Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 38
Capítulo XXXVII - Interescolar


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Era noite da véspera do interescolar e o internato estava agitado. Os adolescentes estavam espalhados pelo prédio e o principal assunto era o evento do dia seguinte.

 

Alguém que não parecia muito animado era Cebola. O rapaz estava com a namorada e Magali no refeitório olhando para o nada.

 

Mônica encarava o namorado com o semblante preocupado, há dias ele estava nesse desânimo. O silêncio na mesa parecia nunca se quebrar quando Do Contra apareceu.

 

"Cebola! Depois de muito encher o saco do Átila, consegui fazer ele topar! Vai ter xadrez no interescolar! Infelizmente é na mesma hora que os outros esportes, mas vai ter!" exclamou.

 

Cebola se virou para ele.

 

"Por que 'tá me dizendo isso? Não é como se eu fosse ganhar!" falou desanimado.

 

O outro franziu o cenho.

 

"Que desânimo é esse, cara? Não era você que vivia pedindo revanche mesmo sabendo que ia perder de lavada?" Do Contra perguntou.

 

"Era, não sou mais. Eu 'tô fora." Cebola disse e Do Contra cruzou os braços.

 

"Você não pode pular fora, Cebola! Você também é responsável pelo grupo e tem que agir como o tal. Fora que vou ser o juiz e não temos muitos jogadores. Sei que você é responsável, senão duvido muito que seria monitor." falou e o outro deu de ombros enquanto Mônica bufava.

 

"Porra, meu filho! Não percebe que não 'tá ajudando em nada?!" ela exclamou brava.

 

"Vou beber uma água." Cebola falou saindo em seguida.

 

Mônica olhou feio para Do Contra.

 

"Tá vendo? Ele ficou pior!" exclamou e o dono do topete olhou sem entender.

 

"Do que você 'tá falando?" ele questionou.

 

"Calma, Mônica! DC nem sabe o que 'tá acontecendo. Eles foram pegos se beijando e o Cebola foi afastado da monitoria. Pelo visto ele gostava muito já que 'tá todo tristonho." Magali explicou.

 

"Ah, eu não sabia disso." o rapaz falou e Mônica suspirou.

 

"Tudo bem. E desculpe por ter sido grossa com você, é que eu quero ajudar ele! Mas a professora Manoela não quer mudar de ideia e parece que a vice-diretora esqueceu de refletir, como ela disse que faria! Eu até cobraria, mas não posso mais me meter em problemas e não quero ferrar mais ainda pro Cebola!" desabafou.

 

"Difícil essa situação. Olha… pra toda regra, tem lá suas exceções. Talvez algum outro professor possa te ajudar a acelerar a Marocas, esse interescolar deve ter ocupado ela. Boa sorte." ele desejou e saiu.

 

"O que ele disse faz sentido, miga. O Cas me disse que a dona Marocas é quem mais resolve as coisas do interescolar, parece que os times  preferem resolver com ela." Magali falou.

 

Mônica encarou a amiga.

 

"Eles não são os únicos fugindo do diretor, né, Magali? Desde a discussão de vocês, você não faz nenhuma refeição com ele ou foi pra casa em fim de semana." lembrou e a amiga deu de ombros.

 

"Um problema de cada vez! Que professor pode ajudar a gente? Eu não tenho proximidade com nenhum!" Magali disse.

 

Mônica crispou os lábios, também não tinha. Foi aí que lembrou de alguém e estralou os dedos.

 

"Magá! O Cascão! Ele é bem próximo do Átila!" exclamou animada e a outra negou com a cabeça.

 

"Mônica, até hoje nem ele e nem eu fomos punidos, melhor não brincar com a sorte. Fora que Átila pega no pé de um jeito que você nem imagina! Então acho melhor não envolver ele, não!" Magali falou e a amiga bufou apoiando a cabeça na mesa.

 

"Então fodeu! Cebola nunca vai voltar pra única coisa que ele fazia com gosto neste internato! Logo um monitor foda que todo mundo ama!" falou e a outra riu.

 

"Todo mundo eu não sei, depois do exposed vieram alguns haters. Acho que o mais amado, que eu conheço, é o Nikolas." comentou e Mônica gritou.

 

"É ISSO! O Nik! Ele se dá super bem com a professora Ana Paula!" exclamou eufórica.

 

"Mas não com o Cebola, né, Mônica?!" a outra disse.

 

"Ele ajudou a gente na reunião! Vou lá falar com ele! Tenta animar um pouquinho o Cebola!" Mônica lembrou levantando.

 

"Como eu vou animar o Cebola? Você tem suas táticas de namorada e o Cas é o melhor amigo, agora eu…?" comentou e a amiga riu.

 

"Ele também é seu amigo, boba! Você vai conseguir!" exclamou e saiu rapidamente à procura de Nikolas.

 

Cebola retornou à mesa e olhou ao redor.

 

"Cadê a Mônica?" perguntou.

 

"Ela foi ver uma coisa. Cebola, você… ér… a gente quase nunca conversa, né? Quase sempre tem a Mônica e o Cascão no meio." ela disse e o rapaz riu.

 

"Verdade. Algum dia passou pela sua cabeça que eu seria um amigo?" ele perguntou e foi a vez de ela rir.

 

"Claro que não, você não me dava motivos! Mas a vida tem lá suas surpresas, tipo seu amor pela monitoria." respondeu e o sorriso do moreno diminuiu.

 

"Não vou mentir pra você, eu gosto da sensação de transmitir uma coisa que eu entendo. E eu ter que dizer adeus a isso… não é uma coisa fácil." confessou deixando Magali surpresa com a sinceridade.

 

"Talvez você não precise dizer adeus." ela falou e ele levantou a sobrancelha.

 

" A filha do diretor sabe de alguma coisa que não sei?" Cebola perguntou e ela negou com a cabeça.

 

"Esse rótulo nunca me trouxe informações privilegiadas, se você quer saber. Eu digo isso como alguém da sua monitoria." respondeu e ele olhou atento.

 

"Você é um bom monitor, Cebola, e tem mostrado que quer melhorar sua 'conduta' aqui no internato. Tenho certeza que a professora Manoela sabe disso e vai levar isso em conta." Magali falou sincera.

