Love is blue escrita por Lola


Capítulo 7
Capítulo 7 - Trabalho em primeiro lugar, sempre.




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Capítulo 7 – Trabalho em primeiro lugar, sempre.

 

“Tinha medo não. Tinha era cansaço de esperança”

Riobaldo em Grande Sertão, de Guimarães Rosa.

 

10! 9! 8! 7! 6! 5! 4! 3! 2! 1!

Grissom pode ouvir a contagem regressiva animada que vinha de seus colegas. Internamente ele fez a mesma coisa, e quando finalmente os vários fogos de artifício explodiram no céu, um sorriso tranquilo se formou em seus lábios, murmurando para si mesmo “Feliz ano novo”. Várias eram as cores que explodiram na noite negra, e Grissom se manteve atento aos barulhos e comemorações que aconteciam ao seu redor. Seus olhos refletiam todos os flashes, enquanto sua mente vagava pelos acontecimentos daquele ano que acabara de se encerrar.

— Mais um ano de muito trabalho começa – Grissom escutou alguém ao seu lado mencionar, virou-se para encarar seu amigo Jim Brass.

— Tudo é uma questão de perspectiva... – sorriu para o amigo, voltando sua atenção para o céu.

Fim de ano no laboratório de Las Vegas, e o mesmo ritual de todos os anos se repetia para aqueles que não tinham um lugar especial para ir. Não era exatamente uma obrigação o trabalho naquele dia, mas sempre havia aquela pequena turma disposta a ficar de plantão no trabalho, e fazer suas comemorações por ali mesmo. Eles sempre se reuniam no estacionamento, levavam algumas taças com champagne, brindavam a grande virada, enquanto assistiam ao show de fogos. Gradativamente, os vários estouros foram cessando, dando lugar as várias risadas e conversas animadas de todos os presentes. Grissom olhou ao seu redor, pensando sobre o que seria diferente nesse ano, e não conseguiu tencionar nada – sua vida costumava seguir uma enorme constante, sem grandes variações.

— Feliz ano novo, pessoal! – uma voz animada chegou aos ouvidos do supervisor, e pode ver Sara, dando um abraço caloroso em Brass.

— Feliz ano novo, Sara – Jim retribuiu com um sorriso leve – Parece que esses fogos não terminam nunca! – exclamou observando o céu – até parecem tiros...

— Acho que você precisa relaxar um pouco e esquecer de armas e balas por um noite – Sara falou descontraidamente, voltando sua atenção para Grissom – Feliz ano novo, Grissom!

— Feliz ano novo, Sara! – ele sorriu para ela, mas não se abraçaram, ou trocaram apertos de mão. Grissom não era o tipo de cara o qual você abraça.

— Jim, você sabia que os fogos de artifício surgiram muito antes de descobrirem a pólvora? – assim que o perito começou a falar, Jim revirou levemente os olhos, enquanto Sara segurava para não rir – eles surgiram quando descobriu-se que pedaços de bambus verdes ao serem colocados em fogueiras, explodiam, causando um enorme barulho, até que os chineses resolveram começar a usar isso em suas festas para afastar os maus espíritos.

— Bom – começou Sara – os fogos de artifício definitivamente ainda espantam alguns por aí.

— Os animais, por exemplo, não ficam nada contentes com todo esse barulho...

— É sério mesmo que vocês estão tendo essa conversa? – Brass interrompeu o raciocínio dos colegas, com as sobrancelhas visivelmente arqueadas em sinal de perplexidade.

Grissom olhou para ele com a testa franzida, não entendo a pergunta do amigo. Qual o problema na conversa deles? Deu de ombros.

— Conhecimento é tudo, Jim. – sorrindo levemente, retirou-se de onde estava, caminhando para dentro do laboratório.

— Algumas coisas não mudam com a virada de ano... – o capitão disse debochadamente, observando o amigo se afastar repentinamente.

— Parece que não – Sara concordou.

