Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 10
Capítulo IX - Estresse


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Após a quente segunda-feira, a semana pareceu passar mais depressa por conta de pequenas, mas muito demoradas e exaustivas, avaliações que os alunos foram submetidos. O argumento usado pela direção era que estavam os preparando para vestibulares desde o começo, seja do ano ou seja do ensino médio, e esse era seu diferencial das outras escolas.

 

Quando a quinta-feira chegou, e com ela o fim dos testes, a direção decidiu dar uma colher de chá aos alunos permitindo que fizessem suas atividades extras ou seus esportes que, inicialmente, haviam sido cancelados para a reposição de aulas. 

 

Era horário de almoço e o refeitório estava cheio de alunos que já faziam seus planos para o fim de semana que estava perto. Sentadas em uma mesa com desconhecidos que conversavam entre si, Magali e Mônica conversavam.

 

"Com esse tanto de testes eu nem tive tempo de te perguntar, Mô. Como foi o reforço com o Cebola? Comigo tinha um monte de puxa saco, então nem parecia ele." a veterana perguntou.

 

Mônica encarou a amiga.

 

"Magá, ele realmente parece outra pessoa em reforço. Ele 'tava sendo um cara legal, sabe? Nem parecia ser aquele cuzão de sempre, mas tem uma coisa muito estranha nisso…" a outra disse.

 

"O quê? Ele saber explicar matéria?" Magali perguntou.

 

"Não, ele me disse que o acontecia no reforço, ficava no reforço. Mas por que ele disse isso se ele 'tava sendo  gente boa?" Mônica questionou.

 

A veterana deu de ombros.

 

"Sei lá, vai ver ele precisa de uma máscara pra dar monitoria de inglês." ela disse.

 

"Não, eu acho que vai além. E você? O que você sabe sobre o Cascão que não disse naquele dia?" a outra perguntou mais baixo.

 

Magali riu.

 

"O que eu consigo esconder de você, Mônica? Bom, eu falei com ele antes de ter ido pro quarto e descobri que ele não quer namorar com a Gabi, só ela que quer!" confessou.

 

"E isso te deixa feliz, pelo visto." Mônica observou.

 

A outra deu de ombros enquanto desviava o olhar.

 

"Sei lá, eu me senti feliz em saber que ele não quer nada sério, não sei o motivo." explicou.

 

"Você tem um crush nele, ué." a novata falou simples.

 

"Mas como? Eu quase nunca falo com ele! 'Tá bom que ele sempre é legal comigo, mas se interessar por alguém por causa disso já é demais! Fora que ele é crush da minha amiga!" a outra comentou.

 

"Magali, essas coisas de paixonite não fazem sentido nenhum. Você pode do nada se interessar por uma pessoa só pela forma que ele te trata, e ele sempre te tratou bem quando ninguém mais tratava." Mônica lembrou.

 

"Então é só admiração." a outra disse e a amiga riu.

 

"Se fosse só admiração, você não teria sentido nada quando ele disse que não queria namorar com a Gabi. Não se maltrata assim, miga! Não é errado sentir atração por um cara feito o Cascão." Mônica disse se levantando.

 

"Que rolo!" Magali exclamou e a amiga riu.

 

"Essa é a vida amorosa. Vem comigo falar com o Nikolas?" a outra perguntou e a de cabelos longos assentiu.

 

"Claro, falar o quê?" perguntou também se levantando.

 

"Eu não consegui ir pro reforço na segunda e queria saber se ele pode me ajudar hoje pelo menos um pouquinho. Nunca vou entender como ele consegue ser um ótimo monitor sendo tímido." Mônica respondeu e Magali franziu o cenho.

 

"Tímido? Mas o Nikolas não é tímido!" ela disse e a outra riu.

 

"Claro que é, ele fica todo estranho quando eu falo com ele." Mônica explicou e a amiga riu.

 

"Acho que é por outro motivo, porque ele não é tímido, só não conversa com todo mundo da sala. Mas acho que é porque quando ele entrou teve um trote meio pesado." Magali revelou.

 

"Qual que foi?" Mônica perguntou curiosa.

 

"Pergunta pra ele! Talvez falando sobre isso, ele perca essa 'vergonha' por você, porque um cara que topa dar reforço não pode ser tímido, não." a outra riu ao dizer.

 

"Agora fiquei curiosa! Vamos lá." a novata disse deixando a mesa sem perceber que algumas pessoas que estavam lá sorriam enquanto as observavam.

