Play with Fate escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 7
Promessa




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Jessy estava imóvel, recostada no sofá, olhando para o chão e provavelmente tentava entender o que eu tinha acabado de contar. Judith chegou com uma bandeja nas mãos, onde havia duas xícaras de chá. Eu peguei as duas xícaras e entreguei uma para Jessy, ela pegou sem olhar para mim.

— Johnny – chamou Judith.

Apenas olhei para ela, que mordeu os lábios ao ver meus olhos inchados de tanto chorar. Dei espaço para que se sentasse ao meu lado e Judith assim o fez.

— Eu... eu ouvi tudo o que você contou para ela.

Respirei fundo e falei:

— Pode dizer que estou louco, mas tudo o que você ouviu é verdade.

Ela deu risada e falou se levantando:

— Vou deixar você conversar com Jessy. Preciso te contar uma coisinha depois.

Em seguida ela saiu, deixando Jessy e eu sozinhos na sala. Ela tomava o chá bem devagar para não queimar a língua, mas estava com o seu olhar preso no nada. Eu imaginava a bagunça que eu tinha causado na cabeça daquela menina. Ou ela se levantaria e gritaria que eu era um louco ou ela caíria em prantos no chão. Mesmo correndo esse risco, pousei minha mão sobre o ombro dela e apertei levemente dizendo:

— Acho que fiz uma bagunça em sua cabeça.

Ela deu um gole no chá, respirou fundo e perguntou com lágrimas nos olhos:

— Na outra linha do tempo... o meu pai sobreviveu ao massacre feito por Sindel?

Engoli seco e me veio a memória o modo bárbaro com que Kabal havia sido morto na outra linha do tempo. Passei a mão pelo meu rosto pensando em atenuar da melhor forma a resposta que eu daria a Jessy, mas não tive muitas opções.

— Não, Jessy. Ele foi uma das vítimas fatais.

— E para você conseguir consertar toda essa bagunça, você teria que voltar no tempo e... ver meu pai morrer de novo.

— Jessy, se eu conseguir farei o possível para salvar a vida de seu pai.

Ela abaixou a cabeça e pude ouvir o choro contido dela. Meu coração apertou e eu estava sem reação. A verdade é que eu estava bem perdido naquela loucura. Eu tinha que consertar a situação em que o mundo estava e, infelizmente, os sacrifícios seriam inevitáveis.

Ouvi-a respirar fundo mais uma vez. Levantou-se, guardou a máquina fotográfica em sua bolsa, colocou-a nos ombros e disse:

— Melhor eu ir embora.

Em seguida Jessy foi para a porta.

— Não vai querer jantar? – perguntei indo em sua direção.

— Eu vou para casa ver se tem notícias de meu pai.

Abri a porta para ela e falei:

— Espero que ele não tenha se envolvido em nada sobre essa guerra.

Jessy voltou seu olhar para mim, já marejados e disse:

— Não se esqueça do que te pedi.

— Não esquecerei.

Então ela se foi a passos rápidos. De porta aberta fiquei me questionando se eu deveria mesmo ter lhe contado essa história.

Nesta linha do tempo conheci Kabal anos depois do torneio, em uma visita na Interpol para estudar sua rotina para um filme que eu ia fazer. Acabamos nos tornando amigos e assim conheci sua família. Foi aí que dei uma chance para sua filha Jessy, que estava desesperada a procura de emprego, pois terminara a graduação em Publicidade e Propaganda, mas não tinha encontrado nada na área. Ela aceitou minha proposta de trabalhar como minha assessora e posso dizer que eu não me arrependo de ter feito isso.

Agora o que eu temia, era que Kabal estivesse ajudando na guerra e acabasse morrendo. Seria mais uma morte em minha conta, era o que eu menos queria.

Fui para a cozinha tomar um copo de água e me assustei ao ver duas mulheres ali. Uma lavando a louça e a outra temperando algo, pois o aroma do tempero estava forte naquele ambiente. Elas estavam uniformizadas, o que deixava tudo bem harmonioso. Eu não havia me acostumado com aquela nova realidade em que eu estava presente. A que lavava a louça olhou para mim e perguntou atônita:

— Deseja algo senhor Cage?

Vocês não fazem ideia de como aquilo me causou estranheza. Dei um sorriso simpático e pedi um copo de água. Ela anuiu com a cabeça, pegou um copo de vidro, colocou água do filtro e me deu. A água estava na temperatura ambiente (do jeito que eu gosto) e bebi rapidamente. A outra empregada ralhou com a que me atendeu e disse:

— Por que não deu água no copo dele mesmo?

— Olhem – interrompi – eu não dou a mínima pra isso, certo? Fiquem tranquilas.

