Love is blue escrita por Lola


Capítulo 22
Capítulo 22 – Era um domingo


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, meus queridos!
Que saudades de passar por aqui. Desculpem a demora horrenda, infelizmente o fluxo de trabalho aumentou significativamente, e tem sido complicado conciliar a fic com a vida real (mesmo que GSR seja mil vezes melhor hehe)
Ainda não consegui responder cada comentário individualmente, mas li todos, e queria dizer que faz toda a diferença pra mim, cada palavra. Obrigada também a nova leitora que recomendou a fic ♥

Espero que gostem do cap!



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Capítulo 22 – Era um domingo

“fiquei a sonhar

com o rasto dos teus dedos

e o castigo de não saber

se seriam reais”

Francisca Camelo

 

Abriu os olhos e não ousou se mexer. Sara olhou para a janela do quarto, tentando adivinhar que horas eram. Já estava bastante claro, mesmo que suas cortinas fossem ótimas em cortar qualquer luz. O tempo não importava, era domingo e ela estava de folga. Mais especificamente estava deitada em sua cama, no seu dia de folga, com um Grissom completamente apagado ao seu lado. Certificando-se de que ele estava realmente dormindo, permitiu que seus olhos corressem livres pela cena que vivenciava. 

Grissom estava deitado de bruços, com o rosto afundado no travesseiro, a boca levemente aberta, respirando profundamente. Sara se virou com cuidado, deitando-se de lado, olhando fixamente para o rosto do homem. Suas expressões eram serenas, e ela podia ver com clareza todos os traços ao redor dos olhos, testa, e como seus finos lábios eram desenhados. Precisou conter-se para não tocá-lo e contornar com os próprios dedos a dimensão do rosto de Grissom.

Ele se mexeu um pouco, movendo o braço em sua direção, porém sem acordar. Sara sentiu o coração acelerar, imaginando como seria olhar em seus olhos depois de tudo que aconteceu. Não sentia-se preparada o suficiente para isso. O que eles diriam? Na noite anterior não haviam conversado muito - mesmo enquanto comiam, o silêncio havia sido o personagem principal entre eles.  Decidiu que precisava levantar, mesmo sabendo que estava evitando o inevitável. Um medo enorme pesou em seu coração, imaginando vários cenários, a maioria deles negativos.

E se ele estivesse arrependido? E se tudo não tivesse passado de um momento imprudente de Grissom? E seus trabalhos, o que seria de agora em diante?

Levantou-se com cuidado para não acordá-lo. Colocou os pés no chão e deixou que a sensação do piso frio se infiltrasse na pele, ajudando-a a acalmar um pouco dos pensamentos.  Olhou pelo chão do quarto e encontrou suas roupas jogadas junto as de Grissom. Vestiu-se com sua calça de moletom e camiseta, recolhendo o resto das roupas que ainda estavam úmidas da chuva. 

Foi até o guarda roupas e retirou de lá uma camiseta que havia ganhado em um sorteio no último seminário que participou. Ela era grande o suficiente para servir em Grissom, e pensou que ele poderia usá-la até que suas roupas secassem. Caminhou até a área de serviço, colocando as roupas molhadas na secadora, logo depois indo para a cozinha.

“Preciso de café”

Começou seu ritual matinal, como se nada de diferente houvesse acontecido. Logo toda a casa se encheu com o cheiro da bebida, e Sara sentiu seus sentidos se acalmarem. Deu uma olhada na geladeira, procurando alguma coisa que poderia fazer para comerem.

Seu estômago dançou com o pensamento de que estava fazendo o café da manhã para ela e Grissom. Afastou os sentimentos para o fundo de sua mente, e decidiu-se por ovos, concentrando-se completamente na atividade.

Enquanto preparava a refeição, não pode evitar que seus pensamentos vagassem. Sempre fora uma mulher decidida em tudo que queria. Mesmo nos momentos de maiores dificuldades, quando ainda dependia de seus lares adotivos, ou ainda nos relacionamentos amorosos, ela não se envergonhava de mostrar sua personalidade forte e decidida. Mas quando se tratava de Grissom, ela não sabia como se comportar. Era como caminhar por um território completamente desconhecido, onde a qualquer momento algo poderia acontecer. Uma vozinha ficava repetindo no fundo de sua consciência se tudo aquilo não passava de um delírio. Talvez devesse ir até o quarto checar se Grissom realmente estava lá.