 

                                              *

Em uma outra mesa, Xaveco e Tikara comiam enquanto olhavam para Nikolas, que, não muito longe, falava com a professora de matemática, que, ao que parecia, passava um sermão no rapaz. Assim que ela saiu, o dono dos dreads voltou à mesa.

 

"O que aconteceu? Aquela professora parecia brava."  o de cabelos lisos comentou.

 

Nikolas suspirou se sentando.

 

"Ela veio me perguntar sobre um relatório do reforço que ficou faltando. Quando eu disse que essa pessoa não participou de nenhum ainda, ela ficou puta por eu não ter avisado." explicou.

 

"Ela também vai ficar puta quando você tomar coragem de pedir pra Mônica te dar umas bitocas?" Xaveco zombou.

 

"Não tem graça, eu perdi ponto!" o de dreads disse procurando a pessoa com os olhos.

 

"Quem manda acobertar os outros?" Tikara comentou enquanto olhava em volta.

 

"Quem você 'tá procurando, Tikara? Faz tempo que 'tá olhando em volta!" o loiro perguntou.

 

O de cabelos lisos sorriu os encarando.

 

"Conheci uma mina muito gata que fez eu até esquecer como se fala!" respondeu com um riso.

 

"Quem é?" Nik perguntou curioso.

 

"Ela se chama Milena." o outro respondeu.

 

"Da nossa sala? Capitã do time que ajudou a gente no trote? Sério que você nunca tinha visto ela?" Xaveco perguntou e o amigo assentia.

 

"Nunca tinha prestado atenção, eu não olho muito além da lousa na sala de aula e no futebol nem dá, um errinho faz a gente ter que arrumar a quadra!" Tikara explicou.

 

"Acho que vocês dois são azarados, ela por ter esse bicho feio a fim, e você por ter se interessado pela pessoa que não dá chance pra ninguém desde o ano passado, quando a Denise acabou com o namoro dela." Nikolas revelou.

 

"Sério que ela fechou o coração? Que merda! Mas eu vou tentar, diferente de certas pessoas, eu não espero que as coisas caiam do céu." o de cabelos lisos comentou apontando com o queixo para o veterano.

 

Nikolas bufou.

 

"O que quer dizer com isso?" perguntou e o loiro riu interessado no que aconteceria ali.

 

"Você sabe muito bem! Fica aí esperando a Mônica adivinhar que você quer ficar com ela, não vai conseguir nunca!" Tikara falou.

 

"Por que esse medo, Nik? Medo do não?" Xaveco perguntou.

 

O rapaz abaixou o olhar e, antes que falasse alguma coisa, ouviu a voz feminina que o deixava nervoso.

 

"Oi, Nik! Oi, meninos!" Mônica cumprimentou e ele sorriu.

 

"Oi! Vi que não foi no reforço na segunda, tudo bem?" ele perguntou.

 

"Vim falar justamente sobre isso! Você poderia me ajudar pelo menos um pouquinho hoje? Eu preciso entender por que eu errei tanto em fração!" ela perguntou.

 

"Posso, sim. Mas infelizmente não seremos só nós dois." o veterano respondeu.

 

"Infelizmente, é?" Magali comentou baixo com um sorriso.

 

"É-é que assim não dá pra eu focar só em explicar pra ela, sabe?" o rapaz logo se explicou para a outra veterana que riu.

 

"Não precisa se explicar, Nikolas." Magali disse e ele sorriu.

 

"Ótimo, às duas como sempre?" Mônica perguntou.

 

"Sim! Na biblioteca!" o rapaz respondeu e ela sorriu saindo com Magali.

 

Os dois novatos riram do amigo.

 

"Ai, Nik… 'tava com a faca e o queijo na mão, amigão." Xaveco disse e Nikolas levantou.

 

"Me erra!" exclamou saindo em seguida.

 

                                          *

Enquanto isso, na mesa dos populares, o silêncio incomodava Sofia. Por mais que tivesse discutido com eles naquele dia, não conseguia simplesmente começar a andar com outras pessoas, e, sabendo disso, os colegas agiam como se nada tivesse acontecido. Exceto Denise, que a dona dos cabelos castanhos vinha ignorando e a ruiva sequer estava com eles.

 

Sofia observou o que cada um deles fazia: Toni, como sempre, flertava; Cebola olhava para Penha como se tivesse várias dúvidas na cabeça; e Penha parecia despreocupada enquanto comia.

