Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 11
Capítulo X - O trote


Notas iniciais do capítulo

Confesso que não ia postar hoje hehe, mas me diverti bastante escrevendo este capítulo e decidi postar direto kkkk



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Como já era de costume, os corredores do internato estavam silenciosos àquela hora da madrugada, cerca de três e meia da manhã. Os jovens dormiam quando, de repente, o ruído do alto-falante os acordou.

 

"Atenção, alunos, aqui é a vice-diretora Marocas! Desculpem minha voz, estou passando por uma gripe. Quero que todos compareçam ao auditório. Inspetores, espero que não tenham se esquecido do evento que combinamos! Vocês têm 20 minutos." a feminina voz rouca e estranha soou.

 

Os poucos inspetores que ficavam no internato não faziam ideia do que estava acontecendo, mas como sempre deviam seguir ordens dos superiores e demonstrar conhecimento de tudo que ocorria no prédio, disfarçaram o desconhecimento, ligaram as luzes e começaram a bater nas portas para que os jovens acordassem de vez, o desespero era tanto que eles se esqueceram do fato de que ninguém da diretoria ficava no internato de madrugada.

 

"Ouviram a vice-diretora! Pro auditório!" os funcionários batiam palmas enquanto passavam pelos corredores dos dormitórios, tanto da ala A quanto da ala B.

 

Quem observasse os adolescentes poderia comparar a uma frota de zumbis sonolentos que caminhavam rumo a um ponto comum, mas a diferença era que zumbis dificilmente praguejariam como os jovens faziam naquele momento.

 

"O que essa mulher tem na cabeça? Três da madrugada! Eu 'tava num sonho tão bom…" Cascão comentou com Cebola que, diferente do outro, parecia mais desperto.

 

"Eu nem 'tava dormindo! Então 'tô de boa." respondeu.

 

"Dorme tarde e ainda consegue entender as aulas? E eu aqui me perdendo nas aulas até quando durmo com as galinhas." o capitão do time comentou, fazendo Cebola rir.

 

Embora alguns dos atletas não conversassem muito com o grupo de populares, Cebola e Cascão se davam bem.

 

"Eu não viro sempre, é que eu 'tava pensando no meu namoro. 'Tá foda, Cascão." desabafou.

 

"Ué, por quê? Eu sempre achei que o namoro de vocês fosse um modelo. Geral fala isso por aí." o outro comentou.

 

Cebola riu.

 

"Modelo? Deve ser aquele bando de puxa-saco de plantão que pensa assim. Enfim, acho que a gente só 'tá junto por estar, não vale a pena continuar. Fora que eu 'tô achando que a Penha me trai com o Nikolas." Cebola disse e Cascão tentou reprimir um riso, mas não conseguiu.

 

"Pfff… há-há-há-há-há! 'Tá me tirando, Cebola?! O Nikolas?!" falou risonho e o outro revirou os olhos cruzando os braços.

 

"Vai ri, ri muito! Mas por que acha que não poderia?" o de cabelos lisos perguntou e Cascão foi parando aos poucos de rir.

 

"Eu só vejo o Nikolas com o Tikara e o Xavier, e quando não 'tá com eles, o cara some. Maaas… ele não some com a Penha! Porque, pelo que eu sei, de segunda ele dá reforço e vai pra E.A, Penha fica à toa; terça e sexta tem aula, e quando acaba ela fica por aí com o grupo de vocês; quarta é dia de esporte, ela vai pro vôlei e Nikolas nem pratica esporte; e quinta eu faço aula de pintura junto com ela. Então… essa dor na sua cabeça não é chifre. Só é, sei lá, peso na consciência por estar enrolando a mina." Cascão respondeu ainda com alguns risos.

 

Cebola franziu o cenho.

 

"Como você sabe disso tudo?" perguntou surpreso.

 

"Simples, diferente de você, eu converso com todo mundo, inclusive com meus colegas de dormitório. E outra, rola muita fofoca na quadra! Inclusive sobre seu grupinho." o rapaz explicou.

 

"Ah, então seu grupinho de atletas age como se odiasse a gente, mas não tira nosso nome da boca? Bom saber." Cebola comentou e Cascão riu.

 

"Eu disse na quadra, não na minha roda de amigos. Tem muita gente que quer fazer parte do seu grupo. Agora então… querem ocupar o lugar da Sofia." ele esclareceu.

 

"Nem me lembra disso! Já vieram umas cinco pessoas falando que a Sofia cavou a própria cova. Mas enfim, você tem sorte de não ter deixado sério seu lance com a Gabriela, namoro é uma dor de cabeça!" Cebola disse e Cascão tombou com a cabeça.

 

"Mais ou menos, cara, mais ou menos. Eu nunca quis nada sério, agora ela…" ele disse e foi a vez de Cebola rir.

 

"Vish… Tu 'tá fodido!" exclamou.

 

"Descobriu isso sozinho, Cebola?" perguntou irônico, fazendo Cebola rir mais.

 

"Relaxa, ela vai entender que você 'tá de boa pra essas coisas de namoro." ele disse.

 

"Tomara. E boa sorte com o tanto de mulher que vai vir te consolar quando você terminar com a Penha." Cascão disse e o outro bufou.

 

                                                                         *

Enquanto isso, Sofia caminhava ignorando todos os comentários que corriam sobre ela por conta de ter deixado o grupo dos populares.