— Bom dia.

Sara se virou assustada, levando a mão até o peito, ao mesmo tempo em que deixou um dos ovos se quebrar no chão.

— Droga, Grissom! Você quer me matar do coração?

— Desculpe, eu não quis te assustar.

Sara se abaixou para limpar a bagunça que acabará de fazer, ao mesmo tempo que Grissom também se abaixou para ajudá-la a limpar. 

Ambos quase chocaram suas cabeças, o que os fez rir e se levantarem.

— Acho melhor eu fazer isso sozinha - ela tentou conter um sorriso - Por que você não se senta e toma um pouco de café? Vou fazer alguns ovos mexidos.

Ele obedeceu, indo até o balcão e pegando um pouco de café, mas se mantendo de pé.

Quando ele acordou, seus sentidos demoraram para processar tudo que aconteceu na noite anterior. Sentou-se na cama e deixou que sua mente fosse inundada por todas as lembranças. O sorriso foi inevitável. 

Como um bom CSI, ele já havia percebido que ela não estava no cômodo, e que suas roupas antes espalhadas pelo chão também haviam desaparecido. Viu que havia uma camiseta dobrada cuidadosamente em uma cadeira perto da cama, e pelo tamanho imaginou que Sara a havia deixado para que ele se vestisse. 

Internamente sentiu-se grato, pois não tinha certeza se teria a mesma coragem da noite anterior de andar por seu apartamento usando apenas uma cueca box. Vestiu-se e foi até o banheiro, enxaguando o rosto e lavando a boca com um pouco de pasta dental que encontrou. Olhou atentamente para o reflexo no espelho, passando a mão pelos cabelos desgrenhados, porém notando um pequeno sorriso que não lhe deixava os lábios.  Ele estava ansioso por sair do quarto e ver Sara, mas ainda assim sem saber exatamente como deveria se comportar. Eles estavam juntos agora? Ele deveria simplesmente chegar até ela e beijá-la? Ele realmente gostaria de beijá-la um pouco mais.

Talvez devesse ir com calma, sentir como ela reagiria a tudo que aconteceu. Por um breve instante pensou sobre a noite anterior e se perguntou sobre seu desempenho. Não podia fingir que a diferença de idade não o preocupava, não por ele, mas pelo medo de que Sara um dia simplesmente percebesse quem ele realmente era. Um homem velho e cheio de manias.

— Você está bem? - ela se aproximou, sentando no pequeno balcão da cozinha.

— Estou ótimo - ele sorriu abertamente, sentando-se de frente para ela.

Sara sorriu de volta, sem dizer muito, começando a comer seus ovos. Grissom seguiu o mesmo caminho, apreciando o gosto da comida que ela fizera. 

Ficaram em silêncio, ambos sentindo dificuldades de darem um próximo passo. Sara observava Grissom enquanto ele comia, tentando acalmar seus nervos por ele ainda estar ali e não ter fugido assim que acordou.

— Então… - ela começou - Quais seus planos pra hoje? 

— Planos? - ele repetiu, enquanto bebia outro gole de seu café - Eu não sei. Por que?

— Bom… O que você costuma fazer nos seus dias de folga? Imagino que você já tenha algo planejado - por motivos de vergonha e pouca habilidade quando se tratava de Grissom, Sara simplesmente não conseguia verbalizar que gostaria de saber se ele já pensava em ir embora.

Ele pareceu entender sua dúvida oculta, pois estendeu uma de suas mãos até ela, tocando seu antebraço e fazendo um leve carinho.

— Eu não costumo fazer grandes coisas nos meus dias de folga… As vezes eu vejo algum filme na TV, leio alguma coisa, durmo… - ele sorriu pra ela, ainda segurando seu braço, fazendo leves carinhos com a ponta dos dedos - Nós… Nós podíamos… Passar o dia juntos, se quiser… Mas se você já tinha algum compromisso - ele se adiantou em falar, pensando que talvez ela pudesse ter outros planos.