 

"E se ela não levar? E se eu nunca mais for monitor? Aquilo é importante pra mim, Magali! Foi lá que eu vi que podia ser alguém melhor; foi lá que eu vi que gostava de ajudar as pessoas; e foi lá que me aproximei da Mônica! Sem a monitoria eu sou só um ex-popular frustrado." desabafou.

 

Cebola não fazia ideia do porquê estar desabafando com Magali, só sabia que estava sendo bom.

 

"Cebolinha… será que você não percebe que esse Cebola monitor, que você tanto gosta, é você?" ela perguntou divertida e ele franziu o cenho.

 

"Que tipo de pergunta é essa, Magali?" o rapaz perguntou e ela riu.

 

"Não sei se você percebeu, mas esse Cebolácio que você diz que aparece na monitoria, aparece fora dela." falou e ele levantou a sobrancelha.

 

"Você se arrependeu de atitudes passadas e tenta ser uma pessoa melhor; é meu cupido; e namora a Mônica. Tudo isso fora de uma sala de aula às duas da tarde de uma segunda-feira." falou e o rapaz riu.

 

Magali tocou em seu ombro.

 

"Cebola, aquele cara ridículo que eu odiava 'tá mudando. A monitoria te ajudou nisso, mas não só ela. Se for decidido que você não vai voltar, você pode se orgulhar do trabalho que fez, de quem ajudou e da pessoa que tem se tornado." continuou e ele olhou atônito por alguns segundos.

 

Naquele momento, Cebola se sentiu diferente em relação à sua saída da monitoria. Desde seu afastamento, Mônica dizia que tudo ficaria bem e Cascão sequer tinha tempo livre para falar sobre isso, mas Magali fora a primeira pessoa que de fato levantou a hipótese de ele não retornar, e isso não soou de forma desanimadora.

 

"Mas sei que você quer continuar. A galera da monitoria também quer, posso te garantir que a Manoela dando monitoria é desgastante pra ela e pra gente. Como alguém que já esteve em um levante, eu diria pra você mostrar pra Dona Marocas seu interesse em ficar, ela ajuda mais que o diretor. Só vai com calma." aconselhou e ele sorriu.

 

"Eu 'tô sem uma resposta desse nível que você deu, mas valeuzão! Eu nunca tinha olhado por esse lado e confesso que você foi a única que falou sobre eu sair e não só sobre ficar, e isso meio que me animou." confessou e ela riu.

 

"É claro que sua namorada e seu melhor amigo, que anda extremamente ocupado, dariam outras respostas. Fora que eu sei como é se sentir livre pra ser você mesmo em uma atividade." falou e ele assentiu.

 

"Tenho que mudar de conselheira, o Cascão às vezes é um cavalo nos conselhos." o rapaz falou.

 

"O cupido é você, esqueceu?" ela perguntou e ele riu. 

 

Antes que falassem mais alguma coisa, Mônica retornou.

 

"Gente! Vocês não vão acreditar no que aconteceu! Eu fui falar com o Nik pra ele tentar convencer a professora Ana Paula a falar com a Marocas e adivinha quem 'tava com ele? A própria Marocas!" exclamou animada.

 

"Eu 'tô até com medo de perguntar o que você fez, Mô." Cebola disse e sorriu.

 

"Nada demais! Só perguntei como quem não quer nada se ela tinha pensado sobre a monitoria de inglês." falou.

 

"E o que ela respondeu?" ele perguntou curioso.

 

Mônica sorriu.

 

"Ela quer ouvir você, só não fez isso ainda porque não teve tempo. Eu consegui arrancar do Nikolas que ela andou falando com outros monitores e com alguns alunos que fazem monitoria com você, parece que você 'tá por cima." exclamou e Cebola sorriu abertamente e animado.

 

"Nossa, eu não sei nem o que dizer! Mônica, amor, muito obrigado pela sua ajuda!" agradeceu e ela o abraçou.

 

"Por enquanto me contento só com um abraço, ainda estamos em público." falou e Magali riu.

 

"Falando em estar em público… alguém viu o Cascão? Não vi ele praticamente o dia todo!" perguntou.

 

"Eu também não, parece que o Átila 'tá em cima. Mas nem com o flagra do seu pai vocês apagaram o foguinho? A cara engana, mas esses dois são uns safadinhos mesmo." Cebola brincou levando um tapinha da namorada.

 

"Fui eu que pulei uma janela com a roupa toda ao avesso, né, Cebola?" Magali rebateu e ele encarou o chão.

 

"Pegou pesado, Magá!" Mônica comentou e a amiga riu se levantando.

 

"Só falei a verdade. Vou deixar os pombinhos a sós." falou deixando o local.

 

                                            *

Enquanto isso, sentados no muro, estavam Milena, Cascão e Gabriela observando o pouco movimento da rua enquanto falavam sobre o evento do dia seguinte.

 

"O Átila falou que é um desperdício ter só dois esportes num dia inteiro." Milena comentou.

 

"Mas são três, o Do Contra conseguiu trazer xadrez. Claro que quem for assistir o xadrez vai perder outro jogo, mas é a vida." Gabriela lembrou.

 

"Não lembro de ter alguém que jogava xadrez quando eu era do Colégio Limoeiro, mas como lá tem mais esportes que aqui… não sei o que pensar." Cascão comentou.

 

"É mesmo, você é cria de lá! Como se sente em rever colegas?" a loira perguntou.

 

"Estranho! Quando eu não 'tô no IL, eu jogo com os caras até hoje. E eles mandam muito bem!" respondeu.

 

"Que coisa reconfortante de se ouvir! Mais ainda quando o capitão pode se ferrar de última hora." Milena disse.

 

"Ah, relaxa! O Átila falou com o Carlito e pelo visto ele 'tá fazendo vista grossa até fim dos jogos. Na moralzinha, não 'tô surpreso." o rapaz disse.

 

"Carlito fazendo vista grossa não é uma novidade. Assim como meus colegas pedindo treino extra pro Átila, só que pelas minhas costas. Até hoje acham que sou incapaz." Gabriela confessou.

 

"Não esquenta com isso a essa altura do campeonato… só vai te trazer estresse." Cascão sugeriu.

 

"Fora que você vai jogar amanhã, precisa estar zen." Milena disse e a loira riu.

 

"Zen? Nem você 'tá assim!" observou.