 

"Ala! A bobona saiu do melhor grupo do internato!" uma comentou.

 

"Só tinha visibilidade por causa deles, vai se tornar uma invisível agora. Trouxa!" outra pessoa disse.

 

"Invisível? Desse tamanho? Toni 'tá certo, é um bujão!" outra disse fazendo os amigos rirem.

 

Sofia respirou fundo enquanto acelerava o passo e foi até um banco. Não ficou muito tempo sozinha já que, para a sua surpresa, Denise se sentou consigo.

 

"Oi, Sofia! Sumiu e me ignorou o dia todo… 'tá tudo bem?" a ruiva perguntou.

 

A outra a encarou.

 

"O que você acha? É como se eu tivesse voltado pro meu primeiro ano aqui com o que eu 'tô ouvindo!" desabafou.

 

"Ignora eles. Ou faz o que você fez daquela vez e se impõe." a ruiva sugeriu.

 

"Não é tão fácil assim! Mas o que você quer aqui? Veio a mando do grupo me chamar de volta porque viram que o escudo caiu? Eu não vou voltar!" a outra exclamou.

 

"Não. Acho que foi preciso você surtar pra eu ver que você 'tava certa. A gente te tratava muito mal, muito mal mesmo! Os meninos viviam te chamando de bujão e Penha simplesmente esqueceu que vocês eram amigas… e eu… eu fui uma péssima amiga que nunca fez nada. Você me desculpa?" Denise pediu sincera e Sofia abriu um largo sorriso.

 

"Denise, você não faz ideia do quanto eu 'tô feliz por você estar me dizendo isso! É claro que te desculpo!" exclamou abraçando a ruiva, que retribuiu o abraço com um sorriso.

 

"Ótimo! Olha… eu fiquei em choque quando você partiu pra cima do Toni. Mulher… que coragem foi aquela?" Denise disse e a amiga riu.

 

"Eu não tenho medo do Toni. E eu era a única que podia dar aquele passo. Mas eu também me surpreendi quando vi você e Jeremias se unindo pra me parar." ela disse e a ruiva desviou o olhar.

 

"Eu nem reparei que era ele." respondeu.

 

"Vai, Denise! Assume que nem tem motivo pra essa raiva toda que você tem dele." Sofia comentou.

 

"Eu não tenho raiva dele! Eu só acho que ele mostra uma face perfeitinha demais, não existe um boy tão sem defeitos assim! E eu…" ela dizia até a outra a interromper.

 

"E você não vai fazer nada! Não é de hoje que vocês dois mostraram se importar comigo, e não quero que ele sofra com as coisas que seu jornal faz! Por favor, Denise!" a morena pediu e a ruiva bufou.

 

"Tá! Eu não vou fazer nada! Mas ele também não pode me provocar! Não vamos esquecer que seu amiguinho vive me chamando de fofoqueira!" a outra exclamou.

 

"Eu vou falar pra ele parar, ok?" Sofia disse com um riso que fez Denise rir também.

 

"Fechou!" concordou e a outra sorriu docemente.

 

"Mas e ai? Por que tivemos que sair de madrugada?" Sofia perguntou.

 

"Pela primeira vez, eu não faço ideia." a ruiva disse olhando para o palco ainda vazio.

 

Os vinte minutos já haviam passado e nada de a vice-diretora aparecer. Os adolescentes já estavam se irritando quando os alto-falantes soaram novamente.

 

"Espero que já tenham acordado, porque agora começa a brincadeira. Aqui é terceirão, porra!" uma vez masculina e jovial soou animada.

 

Todos se entreolharam sem entender, mas, no mesmo momento, vários alunos do terceiro colegial apareceram com sacos de lixo pretos cheios de tintas, farinha e outras coisas também usadas no primeiro trote do ano, porém, daquela vez, eram apenas os alunos do terceiro ano que atacavam os demais sonolentos alunos; outra diferença era que os novatos não eram os únicos sendo atacados.

 

Em questão de segundos, iniciou-se uma correria em meio a muita sujeira, ataques e risos. Os inspetores simplesmente haviam sumido, uns por conta do trauma do trote de dois anos atrás e outros, conhecidos pelos alunos como manipuláveis, haviam sumido por causa do suborno que receberam.

 

                                                                                    X

Nenhum aluno conseguia fugir para os dormitórios já que os portões que davam acesso até lá haviam sido trancados pelos funcionários desavisados, e escondidos, para que nenhum aluno deixasse a "convocação da vice-diretora". Muitos grupinhos haviam se separado durante a correria para vários cantos da escola em que tinham alunos do terceiro ano praticando os trotes com quem quer que fosse.

 

Penha era uma dessas que não conseguia acreditar que estava passando por um trote já que, desde que entrara, sempre conseguia se livrar dos ataques.

 

"Vocês vão se arrepender por estarrem me atacando! Eu sou uma pessoa muito influente aqui, otárrios!" ela exclamou com o rosto coberto de tinta e os cabelos brancos de farinha.

 

"Ain, eu sou influente e blá, blá, blá. A rainha quer biscoito? Aqui o corante, o ovo e a farinha!" uma garota disse virando o pacote de farinha na cabeça dela enquanto outros três, com uma arminha de plástico, jogavam uma mistura de tinta com água e uma outra jogava ovos que, pelo cheiro, estavam estragados.