— Não, não tenho planos - ela sorriu e colocou a mão encima da dele em seu braço, dando um leve aperto - Adoraria passar mais tempo com você. 

Grissom sentiu uma pequena falha nas batidas do coração, lançando um tímido sorriso de lado para Sara.

— Que bom - ele disse.

— Bom - ela franziu um pouco os lábios, fazendo um leve bico para conter de sorrir ainda mais.

Grissom a observou incerto, tenso sobre como deveria se comportar. Nunca o silêncio foi tão difícil de ser preenchido. Por fim rendeu-se ao impulso e levantou, dando a volta no balcão, parando de frente para a mulher. Sara ficou quieta observando seus movimentos, sentindo seu coração disparar.

— Obrigada pela camiseta - ele disse, sabendo que não eram aquelas as palavras certas. Elevou uma mão até o rosto de Sara, afastando uma mecha de cabelo para atrás da orelha. Manteve a mão no pescoço dela, fazendo leves carinhos com a ponta dos dedos.

— Ela fica melhor em você do que em mim - ela respondeu, tocando a gola da camisa distraidamente, sorrindo para Grissom.

Ele estava extremamente perto dela agora, com a mão em seu pescoço, brincando com seu cabelo. Sara pousou a própria mão no peito dele, como se estivesse alisando a textura da roupa, mas sentindo as batidas do coração de Grissom.

— Eu… Eu gostaria muito de beijar você agora - ele disse baixinho, o carinho de sua mão indo para a bochecha de Sara.

— E o que você está esperando? - ela não pode evitar provocar, arrancando um sorriso divertido de Grissom.

Segurando seu rosto, quebrou a distância que os separava e juntos seus lábios, apreciando com calma a sensação de poder finalmente beijá-la livremente. Sara passou os braços pelo peito de Grissom e também segurou seu rosto, sentindo que ele a abraçava com força. O beijo se aprofundou de forma apaixonada e intensa, trazendo para ambos a sensação de que não havia nada mais importante no mundo do que os dois naquele momento.

Após alguns instantes, eles diminuíram o toque e encerraram o beijo.

— Bom dia, Sara - ele disse, de olhos fechados.

— Bom dia, Gil - ela sentiu um peso agradável nas palavras dele, e seu peito se encheu mais ainda de amor. Talvez os medos que sentia fossem infundados, e ele não estivesse indo embora dessa vez.

Grissom abriu os olhos e sorriu timidamente, sentindo o rosto quente de vergonha. Ele ainda não sabia exatamente o status do que estavam fazendo, e estava adiando de forma consciente essa conversa, pois eles ainda precisavam decidir o que fazer sobre o trabalho deles. Porém, estranhamente sentia-se tranquilo, e completamente disposto a assumir os riscos de estar com Sara.

— Você está viajando novamente - ela disse, fazendo um carinho no rosto de Grissom. Ele inclinou-se sob o toque, apreciando a sensação de ter alguém tão próximo.

— Apenas pensando. Isso te incomoda?

— Não - a resposta veio sem hesitação, e isso agradou Grissom. Em todos os relacionamentos que esteve durante a vida, nenhuma das mulheres que se envolveu pareciam entender o seu jeito de se comportar. Com exceção de Heather, porém, ela acabou por ser mais uma fuga pelo que sentia por Sara do que um sentimento real.

— Tem certeza?

— Desde que você não esteja pensando em fugir daqui e não falar comigo nunca mais - Sara usou um tom de brincadeira, porém ambos sabiam que suas palavras continham grandes doses de verdade. - Grissom, escute – seu tom mudou para mais sério.

— Gil - ele corrigiu, sorrindo.

— Gil… - Sara sorriu de volta, apreciando o nome dele de forma tão íntima em seus lábios - Você não tem que se preocupar em talvez, agir de forma diferente do que você é… Talvez para… Bom, me agradar de alguma forma. 