 

"São meus meninos que 'tão lá, e eu 'tava imaginando… se a gente ganhar, qual vai ser a comparação que meus pais vão fazer?" Milena comentou.

 

"Milena, a gente já te disse! 'Cê tem que falar com seus pais sobre essa parada aí!" Cascão disse.

 

"Eu vou falar... Um dia!" respondeu e os outros dois trocaram uma careta.

 

Antes que falasse alguma coisa, os três ouviram uma voz masculina chamar por Gabriela. Os três se viraram e a loira sorriu.

 

"Toni! 'Tá perdido?" comentou e ele riu.

 

"Não, só imaginei que você estaria uma pilha de estresse e pensei em encher teu saco pra, 'cê sabe, espairecer. Mas pelo visto já tem alguém fazendo isso." respondeu e Milena riu.

 

"Na verdade, Toni, Cascão e eu íamos fazer uns planos de jogo." falou e o rapaz a encarou.

 

"A gente ia?" o moreno perguntou e ela o olhou feio.

 

"Ia! Vai lá, miga! Assim você relaxa um pouco mais." Milena disse piscando um olho e Gabriela franziu o cenho.

 

"O que você 'tá aprontando, Milena? Tentando me empurrar pro Toni?" perguntou baixo.

 

"Longe de mim. Vai se divertir com seu amigo!" a morena falou e a outra desceu do muro e saiu com o loiro.

 

Cascão observou os dois e riu juntando algumas peças em sua cabeça.

 

"Tá rolando alguma coisa entre eles, né?" perguntou e Milena deu de ombros.

 

"Dizem eles que é só amizade. Agora até quando… eu não sei." respondeu e ele riu.

 

"Entendi. Aquele papo de planejamento era sério? Porque eu não falei com a Magali o dia todo." ele perguntou e ela negou.

 

"Não, era só pra ter uma desculpa pra eles ficarem sozinhos. Vai lá falar com sua musa, só tome muito cuidado com os inspetores, por favor, Cássio!" a cacheada exclamou e ele assentiu.

 

"Sim, senhora! E vê se relaxa também!" Cascão falou descendo do muro.

 

Milena ficou ali balançando os pés enquanto olhava para a lua cheia e tentava não pensar no jogo. Ao evitá-lo, sua mente a levou direto para Tikara a fazendo rir.

 

"O que eu vou fazer com você, Tikara?" questionou-se com um suspiro.

 

                                          *

Gabriela e Toni caminhavam pelo gramado enquanto ele contava uma história bem embaraçosa do ano anterior, que envolvia ele em quadra e um pombo.

 

"Posso até ter ficado sujo de cocô de pombo, mas, no fim das contas, o IL ganhou! Então tenho certeza que o Colégio Limoeiro vai vir putaço!" ele disse e ela riu.

 

"Eles perderam na própria quadra, eu também estaria. E eu lembro desse dia! Fiquei feliz, inclusive." comentou e ele negou com a cabeça.

 

"Que horror!" ele exclamou e ela deu de ombros e ouviu o estômago roncar.

 

"Tô com uma fome… pena que já acabou o horário de jantar. Adoraria outro pedaço de bolo." a moça comentou e Toni riu.

 

"Se falar com jeitinho, elas dão." ele revelou.

 

"Isso nunca funcionou comigo." a moça disse e o loiro sorriu enquanto colocava os cabelos para trás.

 

"É porque você não tem o meu charme." brincou piscando um olho e ela riu alto.

 

"Ah, é? Então me traz um." falou e ele negou.

 

"Não, senhora! Hora de se aventurar! Vem!" ele falou puxando a moça consigo.

 

Gabriela, para a própria surpresa, não se incomodou com isso, muito pelo contrário, achou interessante. Assim que chegaram à cozinha, havia alguns funcionários comendo alguns bolinhos enquanto falavam alto.

 

"Olha só quem apareceu aqui, gente. Aquele garoto que perdeu a popularidade." um deles comentou risonho.

 

"E não 'tá sozinho…" uma delas comentou observando Gabriela, que se encostou em Toni, nunca entrava lá.

 

"Mais conhecidos como Toni e Gabriela. Vocês 'tão sabendo que amanhã é o interescolar, né?" o rapaz comentou.

 

"Sim, e que você não vai jogar. Então nem vem pedir mais bolo, Marco Antônio. Conheço esses alunos espertinhos." uma delas falou rígida.

 

"Não precisa lembrar da minha fatídica saída do time." ele falou dramático e Gabriela quis rir.

 

"Parem de enrolar. Não vou dar bolo nenhum." uma outra disse.

 

"Mas olhem pela atleta que vai representar o IL! Gabi aqui é a capitã do time de vôlei, precisa de açúcar no sangue." Toni disse e todos a olharam.

 

"Ah, então é você? Já ouvi falar, mas nunca cheguei a te ver. O internato tem chances de ganhar?" um funcionário perguntou.

 

Gabriela sorriu de lado.

 

"Tem! Muitas! Treinamos muito, mas acho que se eu ganhar um pedacinho de bolo… posso ficar mais feliz e jogar melhor." ela disse persuasiva.

 

Os funcionários riram.

 

"Espertinha… tudo bem. Para você eu dou mais uma fatia. Pra você não, Marco Antônio!" a cozinheira disse entregando um pedaço à moça e fazendo um não com o dedo para o rapaz.

 

Toni fingiu estar ofendido.

 

"Que maldade! Sou um bom menino, ok?" comentou fazendo alguns adultos rirem.

 

"Não sei na onde! Podem sair agora e bom jogo amanhã, Gabriela." uma delas disse balançando as mãos indicando que eles saíssem.

 

                                                                         X

Fora da cozinha, Gabriela ria de Toni enquanto desembrulhava o bolo, que estava em um papel alumínio.

 

"Cadê seu charme agora, bonitão? Eu ganhei o bolo, já você..." zombou.

 

"Tá engraçadinha, né? Dá um pedaço desse bolo aí." ele pediu e ela se afastou.

 

"Você vai jogar amanhã? Não! Então eu só lamento." a moça disse mordendo o bolo enquanto ria.

 

Toni fez uma careta antes se aproximar e roubar um pedaço do bolo. A proximidade do rapaz era tanta que a ponta do nariz dele tocou em seu rosto, e isso assustou a moça fazendo com que o bolo caísse no chão.

