Ruptura escrita por Sweet Winter


Capítulo 3
Onde as sombras governam


Notas iniciais do capítulo

Olá!!

Primeiro, quero agradecer a quem comentou nos dois primeiros capítulos, vcs me dão muita força :D

Mais um capítulo e mais uma personagem revelada, espero que curtam ❤️

Boa leitura!!!



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Leonor estava fugindo há três anos. Já se completavam três anos em que, junto de seus pais e irmão, não tem dormido direito à noite, parando em lugares desconfortáveis para descansar por breves momentos, se alimentando de comida fria e barata para sobreviver. Mal conseguiam achar um lugar para se aquecer naquele inverno rigoroso.

A situação já não estava boa para ninguém, enfrentando uma guerra contra o desconhecido, o mundo agora coberto pela escuridão, todos que eram humanos estavam sofrendo. Mas para a família da jovem Leonor, e especialmente para a garota, era ainda menos favorável.

— Eu encontrei uma hospedaria — disse o pai que ainda sorria, apesar das tristes condições em que se encontravam. — Eles permitiram que a gente ficasse por uma noite por um bom preço, ainda teremos direito a uma refeição.

Leonor admirava a força de vontade do pai, que se mantinha firme, nunca desistindo de lutar pelo bem-estar da família. Mas ela não conseguia dizer isso de si mesma, o medo em seu coração era mais forte e a dominava por completo. Sem o apoio de sua família, provavelmente já teria se atirado na frente do primeiro trem que encontrasse. Pensava ser melhor do que passar frio e fome ou morrer queimada numa fogueira.

E era aquilo que estava acontecendo naqueles tempos sombrios, uma verdadeira chacina. Não importa quem estivesse atacando, eram os humanos que estavam perdendo. Depois que as sombras surgiram e o obscuro dominou o planeta, as pessoas começaram a reagir, lutando contra o inimigo desconhecido. Porém isso trouxe consequências para seu próprio lado, a desconfiança com o próximo levou muitos a cometer loucuras, acusando uns aos outros de serem sombras infiltradas entre os humanos ou de colaborarem com a proliferação do obscuro.

Com Leonor foi assim, de repente estavam lhe apontando dedos, dizendo que ela era maligna e sua palavra não foi o suficiente para contrariar as acusações. Se não fugisse com sua família, as únicas pessoas que acreditavam nela, seria jogada em uma fogueira como forma de dissipar “o mal” dentro de si.

Foi essa a maneira que acharam de combater as sombras, alegavam que a luz e o calor era o que as afetava. Porém conspiradores diziam que isso era mera história, que o fogo apenas seria capaz de dissipar aqueles seres malignos, mas nunca de exterminar por completo. Ou seja, mesmo que agora desaparecessem, um tempo depois seriam capazes de se recompor, como se nunca tivessem sido atingidos.

Mas o povo não queria ouvir essas teorias ditas infundadas, o que eles queriam era a segurança de saber que estavam em vantagem e possuíam uma arma poderosa. Não importava se vivessem em pura ilusão.

— Filha, pegue a coberta, se cubra — ofereceu sua mãe para a garota, que recusou teimosa, dizendo que ela é quem deveria se cobrir. — Não seja assim, pegue logo. Se você passar frio essa noite eu ficarei muito triste. Vamos, cubra a você e seu irmão.

Claro que Leonor não tinha habilidade para argumentar com a própria mãe, por fim aceitou. Deitou-se no mesmo colchão que o irmão menor, que já estava sonolento.

Ao mesmo tempo em que sentia gratidão, Leonor também sentia culpa. Não queria arrastar a família para esse estado, afinal ela era a única que estava sendo caçada, os outros ficariam bem. Muitas vezes cogitou apenas se entregar às autoridades e acabar logo com tudo, mas o olhar terno de sua mãe e a força de vontade de seu pai não a permitiam que fizesse isso. Eles com certeza ficariam desolados se desistisse fácil assim.

Naquela noite, quando fechou os olhos, teve um sonho. Mas não era qualquer sonho, este era tão real que podia tocá-lo. Os gritos que ouviu e o cheiro de sangue eram reais demais para serem apenas criação de sua mente fértil. E ainda havia aquele pedido de socorro, soando mais alto que todas as outras vozes, perfurando seu crânio como uma faca afiada e lhe causando calafrios.

“Quem está aí?”, pensou, olhando ao redor, tentando enxergar algo no meio da escuridão palpável. Havia alguém por perto, podia sentir.

Moveu um pé para frente, com cuidado e medo de pisar em falso. Estendeu as mãos, mas não conseguia tocar em nada. Mesmo que a sensação de que haviam objetos ao seu redor, ainda não conseguia encostar neles, como se o seu corpo apenas os atravessasse.

Aquela voz desesperada se tornava cada vez mais alta, parecia que iria estourar tudo dentro da sua cabeça se crescesse ainda mais. Leonor queria tapar os ouvidos, mas não adiantava, aquele som não vinha de fora e sim de dentro.

Você consegue me ver?

Leonor paralisou quando aquela mesma voz perguntou.

Você consegue me ouvir?

Levantou os olhos, encarando a figura na sua frente e sua expressão se tornou de choque.

Me ajude.

