~☆☆~

    ECOS DE AMOR – ECOS DE UMA JORNALISTA

É inicio de uma manhã agradável na cidade maravilhosa, o jornal onde Lígia trabalha está pipocando por causa das especulações da nova promoção. Grande parte dos colegas apostam em Lígia por acharem que a ruiva é a mais qualificada, mas para o desespero de sua mãe, ela não está preocupada se será promovida ou não, Lígia está focada na matéria que deverá entregar nas próximas semanas. Naquele dia quando saiu para trabalhar, estava  vestida como sempre, com uma calça jeans, uma blusinha branca por baixo do blazer amarelo e sapatos confortáveis. Os óculos escuros combinavam perfeitamente com os cabelos soltos.  Antes de pegar no batente, passou na cafeteria localizada no shopping vizinho ao prédio do Jornal e pediu um café para viagem,  depois voltou pro carro, guardou a bolsa no banco do passageiro e fez o mesmo com o café. Antes de passar o cinto, baixou o quebra-sol e conferiu a maquiagem. Ela gosta de deixar a boca nude e passar rímel nos cílios. Lígia está ansiosa para iniciar as atividades pois Lauro, marido de sua amiga Isabel,  na noite passada passou o contato de alguém que pode ajudar bastante sua coluna sobre a Antártida. Por isso quando o elevador abriu no andar da redação andou rápido para sentar em sua mesa e acessar os arquivos do computador. Ela colocou o copo sobre a mesa e o cheiro da cafeína logo se espalhou pela sala inteira, em seguida, puxou a cadeira para ajustar no corpo enquanto esperava a tela do PC ligar.

— Bom dia, Lígia!

— Bom dia, Eliandro. – levantou o rosto para olhar o colega. Praticamente, nos últimos tempos, Eliandro faz o mesmo, espera Lígia chegar para ir falar com ela. Todos na empresa sabem que o rapaz está apaixonado mas não tem coragem de se declarar. Lígia finge que não percebe os olhares dele porque não quer estragar a boa relação profissional.

— Você está ansiosa? - Perguntou, encostando o braço na bancada.

— Ansiosa pra que?? – Lígia franziu o cenho pois não lembrava de nada, andava correndo tanto com a reportagem sobre a Antártida que mal sobrava tempo para pensar nas outras coisas, inclusive para namorar. Irene, a irmã vive aconselhando para ela se apaixonar por alguém, mas do ponto de vista da jornalista, amor não é tão simples de vim, precisa acontecer com calma e precisa ser com alguém especial. Irene acha tudo isso uma babaquice, porque para ela trabalho é o que traz motivação. Amor, paixão, isso tudo é secundário e não dá nenhuma garantia de felicidade, no entanto de vez  enquando um romance na vida de uma mulher  é bom, anima.  Mas, para Lígia que é uma romântica juramentada, trabalho  não é o mais importante.

— Pra ser promovida!! Já esqueceu? – Eliandro é um dos colegas que apostam na promoção dela, ele mais do que os outros.

— Desculpa Eliandro, estou um pouco ocupada agora. – Lígia falava enquanto abria a gaveta para pegar as pastas onde faz anotações. - Sobre a promoção, acho que eu prefiro não me precipitar. – Ele entendeu o fora que educadamente está levando, por isso sai para não atrapalhar mais.No fundo, Lígia se sentia péssima por ser obrigada a ser fria, porém ele precisava entender que a relação entre eles jamais passará das paredes do Jornal.  

      Com o computador prontinho , Lígia abriu a bolsa e tirou o celular, verificou nas mensagens trocadas com Lauro o e-mail da pessoa que ele indicou. – Aqui está. – ficou contente quando finalmente encontrou miguelterranova@terranova.com.br .  Imediatamente acessou sua conta profissional para entrar em contato o quanto antes, pois gostaria, se possível, marcar a entrevista para hoje mesmo na parte da tarde. Ela está  inspirada, sabe exatamente o que escrever e como pedir ajuda, então escreveu a seguinte mensagem: Caro Professor Miguel Sanches, meu nome é Lígia Macedo, sou jornalista e conheço o Lauro, foi através dele que descobri suas pesquisas. Foi ele quem passou seu contato. No momento estou escrevendo sobre a importância da Antártida, sei que o senhor conhece muito bem o assunto e que dá aulas sobre a influência desse continente para o resto do mundo. Gostaria, se possível,  de agendar um horário para entrevistá-lo. Em todo caso, deixo o número do meu celular 99909-1234. Atenciosamente. Lígia.