Ele não disse nada, encarando-a em silêncio. As palavras dela encontraram o caminho do seu coração com facilidade, e a emoção o estava impedindo de responder. Este era o grande poder de Sara Sidle, deixá-lo completamente sem ações.

— Eu não espero que você mude quem você é… Até por que eu não me apaixonei por um ideal de você.

As palavras foram ditas com facilidade, porém estavam carregadas de significados. Aquela era a primeira vez que um deles verbalizava de forma clara e direta o que estava sentindo. Sara pode notar um pequeno brilho nos olhos de Grissom, e como ele pareceu se mexer com o que acabara de dizer. Talvez houvesse ido rápido demais?

— Me desculpe, Grissom - ela disse rapidamente, não sabendo como lidar com o silêncio do homem - Eu e minha mania de falar demais na sua frente - desviou os olhos envergonhada, sorrindo nervosamente.

— Eu sou apaixonado por essa mania - ele disse rápido e brincalhão, percebendo que deveria aliviar a tensão que se instalou.

Sentia-se aliviado pelas habilidades de Sara de verbalizar o que sentia, pois isso o ajudava a caminhar por essa estrada desconhecida.

— Bom - ele deu de ombros, desviando os olhos envergonhado - acho que sou apaixonado por tudo em você.

Talvez aquelas seriam as palavras mais próximas de uma declaração que ambos conseguiriam naquele momento. E sentiam-se extremamente satisfeitos um com o outro por isso. Após anos dando voltas, admitir que estavam apaixonados era um ótimo primeiro passo.

Sara sorriu um sorriso largo de dentes separados, sendo consumida por uma emoção quente em seu peito. Espontaneamente agarrou o rosto de Grissom e o beijou, descendo da cadeira que ainda estava sentada, logo em seguida envolvendo o homem em um abraço forte, que foi logo retribuído.

Quando se afastaram do beijo abraço, Grissom soltou um longo suspiro, como se um enorme peso tivesse sido retirado de seus ombros. Do seu coração.

— Nós… Eu sei que ainda precisamos conversar sobre muita coisa.

— Está tudo bem - Sara apaziguou. 

— Não, Sara - este era um dos comportamentos que talvez ele não gostasse tanto na mulher, sempre livrando-o da responsabilidade de falar - Quero dizer, estamos bem… Porém… Eu sei que você gostaria de perguntar algumas coisas, e nós sabemos que vamos precisar falar sobre o trabalho.

— Okay - ela disse.

— Mas agora - ele sorriu de lado - eu gostaria apenas de aproveitar meu dia de folga com você.

Eles se olharam demoradamente, felizes por aquela breve conversa, sentindo que as coisas entre eles estavam indo bem.

//

O dia continuava chuvoso, eles perceberam. Após a interação na cozinha, Sara disse que iria tomar um banho e que se Grissom quisesse ela iria separar algumas coisas para que ele pudesse usar. Ele sorriu e aceitou, dizendo que adoraria. Quando a mulher se retirou para o banheiro, ele caminhou até a janela do apartamento, observando o céu nublado, como raramente acontecia em Las Vegas. Talvez fosse a primeira vez naquele ano.

Grissom não pode deixar de sorrir com a ironia desenhada pelo tempo. Ele sempre gostara de dias chuvosos, especialmente em uma cidade que estava sempre quente. Em dias como aquele, todos ficavam em alerta para as possíveis enchentes no deserto, e muitos turistas cancelavam seus passeios ao ar livre. Porém, para ele, chuva sempre era sinal de um dia bom. O céu estava comemorando a mesma alegria que ele estava sentindo, Grissom pensou. Sentia-se como uma grande nuvem prestes a desaguar - desaguar todos os sentimentos que por tanto tempo se esconderam em seu peito. 

As coisas não ficariam fáceis de agora em diante, mas ele esperava que um pouco de paz pudesse acontecer entre ele e Sara. Seu ato de ir até o apartamento dela na noite anterior havia ocorrido em um lampejo de impulsividade, sem esperar que as coisas terminassem como terminaram. Mas foi praticamente impossível estar tão perto dela, vendo todos os sentimentos refletidos em seus olhos, e não fazer nada. No momento em que a beijou, ele sabia que estava perdido. No entanto, agora em seu apartamento, enquanto ela tomava banho, sentiu o peso da realidade afundar seu coração.