 

Penha tentava cobrir o rosto quando escorregou no chão molhado caindo de bunda e nenhum deles parava de rir e de acertá-la com a tinta.

 

"Ué, Penha? Não era você que gostava desses trotes? Olha como é divertido!" a garota mais velha exclamou.

 

"Galera, conseguiram pegar o Toni! Vamos lá acertar o otário!" um rapaz gritou e o grupo saiu correndo.

 

A morena tentou levantar devagar, escorregando novamente no processo, e decidiu ficar ali no chão por alguns segundos enquanto olhava para si mesma.

 

"Como eu 'tô nojenta!" comentou olhando para os braços cheios de tinta com farinha.

 

"É divertido quando é com você, né?" uma voz feminina soou fazendo a moça dar um grito e quase, mais uma vez, levar outro tombo ao tentar levantar de uma vez.

 

"Calma! Vamos te ajudar, mesmo que não mereça tanto assim…" o rapaz que estava ali disse e levou um cutucão.

 

"Olha o estado dela!" a moça repreendeu e Penha, ao reconhecer as vozes, apertou os olhos para vê-los, estava escuro.

 

"Nikolas? Flávia? São vocês?" ela perguntou e os dois assentiram se aproximando, também estavam cheios de tinta, mas não cheiravam a ovo.

 

"Sim! Vem com a gente." o rapaz disse e ela os olhou desconfiada.

 

"Por que estão me ajudando? Você nem me conhece dirreito e você já 'tava bravo comigo mais cedo." ela disse apontando para a moça e depois para o rapaz.

 

"A gente se trombou enquanto fugia do terceiro e vimos você sendo atacada. Eu fiquei com pena e falei pro Nikolas vir comigo te ajudar." a outra respondeu e o rapaz assentiu.

 

"Não preciso da compaixão de vocês!" Penha exclamou orgulhosa.

 

Os outros dois se entreolharam.

 

"Beleza, fica aí então." Nik falou.

 

"A gente vai se esconder, porque o trote não vai parar tão cedo." Flávia disse se virando com o rapaz e Penha os chamou.

 

"Não, esperra! Eu… eu… vamos logo!" ela exclamou e os dois riram e a ajudaram a levantar sem cair.

 

Os três se esconderam perto da escada.

 

"Acabei de ver uma menina do primeiro ano correndo ali! Vou ajudar ela!" a de cabelos medianos disse e logo saiu.

 

"Doida! Se arriscando assim por qualquer pessoa." Penha comentou e o rapaz a olhou.

 

"Inclusive por você, vossa majestade! Mesmo que você não mereça." ele disse.

 

"Já se arrependeu de ter me ajudado?" ela perguntou.

 

"Não, mas talvez você devesse pensar mais nos outros de vez em quando." o rapaz respondeu e ela o olhou feio.

 

"Quem é você pra me dar lição de morral?" questionou.

 

"Já disse que não sou ninguém." o moreno falou se levantando e a moça o encarou.

 

"Aonde você vai?" Perguntou.

 

"Regra número um para sobreviver a um trote no IL: nunca fique muito tempo no mesmo esconderijo." Nikolas disse e a moça se levantou.

 

"Eu vou com você!" ela exclamou.

 

"Tá, mas não fica muito perto de mim, ok? Esse cheiro de ovo 'tá me deixando enjoado." o moreno disse e ela o olhou incrédula.

 

"Isso é jeito de falar com uma dama, Nikolas?!" ela questionou brava e ele levantou os braços em rendição.

 

"Desculpe, dama! Vossa majestade está cheirando mal e isso me causa náuseas, poderia, por obséquio, manter distância?" ele perguntou e a moça cheirou o pulso, realmente fedia a ovo podre.

 

"Cala a boca e corre!" ela exclamou e ele riu fazendo com que ela, sem perceber, também esboçasse um sorrisinho.

 

                                           *

Do outro lado, Xaveco e Tikara corriam cheios de tinta e farinha pelo corpo. Os dois corriam olhando para trás já que os alunos do terceiro colegial os perseguiam.

 

"Acho que pararam, Xaveco!" o moreno falou parando de correr.

 

"E eu achando que os trotes tinham acabado!" o loiro comentou ofegante.

 

"Esse parece ser diferente, eu vi uns veteranos sendo atacados. Eu 'tô morrendo…" Tikara comentou se encostando na parede.

 

"Nik sumiu! Será que ele foi muito atacado?" Xaveco comentou também se escorando na parede.

 

"Sei lá, ele tem mais experiência que a gente, né? Deve ter se escondido." o outro comentou.

 

Os dois ficaram ali respirando com mais calma quando uma voz feminina soou de repente os assustando a ponto de gritarem.

 

"Desculpe, não queria assustar." a moça se desculpou.

 

"Nossa, que grito fino! Quase fiquei surdo!" o rapaz comentou coçando o ouvido.

 

"Milena! Nimbus!" Xaveco disse animado em vê-los ali. Tikara também parecia feliz em vê-los, mais por conta de Milena do que por ver Nimbus.

 

"Espera aí, Nimbus não é do terceiro?" o loiro comentou sem entender.

 

"Eu não quis participar do trote. Principalmente contra os novatos. Vocês 'tão péssimos, hein?!" o mais velho esclareceu fazendo uma brincadeira ao fim.

 

"Vocês dois também não 'tão lá essas coisas, e olha que já conhecem os trotes." Xaveco devolveu a brincadeira.