     Enquanto escrevia, Lígia pensava sobre o fato dele preferir e-mail ao invés do telefone que é tão mais rápido e ninguém precisa ficar esperando. Ela tinha pedido seu número mas Lauro respondeu que não seria possível, porque o amigo raramente atende as chamadas e o celular passa mais tempo descarregado do que com bateria, pois Miguel se descuidava da tecnologia para se dedicar inteiramente à natureza. - Pronto, agora é só esperar ele me responder! – enviado o e-mail, Lígia minimizou a caixa de entrada e de súbito teve a ideia de pesquisar sobre Miguel, ver fotos, depoimentos, críticas, enfim, se adiantar e se preparar para a entrevista. Ela vasculhou todos os blogs e páginas dedicadas à preservação da Antártida, conferiu vídeos e entrou no site da faculdade onde Miguel leciona, inclusive acessou o site da ONG Terra Nova, mas não encontrou nenhuma imagem dele, nada, nenhumazinha sequer!

— Ué, estranho, esse cara não tem fotos publicadas na internet, não tem um rosto, nada pra gente ter uma referência ! – Lígia achou no mínimo esse detalhe muito curioso. – Parece que ele está se escondendo!! – No mundo de hoje é quase impossível se manter desconectado, principalmente se a pessoa está envolvida com trabalhos sociais,ONGs, ativismos,  que de uma forma ou de outra chamam atenção e são focos noticiados na mídia. – Gente, mas porque esse cara  não gosta de aparecer? – Se perguntava enquanto acessava as páginas das buscas abertas pelo Google , com o dedo movimentava o mouse enquanto a outra mão sustentava seu queixo pois o braço está apoiado na mesa. Ela está concentrada porém seus pensamentos são interrompidos pela ligação de Irene. – Oi, bom dia.

— Bom dia. Você tá sentada? – a voz da irmã  está baixa.

— Tô, por que?? Algum problema com a mamãe?

— Com a mamãe?? Ih, que nada, a bomba tá nas minhas mãos. Escuta, eu acho que tô grávida.

— Grávida?? – Lígia ficou surpresa pois a última coisa que a irmã quer no mundo é ser mãe. – O Caio tá muito feliz então, ne?? Você fez o exame?

— Não e não.

— Como assim? Você tá me confundindo!

— Não pro Caio porque ele não sabe e não, eu não fiz o teste.

— Então sugiro que tenha certeza antes de surtar, Irene!!

— Não lígiaa, você não tá entendendo, eu já tô surtando. Você já imaginou na quantidade de trabalho que eu vou ser obrigada a largar por causa desse filho?

— Um filho é um presente.

— Não pra uma mulher como eu!

— Irene, falando assim você até me assusta. Além disso você tem um marido que te adora. O Caio é louco por criança.

— Eu estou atolada de trabalho até o meio do ano! E se fosse você no meu lugar!!??

— Pois eu serei a mulher mais feliz desse mundo quando for mãe.

— É, mas te falta o principal, né meu bem??

— Ah não, Irene, de novo não.

— Te falta um marido, um homem ao seu lado, Lígia! Um cara legal, um sujeito bacana!! Me diz quando é que você vai finalmente se envolver com alguém? Você já tá solteira há um tempão.