 

"Por que vocês estão tão quietos hoje?" Sofia perguntou.

 

"Se a gente 'tá quieto, reclama. Se 'tá brincando com você, reclama também? O que quer da gente, Sofia?" Cebola perguntou mudando seu olhar para ela.

 

"Aquilo não era brincadeira, era ofensa." respondeu.

 

"Engraçado que só diz isso depois de ficar amiguinha daqueles lá. E ainda vem dizer que eles não fazem a sua cabeça." Toni comentou sem olhar para ela.

 

Sofia olhou séria para ele.

 

"Eles, né? Você não vai falar nada, Penha?" ela perguntou e a de cabelos longos levantou os ombros.

 

"O que você quer que eu diga? Se sempre te incomodou como eles falam, por que deixou? Eu já te disse uma vez que você tinha que se impor." ela falou indiferente.

 

A de cabelos curtos olhou decepcionada para eles e levantou com sua bandeja vazia em mãos.

 

"Vocês são podres!" exclamou.

 

"Alá! Já vai cuspir no prato que comeu! Até semana passada nós éramos seus amigos, foi só ouvir meias palavras de quem não gosta da gente que mudou de ideia. Na boa, Bujão, pensei que você fosse mais esperta." Toni disse enfim a encarando e ela franziu o cenho.

 

"Já disse que não quero que me tratem assim!" a moça relembrou.

 

O loiro levantou de cenho franzido e o casal ficou atento.

 

"Senão o quê? Vai sair do grupo? Vai em frente! Pode sair! Não vai fazer falta nenhuma!" ele exclamou alto.

 

"Toni! Para!" Cebola alertou.

 

"Tá chamando atenção pra cá!" Penha falou olhando em volta, de fato muitas pessoas os encaravam.

 

Em outra ocasião, isto é, se fosse uma discussão entre alguém de fora da panelinha com alguém de dentro, eles não se importariam com o que os demais pensassem. Mas havia uma imagem de que o grupo nunca brigava entre si. Ao passo que o casal parecia preocupado com isso, Toni e Sofia não davam a mínima.

 

"Foda-se, Penha! É até melhor que saibam o tipo de idiota ingrata que esse Bujão é!" o loiro exclamou zangado enquanto apontava para Sofia que bufou.

 

"Bujão é a sua mãe!" a moça rebateu e Toni pareceu se zangar mais.

 

"Quem você pensa que é pra falar da minha mãe?!" ele exclamou e logo Cebola levantou.

 

"Toni! Chega, cara!" o moreno exclamou sendo ignorado.

 

Sofia soltou a bandeja com força fazendo um som alto ecoar no refeitório que, de repente, ficou silencioso.

 

"Você acha que é o fodão, mas não é porra nenhuma! Aprende a respeitar os outros!" ela exclamou apontando o dedo para Toni.

 

"Posso até não ser porra nenhuma, mas pelo menos não sou uma pessoa que ninguém se interessa de verdade! Que só serve de escudo pros outros e quem se aproxima só quer se aproveitar  da posição que você ocupa! E adivinha?! Eles conseguem ser mil vezes mais interessantes que alguém que não tem personalidade nenhuma e faz tudo que os outros mandam porque tem medo de ficar sozinha! Vai, Sofia! Desmente! Fala que eu 'tô errado!" o rapaz confessou fazendo a moça perder a fala por alguns segundos enquanto uma rodinha havia se formado em volta deles.

 

As mãos da maior começaram a tremer.

 

"Filho da puta…VOCÊ É UM FILHO DA PUTA!" ela gritou antes de ameaçar avançar em Toni que se afastou enquanto Cebola gritava  para Sofia parar e Penha apenas gritava.

 

Sofia ia dar um passo quando sentiu seus braços serem segurados.

 

"SOFIA! CALMA!" a voz de Jeremias e Denise soaram atrás de si em uníssono.

 

Ela olhou para os dois que seguravam seus braços.

 

"Não vale a pena sujar seu histórico por causa desse mala!" o rapaz disse.

 

"Sofia! Amiga! Respira comigo!" Denise disse segurando na mão da amiga que apenas desvencilhou e correu dali.

 

A multidão comentava sobre o ocorrido até ouvirem a voz de Jeremias.