 

"Parabéns, Gabriela! Aquela lábia toda acabou no chão." ele falou ainda mastigando enquanto ela balançava a cabeça.

 

"Culpa sua! Apareceu só pra encher meu saco, né, Toni?" a loira disse enquanto se abanava.

 

O rapaz riu.

 

"Eu queria ver se você 'tava de boa. Até mesmo os melhores capitães ficam nervosos e precisam de alguém enchendo o saco." falou e ela riu.

 

O olhar de Gabriela, por um instante, se perdeu no de Toni e, talvez pela primeira vez, um reparou no outro. Ambos se achavam bonitos, mas a luz da lua parecia deixar tudo mais brilhante. Os fios loiros, os olhos claros e o sorriso bem humorado.

 

"Toni, lembra do nosso trato sobre diversão?" a moça perguntou e ele chacoalhou a cabeça antes de assentir.

 

"Sim! O que tem?" perguntou.

 

Gabriela alisou o próprio braço.

 

"Ér… é que vem vindo feriado aí! E a gente podia, sei lá, fazer alguma coisa fora do IL. Porque às vezes parece que só nos damos bem aqui dentro." sugeriu com um riso sem graça.

 

Toni olhou surpreso pelo convite, mas sorriu enquanto concordava com a cabeça.

 

"Tá, eu topo! Eu não levando outra guarda-chuvada, 'tá ótimo!" respondeu e ela riu divertida.

 

"Vou fazer o possível. Eu vou… eu vou dar uma descansada agora, amanhã é o grande dia. Acho bom torcer por mim." falou e ele riu.

 

"Desde os treinos, colega. Boa noite." Toni desejou e ela saiu a passos rápidos sentindo as mãos suarem.

 

                                              *

O resto da noite pareceu voar, quando os jovens se deram conta, já era o grande dia. Os jogos aconteceriam ao longo da tarde e o período da manhã estava servindo para últimos ajustes.

 

Ao passo que vários alunos pareciam eufóricos, haviam aqueles que transbordavam ansiedade. Um desses era Jeremias, que observava algumas meninas da torcida treinarem o "grito de guerra".

 

"Mano, ter líder de torcida é muito foda! Mais ainda quando elas dão mole pra gente." Titi comentou cutucando o amigo que sequer prestava atenção ao redor.

 

"Quê?" Jeremias perguntou.

 

"Cê 'tá desligadão, hein? Tem que ficar ligado, Jeremias! Mesmo no banco, geral também 'tá contando com você!" Titi alertou dando um tapa no ombro do amigo que levantou.

 

"Eu vou beber uma água, vê se não se distrai com as meninas, safado." o outro disse saindo em seguida.

 

Jeremias foi até o banheiro e molhou o rosto. O rapaz encarou seu próprio reflexo e sentiu sua respiração se tornar ofegante enquanto suas mãos começavam a tremer.

 

"Jeremias!" ouviu uma voz feminina o chamar. Era Denise com o semblante preocupado.

 

"Aqui é o banheiro masculino, Denise." falou enquanto secava as mãos, ainda trêmulas, na própria roupa.

 

Denise deu de ombros enquanto se aproximava dele.

 

"Eu vi que você parecia avoado lá na quadra e, te vendo agora, já sei o que 'tá acontecendo. Você 'tá ansioso." falou com a voz calma.

 

"Todo mundo 'tá. É um grande momento." ele disse e ela negou com a cabeça e o abraçou.

 

"Você me entendeu. Eu sei que é difícil, mas tenta se acalmar. O que 'tá te preocupando?" ela perguntou e ele a envolveu com seus braços.

 

"Eu sempre fico um pouco ansioso antes de alguma coisa que envolva público, tipo a festa de boas vindas, uma parte daquele luau e outros momentos. Mas tudo tem seu nível, naqueles 'tava de boa, mas o de hoje 'tá muito alto! Estar preparado para substituir alguém que foi minuciosamente escolhido em um campeonato que a escola 'tá colocando muita confiança é muito foda, Denise. Mas eu vou ficar bem!" desabafou e ela apoiou a cabeça em seu ombro.

 

"Eu sei que vai. Mas, Jerê, confia em você, meu bem! Você treinou, joga muito bem e tem uma torcida linda te apoiando. Eu vou estar lá!" falou e ele a beijou carinhoso.

 

"Então é linda mesmo." falou e ela sorriu abertamente.

 

"Tá amoroso hoje. Mas só ganha beijo depois, então nada de provocações." ela disse e ele fez um bico.

 

"Nunca te provoquei." respondeu lambendo os lábios e ela riu.

 

"Tchau, Jeremias." Denise falou deixando o banheiro e ele riu enquanto se sentia um pouco melhor, um pouco mais calmo.

 

                                                                                    *

Já era cerca de quatro da tarde quando todos os alunos do internato e muitos do Colégio Limoeiro estavam na quadra. Nenhum jogo havia começado, mas ambos os lados gritavam, mostrando a competitividade que exalavam.

 

Carlito foi até o meio da quadra com um semblante tímido, não estava nervoso, apenas desconcertado com o fato de haver apenas três esportes, diferente da outra instituição que contava com seis, e por algumas faltas de reforma do prédio.

 

"Boa tarde a todos! É com grande prazer que abro nosso interescolar! Uma tarde de muito esporte, diversão e garra! Nossos atletas foram muito bem preparados e esperamos que vocês se sintam desafiados!" começou e vários olhares foram trocados entre os atletas.

 

"Alá! 'Tá fingindo que apoiou! O homem não tem vergonha na cara mesmo…" um deles comentou fazendo os demais assentirem.

 

"Não irei me alongar, todos queremos ver o jogo! Vamos às formalidades e depois seguiremos a sequência: vôlei masculino, vôlei feminino e futsal masculino. As partidas de xadrez estarão acontecendo ao mesmo tempo que as partidas de vôlei e futsal lá na área verde. Espero que aproveitem e vamos aos jogos!" exclamou sorridente.

 

Os aplausos partiram dos alunos do outro colégio, os que não conheciam Carlito. Após formalidades como o hino nacional e palavras dos professores, foi anunciado o primeiro jogo: vôlei masculino.