— Ah não! Irene eu estou super atarefada, por aqui de trabalho, preciso desligar. Tchau!! – Lígia não gosta quando alguém se mete na sua vida amorosa, não gosta dos conselhos da irmã porque elas possuem visões diferentes, mas sabe que Irene tem razão quando fala que compartilhar a vida ao lado de um homem companheiro  é crucial na vida de uma mulher, especialmente quando já passou dos 40 anos e quer ter filhos. Só que a paixão de verdade, o grande amor ainda rolou com ninguém.  Lígia quer se envolver mais sério, só que não encontra a pessoa certa, é isso que Irene não consegue entender!  Depois que desligou a chamada na cara da irmã, voltou para as pesquisas, no entanto as novas buscas não complementaram nada mais além do que ela já sabia sobre Miguel, por isso preferiu esperar a resposta dele. Então saiu de todas as páginas, em seguida pôs os óculos de grau, tomou  as anotações escritas à mão e revisou tudo, alterando o que julgou  necessário. Lígia nem viu o tempo passar.

        Na hora do almoço, Eliandro foi procurá-la para se oferecer pagar um almoço no restaurante do Shopping, ela pensou em recusar mas se lembrou das palavras da irmã. E se ele for um cara legal??E se for o amor da sua vida?? Ué, só vai saber tentando!! Ela pensava enquanto o rapaz espera pela resposta. – Então, Lígia, a gente almoça juntos? – Lígia aceitou e os dois desceram juntos, em seguida foram no carro dela para o Shopping.  Eliandro adora a companhia da jornalista, gosta dela há algum tempo e faz de tudo para agradá-la. Por outro lado, Lígia não sente nada pelo colega.  Durante o almoço, Eliandro faz uma tentativa de tocar na mão dela, mas Lígia foi muito discreta quando evitou o contato e pegou a taça de vinho, em seguida bebeu um pouco, depois limpou a boca no guardanapo  e continuou cortando o bife. Há um climão entre os dois, porque ele quer se declarar só que as expressões corporais de Lígia falam que ela não sente o mesmo.

       Enquanto ela mastiga a salada e evita os olhos dele, Eliandro trama mil formas de puxar conversa pra finalmente abrir o coração, mas tá complicado e ele sente as mãos suarem.

— Lígia, eu quero te dizer uma coisa muito importante pra mim.- Ela para de comer e percebe que a comida ainda está quase toda no prato dele. – Eu gosto de você! – Ele dispara.

— Eu também gosto muito de você! – Eliandro abre um sorriso de felicidade, então Lígia percebe que ele entendeu tudo errado, ou melhor, a sua frase foi dita da forma incorreta. – Eu quero dizer que você é um colega maravilhoso! – Ele para de sorrir pois entendeu o emprego da palavra “colega”. Eliandro não tem mais coragem pra falar no assunto, então ela continua comendo até se satisfazer. O rapaz deixa a comida pela metade. Quando terminam o almoço, eles voltam para a redação mas dentro do carro ninguém abre a boca, Lígia se arrependeu de ter topado almoçar com Eliandro e enquanto dirige pensa em jamais repetir essa experiência.

     Assim que voltou, Lígia abriu a caixa de e-mail para descobrir se Miguel respondeu, porém, não viu nenhuma nova mensagem, procurou no spam, no lixo eletrônico, só que ele não tinha enviado a resposta . - Dessa forma, vou ter que procurá-lo pessoalmente ou então minha matéria ficará incompleta. A ajuda desse pesquisador é fundamental!! -  Então Lígia tem a brilhante ideia de ligar para a ONG Terra Nova. Quando alguém atende, ela pede pra falar com Miguel Sanches, mas a pessoa fala que no momento ele não se encontra.

— Quando ele volta, você sabe??

— Provavelmente voltará só amanhã. Quer deixar recado? – Lígia cogita essa hipótese mas depois desiste, pois não quer parecer desesperada. Agradece a gentileza e delisga.

— Tô começando achar que o Lauro me passou o contato de um fantasma!

      Geralmente as tardes passam mais lentas do que as manhãs só que naquele dia foi diferente e quando menos esperou já era a hora de trancar tudo e voltar para casa. O apartamento de Lígia é muito agradável, bem organizado e harmonioso como a personalidade dela, não fica muito distante do Jornal e não é muito grande mas ela adora.  Voltar pra casa não é ruim, o problema é encarar o trânsito do Rio que sempre tá engarrafado. Depois de 40 minutos ela consegue chegar em casa, mas quando abre a porta do apê, Lígia para na porta e olha pra sala sem ninguém esperando por ela. Nesse momento sente uma coisa ruim no peito, essa ausência faz ela dá razão à Irene pela segunda vez só naquele dia.