//

Grissom entrou em seu escritório, indo diretamente sentar-se em sua mesa e terminar alguns relatórios. Olhou para os papeias a sua frente, e forçou sua mente a se concentrar. Já estava quase completando um ano no cargo de responsável por todas aquelas avaliações e papeladas, e mesmo assim não conseguia se acostumar. Tudo estava sempre se acumulando para o último momento possível, e com certeza isso o deixava irritado. Olhou para as horas em seu relógio de pulso, e soltou um breve suspiro. Levou a mão ao rosto, retirou seus óculos e massageou os olhos sob as pálpebras. 00h35min do primeiro dia daquele ano novo. Sentiu um vasto misto de sentimentos dançarem dentro de seu peito, como poucas vezes permitia. Era uma loucura de pensamentos sobre onde estava levando sua vida e o que já havia feito com ela.

Abriu os olhos e olhou para algum ponto fixo ao longo de sua sala, tendo noção de todos os livros que ali compunham sua biblioteca particular, seus vários experimentos e quadros com insetos variados. Ele era um cientista, e havia trabalhado muito para aquilo. Sua grande motivação? A curiosidade. Aquele sentimento que nunca sentia se esgotar em seu interior. Aquilo era o seu atual sentido.

— Grissom?

Confuso pela interrupção de suas reflexões, o homem avistou a dona do chamado parada a sua porta.

— Sara.

— Tudo bem? – ela se aventurou um pouco mais dentro da pequena sala.

— Yeah – ele sorriu fracamente – você não deveria estar em alguma festa, comemorando?

Sara olhou para ele como se aquela sugestão fosse absurda: - Não é como seu eu tivesse muitos lugares para ir, ou muitas pessoas que me acompanhassem aqui, Grissom... – o tom da mulher não foi irônico ou agressivo, parecia mais um desabafo, ou talvez uma simples informação para um desconhecido.

— Oh.

Ela estava certa. Sara era relativamente nova na cidade, e as únicas pessoas que eram realmente próximas a ela, eram os colegas de trabalho. Aquilo explicava muito bem porque estava de plantão naquele dia.

— Às vezes me esqueço que foi eu quem te chamou para Vegas – deixou que seus lábios formassem uma fina linha, enquanto seus olhos observavam a morena de forma sentimental – Como você está?

— Eu? Bom... Bem.

— Só, bem?

— Yeah?! – a morena estava visivelmente estranhando aquela conversa – Olha, eu só vim aqui pra ter certeza que você já assinou aqueles papéis...

Os olhos de Grissom ficaram nitidamente confusos, e muito transparentes para que Sara pudesse lê-los.

— Da conferência em LA, Grissom...

— Oh – a informação pareceu situar seus pensamentos – Já foram encaminhados para Ecklie.

— Bom – Sara sorriu finalmente – Então acho que já vou, feliz ano novo.

— Sara?

Ela já estava quase atravessando a porta, quando se virou: - Grissom?

— Você já comeu?

Mais perguntas estranhas.

— Ainda não.

— E está com fome? – ele se levantou rapidamente de onde estava, indo para perto de Sara.

Seus olhos azuis pousaram sobres os marrons quase negros dela. Ali bem na sua frente, se encontrava a mulher que por motivos de confiança, chamara para trabalhar consigo, a tirando de uma vida familiar para uma cidade completamente estranha e sem ninguém. E nos últimos tempos, especialmente em decorrência de alguns casos um pouco mais complicados, havia falhado com sua amiga lhe oferecendo apenas grandes doses de ausência.

— Qual a última vez que fizemos alguma refeição juntos? – ele insistiu, percebendo o súbito silêncio da mulher.

— Já faz um tempo... – ela disse por fim.

— Se não tiver outra coisa mais importante agora –

— Tudo bem, só preciso pegar algumas coisas no vestiário.

— Te espero na recepção.

— Ok – sorriu amarelo, virando-se ainda surpresa pelo convite, seguindo pelos corredores.

Grissom sentiu-se contente. Retornou para perto de sua mesa, empilhando alguns papeis que ali estavam, tentando colocar um pouco de ordem em sua bagunça.

— Hey, Gil.

Grissom se virou, era Brass.

— Diga Jim.

— Qual a probabilidade de um corpo andar de carro sem a cabeça?

— Isso é mesmo uma pergunta séria?

— Bom... – o detetive ergueu uma das mãos, esta que segurava um pequeno bloquinho de papel, pareceu atentar-se para o que estava escrito ali – de acordo com um chamado feito para a emergência alguns minutos atrás, foi encontrado um corpo dentro de um carro, sem a cabeça.

