“Takashi, por favor não vá. Isso não está certo, é loucura!!” a voz de Karime expressava preocupação e súplica. “Eu sei de suas responsabilidades com o clã. Mas...  e quanto às ordens da Folha? Não é dessa forma que seremos aceitos...”

“Aceitos?! É isso o que você quer?! Nos humilhar, abaixar a cabeça esperando que os outros clãs nos aceitem?!” 

O tom de Takashi sobrepunha-se ao da esposa. Ele soava ríspido e autoritário. 

“Somos Uchiha!! Nós não imploramos por aceitação. Usamos o nosso poder para tomar o lugar que é nosso!” 

“Isso é o oposto do que seu pai desejava para o clã… Kagami-sama [1] nunca apoiaria algo assim.”

“Já chega!” ele esbravejou "meu pai foi um idealista ingênuo e morreu como um traidor do próprio clã"

Com a interjeição autoritária do pai, a voz da mãe desapareceu.

Deitado em seu quarto, Shisui ouvia a discussão de seus pais do outro lado da porta de correr. 

O menino sentia um aperto no peito, ele entendia e compartilhava o temor de sua mãe. Mas o pai deu o veredito.

“Já está decidido, eu vou.”

Shisui já deveria estar dormindo, mas revirava-se no futon remoendo em sua mente a notícia da morte de uma criança de seu clã. 

Obito era seu amigo.

Com apenas sete anos de idade, dois deles já em tempos de guerra, o pequeno Uchiha acompanhava a destruição de seu mundo, dentro e fora de casa. 

Mesmo nos tempos de paz, obituários de pessoas conhecidas era algo que fazia parte de seu cotidiano. 

Shisui não gostava da guerra. Não gostava das mortes. Não gostava do mundo no qual nasceu.E estava pronto para mudá-lo.

Quando tinha cerca de três ou quatro anos, o garoto perguntou à sua mãe por que o pai passava tanto tempo fora de casa. 

“Ele tem um trabalho importante, é um grande ninja da Folha. É por causa de pessoas como seu pai que podemos nos sentir seguros. Os ninjas são aqueles que usam o seu poder para proteger a todos.” 

Essas foram as palavras usadas por Karime. E Shisui nunca se esqueceu dessa resposta.

Ainda na primeira infância, ele se incomodava profundamente com a violência. 

Em seus passeios ao parque da vila, o pequeno estremecia cada vez que observava um valentão subjugar outra criança. 

“Eles não mexem com você porque é do clã Uchiha. Todos têm medo do poder do seu clã” essa alegação era recorrente entre seus amigos, mas o fazia sentir-se ainda pior. 

‘Que poder é esse?’

Shisui se cansou de observar, se cansou de esperar parado que este poder chegasse. Ele se tornaria um ninja. Antes da metade de sua primeira década de vida, Shisui começou a treinar. 

Ele era bom com as pessoas e, por isso, tinha muitos amigos. 

Manter seus amigos seguros, acabar com a violência do mundo, essas eram suas motivações. 

Mas não só isso, as crianças mais velhas viam em Shisui um menino maduro para a sua idade e, após tomar conhecimento de seu sonho, eram generosas em ensinar-lhe técnicas e exercícios que já dominavam.

Quando ele tinha apenas cinco anos, Obito o ensinou o jutsu da Grande Bola de Fogo, a especialidade dos Uchiha.

Até Hatake Kakashi havia sido seu professor. Mesmo que Shisui desconfiasse que a lição de Kakashi sobre clones das sombras tinha muito mais o propósito de provar a Óbito que até uma criança de cinco anos era melhor do que ele, o pequeno Uchiha era grato às pessoas que o ajudavam a progredir. 

Ele recebia atentamente os ensinamentos dos amigos e depois treinava os jutsus sozinho até dominá-los. Mas não havia lição mais valiosa do que a experiência. 

‘O verdadeiro poder vem da partilha e dos laços com as pessoas, isso nos faz querer melhorar a nós mesmos para protegê-las.’ 

Agora ele já estava com sete anos, frequentava a academia e, graças à ajuda de seus amigos e sua própria determinação, se tornaria oficialmente um ninja ainda antes de completar os oito anos. 

Shisui admirava seu pai e sua mãe e acreditava que os dois se completavam. 

Seu pai tinha a força de um ninja, sua mãe a sabedoria de uma mulher justa, doce e observadora. 

Ele acreditava que apenas quando reunisse em si mesmo estes dois elementos seria capaz de alcançar o poder necessário para realizar o seu sonho.

Mas agora, ouvindo-os do outro lado da parede... pai e mãe pareciam opostos. 

‘Medo do poder, tomar o lugar, proteger a todos…’

Essas palavras ecoavam em sua mente como se lutassem entre si. 

Da escuridão de seu quarto Shisui ouviu o pai sair pela frente da casa batendo a porta de correr. 

Sua mãe recolheu-se em seu próprio quarto. E, a julgar pelo som, a porta do cômodo parecia ter ficado aberta.

A noite não poderia terminar assim. Shisui levantou-se o mais rápido que pode, vestiu as roupas, as botas e sua bolsa de ferramentas ninjas em um movimento automático, como se estivesse saindo para mais um dia na academia. 

Pulando pela janela de seu quarto, ele viu seu pai pelas ruas seguindo o caminho para a sede da força policial de Konoha e, então, o seguiu.

*** 

No meio do caminho para a sede da polícia militar de Konoha, Uchiha Yashiro[2] juntou-se a Takashe para completar o trajeto e seu filho não conseguiria interceptar o pai a sós. 

Os adultos chegaram ao seu destino e entraram. 

Escondido atrás da parede de um um beco escuro, Shisui os observava.

Em poucos minutos uma multidão contando com seu pai, o amigo do percurso e, até, Uchiha Fugaku saiu à porta e logo deixou o local.

Shisui tinha um mau pressentimento. 

Embora o grupo só tenha ficado por um instante em seu campo de visão, ele sentia uma aura sombria os rondando.

‘O que eles fazem juntos a essa hora?’ 

O menino temia por seu pai. Não por sua segurança, mas pelo caminho que Takashi tomava. 

Na discussão, sua mãe disse que o que o pai estava prestes a fazer não era certo e ela era muito boa em julgar situações assim. Poucas pessoas eram tão éticas e sensatas como Karime Uchiha. 

Um temor arrepiante percorreu todo ocorpo de Shisui. Sua cabeça latejava e seus olhos ardiam.

O pequeno e prodigioso Uchiha procurou ignorar os sinais de seu corpo e pensar objetivamente. 

Mas o desejo de interceptar seu pai, de trazê-lo de volta ao caminho correto, fixaram-se em sua mente com a mesma força de um dever. 

Ele controlou os sinais de chakra produzidos por seu corpo para que não fosse percebido, como aprendeu a fazer com ajuda de Ohara Rin. 

Shisui seguiu o clã.