Sons of Hunt escrita por Scar Lynus


Capítulo 19
Capitulo 19


Notas iniciais do capítulo

é isso



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[Mansão – Mentores]

 

 

— Bom eu já posso ir contar pra ele? – Tom questionou levantando-se, porém, Harry segurou a barra do casaco do amigo, obrigando-o a sentar novamente. – O que?

 

— Como acha que ele vai reagir se você só chegar lá e falar isso? – Sadjenza perguntou retoricamente. – Deixe que eu vou falar com ele.

 

— Nós precisamos dar o veredicto do castigo para ambos antes de uma revelação dessas. – Harry esclareceu. – Poderia esperar apenas alguns dias Tom?

 

— Eu esperei vinte e três anos Harry. – Tom não estava interessado em aguardar, mas, entendia o que era necessário na presente situação. – Posso esperar mais três ou quatro dias.

 

— Obrigada. – Sadjenza disse antes de levantar e sair da sala acompanhada da dupla.

 

O trio desceu as escadas em silencio, não havia muito o que ser dito agora. Harry mantinha sua expressão neutra habitual, Sadjenza o acompanhava nas feições, já Tom, ele estava preso em sua bolha de ansiedade. Passaram pelos outros jovens do grupo sem trocar muitas palavras, seguindo para onde haviam deixado as “crianças rebeldes”.
   Os dois continuavam separados, quietos em seus devidos cantos, quando os mais velhos retornaram à sala ambos ficaram em pé.

 

— Estão esperando um convite? Venham logo aqui. – Sadjenza ordenou e ambos obedeceram. – Manda ver. – Falou ela se dirigindo a Harry.

 

— Já que a dupla dinâmica está precisando de ação, nós resolvemos testar vocês exatamente como nosso antigo mentor. – Os jovens ficaram surpresos. – Não! Não será uma luta, vocês dois sozinhos serão jogados em uma floresta bem afastada da civilização e vão precisar trabalhar juntos para sobreviver e voltar pra casa.

 

— E já que vocês estão de acordo. – Tom não esperou resposta. – Vão lá pra cima e peguem roupas para o frio! – Explicou. – Tem três horas até sairmos daqui.

 

— Como assim três horas? – Questionou Zack. – Pra onde exatamente vamos e como?

 

— Precisam pelo menos deixar a gente se preparar para o terreno. – Max argumentou.

 

— Deveriam ter pensado em se ajudarem assim antes de agir como crianças. – Sadjenza falou deixando os quatro no local.

 

— Agora tem duas horas e cinquenta e nove minutos. – Harry disse olhando o relógio. Os mais novos subiram em seguida. – Já sabe onde vai jogar eles? – Perguntou para Tom.

 

— Tem uma reserva florestal no Canadá que fica a quarenta quilômetros da cidade mais próxima, acho que seria fácil pra eles, mas, é uma zona com lobos e ursos, fora uma pequena vila de mineradores que foi deixada. – Explicou.

 

— É sua também? – Harry questionou sorrindo.

 

— Claro que não. Por que eu compraria uma floresta? – Havia sido uma pergunta retorica. – Eu apenas financio a preservação da área, a ONG que gerencia tudo é formada por anões e gigantes.

 

— Entendi. – Harry respondeu dando de ombros. – Acho que você conseguiu encontrar o equilíbrio entre a proteção dos nove reinos e sua paz pessoal.

 

— Eu ainda tenho uns fantasmas. – Declarou Tom.

 

— Pensou em voltar? – Harry perguntou deixando o outro confuso. – A empunhar o bidente. Levou mais de 20 anos para ele “desistir” de você.

 

— Não precisávamos mais um do outro. Acho que cumprimos a nossa cota e de mais três gerações. – Respondeu.

 

— Bom... – Harry sabia que era melhor para o passado que ficasse para trás. – Vamos comer alguma coisa fazer algo útil antes de “desovar nossos filhos no mato”.