— Ele estava dirigindo? – Grissom ficou rapidamente interessado.

— Parece que ele era o passageiro – Jim sorriu ironicamente – e incrivelmente o motorista não sabe onde o amigo perdeu a cabeça.

— E o que estamos esperando para ir até lá? – Grissom deu um sorriso de lado, pegando sua jaqueta sobre o encosto da cadeira. Era daquele tipo de caso que o homem gostava e o fazia permanecer naquele emprego – casos cheios de mistérios, responsáveis por incendiar sua curiosidade.

— Eu tinha certeza que você não ia resistir ao nosso cavaleiro sem cabeça.

— Está mais para morto sem cabeça.

Jim olhou para o amigo descrente, mesmo depois de anos não conseguia se acostumar com aquele senso de humor de Grissom.

Enquanto saiam rapidamente da sala do supervisor noturno, Sara vinha caminhando calmamente pelo corredor. Ela pode ver quando Grissom e Brass saíram rapidamente indo para fora do laboratório. Parou, sem entender exatamente o que estava acontecendo. Ela poderia ter ido atrás dos colegas, até mesmo gritado o nome de algum deles, mas tudo que fez foi vê-los ir embora.  

Um misto de tristeza e raiva embrulhou seu estômago, ao mesmo tempo que sabia não estar exatamente surpresa por ver Grissom saindo sem falar com ela – mesmo com algo combinado entre eles. Se Brass estava com ele, com certeza haviam saído para atender algum chamado de emergência, e isso explicava seu supervisor sair apressado sem falar com ela – afinal, trabalho em primeiro lugar sempre.

//

— Este é Jorge Bolt, ou pelo o menos o que restou dele.

Grissom se aproximou do corpo dentro do carro, analisando atentamente as condições em que se encontrava e tirando algumas fotos.

— Aqui temos claramente uma pessoa que “perdeu a cabeça” – David disse, parecendo aborrecido por estar ali – e nem preciso dizer que essa foi a causa da morte.

— Sinto muito por temos tirado você de casa justo hoje, Dav – Brass, anotou algumas coisas em seu pequeno bloco de papel enquanto falava – Mas não tínhamos como chamar outra pessoa...

— Tudo bem, já estou acostumado – soltou um suspiro – Posso levar o corpo?

— Pode sim, David – Grissom disse – não tem muito sentido mantê-lo aqui.

O perito deu mais um volta no carro, observando atentamente suas condições. Sem nenhum sinal de batida ou arrombamento. O corpo de Jorge Bolt estava pendendo sobre a janela de trás do passageiro, como se houvesse sido puxado para fora em alguma ocasião.

— Quem o encontrou, Jim?

— Foi o vizinho, ele está logo ali – apontou para um cara bem vestido, próximo a viatura policial – ele disse que estava chegando em casa junto da namorada quando viu o corpo pendurado pela janela, sem a cabeça.

— E quem estava dirigindo?

— O motorista se chama Erike Clint, aquele ali sentado no meio fio – Brass indicou um rapaz de aparência toda desgrenhada, que se encontrava de pernas encolhidas e olhar abatido sentado na calçada – você deveria falar com ele, é uma história interessante.

Grissom arqueou as sobrancelhas, visivelmente curioso. Já tinha uma leve ideia do que se passara com seu passageiro sem cabeça, e pensar sobre isso o deixava cada vez mais excitado com uma situação tão inusitada e improvável. Caminhou até onde seu motorista se encontrava.

— Com licença, meu nome é Gil Grissom, da criminalística, e gostaria de fazer algumas perguntas.

— Olha, cara, eu já disse que não sei o que aconteceu – o tal Clint falou de maneira chorosa, seus olhos estavam marejados e seu rosto visivelmente molhado – eu simplesmente estava dirigindo até em casa, Jorge estava dormindo no banco de trás, eu cheguei em casa, e fui direto p-pra d-d-dentro – engasgou um pouco com o soluço que tentou segurar – eu devia ter checado se ele estava bem, mas estava t-tão t-t-tão...

— Bêbado?

— Yeaaah – o jovem escondeu o rosto entre as mãos, tentando conter o choro – eu sou um idiota...