— Eu preciso de um namorado! – Ela afirma e bate a porta atrás de si, em seguda joga a bolsa no sofá e caminha para o quarto para tomar banho, esfriar a cabeça e ficar novinha. Enquanto esquenta a água da banheira , Lígia pega o telefone e pede comida porque está exausta, o trânsito acabou com sua energia, ela precisa relaxar. Depois de fazer o pedido, tira as roupas e  poe a pontinnha do pé na água morna. Lígia sente a delicia que a água está, então mergulha a outra perna e por fim o corpo, livrando apenas a cabeça. Ela fecha os olhos para curtir melhor o momento. O banho dura 15 minutos, agora está renovada, perfumada e fresca, então enrolada na toalha ela procura no closet uma roupa para vestir antes do entregador tocar na campainha, pois está faminta. Lígia escolhe uma camiseta preta e shorts branco, depois pentea os cabelos na frente do espelho, é nesse momento que escuta a comida chegar.  Vai até a porta e atende o motoboy,  Lígia escolheu uma salada verde, frango grelhado e uma porção pequena de arroz branco com brocólis. Em poucos minutos arrumou a mesa e começa a jantar sozinha, mas antes da penúltima garfada e de tomar toda a taça de vinho, o celular toca e tira a jornalista daquele momento solitário, ela então vai até a bolsa jogada no sofá, abre o zíper e olha o display do aparelho para saber quem é antes de atender, só que o número não está registrado na agenda dos seus contatos.

— Ué, quem será?? – Ela estranha. – Alô?? – Mas quando atende já tinham desligado e o retorno só cai na caixa postal. Lígia não insistiu porque tinha um jantar para terminar, depois quem quer que fosse ligará novamente.  Sequer passou em sua cabeça que poderia ser Miguel. Nesse momento o interfone toca e ela atende,é o porteiro pra avisar que Isabel está lá embaixo. Lígia queria que a amiga subisse, mas Isabel está apressada e não pode demorar.

— Tudo bem, fala pra ela que eu tô descendo!

    Lígia pegou o elevador e foi até a portaria, a amiga dentro do carro buzinou quando ela  chegou no portão. Isabel deu um beijo no rosto de Lígia e entregou o livro que ela tanto quer ler, mas está envergonhada pois ficou de emprestar desde a semana passada. – Desculpa a demora!

— Não tem problema. – Lígia é bastante compreensível, as vezes as pessoas tiram proveito dessa qualidade dela que em alguns casos atrapalha e acaba se transformando em defeito.

 - Conseguiu falar com o amigo do Lauro??

— O tal do Miguel?? – Lígia revira os olhos de um jeito engraçado e arranca uma risadinha da terapeuta.

— Pelo visto não aconteceu!!

— Não me respondeu. Ainda!!  Mas eu não vou desistir. Amanhã passo na ONG e falo com ele.

— boa sorte!! – Isabel é muito sensata, as vezes fria. - Espero que goste do livro.

— Obrigado pela gentileza.

— Bom Lígia, eu tenho mesmo que ir, tá na minha hora.

— Tudo bem, mas da próxima vez passa com mais calma pra gente tomar um café! -Isabel sorri e se despede com outro beijo, em seguida vai embora. Quando Lígia volta pro apartamento, deixa o livro sobre a mesinha  e vai terminar de limpar a cozinha, nesse momento a secretária automática do telefone fixo começa a mostrar suas novas mensagens.

     Olá, aqui quem fala é Miguel Sanches, tentei ligar pro seu celular mas ninguém atendeu, foi o Lauro quem me deu seu número fixo, é sobre a entrevista... – Lígia quase quebra um prato porque ficou surpresa, então largou novamente a louça na cozinha e correu para a sala, pegou o telefone e retornou a ligação que mudará completamente o sentido da sua vida.