 

— Que mórbido. – Tom brincou seguindo-o. – Pelo menos eles vão “acampar”.

 

 

[Tom – 28 anos atrás aproximadamente]

 

 

 

Tom havia acordado confuso, sua mente não parava de girar desde que abrira os olhos, acompanhado de náusea e enjoo, o caçador acabou vomitando no chão de pedra bruta. Devagar tentava recuperar sua consciência, olhando em volta, procurando assimilar o local onde se encontrava.
    Haviam cerca de quinze pessoas a sua volta, todas atrás de um homem com barba branca e um porte notável, mesmo aparentando ser velho, Tom podia perceber que força bruta percorria as veias daquele senhor. Grandes paredes de madeira com bases de pedra, madeira maciça no teto sobre a sua cabeça, incontáveis peles nas paredes. – “troféus de caça” – Imaginou Tom. Os moveis do local eram feitos de ossadas e algumas armas estavam espalhadas pelo local como decoração.
    Recobrando seus sentidos o caçador levou as mãos as costas em busca de sua arma, soltou um suspiro de alivio ao sentir o frio metálico. Decidindo não demorar mais, resolveu estabelecer um diálogo.

 

— Olá? – Perguntou sem obter respostas. – Quem são vocês? Falam minha língua?

 

— Nós falamos criança. – O senhor barbudo foi quem respondeu, sua voz era muito forte e grave, era como se um trovão falasse.

 

— Certo, você fala. – Tom relaxou a postura. – Então... Quem são vocês? Onde eu estou? E por que?

 

— Eu sou Fingham. Chefe da tribo, somos os gigantes do sul. Você está em Jotunhein criança e está aqui para nos ajudar. – O mais velho explicou isso de uma forma tão relaxa que até Tom cogitaria questionar a veracidade. Fora o fato dele vir sozinho. – “Caçadores são mais fortes juntos.”.

 

— Bem chefe Fingham. Eu sou Tom Leonid sou um caçador como já sabe. – Tom não esqueceria dos bons modos. – Diga por que me chamar sozinho se precisam de ajuda?

 

— Somos uma pequena tribo, a maioria são pessoas comuns, não temos muitos guerreiros como eu hoje em dia. – Começou a explicar. – A nove luas um visitante do norte veio, ele disse que era um mensageiro e a mensagem dele era de guerra, segundo ele;
   “Nosso contingente virá e esmagará tudo que há no caminho deles, sejam vocês e quem mais estiver aqui.”
   - Por isso chamamos os caçadores, mas, com a pouca magia que possuímos, fomos capazes de chamar apenas um. Pedimos aquele que nos levaria a vitória. – Concluiu o mais velho.

 

— Caçadores não podem intervir em guerras civis dentro dos reinos, chefe. – Tom tentou explicar. – Se eu lutar por vocês, o que impediria eles de chamarem um dos meus irmãos para o lado deles?

 

— Esse não é o ponto criança e eles jamais iriam fazer isso. – O chefe continuava calmo. – Venha, caminhe comigo. – O homem se levantou e foi até uma grande porta onde aguardou pelo outro. – Vai precisar disso. – O chefe jogou uma capa de peles para Tom que a vestiu de imediato, sentindo o “quentinho”.

 

— Onde vamos? – Questionou antes de atravessar a porta, observando a vastidão branca, de onde estava podia ver quilômetros de neve em todas as direções, montanhas também, muitas, aquele devia ser o ponto mais alto do local já que descendo o pequeno morro haviam varias casas com designs semelhantes, com muita madeira bruta e pedras, a vila ficava em uma “bacia” natural sobre a montanha.

 

— Quero lhe mostrar meu povo. – O chefe começou a descer o morro acompanhado do moreno.