 

"Ah, eu discordo. Nem toda essa tinta tirou um pingo do charme dela." Tikara comentou baixo com o olhar fixo em Milena que olhava para trás.

 

Nimbus e Xaveco se entreolharam com um sorriso sapeca.

 

"O cara nem disfarça." o loiro comentou risonho.

 

"Hã?" Milena perguntou, não havia escutado.

 

"Tikara aqui disse que essa tinta toda não tirou um pingo do seu charme, Mi." Nimbus revelou sem pudor nenhum fazendo o rosto de Tikara queimar enquanto ele o encarava incrédulo.

 

A cacheada olhou para Tikara com um sorriso e o rapaz a encarou sem graça.

 

"Não sei se concordo, essa tinta é um saco pra tirar, mas obrigada, Tikara. E eu adorei seu pijama de gatinho."  ela falou e o rapaz olhou para baixo, havia se esquecido que estava com seu pijama com estampa do Maneki Neko.

 

"Ah… valeu." Agradeceu passando a mão na nuca enquanto se xingava mentalmente por não ter dormido sem camisa naquela noite, como gostava de fazer.

 

"Nimbus, até quando vai o trote?" a moça perguntou ao mais velho.

 

"Sei lá, eles disseram que até a direção chegar." Nimbus respondeu.

 

"Vai demorar então!" Xaveco comentou.

 

"Vamos indo, daqui a pouco aparece mais gente." Tikara sugeriu olhando para trás.

 

Os quatro andaram de maneira cautelosa. No caminho, Xaveco deu leves cutucões em Tikara, que o encarou.

 

"Vai lá, cachorrão! Não era você que era o corajoso que vai direto?" o loiro sussurrou.

 

"Não é o melhor momento, né, Xaveco!" o outro exclamou baixo.

 

"Então puxa um assunto! Vou te dar cobertura." o loiro disse e Tikara o olhou.

 

"Ei, Nimbus, como são as aulas do terceiro ano?" Xaveco puxou conversa com o veterano para que Tikara pudesse aproveitar a chance de falar com Milena.

 

O de feições asiáticas suspirou sem saber o motivo de estar nervoso.

 

"Então, Mi…lena." ele disse e ela riu.

 

"Pode me chamar de Mi, eu não ligo." a cacheada autorizou.

 

"Mi! Bem fofo! Não que você não seja é que… o meu é Tika! Não acho fofo." ele disse se arrependendo em seguida.

 

"Não acha? Eu achei." ela respondeu fazendo ele sorrir mais.

 

Nimbus riu ao lado de Xaveco, que o olhou.

 

"Ele gosta dela, né?" o moreno perguntou.

 

"Gosta. Ele é todo confiante, não sei por que ficou tímido." Xaveco comentou.

 

"Acho que porque essa capitã é meio intimidadora às vezes. Não acha?" Nimbus comentou.

 

"Não sei, nunca prestei muita atenção na maneira que ela age como capitã. Mas acha que ela percebeu que o Tikara…" ele disse e nem precisou completar a pergunta ao ver Nimbus balançar a cabeça negativamente.

 

"Ela meio que fechou o coração, então talvez não preste atenção nisso." o outro disse.

 

"Ouvi dizer. Mas quem é o cara?" Xaveco perguntou curioso.

 

"É da minha sala e do time de vôlei. Ele chama…" Nimbus ia dizer quando um três rapazes do terceiro ano apareceram.

 

"Felipe?!" Milena reconheceu o ex.

 

"Caralho, detonaram vocês!" ele comentou se aproximando dela até ficar bem ao lado de Tikara que o mediu dos pés à cabeça, tinha a impressão de já tê-lo visto.

 

"E vocês vão ao menos deixar a gente correr?" Xaveco comentou e Felipe riu alto.

 

"Não vou atacar vocês, relaxa. E os caras eu não sei, mas a minha gatinha eu não vou deixar chegarem perto." o loiro falou deslizando o dedo na bochecha da cacheada, que apenas se afastou.

 

"Guarda toda essa força e energia pra correr, Felipe." ela disse fazendo Tikara rir e receber um olhar feio do mais velho.

 

"Bora, galera! Tem alguém vindo." Nimbus disse começando a correr junto de Xaveco, Milena e o um dos amigos de Felipe.

 

Tikara ia correr quando sentiu ser puxado para o lado e quase bater as costas na parede. Era Felipe e o outro rapaz.

 

"Seguinte, japa. Eu ouvi sua conversa com o Cascão! Fica longe da minha mina!" Felipe disse sério apontando o dedo e o de feições asiáticas franziu o cenho.

 

"Sua mina? Conversa com Cascão? Do que você 'tá falando?" perguntou.

 

"Não se faz de sonso! Fica longe da Milena! Eu 'tô tentando reconquistar ela e você não vai me atrapalhar!" exclamou e saiu antes de ter uma resposta.

 

Tikara riu.

 

"O cara realmente acha que abaixo a cabeça pra marmanjo… é cada uma." negou com a cabeça e voltou a correr.

 

                                           *

Do Contra corria aos risos ao lado de Gabriela e Ramona, os três estavam cheios de tinta quando deram de cara com outros veteranos, que começaram a atirar com as arminhas de água.

 

"Ah! Entrou tinta na minha boca!" a loira reclamou enquanto cuspia.