 

A torcida organizada por Denise foi até a parte alta da arquibancada em que estavam os alunos do internato. A ruiva estava ao lado de Sofia pronta para xingar quem tecesse algum comentário pejorativo sobre a amiga. Quando alguém fez uma piadinha, Denise ia rebater quando Sofia segurou em seu braço. Ela tinha um sorriso confiante nos lábios.

 

"Dê, eu não dou a mínima pro que eles falam. Eu me sinto ótima e 'tô aqui pra me divertir e torcer! Caguei pra eles, eu quero mais é me divertir!" falou e Denise a abraçou pelos ombros.

 

"É assim que se fala, amore! Agora vamos mostrar como se torce!" exclamou animada.

 

                                     X

Em campo, Átila se aproximou dos dois times que se posicionavam.

 

"Já sabem as regras, rapazes. Pelo menos três sets com vinte e cinco pontos cada. Teremos um intervalo de cinco minutos." Átila falou e os dois lados assentiram.

 

O treinador tirou do bolso uma moeda para que fosse realizado um cara ou coroa. Assim que o time do internato venceu, Gabriela gritou.

 

"BOA SORTE, MENINOS!" desejou e eles pareceram animados.

 

                                          *

Enquanto isso, na área verde, embaixo de uma árvore, ocorria uma partida de xadrez entre Xaveco e um rapaz do Colégio Limoeiro. O loiro queria estar assistindo ao jogo de Nimbus, mas também queria jogar xadrez e, de quebra, tentar levar alguma vitória ao internato.

 

O adversário de Xaveco era habilidoso o suficiente para fazê-lo esquecer do jogo do moreno e focar em seu próprio jogo, que não estava muito vantajoso. Próximos da mesa estavam alguns outros jogadores e uma pequena plateia, todos em silêncio, mas ainda sim demonstrando ansiedades.

 

"Você joga bem, cara." o adversário comentou com um sorriso ladino após Xaveco comer sua torre.

 

"Você também, mas para de tentar me distrair. Eu não me distraio com facilidade." comentou com um riso antes de mover um peão.

 

O tempo passava e um apito alto soou pouco antes de alguns jogadores suados passarem por eles. Xaveco estava focado em sua próxima jogada quando sentiu uma mão tocar em seu ombro.

 

"Quem 'tá ganhando?" era Nimbus com a voz ofegante.

 

Xaveco o olhou e não deixou de engolir em seco. A camisa de Nimbus colada ao corpo e seu cabelo todo para trás com o auxílio de uma faixa tiraram toda a sua concentração.

 

"Ér… quem 'tá ganhando é…" falava se perdendo nas próprias palavras.

 

Do Contra, que era o juiz, limpou a garganta e lançou um olhar de alerta para o loiro.

 

"Digamos que Xavier está em vantagem. E peço que não atrapalhe nossos jogadores, xadrez requer muita concentração." falou fazendo o cacheado balançar a cabeça e pegar sua garrafinha de água do chão.

 

"Ih, foi mal!" Nimbus se desculpou.

 

"Sem problemas! E o jogo de vôlei?" Xaveco perguntou enquanto dava um gole em sua água, mas foi a vez de Cebola interferir.

 

"Xavier, jogo! Tem mais gente querendo jogar!" falou um tanto impaciente, o jogo de vôlei feminino estava se aproximando e aquela partida de xadrez parecia longe de acabar.

 

"Não vou atrapalhar mais. Xadrez tem uma galera chatona!" Nimbus saiu comentando com um colega.

 

"Não precisava ser grosso assim, né?" Xaveco repreendeu Cebola.

 

"Realista. Não vai fazer sua jogada?" o outro rebateu e o loiro bufou.

 

"Para de me apressar! Você sabe que não é assim que se joga xadrez!" respondeu.

 

"Então foca!" o outro exclamou.

 

"Calma, Cebola! Vamos voltar pro jogo?" Do Contra disse e os outros dois voltaram a focar.

 

O jogo havia se complicado para Xaveco já que agora estava com o pensamento em outro lugar. Tanto que teve alguns erros que podiam custar sua vitória.

 

"Xeque!" o adversário falou com um sorriso e o loiro arregalou os olhos para o tabuleiro, estava encurralado.

 

"Droga!" comentou levando a mão ao queixo enquanto tentava descobrir como não perder.

 

Do Contra respirou fundo e se aproximou de Ramona.

 

 "Nimbus apareceu aqui só pra ferrar com a atenção do menino e com a pontuação do IL." comentou baixo.

 

"Calma, ainda dá pra ele ganhar. Acha que Xaveco vai punir o Nimbus?" ela perguntou e o rapaz riu.

 

"Isso soou mais malicioso do que realmente é." ele comentou e a ruiva balançou a cabeça assim que entendeu.

 

"Preferia não ter entendido isso, DC. Ele é seu irmão! Não te incomoda?" perguntou e o moreno deu de ombros.

 

"Nem um pouco, eu sei que o Xaveco faz bem pra ele, então é tranquilo." respondeu simples e ela sorriu.

 

                                         X

Na pequena plateia do jogo de xadrez também estavam Nikolas e Tikara, estavam lá apenas por Xaveco.

 

"Mano, o Cascão é amigo dos caras do Colégio Limoeiro e disse que eles mandam bem. Eu 'tô um pouco preocupado." o de cabelos lisos comentou.

 

"Relaxa, Tikara. Se você quebrar a perna, não vai fazer muita diferença. Você já é um jogador perna de pau." Nik zombou e o amigo o encarou.

 

"Tá me chamando de jogador ruim? Você? Que não joga nada e caiu com uma bolada nem tão forte assim?" questionou.

 

Nikolas apontou um dedo para ele.

 

"Você não levou a bolada, então não sabe como aquilo foi forte! Fora que…" respondia até sentir alguém cutucar seu ombro.

 

"Tô falando muito alto, né? Foi mal." falou sem olhar para a pessoa que riu.

 

"Não, você não 'tá. Mas eu queria falar com você." a pessoa falou e Nikolas se virou no mesmo segundo, conhecia aquela voz.

 

"Carmem?!" falou e ela sorriu.

 

"Oi, Nikolas! Quanto tempo!" Carmem cumprimentou com um aceno.

 

Nikolas deu de ombros.

 

"Nem tanto assim. Acho que você já conhece o Tikara." falou apontando para o amigo ao lado e ela assentiu.

