Que tal?

— Eu… Eu não sei. – A menina ficou desconfiada.

— Eu acho uma ótima ideia. – Sara disse animada tentando não chorar, mas seus olhos já estavam totalmente marejados.

— Eu to com medo mamãe.

— A ideia é muito legal. – Uma outra voz infantil tomou conta do ambiente.

Os três sentados na cama, olharam para a porta, e somente então perceberam que a outra Julia estava ali. Ela chegou até a cama com seu jeito ligeiro de sempre.

— Se seu cabelo vai cair de qualquer jeito, por que não fazer uma peruca bem linda dele? – Ela sorriu. – E aí, pode escolher. Sem cabelo. Ou com cabelo. 

— É… Pode ser. – Ela disse ainda sem convicção.

— Você não deveria estar dormindo mocinha? – Grissom puxou a pequena para o seu colo.

— Eu tava, mas eu acordei quando ouvi um grito. – Ela fez um bico.

Grissom queria rir, olhando Julia Grissom e Sara Sidle, lado a lado, era extremamente perceptível a semelhança. Alguns minutos mais tarde, conversando sobre a possibilidade da peruca, Julia Sidle parecia totalmente conformada com a ideia. Cansadas as meninas bocejaram, Gilbert levou Ju para o seu quarto, enquanto Sara ficou com Jujuba até que adormecesse. Eles se encontraram na sala novamente alguns minutos depois das meninas adormecerem.

— Obrigada. – Sara murmurou.

— Pelo beijo avassalador? – Ele sorriu irônico.

Sara soltou uma gargalhada gostosa, mas logo se conteve. Não podia acordar as meninas.

— Por acalmar a Jujuba.

— Não me agradeça ainda. Temos que encontrar alguém que faça perucas até amanhã. – Ele sorriu visivelmente culpado.

— Mas você não disse que conhecia… – Dessa vez foi Sara quem demorou a entender. Obviamente ele só havia dito isso para acalmá-la. – A gente encontra alguém até amanhã a tarde. 

Ambos olharam a garrafa de vinho que havia ficado aberta sobre a mesa de centro, a que não haviam terminado, pois Grissom havia a beijado, e após Julia havia gritado. Eles não pensaram duas vezes, pegaram o vinho e as taças e foram para o escritório de Grissom. Lá eles seguiram bebendo enquanto pesquisavam na internet profissionais que faziam perucas com o próprio cabelo. Sara se assustou com os valores, porém Grissom deixou bem claro que dinheiro não era problema, e que cumpriria a promessa que havia feito a Jujuba.

Já eram mais de três da manhã quando eles pararam o que estavam fazendo. Não adiantaria nada ligar de madrugada, e ficou com medo de não conseguir ninguém para domingo, mas ainda sim, eles fizeram uma lista de mais de vinte nomes encontrados na internet. Alguém teria que atender.

Pela manhã Grissom solicitou para Sara que ela ligasse para os locais que eles haviam listado, ele havia tido um problema na empresa e teria que se ausentar por toda manhã. Sara quis argumentar, porém sabia que Grissom não ouviria, passava muito tempo na empresa. Domingo, dez horas da manhã, e ainda não havia conseguido ninguém. A maioria dos números não atendia, provavelmente por ser domingo, e os que atendiam não tinham agenda para domingo. Ela já estava ficando sem esperança.

A porta então se abriu, Sara tinha o telefone no ouvido e levantou somente os olhos abrindo um sorriso largo. Porém logo se fechou de novo, ao receber mais uma recusa de atendimento no domingo.

— O que aconteceu? – Roberto disse ainda antes de cumprimentar vendo a expressão insatisfeita de Sara.

— É que o Grissom prometeu a Jujuba que conseguiria alguém para fazer uma peruca do cabelo dela, mas não acho ninguém que possa atender ela ainda hoje.

— E ele nem está aqui? Típico. – Roberto virou os olhos. – Mas o cabelo da Jujuba está caindo?

— Sim, ontem caiu uma mexa enorme. Esse foi o único jeito que conseguimos acalmá-la. Mas temos medo de cair muito cabelo até terça feira, e não podermos fazer a peruca. – Ela suspirou. – Segunda feira eu…

— Você vai fazer a inseminação.

Ele então fez a volta na mesa do escritório, ficando atrás da cadeira que Sara estava sentada. Colocou a mão sobre seus ombros massageando de leve. Em seguida inclinou seu corpo para frente, deixando seu rosto perto do dela, e lhe deu um beijo na bochecha. Colocou sua boca perto do ouvido dela e murmurou:

— Se eu resolver esse problema, eu ganho outro beijo, como o de ontem?

— Você está jogando baixo. – Ela sorriu para ele.

— Vamos fazer assim, eu resolvo isso, e depois você decide se eu mereço um beijo ou não. – Ele se levantou e piscou para ela.