 

Tom caminhou com o chefe, alguns minutos pela vila o ajudaram a desfazer a noção humana de que gigantes são “gigantes”. As pessoas tinham alturas normais, alguns eram muito altos obviamente, mas a maioria era como ele ou Harry.
   Crianças corriam despreocupadas entre as casas, risadas e conversas podiam ser ouvidas, não havia um centro, ou mercado, comércios não faziam parte do local. Tom percebeu que ali eles viviam o que realmente poderia se chamar de comunidade, todos estavam se ajudando, não vira uma senhora de idade se esforçando, todos que passavam por eles os cumprimentavam sorridentes, era uma visão provavelmente impossível em Midgard, mas, ali era o “normal.”

 

— É isso que eu quero que você proteja. – Falou o velho quando encerraram o caminhar na entrada da vila. – Não quero uma guerra, apenas quero que minhas crianças sobrevivam!

 

— E o senhor tem certeza de que batalhar é a melhor escolha? – Tom ainda tinha receio quanto a guerrear, seria isso o melhor?

 

— Para se dizer que há escolha, é necessário haver uma segunda opção. – O chefe pontuou. – Eles claramente não nos deram outra opção.

 

— E por que eles viriam te atacar? – perguntou o jovem. – Vocês são um povo pacifico.

 

— Pelo que homens lutam e morrem meu jovem? – questionou o chefe. – Ganancia! Eles vivem em guerra no Norte, eles secaram todos os seus recursos e agora colocaram os olhos no sul.

 

— E não há outras vilas ou cidades próximas? – O mais velho negou. – E quantos guerreiros você tem?

 

— Contando com a sua ajuda e comigo... Temos dois!

 

— Mais ninguém aqui sabe lutar? Se defender no mínimo? – O caçador já começava a pensar que era uma guerra perdida.

 

— Eu os isolei e cuidei de todos aqui a gerações para que nunca precisassem encarar os horrores da guerra. – O mais velho contou e revelou marcas de batalha em seus braços e costas.

 

— Sinto muito. – Tom quis ser solidário.

 

— Eles não doem a muito tempo meu jovem. – Fingham o tranquilizou. – Mas se necessário for, podemos nos preparar e alguns homens podem lutar conosco.

 

— Eu não confirmei que iria lutar. – O moreno lembrou.

 

— Mas eu já sei que vai. – O mais velho sorriu. – Obrigado e por favor venha para o salão se aquecer e se alimentar quando acabar. – E então o velho o deixou sozinho enquanto retornava para casa.

 

— Essa seria uma ótima hora para ter me importado com magia. – O moreno levou a mão a testa ao se lembrar que ele e Harry ou dormiam ou não se importavam com as aulas sobre magia que Marcel dava. – Vamos trabalhar!

 

 

Tom foi descendo pela encosta da montanha, analisando com cuidado seu caminho, pedras enormes não faltavam nos grandes paredões. O caminho havia sido esculpido para se assemelhar com uma escada, ainda que fosse meio irregular, para uma montanha o trabalho não era ruim.
   Chegou finalmente à base, a sua frente havia um extenso vale descampado, uma desvantagem se fossem muito inimigos. Tom não demorou muito para ter uma ideia do que precisaria fazer se quisesse uma chance de vitória.
   Caminhou mais pelo vale, procurando algo que tivesse utilidade em um combate. – “Será que eles têm óleo de baleia?” – Pensou enquanto tocava a grama seca apesar do clima gelado do local.
   Retornou calmamente a vila, agora analisando a montanha como quem sobe, como quem planeja transpassar sua defesa natural, como o inimigo que ele provavelmente viria a enfrentar.

 

 

— Encontrou o que procurava? – O chefe Fingham o recebeu com um chifre de hidromel ao entrar no salão.

 

— Posso dizer que tenho ideias. – O caçador contou tomando o recipiente em mãos. – Precisarei de ajuda se quisermos uma chance.

 

— Todos os nossos braços estão aqui para te ajudar! – Falou o chefe sorrindo e o grito de alguns pode ser ouvido. – Hoje festejamos! – O velho se encaminhava ao centro do salão. – VAMOS BEBER, COMER, COMEMORAR E FORNICAR!! – Gritou o idoso e todos o seguiram pelo que parecia ser uma “rave medieval” para Tom.