 

"O meio-irmão da Denise, conheço. A gente pode conversar, Nik? Em particular?" a loira perguntou e o rapaz pensou duas vezes enquanto observava Carmem, que tinha um semblante calmo e um tanto hesitante, e suspirou.

 

"Tá." concordou se levantando e os dois se afastaram até uma outra árvore.

 

Segundos depois, Penha apareceu.

 

"Tikarra, Cascão quer falar com o time todo de vocês, sabe se o jogo do Xaveco já acabou?" perguntou.

 

"Ér… o Xaveco 'tá tentando sair do xeque." respondeu dando rápidas olhadas na direção de Nik.

 

Penha franziu o cenho.

 

"Pra onde você 'tá olhando? O que meu namorrado 'tá fazendo ali com a Carmem?!" ela questionou alto ao olhar para lá.

 

"Shhh!" uma pessoa repreendeu.

 

Tikara encarou Penha.

 

"Calma, ela chamou ele pra conversar. Não precisa ficar com ciúmes." falou e ela franziu o cenho.

 

"Não é ciúme, é que eu sei o quanto Carmem fez ele sofrer! Ela não devia ter a audácia de chamar ele pra conversar, Tikarra!" exclamou baixo.

 

"Eu sei que ela se arrepende do que fez porque já ouvi uma conversa entre ela e Denise. Como eles nunca mais se viram, talvez seja pra falar disso. Confia no Nik, Penha, e no poder de arrependimento de alguém! Isso já aconteceu com você." ele falou e a morena se calou, de fato havia tido um arrependimento.

 

Penha se sentou em uma cadeira vaga ao lado de Tikara e logo Nikolas retornou risonho.

 

"Ah, oi, Penha! Quanto tempo não te vejo!" Carmem falou e Penha forçou um sorriso.

 

"Oi, querridinha." cumprimentou de volta.

 

"Não precisa ficar com essa cara, por mais que seu namorado seja uma gracinha, com ele eu só queria parceria mesmo. Pensa com carinho, Nik."  Carmem falou deixando o local.

 

Penha riu sem humor e se virou para o namorado.

 

"Sobre o que vocês falarram?" perguntou curiosa, mas não brava.

 

"Ela queria se desculpar, por tudo." ele respondeu.

 

"E você desculpou?" Tikara perguntou.

 

"Sim, guardar rancor não adianta de nada. E nunca vejo ela mesmo, pra que remoer?" Nikolas respondeu e os outros dois assentiram.

 

"E o que ela quis dizer com parcerria?" Penha perguntou.

 

"Ela 'tava confirmando a teoria que todo cara que namora fica mais atraente. Mas o engraçado é que isso não se aplica a esse feioso aí." Tikara zombou e Nik mostrou o dedo médio.

 

"O azar só vem se quebrar um espelho, olhar nele não, Tikara. Ah, esquece. Se você olhar, ele se quebra na hora." rebateu.

 

"Meninos, eu adorro essas provocações bestas de vocês, mas eu realmente querro saber que histórria é essa de parcerria!" Penha falou.

 

"Ela sugeriu que eu voltasse pro youtubo dividindo um canal de games e outras coisas do tipo com ela." Nik respondeu.

 

"E você aceitou?" Tikara e Penha perguntaram juntos e ele negou.

 

"Não. Eu não tenho tempo livre e nem quero voltar pro youtubo agora. E mesmo se eu voltasse, não seria desse jeito." respondeu.

 

"Mas a Carmem é uma carra de pau mesmo! Ela fez você apagar o canal e vem com essa proposta? Ainda bem que você negou, porque senão eu ficarria revoltada." Penha comentou.

 

"Ela disse que se arrepende do passado, então seria uma forma de recomeçar do zero. Mas eu prefiro não fazer isso." Nikolas disse.

 

"Não fazer o quê?" a voz de Xavier soou e os três o olharam.

 

"Ah, o jogo acabou? Quem ganhou?" o dono dos dreads perguntou.

 

"Sério que vocês vieram pra me assistir e não viram? Eu consegui dar a volta por cima e ganhei!" exclamou.

 

"É que coisas mais interessantes aconteceram. O que te distraiu naquela hora?" Tikara perguntou e Xaveco engoliu em seco.

 

Antes que ele respondesse, Penha se pronunciou.

 

"Depois você fala! O Cascão quer que vocês do time se reúnam, só 'tão esperrando vocês dois." avisou.

 

Os dois saíram e ela sorriu para o namorado.

 

"Ainda tem alguns minutos até meu jogo. 'Tá a fim de treinar um bloqueio?" ela perguntou e ele sorriu de sobrancelha erguida.

 

"Bloqueio?" perguntou tentando imaginar qual seria o flerte.

 

"Bloqueio do ar entrando ou saindo pela sua boca…" falou tombando a cabeça ao fim enquanto fazia uma careta, assim como ele.

 

"Essa foi péssima, Penha." ele opinou e ela riu enquanto o puxava dali.

 

"Concordo, mas a intenção não." a moça falou saindo de lá com o namorado.

 

                                           *

A partida de vôlei masculino havia chegado ao fim e a vitória fora do Colégio Limoeiro, para o desânimo dos alunos do internato. Gabriela tentava esconder seu nervosismo, e decepção, com os alongamentos pré-jogo.

 

"Gabi! Vim te desejar boa sorte, amiga! Se bem que eu devia dizer isso pro outro time, já que eles vão precisar." Milena comentou fazendo a loira rir.

 

"Com você eu não preciso fingir, Mi. Eu 'tô surtando! Parte do meu time perdeu! Que tipo de capitã eu sou?" desabafou.

 

"Gabriela, você deu o seu melhor! E o outro time também treinou. Nem sempre a gente ganha, mas temos que continuar! Agora você vai entrar naquela quadra e arrasar como sempre arrasa!" Milena exclamou e a amiga riu.

 

"Nossa, toda coach, ela." zombou e a outra negou com a cabeça.

 

De repente, Milena sentiu uma mão tocar em seu ombro e se surpreendeu ao ver que era Toni.

 

"Gabi! Sua amiga te falou? Vamos torcer por vocês lá com a torcida!" ele exclamou e a morena o encarou.

 

"Mesmo? 'Cês querem mesmo passar essa vergonha? Porque aquela torcida da Denise é ensaiada, vocês não!" a loira falou de braços cruzados.