 

"Ai, eu já não 'tava enxergando nada porque tirei meus óculos pra não cair, agora acho que piorou." Ramona comentou tentando cobrir o rosto.

 

O rapaz ria como nenhuma das duas havia visto. O mais irônico era que ele estava sendo mais atingido.

 

"Por que esse maluco 'tá rindo?" a garota que os atingia parou ao perceber que o moreno parecia estar se divertindo com o trote.

 

"Que o irmão do Nimbus era estranho a gente sabia, agora masoquista…" um outro aluno do terceiro disse.

 

"Vamos sair daqui! Nem tem graça." uma outra disse  e o grupo saiu correndo.

 

As duas meninas se entreolharam e logo encararam um sorridente Maurício.

 

"A gente realmente acabou de se safar do trote por causa da doideira desse daí?" a loira comentou enquanto passava a mão no cabelo cheio de tinta.

 

"Do Contra, tudo bem? Isso é riso de desespero ou era uma estratégia pra eles irem embora?" Ramona perguntou e o rapaz riu mais.

 

"Estratégia seria foda, mas eu só acho legal essa fuga da rotina. Eles planejaram um trote pra madrugada e fizeram todo um esquema pra funcionar! E ainda atacaram o povo que atacava novato! É tão aleatório que chega a ser incrível! Como vocês não acham isso engraçado?" ele perguntou.

 

As duas se entreolharam.

 

"Talvez porque a gente, que não faz trote, também 'tá sofrendo ataque?" a loira questionou retórica.

 

"O sono 'tá afetando sua mente, Do Contra." Ramona comentou negando com a cabeça.

 

"Ah, vocês que só olham pra um lado. Eu não gosto de trote, mas quantas outras vezes eu vou ver o karma fazendo efeito contra os populares?" ele comentou cruzando os braços.

 

"Eu não vi nenhum popular sendo atacado. Eu 'tava meio ocupada correndo sem óculos." a ruiva comentou.

 

O rapaz riu enquanto olhava para algo atrás delas.

 

"Tá aí uma coisa que não se vê todo dia!" ele disse e as duas franziram o cenho.

 

"Na boa, Ramona, esse menino não fala coisa com coisaAAAAH! Filho da puta! De onde você saiu, cão!" Gabriela falava até se assustar com Toni, que tocou em seu ombro.

 

"Dali, ué." ele disse enquanto olhava para uma mecha de seu cabelo cheio de tinta, casca de ovo e farinha de trigo.

 

"Era pra ele que você 'tava olhando, né?" Ramona perguntou e o moreno assentiu risonho.

 

"Pensei que nunca mais ia ver esse cabelo rosa em você, Toni. Mas esse tem outras cores." Do Contra comentou recebendo um olhar feio do loiro.

 

"Que cheiro horrível!" Gabriela comentou.

 

"Toda vez me jogam tinta rosa! Bando de corno! Ainda jogaram ovo podre." Comentou.

 

"Agora ele sabe como os novatos se sentem." Ramona comentou com Gabriela que assentiu.

 

"Eu ouvi isso daí! Com novato é pra ele ver que a vida aqui não é esse mar de rosas que pensam!" Toni disse.

 

"E quem pensa isso? A pessoa vai literalmente morar na escola e ainda ter que aturar um bando de babaca." Gabriela disse.

 

Toni a encarou.

 

"Isso foi uma indireta?" ele questionou.

 

"Não, eu falei na sua cara. Vamos, gente! Deixa esse menino aí! Ele mesmo diz ser o fortão, ele consegue ganhar tempo pra gente." a loira respondeu e os três logo correram.

 

Toni não pôde deixar de encará-los com uma pontada de inveja, desde o começo do trote não havia visto nenhum de seus amigos, estava apenas correndo sozinho e sendo atingido enquanto zombavam de si. Por um momento, as palavras de Sofia sobre os trotes ecoaram em sua cabeça, mas logo fugiram quando sentiu um ovo ser quebrado em sua cabeça.

 

"Ah, mas que cara…" xingava até começar a ser atingido pela água com tinta.

 

"Corre, fortão! Não é você o fodão? Cadê toda sua força agora?!" Uma garota disse e o rapaz bufou enquanto escorregava no chão molhado.

 

                                           *

Mônica e Magali haviam parado de correr para descansarem, estavam exaustas e sujas.

 

"Eu não aguento mais correr!" Mônica comentou ofegante.

 

"Esse trote do nada! Terceiro ano cuzão!" Magali exclamou também ofegante.

 

"Acho que conseguimos despistar eles!" a novata disse e a outra assentiu.

 

"A gente não pode ficar aqui muito tempo, logo aparece mais. Incrível como o terceiro ano consegue atacar uma  escola toda! Eles não são tantos!" a outra exclamou.

 

"Mas o foda é que eles fizeram todo um esquema, miga. Todo mundo com sono, cansado e com pouco esconderijo… fica fácil pros outros!" Mônica disse.

 

"Ouvi vozes! Tem gente aqui!" duas vozes masculinas soaram e as duas arregalaram os olhos e se viraram para o lado oposto, porém, de lá, dava pra ouvir risos.

 

"Caralho, fodeu! A gente 'tá encurralada, Magá!" Mônica sussurrou.

 

"De que lado a gente vai? Não dá pra ficar aqui!" Magali disse.

 

"Já sei! Vamos indo e quando nos aproximarmos, a gente corre gritando." Ela disse.