 

— Pelo menos sei que não vai faltar atitude positiva. – Tom falou para si mesmo. O caçador acabou apenas comendo e bebendo na festa antes de se deitar em uma das camas mais macias que ele já havia experimentado. – “Nota mental, comprar uma cama assim.”

 

Os próximos oito dias de Tom, passaram como um flash, primeiro a estratégia foi coordenada e discutida entre ele, o chefe e os voluntários. No dia seguinte iniciaram sua preparação para defesa, o uso do ambiente era o mais importante, o caçador havia se impressionado com a força daqueles homens. – “A força realmente é gigante” – O vale verde aos pés da montanha acabou se tornando uma área de trincheiras, inúmeras pedras foram posicionadas e muros seriam criados na base da montanha. A estratégia de Tom focava em dispersar o exercito inimigo a fim de que os números deles fossem pouco relevantes no combate. Armadilhas bem posicionadas que seriam de valia na batalha, sinais de trombeta e de fogo foram combinados. O caçador nunca tinha coordenado nada tão grande quanto aquilo e torcia a cada minuto para que algum dos seus irmãos aparecesse, que algum representante do inimigo viesse até ele e tentassem chegar a um acordo... Seria a paz tão fora de mão para eles? Essa era uma das muitas perguntas que o moreno fizera em suas noites.
    Na oitava noite ninguém cantou ou festejou, todos estavam sérios entre os presentes no salão, o chefe havia passado a noite em silencio, Tom estava com um pergaminho e um pedaço de carvão tentando coordenar algumas manobras para o combate.

 

 

— Senhor caçador? – Um jovem, um garoto que deveria ter seus quinze anos terrestres se aproximou dele.

 

— Senhor não! Sou bem jovem ainda. – Tentou brincar, mas, o garoto não havia entendido. – O que foi?

 

— Nós podemos vencer? – O garoto estava com a voz tremula durante a pergunta.

 

— Sinceramente eu não sei. – Tom preferiu ser realista. – Acho que há maiores chances de perdermos, mas, nós temos uma vantagem natural com a montanha, temos uma estratégia de defesa e coragem. A única coisa que posso garantir é que vamos resistir ao menos.

 

— Isso não foi muito encorajador... – O garoto havia ficado desanimado.

 

— Deixe o caçador em paz Yunan! – O chefe pediu. – Peço desculpas, eles estão nervosos.

 

— Seria estranho se não estivessem. – Completou o moreno. – É complicado lidar com essa realidade. – “Agora estou entendendo todo o estresse do Harry.” – Tem certeza que será amanhã?

 

— Tenho meu jovem. – O chefe estava calmo. – Você será um bom líder amanhã, confio em você.

 

— Eu espero que pelo menos consigamos sobreviver. – Respondeu sem animo.

 

Tom desceu a encosta da montanha sozinho ao nascer do sol, armado com seu bidente e poucas peças de armadura em pontos estratégicos. Ao chegar onde seria seu local de luta ele analisou o terreno a frente, nem sinal de inimigos.
    Ele estava posicionado na ultima elevação, a dez metros do chão, tinha cerca de trinta lanças ao seu lado, uma trombeta e duas “granadas”. O melhor que ele podia era torcer para o plano funcionar sem erros, assim talvez poderiam enfrentar os desgarrados.

 

— Tom. – O garoto de ontem a noite vinha correndo ao seu encontro.

 

— Por que desceu? – Questionou o caçador. – Precisamos de todos lá em cima.

 

— O chefe me pediu para te entregar isso. – O jovem lhe estendeu um capacete branco, tinha um estilo espartano. – É um capacete de ossos da nossa tribo! Mudamos ele um pouco.

 

— Obrigado. – Agradeceu-o colocando o capacete. – Ficou bom?