 

"Acabou o showzinho! Cuidem da vida de vocês! Eu vou ver se encontro ela." ele disse e depois se voltou  para Denise colocando a mão no ombro da moça sem nem perceber.

 

A ruiva assentiu.

 

"Eu vou logo depois! Tenho umas coisas pra resolver." Denise disse e Jeremias saiu.

 

A moça olhou para os amigos, que logo deixaram o refeitório arrastando Toni junto até a sala do zelador.

 

"Qual é o seu problema, Marco Antônio?!" a ruiva questionou furiosa.

 

"Eu não ia falar o final, mas ela xingou minha mãe!" ele se defendeu com as mãos para cima.

 

"E você nunca xingou a mãe de ninguém, né? Você tem merda na cabeça, Toni? Pra que tratar a menina desse jeito, caralho?" ela questionou.

 

Toni franziu o cenho e quanto cruzava os braços.

 

"Quem é você pra falar em como quem trata quem, Denise? Tu vive fodendo com a vida dos outros naquele jornal!" exclamou.

 

"Mas não meus amigos, né?" a moça disse.

 

"Você não percebeu ainda que ela não quer amizade com a gente mais? Ela 'tá se juntando com outras pessoas e mudando de ideia sobre nossa forma de agir. Acorda, Denise! Ou você corta os laços agora, ou daqui a pouco seu jornal vai perder o tipo de conteúdo que te colocou nessa posição que você ocupa por causa do que ela vai te falar. Sofia mostrou que sabe seguir suas convicções, independente do que a gente fale ou faça!" Toni falou sério e deixou a sala furioso.

 

Denise bufou e encarou o casal que a olhava.

 

"Vocês dois também! Viram a treta se formando e não fizeram nada!" repreendeu.

 

"Pra ela jogar aquela bandeja na minha cara? Nem fodendo!" Cebola disse.

 

"Medroso! E você é outra, Penha! A Sofia é sua amiga faz tempo! Você nem defendeu ela!" Denise ressaltou.

 

"Eu já disse pra ela se impor! Se ela não quis, problema dela." Penha disse.

 

A ruiva bufou.

 

"Então vão se foder vocês dois!" xingou levantando os dois dedos médios e deixou a sala também furiosa.

 

O casal também saiu de lá, mas demonstravam indiferença ao ocorrido. Enquanto isso, nem Jeremias e nem Denise acharam Sofia, que estava escondida em um canto afastado chorando e não queria conversa com ninguém.

 

                                          *

O dia foi passando enquanto os jovens faziam suas atividades, mas o assunto presente em todos os cantos era sobre a discussão de mais cedo. Na biblioteca, Nikolas respirou fundo pela quarta vez enquanto parava de explicar como se fazia um mínimo-múltiplo-comum.

 

"Gente, acho que hoje o reforço não vai render em nada. A gente deixa pra segunda mesmo." ele disse e os demais rapidamente deixaram o lugar.

 

O rapaz começou a fazer um  relatório que tinha que entregar à professora e nem havia percebido que Mônica ficou ali.

 

"Como foi o seu trote, Nikolas?" ela perguntou e o rapaz olhou quase assustado ao ouvir a voz dela.

 

"Meu trote? Por que isso de repente?" ele perguntou sem entender.

 

"É que me disseram que você passou por um trote pesado." Mônica tentou puxar conversa.

 

"Ah, foi num ano que eles pegaram pesado no trote com tinta." ele respondeu escrevendo, preferiu evitar o contato visual.

 

"Mas não tentaram te irritar ao longo do ano? Ouvi dizer que tem isso." a moça perguntou.

 

Nikolas suspirou, evitava falar sobre isso. Tanto que havia omitido para os amigos.

 

"Não foi nada de tão sério assim. Você tem problemas com aquele grupo de populares, né? Deve estar animada com a treta deles." tentou mudar o foco da conversa.

 

"Na verdade, eu não 'tô nem aí pra isso. E te perguntei sobre o trote pra você se soltar mais comigo. Você fica tímido só comigo, e não precisa!" ela exclamou e o rapaz sentiu um sorriso bobo formar em seus lábios.

 

"Ah, eu também não sei porque isso acontece só com você… talvez seja esse seu jeito." ele falou e a moça levantou a sobrancelha.

 

"Meu jeito?" ela perguntou.

 

"Ah… você sabe! Um jeito animado e corajoso de ser e também… ér… sei lá." o moreno disse e Mônica riu.