 

"Por que gritando?" a outra perguntou.

 

"Pra assustar, ué! Vamos!" Mônica disse e as duas caminharam devagar.

 

Conforme andavam, as vozes masculinas aumentavam. Assim que se aproximaram de uma vez, gritaram e os dois rapazes gritaram junto.

 

"AAAAHHH!" os quatro gritavam até perceberem que não eram alunos do terceiro ano que ali estavam.

 

"Cascão?! Cebola?!" Magali exclamou com a mão no peito.

 

"Cês assustaram a gente, caramba!" Mônica exclamou dando um tapinha forte no ombro de Cebola.

 

"Ai, doeu! E a gente também achou que era gente do terceiro." Cebola disse massageando o ombro.

 

"Vocês foram atingidos com ovo?" Magali perguntou fazendo uma careta.

 

"O Cebola foi, eu não." Cascão comentou fazendo uma dancinha.

 

"Quando eu encontrar a Denise, ela vai ouvir umas poucas e boas!" Cebola exclamou.

 

"O que a Denise tem a ver com isso? Ela nem é do terceiro!" o outro comentou.

 

"Mas sabe de tudo que rola aqui! Eu duvido que ela não sabia desse trote!" Ele exclamou.

 

"Ali! Atrás deles!" uma aluna do terceiro apontou para eles e os quatro a olharam.

 

"CORRE!" Magali gritou e os quatro começaram a correr não muito rápido já que estavam cansados, o único com um melhor ritmo era Cascão.

 

"Porra, gente! Nem começamos a correr e já 'tão morrendo?! Cebola, vou te colocar pra dar cinquenta voltas na quadra!" Cascão disse enquanto os observava.

 

"Cala a boca! Isso aqui não é jogo, não!" Cebola reclamou.

 

"Acabou de aumentar pra setenta!" Cascão rebateu.

 

"Foi mal! Chato! 'Tá achando que isso aqui é quadra?" Resmungou.

 

"Oitenta!" Cascão exclamou.

 

"Oitenta? 'Tá ficando maluco?" Cebola questionou.

 

"Quer chegar a cem? Tu 'tá empenhado, hein, moleque!" Cascão zombou fazendo o outro fazer um bico e as meninas rirem.

 

"Se fodeu!" Mônica comentou.

 

"Tão rindo de quê? Vou falar pra Gabi que as madames 'tão tudo fora de forma! Ela é pior que eu!" Cascão alertou e foi a vez de Cebola rir.

 

"Toma!" Comentou.

 

"E eu achando que você era um cara legal!" Magali comentou.

 

"Foi mal, Magá, mas no esporte tem que pegar pesado." Cascão falou.

 

Mônica olhou para Cebola.

 

"Ei, Cebola, é verdade que a Sofia saiu do grupo?" perguntou.

 

"Por que quer saber? 'Tá querendo entrar?" ele respondeu com outra pergunta.

 

"Eu não! Tenho cara de idiota? Só sendo um grande otário mesmo pra aturar a Penha, a Denise e o Toni a troco de nada!" Mônica disse.

 

"Ei!" Cebola reclamou.

 

"Carai, Mônica! Pega leve!" Cascão disse rindo.

 

"Pro Cebola é até pior, ele tem que manter uma máscara que só faz mal pra ele mesmo." ela disse.

 

"Ou, ou, ou! Já deu, né? Você nem me conhece e…" Cebola falava até trombar com Cascão, que parou de repente, e acarretou na colisão de Mônica e Magali fazendo com que os quatro caíssem.

 

"Por que parou do nada? Quase mordi minha língua!" Cebola reclamou.

 

Cascão apenas apontou para um grupo grande do terceiro ano que os encarava com bexigas cheias de algo que não sabiam em mãos.

 

"Ih… agora fodeu!" Mônica disse e os quatro nem tiveram tempo de fugir já que logo foram atingidos pelas bexigas com apenas água.

 

                                         *

Quando a confusão parecia que nunca teria fim, a vice-diretora em pessoa chegou junto do diretor. Quem colocou ordem nos alunos fora Marocas enquanto Carlito foi repreender os funcionários. Com exceção do terceiro ano, os alunos foram mandados de volta para o dormitório, mas  antes receberam um alerta.

 

"Alunos, a aula de hoje começará no horário normal!  E o terceiro ano limpará a escola." a voz de Carlito soou e todos começaram a reclamar.

 

"Ir pra aula com sono? O rendimento vai lá pra puta que pariu!" alguém reclamou.

 

"Não vou assistir porra de aula nenhuma! Já são quase cinco da manhã! Ter que virar noite por isso não rola!" outro afirmou.

 

"Tá aí falando merda porque não foi com ele!" outro reclamou.

 

"Todo mundo pros dormitórios! Agora!" os inspetores, que também pareciam estar com sono, chegaram para mandá-los para os quartos e os jovens foram zangados.

 

                                         *

O dia passou completamente improdutivo para os adolescentes já que o sono e o cansaço os impediram de prestar atenção nas aulas completamente mecânicas. Eles só ficaram mais despertos no fim do dia, quando muitos arrumavam suas coisas para irem passar o fim de semana em suas casas.

 

No dormitório 226A, Toni falava ao celular sentado em sua cama de costas para a porta. Alguém tomava banho e não tinha mais ninguém no quarto.