 

— Parece mais um guerreiro. Estou voltando. – O garoto então disparou montanha a cima.

 

Tom aguardou com paciência a fumaça no horizonte se aproximar, o tempo correu devagar durante a primeira hora solitária ali embaixo, mas, inevitavelmente o moreno sentiu o tremor no chão, o som ritmando de marchas e até rugidos. Não sabia como era o inimigo, mas, admitiu que sabiam como projetar força.

 

— Venham. – Falou encarando a primeira fileira de soldados que surgia. Seu bidente estava nas costas, na mão direita a trombeta e na esquerda uma das lanças de madeira.

 

Ele ficou parado, esperando as tropas se aproximarem, a paisagem verde ia se tornando mais acinzentada e escura conforme o exercito se aproximava, todos usando grossas armaduras e armas pesadas, apenas um deles vinha a cavalo, Tom julgou que fosse o líder.
   O homem montado vinha liderando as tropas, quando havia uma distancia de cinquenta metros entre eles um sinal foi dado, todos pararam e o homem a cavalo veio sozinho até a encosta, encarando o solitário Tom.

 

— Só há um homem disposto a se defender? – Questionou.

 

— Somente eu sou necessário para impedir seu avanço. – Tom respondeu com convicção.

 

— E quem seria você legionário solitário? – O homem perguntou com desdém.

 

— Meu nome é Tom Leonid! – O homem não esboçou nada após ouvir o nome.

 

— Espero que sua habilidade em combate seja páreo para sua bravura. – O homem concluiu e retornou para suas tropas.

 

— Espero também. – Falou para si.

 

 

Quando o comandante retornou para a frente da fileira ele puxou sua espada, cavalgando a frente dos homens e gritando palavras de incentivo e glória. Finalmente avançaram, o comandante a frente de todos em seu cavalo, Tom se sentiu mal pelo que estava prestes a fazer, mas, era a melhor opção. Esperou estarem a quinze metros quando jogou sua lança no cavalo do comandante, derrubando-o na grama. Todos os soldados aglomerados em volta de seu líder foram de ajuda para Tom, juntando o ar em seus pulmões o caçador assoprou a trombeta, aquele era o primeiro sinal.
    Duas pedras enormes rolavam montanha a baixo, com correntes presas tanto nelas quanto no chão verde do vale. O chão começou a se desfazer sob os pés do exército inimigo, inúmeros homens começavam a cair uns sobre os outros, o tilintar de suas espadas e armaduras era nítido. As trincheiras haviam sido cavadas e cobertas, reforçadas com toras em locais estratégicos, as pedras se prendiam as toras principais que ao serem puxadas geravam uma reação em cadeia.

 

— Fase um já foi! – Tom comemorou acendendo uma de suas granadas e lançando-a na trincheira.

 

As trincheiras estavam cheias de soldados agora, seus pés estavam submersos, até seus tornozelos e um liquido grosso fazia presença, alguns tinham o corpo encharcado do mesmo devido a queda. Quando a “granada” em chamas tocou o liquido, uma serpente de fogo começou a se formar por toda a trincheira, queimando os soldados lá dentro.
  Gritos e urros de dor preencheram o ar, Tom observava as chamas serpenteando enquanto os homens gritavam lá dentro e o “batalhão de desgarrados” tentava se aproximar ou resgatar alguém.

 

— Vamos para a terceira! – Tom disse a si mesmo antes de soprar a trombeta mais duas vezes de forma rítmica.

