Ele cumprimentou a general e Nightwolf cordialmente. Ao chegar minha vez, ele estreitou os olhos para mim como se estivesse tentando me reconhecer. Estendeu a mão e eu o cumprimentei. Ele apertou minha mão nas suas e disse:

— Enfim nos reencontramos, Johnny Cage.

Sua voz firme era inconfundível. Eu estava ainda incrédulo no que eu via. Bi-han era o grão-mestre dos Lin Kuei. A forte lembrança de quando o salvei das mãos de Scorpion veio em minha mente. Agora tudo fazia sentido. E Kuai Liang? Onde ele estava?

Demorei um pouco para processar toda aquela informação. Depois de alguns instantes anui com a cabeça, apertei sua mão e falei:

— Quanto tempo, não é mesmo?

Bi-han sorriu e respondeu:

— Verdade. Mas vamos entrar, pois vocês não aguentarão esse frio por muito tempo.

Enquanto caminhávamos, fui observando a paisagem, que estava com uma cobertura branca. A neve caía branda sobre nossas cabeças, mas a estrada que andávamos estava fazendo nossos pés afundarem em gelo puro. Eu ainda estava um pouco absorto diante de tudo aquilo. Sim, mudei tudo de uma hora para outra e eu tinha a mais plena certeza que eu era responsável.

Jacqui notou que eu estava calado e perguntou se estava tudo bem.

— Estou tentando processar as coisas.

— Percebi que você ficou espantado ao cumprimentar Sub Zero.

— É que eu não sabia que Bi-han havia se tornado o grão-mestre dos Lin Kuei.

Jacqui deu uma risada e falou:

— Aos poucos você vai se atualizar sobre o mundo.

Entramos na casa do grão-mestre, que mais parecia um palacete. Fomos conduzidos para uma sala não muito grande, onde havia dois sofás grandes, uma lareira apagada e algumas porta-retratos pela parede. Alguns com pinturas e outras com fotos. Esbocei um sorriso ao ver Bi-han junto com Kuai, ambos sorriam frente a entrada da casa em que estávamos.

—  Podem sentar-se. Pedi para que preparassem um chá para nós.

Sentamos no sofá enquanto um servo vinha com a lenha para acender a lareira. O cheiro de madeira queimada começou a se espalhar pelo ambiente, que aos poucos foi esquentando. Por fim, Bi-han se sentou e perguntou a Jacqui:

— Alguma novidade? — ele voltou seu olhar para mim — Fiquei surpreso ao saber que Johnny Cage voltou a ativa para proteger o Plano Terreno.

Apenas sorri e me recostei no sofá. Jacqui inclinou-se para frente e disse:

— Cage veio a minha procura ontem a tarde. Ele se ofereceu para nos ajudar.

— Toda a ajuda é bem vinda — disse Bi-han com feição pesarosa — principalmente agora que a guerra está mais intensa. Já perdemos tantos na batalha.

Nightwolf passou a mão pelos seus cabelos, respirou fundo e perguntou:

— Não teve mais notícias de Tundra?

Arregalei meus olhos e interrompi a resposta de Bi-han:

— O que aconteceu com ele?

Bi-han colocou a mão na cabeça e fazia um sinal negativo com ela. Fechou os olhos por alguns instantes, em seguida olhou para mim e disse:

— Faz uma semana que Kuai saiu para uma batalha próximo do Templo do Céu e... não tive mais notícias dele, nem dos que estavam com ele.

Voltei meu olhar para aquela foto de Kuai junto com Bi-han, que ainda falava:

— É provavel que eu não o veja mais.

Senti um aperto em meu coração quando ele falou essa última frase. Aquela era mais uma morte em minhas costas. Quem mais eu havia matado com o meu egoísmo? O que eu fiz? Sempre vi em Kuai uma pessoa boa e que estava disposto a ajudar em tudo. Era um homem que trabalhava bem em equipe. Não estava acreditando no que estava acontecendo. E pensar que tudo aquilo era minha culpa...

Respirei fundo, me levantei e disse:

— Preciso tomar um pouco de ar.

Em seguida me retirei da sala e comecei a andar pelos corredores. Cheguei até a entrada do palacete e sentei em um dos degraus. Por sorte não estava ventando. Apenas alguns flocos de neve caíam, colaborando mais para que o chão ficasse mais frio. Então ouvi alguns passos vindos em minha direção, mas não olhei para trás.

— Acho que está um pouco frio aqui fora, Cage. — disse Bi-han com sua voz grave enquanto se sentava ao meu lado.

— Ainda preciso processar na minha cabeça sobre tudo isso que está acontecendo. — falei dando uma desculpa.

Ele se ajeitou no degrau e disse olhando para frente:

— Percebi que você ficou... como posso dizer... incomodado quando falei do sumiço de Tundra. Você o conhecia?

Naquele momento eu teria que contar a história mais louca da minha vida. Respirei fundo e antes de contar perguntei:

— Promete que não vai me chamar de louco pelo que eu irei te contar?

Bi-han fez uma feição desconfiada e jurou por sua vida que não faria tal coisa. Então, contei a ele tudo o que eu lembrava sobre a realidade paralela em que estava e sobre minha entrada na fenda do tempo. Assim que terminei de contar, o grão-mestre ficou de cabeça baixa e de olhos fechados por alguns instantes. Em seguida disse com um tom pesaroso:

— Então, eu virei um monstro... — mas ele sorriu —  e meu irmão... se tornou o grão-mestre.

— Sim, um bom grão-mestre — coloquei minha mão em seu ombro — assim como você tem sido.

Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça, como se sentisse consolado. Eu podia ver que seus olhos ficaram marejados em seguida, mas logo os secou e disse:

— Então os sonhos e visões que tenho tido... são dessa realidade paralela. Você salvou a minha vida ao evitar que Scorpion me matasse... E deu nisso tudo.

Olhei para frente e falei:

— Eu só quis salvar a vida de todos os meus amigos...

— Não vou julgar você, Cage. —  ele olhou para mim — se for preciso você voltar no tempo de novo e... deixar que Scorpion me mate para que não haja essa guerra... Estarei disposto a tal sacrifício.