— Senhor Clint – começou Grissom, observando compadecido o homem sentado abaixo de si – o senhor por um acaso se lembra qual o trajeto que você fez quando estava voltando...

— Voltando do centro de Las Vegas.

— Voltando do centro.

— Nós pegamos a Strip e viemos... – Erike explicou da melhor maneira possível quais os caminhos que percorreu – ...e quando cheguei, simplesmente parei o carro e fui direto pra dentro de casa – novamente sua voz ficou embargada – eu mal consegui chegar até o sofá... eu devia ter checado se J-Jorge estava bem...

— Sinto muito por sua perda – Grissom apagou um pouco suas expressões animadas – e obrigada pelo seu tempo. 

O perito saiu caminhando rapidamente – Jim, já sei onde está a nossa cabeça perdida.

— Então vamos logo, antes que eu perca a minha – Brass caminhou rápido até seu carro, sendo seguido por um Grissom sorridente e animado – tudo que eu mais quero é poder comer alguma coisa...

Mal Brass terminou suas palavras, Grissom paralisou onde estava e fechou os olhos instintivamente. Levou a mão até a cabeça: - Droga!

— O que foi, Einstein? – Brass chamou.

— Sara.

— Que tem a Sara?

— Deixa pra lá, quando voltarmos eu falo com ela – ele foi até o carro meneando a cabeça, demonstrando sua frustração – vamos terminar isso logo.

Dentro do carro, Grissom distraiu-se pela irritação que tomou conta de seus pensamentos. Como ele podia ter se esquecido de seu compromisso com Sara? Sua ânsia por conhecimento, sua curiosidade falara mais alto novamente e teve seus olhos e atenção nublados por uma excitação que definitivamente chatearia alguém. Chatearia Sara. Tudo bem que ele estava fazendo o seu trabalho, mas poderia ter se lembrado de avisá-la, quem sabe chamá-la para ir com ele. Suspirou decepcionado, não tinha mais o que fazer sobre o que passou.

— O que estamos procurando exatamente? – Brass lhe tirou de seus pensamentos.

— Uma cabeça?

O detetive desviou sua atenção da rua, olhando para Grissom de cara feia – Sério?

— Minha teoria, é de que Jorge acordou no caminho de volta – o perito ignorou as expressões de Brass, e começou a explicar: - e em algum momento do percurso ele colocou o tronco e a cabeça para fora da janela, apoiando com as mãos na beirada – Grissom indicou a lateral do carro – achei digitais que comprovam a posição – ele sorriu para Brass, que parecia meio cético – e durante o percurso, alguma coisa arrancou-lhe a cabeça..

— Certo... – o pequeno homem de expressões carrancudas tentou raciocinar – então estamos procurando algo na beirada da rua que possa ter ido de encontro a cabeça da vítima.

— Exatamente.

— E como eu classifico isso? Homicídio? Acidente? – o detetive estava claramente confuso.

— Falta de sorte? – Grissom brincou mais uma vez, e Brass suspirou cansado.

(...)

Rapidamente ele andou pelo escritório, na esperança de que ela ainda estivesse lá. Olhou seu relógio de pulso: 03h04min. Não havia demorado tanto afinal. Pena que não era uma boa justificativa. Ele e Brass encontraram a cabeça de Jorge próxima a um telefone público, e várias marcas de sangue devido o impacto. No final, não foi um grande mistério para se resolver.

Indo em direção a sala de descanso Grissom pode vê-la, sentada em uma das extremidades da mesa lendo algum livro. Preparado para uma recepção sem muito calor, caminhou ao encontro de Sara.

— Oi.

A morena levantou os olhos de seu livro, sorriu.

— Oi.

“Ela está sorrindo” pensou Grissom, aquilo só poderia ser um bom sinal.

— Trouxe algo pra você – estendeu sobre a mesa um embrulho médio, enquanto se sentada ao lado dela.

— Oh – ela olhou para o pacote a sua frente. Não se moveu.

Depois que Sara havia visto Grissom sair as pressas de seu escritório, perguntou na recepção do que se tratava, e a secretária informou sobre um suposto corpo encontrado em circunstâncias suspeitas. E nada melhor do que um corpo junto de coisas estranhas para deixar Grissom cego pelo trabalho. Resolveu que não estava tão brava assim com ele.