 

Uma torrente de pedras vinha da montanha agora, elas caiam na grama, amontoando-se exatamente como o caçador planejava. Agora um corredor maciço estava sendo formado, agora seus inimigos não poderiam utilizar seu vasto exército para a luta, o corredor no máximo permitiria que dois homens sem suas armaduras atravessassem juntos. – “Obrigado aulas de história”. - Tom agradecia mentalmente ao se lembrar das Termópilas e da história dos trezentos de esparta que o ajudaram a pensar nesse plano.
    Empunhando lanças com ambas as mãos, Tom começou a disparar contra os inimigos solitários, um a um os soldados caiam ao serem atravessados pelos projetei arremessados pelo caçador. Tom arriscou um lançamento longínquo que atravessou a perna de um soldado e o peito de outro, A grama antes verde agora se tornava escura, fosse o negro da fumaça e fogo, fosse o sangue dos homens que começava a manchar o local, somado ao cheiro da carne dos guerreiros queimando, aos que eram esmagados pelas quedas de algumas rochas e aos gritos, aquele estava se tornando um terrível e sangrento cenário.

 

— Agora é comigo. – Tom empunhou a Ørnespiker e ficou a frente da nova “entrada” para a montanha, aguardando o ataque. – PODEM VIR! – Gritou a plenos pulmões, ouvindo inúmeros urros em resposta.

 

O primeiro inimigo atravessou, não foi difícil transpassa-lo, Tom esperava mais desafio e eles vinham, um a um os soldados atravessavam as rochas e entravam em combate contra o caçador, golpes poderosos eram trocados e o sangue se espalhava, Tom fazia o possível para elimina-los sozinhos, furando, cortando e batendo em tudo que se movia, os movimentos brutos do caçador chegaram a esmagar a cabeça de um deles contra a rocha. Precisou recuar conforme uma pilha corpos se formava aos seus pés, dois inimigos atravessaram juntos a fenda quando ele fez isso.
   Ambos atacaram sem medo o caçador solitário. Tom controlou a situação afastando suas armas enquanto utilizava a lâmina em suas pernas e braços, conseguiu que um se ajoelhasse e ao usa-lo de apoio atravessou o rosto do outro com o bidente, quebrando o pescoço do inimigo ajoelhado com as pernas em seguida.
   Com sua atenção reservada a dupla Tom se distraiu da entrada, ele podia ouvir batidas fortes contra a mesma e muita poeira. Sabia que podiam tentar derrubar sua passagem, então acionou sua contingência, correu até a trombeta e três assopros curtos foram ouvidos. Logo o chefe da vila e mais dois homens estavam ali, todos com armaduras e martelos pesados, o garoto de antes também havia descido com eles.

 

— Ótimo! O que passar por mim vocês não podem permitir que avance além desse ponto! – Tom deu a ordem e retornou a passagem.

 

Tom acendeu a segunda granada, esta presa a uma garrafa com óleo de baleia, o caçador jogou a mesma sobre a parede de rochas e aguardou. Logo os gritos dos soldados em chamas foram escutados, na área externa que Tom não podia ver, parte da parede de rochas também queimava.
    Mais inimigos apareciam pela fenda, agora marcados pelo fogo ou com fogo em sua armadura, inimigos debilitados eram fáceis de enfrentar, porém difíceis de desistir. Os homens davam tudo de si enquanto respiravam e alguns até mortos conseguiam atrapalhar quando Tom pisava ou tropeçava em seus corpos.
   O caçador continuava sua luta, sem se poupar, continuou ali, lutando sobre os corpos, preso em meio as rochas, já havia recuado o suficiente para que o inicio da escada de rochas estivesse coberta de corpos também, ele já não conseguia mais ver as cores com clareza, só havia o cinza e o vermelho em seu campo de visão e o Sol, o Sol já estava alto no céu, indicando o fim da manhã, uma manhã infernal e violenta, da qual ele nunca iria esquecer.
   Tom passou pelo corredor da morte, atravessou a fenda que o levaria para o vale... Agora destruído, reduzido a marcas da batalha, passariam anos até que voltasse a ser metade do que um dia existiu ali. Em meio a destruição Tom viu um guerreiro, ele se arrastava para longe dos corpos, estava muito ferido e sua armadura queimada, praticamente unida ao corpo dele.

 

— Você. – Tom chamou a atenção para si enquanto se aproximava, se ajoelhou ao lado do homem. – Qual seu nome?