Passou os olhos rapidamente pelo local, tentando aprender um pouco mais sobre a mulher que tanto amava. Amor. A palavra ficava presa e estranha em sua cabeça, não sabia se seria capaz de dizê-la em voz alta. Falar que era apaixonado por tudo nela havia sido um passo enorme, e esperava que ela tivesse entendido através de seus atos que ele realmente dizia a verdade. Para ele, que esteve sozinho a maior parte da sua vida, de agora em diante começaria o verdadeiro desafio. Ele não sabia como se comportar, e menos ainda como demonstrar seus sentimentos. As palavras de Sara sobre ele não precisar mudar o seu jeito o havia acalmado, mas não deixava de se preocupar dela simplesmente acordar e resolver ir embora. 

Não sabia se poderia lidar com sua rejeição. Não agora que haviam dormido juntos, não agora que havia confessado estar apaixonado por ela.

Foi enquanto ainda olhava para o céu, que ele sentiu o toque de Sara em seu ombro. Ao se virar deparou-se com a mulher vestida com blusa e calça de moletom, os cabelos molhados caindo ao redor do rosto. O perfume cítrico que emanava de seu corpo encheu seus sentidos, e precisou de muito autocontrole para não tirar suas roupas ali mesmo na sala.

— O banheiro já está disponível pra você.

— Que perfume é esse? - ele perguntou, sentindo-se uma adolescentes pelos pensamentos que dançavam por sua mente naquele momento. Se Sara soubesse o poder que ela tinha sobre ele, especialmente agora, que ele havia provado um pouco dela.

— Perfume? - ela pareceu confusa - Eu não passei perfume… Há! Esse cheiro é do meu sabonete e shampoo, algo com frutas - ela refletiu. 

— Hum… - ele fez um leve beicinho.

— Você não gosta? - Sara franziu o cenho preocupada, cheirando os cabelos - Eu separei um sabonete novo pra você no banheiro, junto de toalhas limpas, e suas roupas já secaram, caso queira usá-las… 

— Obrigado - ele sorriu - Volto em um minuto.

Sara acompanhou Grissom com os olhos enquanto ele saia da sala direto para o banheiro.

“Estamos indo bem”, ela pensou. Mesmo que ainda estivessem um pouco sem jeito ao redor um do outro, as coisas estavam indo melhores do que ela imaginou quando acordou.

Sara foi para o sofá e sentou-se, escutando novas gotas de chuva caírem contra a janela. Pegou o controle da TV e ligou, deixando o som baixo. Olhou para a tela sem realmente prestar atenção ao que estava acontecendo, sentindo que seus pensamentos estavam bagunçados demais para deixarem-na quieta. Ela pode escutar o barulho do chuveiro sendo ligado, e um calafrio passou por seu corpo ao imaginar Grissom nu em seu banheiro. 

Um pequeno sorriso convencido desenhou seus lábios, lembrando-se da noite anterior. Talvez eles houvessem se precipitado? Por muitas vezes imaginou como seria ter uma noite de amor com Grissom, ou simplesmente como seria a sensação de poder beijá-lo. Mas, para além de suas expectativas, o homem havia se mostrado um amante dedicado e amoroso, e estar sob o escrutínio de seus olhos já era suficiente para enviar por todo corpo inúmeros arrepios. 

Não sabia o que seria deles de agora para frente, mas finalmente Grissom parecia querer descobrir o que fazer. Ela não esperava que ele renunciasse seu trabalho por ela, inclusive estava disposta a deixar tudo oculto para que pudessem seguir com suas vidas normalmente. Tudo que Sara precisava naquele momento era da segurança de que ele não estaria indo embora ou afastando-a. Ela entendia bem que ele precisava de espaço, e que nem todos conseguiam entendê-lo e especialmente amá-lo sem querer que ele mudasse. Ela não esperava que ele fosse diferente, esperava apenas que ele permitisse que ela fizesse parte de sua vida. 