 

"Pra você ver como a gente gosta de você! E você também vai ter a vergonha alheia, e essa é minha intenção." Toni falou e ela riu enquanto negava com a cabeça.

 

"Eu não sei se agradeço ou se sinto pena. Vou lá com as meninas, me desejem sorte!" ela exclamou se afastando em seguida.

 

Milena se virou para Toni.

 

"Quando foi que combinamos de torcer lá em cima que eu não lembro?" perguntou apontando para onde as líderes de torcida estavam.

 

"Tava reparando na Gabriela e vi que ela 'tava uma pilha de nervos, então decidi ser um bom amigo. E você é melhor amiga dela, poderia me ajudar a não ficar lá sozinho com pessoas que muito provavelmente me odeiam." ele respondeu e ela riu.

 

"Tá certo… mas vocês também vão ter que torcer pros meninos!" a cacheada condicionou.

 

"Fechou!" o rapaz falou e os dois fizeram um high-five antes de subirem até onde estavam as líderes de torcida.

 

Era bastante cômico para quem estava ao redor ver Toni fazendo dancinhas e torcendo pelo time de vôlei com um ânimo invejável. Mas aquilo fez Gabriela sorrir enquanto se organizava.

 

                                                                           *

Um tempo depois, em campo, o jogo já havia começado e os dois times estavam eufóricos e jogavam com fervor. A bola estava com o internato, Mônica tocou para Denise que tocou para Penha que deu um corte, que quase acertou o rosto de Carmem.

 

"Cheirinho de vingança, hein, Penha?" Denise comentou risonha.

 

"Essa que é a menina lá?" Mônica perguntou e a ruiva assentiu.

 

"Em pele e osso." respondeu.

 

"Nada a ver, gente! Nem acertou nela!" Penha falou.

 

"Espero que não tenha mesmo, senão a gente estaria ferrada! Vamos, meninas! Vamos manter o ritmo!" Gabriela falou com uma palma.

 

Mônica, rapidamente, olhou para a arquibancada. Magali havia se juntado à torcida assim como Cascão e Cebola, eles faziam uma dancinha horrível, mas que para ela estava linda. A moça sorriu com a animação dos amigos e se animou mais.

 

                                         X

Quando o jogo estava perto do fim, havia uma pequena diferença de pontos que favorecia o colégio Limoeiro, mas, se o internato fizesse aquele ponto, a vitória iria para ele.

 

A escolhida para sacar havia sido Gabriela e ela estava nervosa, a vitória, ou a derrota, estava em suas mãos e aquilo era sério. A loira olhou para a arquibancada, todos a encaravam com expectativa. Seu olhar subiu à torcida e se encontrou ao de Toni que sorriu abertamente e fez joias com as mãos.

 

A loira bateu a bola no chão algumas vezes e jogou a bola para o alto antes de envergar um pouco seu corpo para trás, dando impulso, e bater na bola com força. Como se fosse em câmera lenta, a bola chegou ao lado oposto e duas jogadoras tentaram defender, porém, a bola bateu no chão e Átila apitou e gesticulou indicando o fim de partida e apontando para o lado esquerdo, do time vencedor.

 

Gabriela abriu a boca e não conseguiu falar nada, mas sentiu ser abraçada pelas colegas animadas. A torcida também vibrava e alguns até provocavam o lado oposto.

 

"Ganhamos! Eu nem 'tô acreditando!" ela exclamou alegre.

 

"Graças a você! Você é uma grande capitã, Gabi! Viva a Gabriela!" Mônica puxou um coro que foi repetido.

 

A loira sentiu-se orgulhosa enquanto saía para beber água. No meio do caminho, deu de cara com Toni que sorriu e abriu os braços.

 

"Não disse que ia ganhar? Eu até te abraçaria, mas nunca vi pessoa mais suada." ele comentou e ela riu.

 

"Agora eu que quero te abraçar!" a loira exclamou correndo até ele que se afastou rindo.

 

"Sai pra lá!" o rapaz exclamou e a moça se jogou em Toni, que a segurou.

 

Para a surpresa dela, ele não só retribuiu o abraço como também a girou no ar. Gabriela não sabia se era a adrenalina da vitória do jogo ou se era a animação por estar com Toni, só que sentiu uma estranha vontade de beijá-lo. E beijou.

 

Quando seus lábios tocaram nos de Toni, seus pés, que já não estavam no chão, pareciam mais no alto ainda. Mas tudo melhorou quando ele retribuiu. O beijo de Toni era completamente diferente dos beijos que trocara com Cascão, eram intensos e carregavam algo a mais, que ela não sabia descrever o que era. Já Toni, conhecia muitas bocas, mas era como se nenhuma delas tivesse algo especial como os macios lábios de Gabriela tinham.

 

Como ela ainda estava ofegante,  o ar a abandonou mais rápido fazendo com que se separassem e trocassem um sorriso ao fim.

 

"Eu vou… eu vou beber água agora. A gente se vê." ela disse piscando um olho e saindo rapidamente.

 

Toni sorriu consigo mesmo antes de voltar à quadra, havia prometido que torceria, mas não disse nada sobre prestar atenção no jogo.

 

                                           *

O último jogo do dia seria o de futsal, os meninos também estavam ansiosos e animados. As meninas do futsal estavam perto deles dando força.

 

"Quero ver vocês me orgulhando, hein?" Milena comentou com eles.

 

"Pode contar com a gente, capitã! Vou até fazer um gol pra você!" Tikara falou piscando um olho.

 

"Tá dando em cima da capitã, Tikara? O jogo ainda não acabou!" Titi comentou.

 

"Foca aqui, gente! Temos que ganhar do Colégio Limoeiro, mas é importante vocês saberem que eles são bons. Atenção!" Cascão exclamou

 

Átila apitou indicando que deviam se aproximar.

 

Milena se sentou na primeira fileira e Gabriela se sentou ao seu lado com um sorriso.

 

"Que cara é essa?" perguntou e a loira deu de ombros.

 

"Te falo depois, o foco aqui é o jogo. Você disse que ia torcer, então vamos torcer." falou.

 

"O Toni que ia, vai lá com ele." a outra respondeu e a loira riu.

 

"Você vem também. Bora!" exclamou puxando a amiga.