Era ela mesma.

— AHHHH! — acordou gritando em desespero. — AHHHHHHH!

— Filha, filha, se acalme — pediam seus pais que foram acordados de supetão, tentando segurar a menina que se esperneava e gritava sem parar. Ao seu lado, o seu irmão a encarava assustado, mudo.

— AHHHHHH! — gritava mais e mais, Leonor sentia que sua voz estava rasgando a garganta, mas não conseguia parar. O terror enchia seus olhos e seus braços e pernas batiam em tudo que estivesse ao redor, como se estivesse tentando se defender de algo.

Seu pai segurou suas mãos, enquanto sua mãe fazia carinho nas suas costas, como forma de acalmá-la. Pouco a pouco, a voz da garota foi diminuindo e seus movimentos foram contidos, até ela finalmente parar.

Leonor olhou ao redor, surpresa com a aparência comum e simplória daquele quarto que lhe lembrou onde ainda estava. Agora há pouco, foi como se o seu corpo tivesse sido jogado dentro do próprio inferno, tornando sua mente instável e suas intenções desesperadas.

Ficou em estado de choque por mais alguns minutos, notando apenas que sua mãe havia levantado para falar com alguém na porta, dizendo algo como “está tudo bem, foi só um susto”, e que seu irmão ainda estava ao seu lado com um olhar de medo, como se ela fosse se descontrolar novamente a qualquer momento.

— Eu preciso sair — sussurrou com a voz rouca e quebrada.

— O quê, filha? Você precisa de algo? — perguntou seu pai, que não havia ouvido a frase, com um tom gentil.

— Eu preciso sair — repetiu mais alto.

Ele trocou um olhar incerto com sua mãe, que negou veementemente.

— É claro que não! Olhe só para você, não podemos sair assim.

Leonor balançou a cabeça repetidas vezes.

— Não, não, eu preciso sair — disse. — Eu preciso sair e ficar sozinha. Por favor, eu imploro, eu preciso sair.

Leonor tinha a impressão de que se continuasse naquele quarto, a pessoa clamando por ajuda retornaria, junto com os gritos e cheiro de sangue. Estava sufocando ali dentro, definitivamente não ficaria mais um segundo que seja.

— Querida, acho que podemos deixar ela sair um pouco para tomar um ar — disse seu pai. — Deve estar assustada, teve um pesadelo.

Sua mãe relutou muito antes de finalmente concordar. Quando teve brecha para isso, Leonor correu para fora da pousada. Assim que atravessou a porta, seus pés protegidos apenas por meias entraram em contato com a neve, o que a fez estremecer, mas com certeza não lhe causava mais arrepios do que a visão que presenciou.

Correu por mais alguns metros, tanto para liberar a tensão no corpo quanto para fugir daquilo que supostamente a seguia. Chegou em um ponto em que nem sabia mais onde estava, apenas vagando pela cidade que dormia em meio à escuridão.

Ah, era isso. Leonor de repente se lembrou, foi a escuridão. Não havia sido a garota que a assustou e sim a escuridão que estava nas costas dela, abrindo uma enorme boca de dentes afiados para engoli-la.

“Ela deve estar morta já”, foi o que pensou, se arrependendo no fundo, mas o que podia fazer? Tudo o que queria quando viu o enorme monstro escuro foi fugir para bem longe. Não tinha poder para salvar uma outra vida.

Leonor parou de andar, havia chegado no limite da cidade, dali para a frente só havia a floresta coberta de neve. Era madrugada, não devia estar ali sozinha, entretanto não tinha coragem para voltar, não arriscaria que aquele pesadelo retornasse.

Ali mesmo, só queria se deitar no chão e esperar seu corpo apodrecer, até que sumisse.

Fechou os olhos, respirando com tanta força que seus pulmões doeram. Agora que havia parado, estava sentindo o frio adormecendo seus membros.

Quando abriu os olhos, tudo havia sumido.

As casas, ruas, postes de luz, árvores, até mesmo a neve. Tudo foi substituído pelo escuro avassalador.

Leonor tentou gritar, mas dessa vez sua voz não saiu, como se ela tivesse sido levada junto com todo o resto. Moveu o corpo para frente, com passos hesitantes, pensando se não iria cair no infinito. Mas, ao invés disso, apenas continuou a andar, como se houvesse mesmo uma superfície plana sob seus pés.

Não havia uma direção exata, então seguiu em frente.

De repente foi surpreendida quando sentiu uma presença que se aproximava cautelosa. Seus instintos lhe diziam que era perigoso, por isso fugiu daquele desconhecido que nem mesmo tinha um rosto.

Correu, correu e correu, para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda, no meio da escuridão que nunca acabava, sem um único ponto de luz para a guiar. Correu tanto que tropeçou nos próprios pés e caiu, sentindo-se aterrorizada em todo o seu corpo.

Sem forças para levantar, tateou ao redor cegamente, em busca de qualquer coisa que a ajudasse. Inesperadamente, sentiu uma textura familiar e macia diferente do nada ao seu redor. Era uma mão.


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Notas finais do capítulo

O que será que vai rolar? Qual o significado do sonho de Leonor?

Não vou dar spoilers :D

Críticas são sempre bem aceitas.

Até!!

=^.^=



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