 

"Eu vou ficar aqui no IL esse fim de semana, pai." ele disse enquanto segurava uma mecha de cabelo ainda rosa.

 

"Eu sei que eu sempre volto, mas eu… eu quero ficar pra estudar. Eu sei que eu posso estudar aí, mas eu…não! Claro que eu não 'tô escondendo nada do senhor!" ele falava e o pai parecia gritar já que era possível ouvir de longe do aparelho.

 

Toni estava tão focado na conversa que nem ouviu a porta de entrada se abrir e Xaveco entrar.

 

"Pai! O senhor sabe como funcionam as provas daqui! Tem que estudar e eu quero usar a biblioteca daqui! Eu sei que dá pra fazer isso durante a semana, mas… Eu não sou imprestável por preferir usar meu tempo livre em vez de me sobrecarregar ao longo da semana! Eu sei que na sua época era… Eu não 'tô sendo fresco por pensar em minha formação… O que minha mãe tem a ver com isso? Eu não 'tô te respondendo!" o rapaz falava desanimado e ficava bravo conforme ia conversando mais.

 

Xaveco observava a cena e, para a sua própria surpresa, sentiu pena de Toni. Quando o de cabelos lisos desligou o celular, ou quando o celular foi desligado na cara dele, ele se virou e olhou surpreso para Xaveco que o encarava.

 

"Tava ouvindo minha conversa? Nem privacidade mais tem nesta porra de internato?!" reclamou e o cacheado negou.

 

"N-não. Eu só entrei pra pegar minhas coisas!" ele disse e o outro pareceu relevar.

 

Xaveco o encarou e ponderou se falava ou não com ele sobre o que ouviu. Após ver que ele também havia sofrido trote, colocou na cabeça que Toni estaria mais fragilizado, então decidiu tentar conversar.

 

"Ér… lamento por seu pai não te entender." falou e logo se arrependeu pelo olhar frívolo que Toni lançou.

 

"E o que você tem a ver com isso? Fica fora da minha vida, moleque!" o veterano exclamou se levantando e Xaveco deu um passo para trás.

 

"E-eu não 'tô me metendo na sua vida, eu só…" ele disse.

 

"Tá tentando me ridicularizar! Um fracote feito você?! Xavier, já disse pra ficar fora do meu caminho!" falou sério e Xaveco engoliu em seco.

 

No mesmo instante, coincidentemente, Jeremias abriu a porta do banheiro deixando escapar um pouco de vapor de lá. Ele usava apenas uma toalha, havia esquecido sua roupa na cama. Quando ele viu a feição amedrontada de Xaveco, decidiu ignorar o pedido feito por ele.

 

"Mas que coisa! Por que você só mexe com ele que é mais fraco, Marco Antônio? Por que não vem mexer com quem você sabe que não tem medo?!" ele questionou cruzando os braços.

 

Os dois encararam Jeremias, mas de maneiras diferentes. Enquanto Xaveco arregalou levemente os olhos e sentiu uma nova sensação; Toni franziu o cenho reparando nos braços do moreno enquanto fazia uma comparação mental: tinha músculos maiores que os seus.

 

"Não vou caçar treta com você, Jeremias. Ainda tenho um fim de semana inteiro pra te aturar." Toni disse se afastando de Xavier.

 

"Você vai ficar aqui? Que merda…" Jeremias comentou e o veterano riu.

 

"Tá incomodado, Cocoricó? Pede pra sair." provocou.

 

O moreno revirou os olhos.

 

"Rapaz, você gosta mesmo desse programa, hein? Sabe que você 'tá parecendo aquele porco com esse cabelo rosa?" Devolveu zombeteiro e o veterano fechou a cara, Jeremias sabia que aquela era uma fraqueza do outro.

 

Toni apenas saiu do quarto batendo a porta e Jeremias olhou para Xaveco, que olhava em seu celular.

 

"Foi mal, cara. Te chamei de fraco e você não queria que ninguém se metesse, mas…" ele dizia e o outro sorriu sem olhá-lo.

 

"Não, de boa! Na verdade, eu pensei melhor e acho que você e Do Contra foram legais em oferecer ajuda! Valeu!" agradeceu e o outro assentiu.

 

"Tamo junto!" Falou pegando sua roupa e voltou para o banheiro.

 

Xaveco limpou o suor na testa e deixou o dormitório a passos rápidos.

 

                                           *

Toni caminhava ainda zangado, jamais assumiria em voz alta que tinha um enorme receio de mexer com Jeremias  já que além de ele ser amigo de Cascão, uma pessoa que podia rebaixá-lo por algum desvio de caráter, sentia-se intimidado por ele, fosse pelas suas respostas rápidas ou fosse pela ausência de medo e pela força que o outro aparentava ter. E isso fazia com que Toni temesse que sua imagem de amedrontador diminuísse.

 

"Isso requer medidas drásticas!" exclamou enquanto se dirigia até a sala de informática, onde era confeccionado o jornal da escola.

 

Lá dentro as coisas pareciam movimentadas já que um trote e a saída de um membro do grupo de populares havia repercutido. A presença de Toni ali havia chamado a atenção, mas ele os ignorou já que queria falar com Denise, que tinha vários papéis em sua mesa.

 

"O que você quer, Toni? Eu 'tô super ocupada!" ela disse sem olhá-lo.