E pensando no resumo de tudo que havia se passado nas últimas horas, sua única dúvida era sobre o que havia mudado para Grissom finalmente decidir que ela valia o risco.

— Estou de volta - ele entrou na sala, cabelos molhados, vestindo a mesma camiseta que ela lhe emprestara, porém com as calças da noite anterior.

— Hey - ela sorriu, afastando as preocupações para longe.

— O que você está assistindo?

Grissom se aproximou do sofá, olhando entre a TV e a morena, sem saber exatamente como se comportar a seguir.

“Basta sentar-se ao lado dela” 

Continuou de pé.

— Nada realmente, mas tenho alguns DVD’s caso não encontremos nada na TV.

Ele concordou em silêncio.

— Ahm… Grissom.... - Sara disse em seguida, tentando conter o riso - Você não vai se sentar?

Ele franziu o cenho, um pouco envergonhado - Claro.

Deu a volta na mesinha de centro e sentou-se ao lado de Sara, olhando de lado para ela, sorrindo desconcertado.

— Acho que… Bom, estou me sentindo como um adolescente aqui - ele havia se sentado ao lado dela, meio rígido, sem saber onde colocar as mãos.

— Um adolescente? - ela achou a confissão divertida.

— Um adolescente com sua primeira namorada.

Sara achou cativante o jeito como ele disse a frase. Então era assim que ele os via?

— Pensei que você fosse cheio de habilidades românticas - Grissom tentou relaxar, mas apenas conseguiu ficar confuso com a fala de Sara - Pelo o menos é o que dizem pelo laboratório.

— Não pensei que você desse ouvidos para as fofocas do laboratório - Grissom passou um dos braços por trás de Sara, envolvendo-a em um pequeno abraço desajeitado. Ela se aproximou de bom grado, apoiando a cabeça em seu ombro.

— Eu não dou.... Mas as vezes é difícil ficar sem ouvir.

— Hum - aquilo não era algo que o deixava feliz. Detestava a fofoca do laboratório.

— Mas preciso dizer que todos estavam errados.

— Ah é?

— Sim… Ontem a noite você provou ser muito melhor do que as conversas.

Grissom olhou para ela em choque, enquanto Sara começou a rir de sua expressão. Uma gargalhada saiu de seus lábios, e logo Grissom percebeu que ela o estava provocando. Sentiu suas bochechas ficarem quentes, e teve certeza que estava corando.

— Sem nada a dizer?

Ele refletiu, ainda se recuperando, mas respondendo espontaneamente - Não seria a primeira vez que você me deixa sem saber o que dizer.

Sara se virou em seu abraço, olhando-o profundamente nos olhos. Eram esses comentários aleatórios que a pegavam de jeito. Sem tentar responder, ela apenas sorriu e voltou sua atenção para a TV. 

Em um silêncio confortável, acomodaram-se melhor um no outro, reclinados no sofá abraçados. Grissom pegou o controle que estava ao seu lado e começou a pular os canais, pausando na National Geographic. Sara sorriu com o comportamento, mas não disse nada.

Nada melhor do que um domingo de folga, abraçada com Grissom, assistindo algumas curiosidades científicas.

//

A relatividade do tempo existia, e Grissom e Sara podiam provar. Quando se deram conta, já estava anoitecendo novamente, e eles sabiam que logo se despediriam.

O dia transcorreu leve e tranquilo. Após um tempo assistindo documentários sobre a vida marinha na televisão, entraram em uma discussão sobre comer e não comer carne, que acabou sendo vencida por Sara. Grissom conformou-se e aceitou pedirem algum prato vegetariano para o almoço. Intercalando silêncio e conversas leves, o dia passou sem grandes tensões.

Em vários momentos Sara pegou Grissom observando-a profundamente, e quando ele notava ter sido descoberto, desviada os olhos para algum ponto neutro. Eles também haviam trocado longos beijos lentos no sofá, mas nada que fosse adiante. Após cada contato mais íntimo, ambos pareciam extremamente desconcertados, porém irremediavelmente felizes. Mas o momento de falarem sobre o trabalho finalmente havia chegado, e não poderiam evitar por mais tempo.