 

— Ingram... ah... – O homem gemia quando tentava falar, cuspia um pouco de sangue também.

 

— Não se mova demais. Acho que eles podem te ajudar. – Apontou o topo da montanha.

 

— Jamais aceitarei a ajuda do inimigo. – O homem no chão parecia reunir toda sua energia par falar. – Eu... Não quero a ajuda... Deles ou do Ceifador. – Ele não tirava os olhos do caçador, olhos que transbordavam fúria...

 

—  Quantos vocês eram? – Perguntou.

 

— Quinhentos. – Revelou o homem. – Quinhentas vidas... Na sua conta! – O soldado então engasgou com o próprio sangue.

 

— Você fez seu papel Ingram. – Tom falou fechando os olhos do soldado. Resolvendo voltar para a aldeia.

 

 

Levaram cerca de cinco dias a mais para que Marcel conseguisse encontrar Tom entre os reinos, o mestre estava louco procurando o garoto e quando conseguiu a menor pista caçou com afinco até chegar a Jotunhein. Tom se despediu da vila da maneira que chegou, sem cerimonias, o chefe havia o chamado de “Legionário Herói de Jotunhein”. O próprio Tom não concordava com isso e pensava que “Monstro” seria melhor, o moreno não conseguia dormir, não conseguia lutar. Tudo o carregava de volta até aquela batalha, até que ele tomou uma decisão.
   Tom abandono a Ørnespiker, ele prometeu que não iria mais levantar os punhos ou usar o bidente mais uma vez, ele poderia ser um caçador, porém, seus dias de luta se encerraram.

 

 

[Helicóptero – Próximo a uma floresta no Canadá]

 

 

 

— Acordou Bela Adormecida. – Harry brincou com o moreno que acabara de abrir os olhos.

 

— Boa tarde para você também. – Tom olhou para o lado e viu Zack e Max em silencio.

 

— Estamos quase chegando segundo seu piloto. – Harry avisou.

 

— Ótimo. – Respondeu esfregando as mãos. – Quanto mais cedo os jogarmos aqui, mais cedo eu volto para um aquecedor.

 

— Você é um caçador, o frio faz parte de nós. – Harry provocou-o. – Mas, eu também quero ir logo para algum quarto de hotel chique que você reservou.

 

— Eu reservei pra mim. – Respondeu.

 

— A claro que eu acredito em você. – O amigo falou socando o ombro dele.

 

— É sério, nem sei do que está falando. – O moreno erguia os braços ao se fazer de desentendido.

 

— Ponto de desembarque chefe! – O piloto avisou estabilizando o helicóptero.

 

— Certo crianças é aqui que vocês dois descem! – Harry falou entregando uma mochila pra cada.

 

— Já pularam de paraquedas antes? – Tom perguntou e ambos negaram. – Pulem, esperem dois ou três segundos, puxem a corda e desçam sem tentar acelerar ou fazer acrobacias.

 

— Não vão entregar nossas armas? – Zack questionou.

 

— Claro que não. – Harry respondeu como se fosse obvio.

 

— Algum recurso? – Max também não estava gostando da ideia de serem jogados ali sem nada.

 

— A floresta é o maior recurso que podem achar. – Tom respondeu e apontou a porta. – Pulem!

 

Sem muitas opções a dupla apenas trocou um olhar antes de observar a queda, com poderes ou não, morreriam sem os paraquedas, ainda hesitando, a dupla foi encorajada por Harry que gentilmente empurrou ambos, logo ouvindo o doce som de “AAAAHHHHHH”. Tom pressionou o controle remoto na hora certa e os dispositivos se ativaram sozinhos, desacelerando a descida da dupla.

 

— Vamos para o hotel! – Tom pediu ao piloto. – Vamos ver quanto tempo vocês levam! – Dito isso a dupla de mentores assistiu cada vez de mais longe a descida dos aprendizes até que pudessem perde-los de vista.


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Notas finais do capítulo

eai?