— Sanduíche vegetariano pra você – Sorriu amigavelmente.

— Obrigada – por fim ela pegou a sacola, retirando de lá o seu lanche – Como foi o caso?

— Alguém resolveu começar o ano perdendo a cabeça.

— Sei de uma pessoa que só não a perde por estar muito bem grudada no pescoço – a morena lançou para um homem ao lado um breve olhar desafiador, antes de dar uma primeira mordida em seu sanduíche.

Ok, ele havia entendido a indireta/direta dela. Ficou em silêncio por um momento, sentindo-se estranho sentado ali, sem saber exatamente o que dizer. Sara tinha o dom de fazê-lo ter problemas com encontrar palavras e formular frases. Era insólito de mais.

— Como está se sentindo depois de um ano?

Sara olhou pra ele, sabia que falava sobre sua estadia em Vegas.

— Apreciando bem os altos e baixos.

Ele assentiu. Novamente não sabia o que dizer. Seus lábios se contraíram várias vezes, como se formulando alguma palavra, mas nada saia.

— Não era bem o que eu estava esperando, na verdade... – continuou ela, pensativa.

— E o que estava esperando?

Sara o encarou, e Grissom pode se perder brevemente em seus olhos brilhantes. Era impossível dizer quem estava mais perdido na verdade. Aquele mesmo calor de anos atrás, quando eles se conheceram e compartilharam alguns momentos juntos, invadiu o coração da perita. Perguntou-se se o homem a sua frente sentia o mesmo. Os olhos azuis do supervisor estavam nublados, impossíveis de se sondar. Ele se sentia tão estranho sob o olhar atento daquela mulher, que não era capaz de explicar tamanho incomodo e de onde ele vinha.

— Eu não sei – disse finalmente, e simplesmente – mas esse emprego nos ensina todos os dias que não devemos esperar grandes coisas, certo?

— Não vejo mau nenhum em ter expectativas.

— E por um acaso você tem alguma?

Ele sorriu suave – Eu não sei.

Grissom se levantou finalmente, deixando seus olhos irem de encontro ao livro sobre a mesa.

— Apreciando a leitura? – na capa dizia “Entomologia para curiosos”.

— Um verdadeiro remédio para a insônia – Ela disse divertida, mas séria.

Ele arregalou um pouco os olhos para ela, como quem deixa claro estar ofendido. Mas depois sorri.

— Feliz ano novo, Sara.

— Feliz ano novo, Grissom.

E enquanto a mulher voltava sua atenção para seu sanduíche, o perito se retirou.

Caminhou até sua sala e fechou a porta, aliviado por ela não ter ficado chateada com ele. Ao menos se estava disfarçou bem. Às vezes Sara era muito emocional, sentia sempre muito. E aquilo o abalava de uma forma que ainda não conseguia explicar.

Sentou-se novamente em sua mesa e olhou desanimado para a pilha de papeis sobre ela. Não estava preparado para enfrentar aquilo tudo. Mas precisava. Abriu uma de suas gavetas e começou a procurar um modelo de relatório que sabia ter guardado ali em algum lugar. Retirando tudo de dentro dela, e folheando papel por papel, se surpreendeu ao encontrar uma foto tirada poucos anos atrás.

Lá estava ele e Sara, com a Ponte Golden Gate ao fundo. Involuntariamente seus lábios sorriram e sua mente recordou em um flash aquele último encontro que tiveram. Tão confuso e cheio de sentimento, extremamente especial. Precisava se lembrar de dar aquela foto para Sara, sabia que ela ficaria feliz em vê-la novamente.

 

Assim como do fundo da música 
brota uma nota 
que enquanto vibra cresce e se adelgaça 
até que noutra música emudece, 
brota do fundo do silêncio 
outro silêncio, aguda torre, espada, 
e sobe e cresce e nos suspende 
e enquanto sobe caem 
recordações, esperanças, 
as pequenas mentiras e as grandes, 
e queremos gritar e na garganta 
o grito se desvanece: 
desembocamos no silêncio 
onde os silêncios emudecem. 

Octavio paz.


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