Em seguida saí da cozinha e fui para o quarto. Acabei não me encontrando com Judith e ela nem veio ao meu quarto. O sono logo veio.

(...)

Acordei mais cedo, tomei um banho e escolhi uma roupa confortável para a viagem que eu faria. Não sei quando eu ia voltar, então fiz uma mala de mão simples. Saí do quarto com a mala na mão e a  chave que Briggs me deu no bolso. Eu estava descendo as escadas quando Judith veio ao meu encontro

— Me perdoe, eu devia ter te acordado.

— Não se preocupe, o meu celular despertou.

Enquanto eu conferia a mala, Judith tocou o meu ombro e disse:

— Eu pensei muito sobre o que você estava falando com Jessy ontem a noite, você vai voltar não é?

Olhei para ela e respondi:

— Espero que eu volte.

Fechei a mala, me ergui e dei uma última olhada nas notícias pelo meu celular. Então vi uma sobre o discurso de Sonya Blade no senado sobre a guerra. Fiquei olhando sua foto e senti meu coração apertado. Ela não era mais minha esposa e aquilo doía muito em mim.

Respirei fundo, guardei o celular na jaqueta e disse a Judith:

— Não sei se volto hoje.

— Você voltando bem já fico feliz – ela respondeu sorrindo.

Dei um beijo em sua testa e saí sem falar nada, indo em direção a garagem. De lá eu me tele transportei para a base das Forças Especiais.

Chegando lá, vi Jacqui manuseando um tablet e mais alguém mexendo em um notebook.  Eles não haviam notado a minha chegada, então bati com a mão levemente em uma mesinha próxima. Os dois olharam em minha direção e logo a general sorriu.

— Johnny Cage! Chegou na hora certa. - ela veio caminhando até mim – Como passou a noite?

— Foi tranquila. – respondi laconicamente.

— Assisti só um pouco na premiere. Foi muito boa.

— Sim, mas dava para ver que minha mente estava em outra dimensão.

Jacqui riu e comentou:

— Nem notei isso.

A outra pessoa veio caminhando até mim e logo o reconheci pelo andar.

— Nightwolf – falei admirado.

— Quanto tempo não nos vemos, Cage. – ele respondeu estendendo a mão para mim.

Eu logo a apertei. Fiquei perplexo ao não ver nenhum fio branco em seus cabelos e sorri dizendo:

— Nem parece que o tempo passou para você.

Ele deu uma risada, baixou a cabeça por alguns instantes e falou:

— Você bem sabe que eu não deveria estar aqui.

Engoli seco, pois eu podia ler em seu olhar que ele sabia bem o que havia acontecido. Eu tinha certeza que ele sabia da fenda que eu entrei. Respirei fundo e disse:

— Eu quero consertar as coisas.

— Gente – Jacqui nos interrompeu – do que vocês estão falando?

— Você vai descobrir em breve, general – falou Nightwolf passando por nós. – o jato já está pronto?

— Sim, está – falou Jacqui acompanhando o índio – só estávamos esperando Johnny chegar.

Em seguida ela pediu para que eu a acompanhasse. Fomos para o hangar e quando cheguei lá não me surpreendi. Era bem semelhante ao hangar que eu conhecia das FE. Havia alguns aviões de caça, helicópteros e mais uns dois ou três jatos. Entramos em um deles e Jacqui foi para a cabine de piloto. Nightwolf sentou ao lado dela e eu fiquei atrás da general.

— Pensei que iríamos de tele transporte para lá – comentei.

— Estou levando algumas armas nesse jato para que os Lin Kuei possam usar. – disse Jacqui já manobrando o jato.

Achei estranho, pois os Lin Kuei não usavam armas de fogo, então a indaguei:

— Eles não estão usando katanas?

— Não está sendo o suficiente para eles – respondeu Nightwolf – se renderam as armas de fogo.

Realmente tudo tinha mudado mesmo. Era a ultima coisa que eu pensei em ver: Lin Kuei usando armas de fogo.

Assim o jato levantou vôo.

(...)

Pousamos em um campo coberto de gelo. Ao longe se podia ver algumas casas cobertas com uma fina camada de neve e com suas janelas brilhantes de amarelo. Fui o último a sair do jato e um vento frio insistia em bater no meu rosto. De repente vi um homem vindo ao longe, com capuz e vestes pretas vindo em nossa direção. Ele se aproximava, pude ver os detalhes em azul e uma esperança brotou em meu coração. Eu poderia ter respostas mais claras naquele momento.

Quando cumprimentou Jacqui, ele tirou o capuz e qual foi a minha surpresa, não era Kuai Liang.


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