Ambos estavam sentados no sofá, quando o telefone de Grissom tocou sinalizando uma mensagem. Ele retirou o telefone do bolso e ao olhar para a tela fez uma careta.

— Trabalho? – Sara disse, sem desviar os olhos do livro que estava lendo.

— Catherine está precisando de ajuda – ele suspirou, pensando que sua noite de folga havia acabado mais rápido do que imaginava – Um duplo homicídio.

— Hoje não é sua noite de folga? – Sara finalmente o encarou, achando graça dele parecer relutante em ir trabalhar.

— Sim... – o supervisor digitou algo no telefone, colocando-o novamente no bolso da calça – Bom...

Ele não se levantou imediatamente como Sara esperava que ele fizesse. Ao contrário, parecia indeciso sobre o que precisava fazer.

— Então eu acho que isso é um adeus – ela disse, contendo um sorriso.

Grissom franziu o cenho, desconfortável com as palavras que ela escolheu usar, mas decidiu não entrar nisso – Eu preciso ir... Passar em casa para me trocar... – Ele a encarou cautelosamente, falando mas não agindo. De acordo com sua experiência, era nesse momento que tudo dava errado, e a pessoa desistia dele.

— Tudo bem – ela disse.

— Certo – ele concordou.

Quando finalmente ele pareceu encontrar forças para comandar suas pernas, Sara o tocou no braço.

— Gil... Nós não... Isso – Sara disse, fazendo uma pequena pausa esperando que ele entendesse do que ela estava falando – Não precisa ser público ou interferir em nossos trabalhos.

Ele suspirou resignado, sentindo que deveria ter iniciado essa conversa mais cedo – Sara, eu... Nós... – ele queria poder dizer que estava disposto a lutar por eles, e que se ela quisesse eles poderiam tornar isso público, mas não conseguiu. Ele ainda sentia muito medo, e as dúvidas ainda eram muitas em sua cabeça. Sentiu-se extremamente egoísta naquele momento.

— Está tudo bem – ela se levantou, dando a mão para que ele fizesse o mesmo – Você gosta do seu trabalho, eu também gosto... Nós gostamos de como as coisas estão – ela se aproximou dele quando ele já estava de pé – Vamos ver o que acontece... Eu realmente não sei se quero um monte de gente bisbilhotando a nossa vida.

— Definitivamente, não.

Sara sorriu – Não... Então está tudo bem. Nos vemos amanhã no trabalho. – ela sorriu para ele, dando um aperto suave em sua mão.

— Talvez ainda hoje, posso precisar de reforços – ele disse sorrindo, sentindo um pouco do peso das preocupações deixarem seus ombros. Talvez Sara fosse realmente diferente de todas as outras mulheres, e pudesse aceitá-lo exatamente como ele era.

— Você sabe que estou sempre disponível.

Grissom não pode evitar sentir uma reviravolta em seu estômago, enquanto encarava a mulher diante de si, relembrando o dia que tiveram juntos. O que ele deveria fazer agora? O mais adequado seria um abraço? Beijá-la nos lábios ou bochecha?

Revirando os olhos em frustração com a própria inabilidade, ele se aproximou de Sara e depositou um suave beijo em seus lábios, sussurrando em seu ouvido: - Boa noite, querida.

Sentindo uma onda de eletricidade atravessar seu corpo, Sara respondeu – Boa noite, Griss.

Ele sorriu para ela, sentindo-se satisfeito por perceber que também era capaz de deixar Sara Sidle sem palavras. Pegou sua jaqueta sobre o braço do sofá e caminhou até a porta, sem olhar para trás, sentindo que sua vida jamais seria a mesma depois daquele dia.


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Notas finais do capítulo

E aí, meu povo... Eu espero não ter fugido muito do personagem... Não temos ideia de como é o Grissom nessas temporadas, não dá pra imaginar como era o tratamento entre eles do relacionamento privado... Estou tentando imaginar isso... Fazer um equilíbrio entre o cara sem habilidades porém fofo heheheh
vou adorar saber a opinião de vocês sobre isso!
Até o próximo.



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