 

                                       X

Em campo, o jogo dos meninos havia começado agitado. Os dois lados queriam ganhar a todo custo e pegavam pesado. O tempo parecia voar ao passo que o jogo ficava mais difícil, tanto que o primeiro tempo estava prestes a acabar sem que os dois times marcassem um gol.

 

A bola estava no pé de Tikara e ele corria rápido com várias pessoas em seu encalço. O rapaz tocou para Cascão que aumentou mais ainda sua velocidade, como os adversários conheciam o rapaz, sabiam que precisavam ficar ligados.

 

"VAI, CASCÃO!" Magali gritou a pleno pulmões fazendo algumas pessoas a olharem, e ela ignorou.

 

Cascão sorriu e correu em direção ao gol. O rapaz olhou em volta a fim de tocar para alguém, mas todos estavam sendo marcados, então teria que ir até o fim.

 

O moreno conseguiu chegar na área do gol e fez que iria chutar para a esquerda, mas chutou para a direita fazendo com que o goleiro se confundisse e perdesse a bola que entrou na rede.

 

"Gooool!" a torcida gritou eufórica enquanto Cascão corria animado.

 

O rapaz mandou um beijo para Magali, que mandou um de volta em meio a sorrisos.

 

A bola retornou para o meio de campo e o outro time pareceu mais incisivo. Tanto que em minutos se aproximaram do gol de um jeito perigoso, mas Xaveco defendeu se jogando no chão.

 

"Boa, Xaveco!" Nimbus gritou e Xaveco sorriu rápido, não podia se distrair.

 

Átila apitou indicando intervalo de cinco minutos e os rapazes deixaram a quadra cansados e com sede.

 

                                     *

Do lado de fora, acontecia a última partida de xadrez, que era Ramona contra um garoto que falava demais durante as jogadas a fim de desconcentrar a ruiva, todavia, ela não era a única incomodada com o falatório incessante dele.

 

"Alguém, por favor, dá uma tijolada nesse menino? Não aguento mais essa voz irritante!" uma pessoa da plateia reclamou.

 

"Imagina eu." Ramona comentou enquanto esperava ele jogar.

 

O rapaz sorriu provocante.

 

"Então pede pra sair, garotinha." falou tentando irritá-la enquanto movia uma peça.

 

Ramona ia responder quando olhou para o tabuleiro e sorriu.

 

"Sabe… acho que você que devia pedir pra sair, garotinho." respondeu e ele franziu o cenho.

 

"Isso foi uma ameaça?" ele perguntou e ela riu.

 

"Não, eu chamo de… xeque-mate!" a moça respondeu terminando o jogo.

 

O rapaz arregalou os olhos surpreso enquanto Do Contra erguia o braço de Ramona com um sorriso largo.

 

"A vencedora é Ramona! Com isso, temos seis vitórias do IL contra cinco do Colégio Limoeiro. IL ganhou!" exclamou e a plateia aplaudiu.

 

O rapaz que jogou contra Ramona suspirou enquanto se levantava.

 

"Parabéns, Ramona. Você joga muito bem. Em alguma coisa tinha que se garantir, né?" comentou e ela franziu o cenho.

 

"O que quer dizer com isso?" a ruiva perguntou.

 

"Nada, só que se compararmos você e qualquer garota daqui, em termos de beleza…" falava até ela o interromper.

 

"Sabe de uma coisa, não estou me comparando a ninguém, então fica com sua resposta pra você. Tenha um bom resto de dia." falou simples, deu as costas e saiu. 

 

O rapaz olhou atônito e ouviu uma risada.

 

"Cara, eu realmente ia te falar umas poucas e boas pra aprender a ser gente, mas depois de ver essa sua cara de idiota... Vejo que a vida já faz isso há muito tempo. Passar bem." Do Contra falou e o rapaz riu sem humor.

 

"Só dá maluco nessa joça." falou negando com a cabeça.

 

                                         X

De volta ao jogo de futsal, a situação estava ruim. O outro time havia feito um gol e estava difícil sair do 1 a 1. O fim do segundo tempo se aproximava e nenhum deles queria ir para os pênaltis.

 

Timóteo, que era atacante, havia sido substituído por Jeremias após uma lesão, então técnicas treinadas entre ele e os colegas estavam inviáveis.

 

Jeremias era um bom jogador, mas como não esteve em todos os treinos, nem sempre a bola chegava aos seus pés, porém, quando chegou, três rapazes praticamente se jogaram em cima dele fazendo com que tivesse que chutar a bola para o escanteio que ficava próximo ao gol, um lugar que a possibilidade de gol podia aumentar para eles, mesmo que a marcação estivesse alta.

 

"É agora, gente!" Cascão exclamou.

 

"De olho nas marcações, meninos!" Milena gritou.

 

A torcida encarava com expectativa para onde todos os meninos se posicionaram. O goleiro esfregou uma mão na outra e Jeremias encarou os colegas: todos, principalmente Cascão, estavam sendo marcados, mas tinha um que estava menos e perto do gol.

 

"Tikara!" comentou consigo mesmo enquanto parava a bola com o pé.

 

O rapaz trocou um rápido olhar com Tikara que engoliu em seco, mas aceitou o desafio. Jeremias chutou alto para o outro, que dominou com o peito e, ao se aproximarem os adversários, jogou para o alto e usou a cabeça para atingir o gol. A bola estava prestes a bater na trave, mas, por milímetros, entrou na rede e o goleiro não conseguiu pegar.

 

O juiz apitou não só marcando o gol, mas também indicando o fim do jogo. Os meninos saíram alegres e foram direto para a arquibancada. Lá, além de darem um forte, e suado, abraço coletivo em Milena, foram abraçar os demais torcedores.

 

"Vocês 'tão nojentos, mas me orgulharam demais!" ela exclamou sorridente.

 

Tikara estava ofegante e com os cabelos já sem seu inseparável gel quando sentiu um abraço forte e, de imediato, retribuiu.

 

"Parabéns, Tika!" era Milena animada.

 

"Obrigado, capitã!" agradeceu e ela riu alto enquanto o olhava.

 

"Não sou mais sua capitã, Tikara, então…" falou antes de roubar um beijo intenso do moreno que, de imediato, se surpreendeu pela audácia, mas amou o beijo, tanto que retribuiu.

 

Os jogos haviam trazido muitas emoções e a comemoração estava apenas começando.


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