 

"Você ainda quer ferrar com aquele Jeremias? O cara que tirou a Sofia do grupo e 'tá fazendo ela se virar contra você?" ele perguntou.

 

"Ele não tirou ela do grupo, foram vocês que a fizeram querer sair." a moça disse.

 

"Então 'tá funcionando a lavagem cerebral." Toni comentou e a moça o encarou.

 

"O que você quer, Toni? Fala de uma vez!" perguntou.

 

"Acho que Jeremias já teve folga dos trotes por tempo demais. Ele é um novato ainda! E 'tá muito soltinho." Toni disse e a ruiva estreitou os olhos.

 

"Por que isso de repente? Você não disse que não queria se meter com ele por causa do time?" ela perguntou.

 

"Não sou eu quem vai espalhar algum boato, vai ser o jornal. Cascão não vai poder fazer nada." o loiro respondeu.

 

A moça negou.

 

"Eu não vou te ajudar. Você tratou a Sofia muito mal." ela disse.

 

Toni bufou.

 

"Ah, qual é? Vai tomar as dores dela agora? Você sempre quis que as notícias chegassem." ele disse.

 

"Já disse que não, Toni. Pode sair? Daqui a pouco eu vou embora e ainda tenho o que fazer aqui!" ela disse voltando a ler e o rapaz bufou enquanto se afastava.

 

O loiro já pensava em alguma outra coisa quando ouviu o chamarem, era uma das redatoras que sempre tentava chamar a atenção de todos.

 

"Posso te ajudar, sabia?" ela disse e ele a encarou.

 

"Como?" perguntou e ela moveu o dedo indicando que ele se aproximasse da mesa dela e ele foi.

 

"O jornal de segunda será recheado de fofocas. A minha favorita, até agora, era a que envolve nossos queridos capitães dos times e a filha do diretor. Mas parece que você precisa de ajuda." ela disse.

 

"O que você sabe sobre o Jeremias, Narcisa? O novato do segundo ano que anda com o grupo lá de atletas." Toni perguntou e a moça riu.

 

"Eu sei quem é, mas estou surpresa que queira se vingar dele. Ouço falarem bem dele." ela disse.

 

"Ele mexeu com o grupo errado. Consegue um exposed foda? Todo mundo tem um passado." ele perguntou e ela riu.

 

"Claro que consigo, querido. Mas, sabe como é, uma mão lava a outra." a moça comentou deslizando seu dedo indicador no peito dele.

 

"O que você quer?" ele perguntou.

 

"Soube que Sofia saiu do grupo. Bem que podia me encaixar nele…" ela disse.

 

"Vou falar com o resto do grupo, mas precisa fazer sua parte." ele disse.

 

"Sou uma garota de palavra, Toni. E você?" a moça perguntou.

 

"Sei o que falo. Conto com você, Narcisa." Toni disse deixando a sala com um sorriso.

 

                                           *

Perto da saída, Cebola e Penha conversavam. O rapaz ensaiou algumas vezes o que falaria a ela, mas, no fim das contas, decidiu ser direto.

 

"Penha, acho que a gente devia terminar." ele disse e ela olhou surpresa.

 

"O quê? É por causa de ontem? Eu já te disse que eu…" falava e ele negou.

 

"Não, não é só por isso! A gente 'tá junto há quase um ano e eu não sei quase nada sobre você, Penha! Não sei quem são seus pais, não sei onde você mora, não sei por que estuda no IL… nada!" Cebola disse e Penha desviou o olhar enquanto deslizava as mãos nos cabelos.

 

"Eu também não sei essas coisas sobre você!" ela disse.

 

O rapaz  suspirou se lembrando da conversa com Toni e com Cascão.

 

"Exato! Nós estamos juntos por quê? Pra quê? Acho que a gente começou a namorar porque somos populares, sem um motivo aparente. No fundo, a gente não confia o suficiente um no outro pra… pra nos mostrarmos fora do IL." ele começou.

 

"Nunca ficamos juntos fora daqui, nunca nos convidamos pra casa um do outro e… nunca nos importamos com isso." completou e a moça suspirou.

 

"Somos um casal moderno." ela disse.

 

"Não, somos um casal desinteressado. E não tem pra que continuar com alguém que você não se interessa só porque somos populares a ponto de nos considerarem uma meta." o rapaz confessou.

 

Penha suspirou, sabia que seu término com Cebola poderia diminuir sua popularidade ao julgar pela situação de seu grupo, porém sentiu um estranho alívio.

 

"Talvez você esteja certo." ela disse baixo.

 

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos e ele colocou as mãos nos bolsos.

 

"Não precisamos deixar de andar juntos. Nosso status aqui meio que depende disso, temos que mostrar uma maturidade. Ok?" ele disse e ela assentiu.

 

"Sim. E… lamento." falou e o rapaz sorriu e saiu apenas acenando.

 

Penha observou o agora ex se afastar sem conseguir se sentir triste pelo fim do namoro, muito pelo contrário, sentia-se aliviada por sua farsa estar a salvo. Com Cebola não era muito diferente já que finalmente entendeu o que Toni quis dizer e, talvez, até o que Mônica falou.

 

O dia acabou como um alívio para os adolescentes cansados, o dia havia sido muito cheio.


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Notas finais do capítulo

Maneki Neko é aquele gatinho que fica com uma patinha levantada.

Narcisa aparece na edição "Encontro Marcado", da primeira série.



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