 

"Obrigada. Eu preciso ir agora, prometi à Gabi que iria jogar vôlei também. Obrigada pela ajuda mesmo que não tenha sido muito produtivo hoje." ela disse acenando ao sair e o rapaz acenou devagar.

 

                                           *

Enquanto isso, em uma sala, Cebola encarava incrédulo o tabuleiro de xadrez em sua frente. Havia acabado de levar um xeque-mate de Xavier e não acreditava nisso.

 

"Como você conseguiu ganhar de mim?!" questionou e o loiro deu de ombros.

 

"Ué, ganhando." o outro respondeu simples.

 

"Deixa de ser bobo! Você fez alguma estratégia que eu perdi!" Cebola disse tentando refazer algum movimento.

 

O novato revirou os olhos.

 

"Não é pra tanto. Se me dão licença, eu vou pra quadra." ele levantou.

 

"Não tão rápido! Eu quero uma revanche!" o veterano pediu.

 

Do Contra negou com a cabeça enquanto se levantava.

 

"Eu não vou ficar aqui vendo essa competição. Depois arruma tudo, Cebola." comentou.

 

"Não, Do Contra! Precisamos de um juiz!" Cebola exclamou.

 

"Vocês ficaram uma hora nessa partida! Eu não vou ficar aqui por mais uma hora, não!" o de topete falou.

 

"Mas vai ser coisa rápida." o outro veterano disse.

 

"Eu não 'tô a fim de jogar de novo, eu vou jogar futebol agora." Xaveco disse e Cebola impediu sua saída.

 

"E se a gente fizer uma aposta? Se você vencer, eu nunca mais faço trote com seu amiguinho Tikara. Se eu vencer…" falava até o loiro começar a andar.

 

"Eu não quero fazer nenhuma aposta, Cebola! É só um jogo, cara, não é o fim do mundo!" Xaveco disse antes de sair.

 

Cebola observou o cacheado de cenho franzido.

 

"Eita…com essa derrota, Cebola, você ficou em segundo lugar." um dos membros do grupo falou.

 

"Eu o quê?!" o rapaz questionou indo ver o caderno.

 

"Aqui, agora quem 'tá em primeiro é o Do Contra." o outro jogador falou apontando para o Do Contra, que revirou os olhos.

 

"Eu já disse pra me tirar do ranking! Eu não 'tô nem aí pra essa coisa de posição." ele disse cruzando os braços.

 

"Eu acho que agora que tem dois novatos, a gente devia zerar o placar." um rapaz, que vivia bajulando Cebola, ajeitou os óculos enquanto sugeria.

 

"Eu concordo!" Cebola disse com um sorriso e logo saiu da sala.

 

O rapaz que bajulava Cebola sorriu com a aprovação do ídolo, mas Ramona pensou sobre o assunto.

 

"Mas aí o Xaveco fica em primeiro." ela comentou e os outros garotos a encararam.

 

"Mas não 'tá valendo ainda, né, garota? Raciocina!" o rapaz disse.

 

"Só me diz isso porque o Cebola não vai pra primeiro?" a ruiva rebateu surpreendendo os demais.

 

"O quê? Não! É que… é que…" falava sem argumentos.

 

"Para de lamber as bolas do Cebola um pouco e seja coerente, cara! Já que zerou, Xaveco foi pra primeiro." um outro rapaz falou anotando no caderno 

 

Do Contra sorriu para Ramona enquanto tocava em seu ombro.

 

"Muito bem pontuado, Ramona! Hora de sair da sala, gente! Deixa que eu arrumo as peças." ele disse e os rapazes saíram discutindo sobre os rankings.

 

Ramona ficou na sala com Do Contra o ajudando.

 

"Ele sempre fica atrás do Cebola?" ela perguntou.

 

"Aqui é cheio de gente que lambe o chão por onde aquele grupo passa. E ainda mais agora que, pelo que ouvi por aí, rolou briga no grupo." o veterano disse.

 

"Sim! A Sofia brigou com eles. Ela quase partiu pra cima do Toni! Se Denise e Jeremias não tivessem corrido pra segurar ela, talvez ela teria batido no Toni." Ramona disse o que viu.

 

"Não 'tô muito surpreso, eu não sei nem se aquela gente é amiga entre si." Do Contra comentou.

 

Ramona deu de ombros.

 

"Sofia é uma pessoa legal, não sei por que ela anda com gente tão chata." ela disse.

 

"Não é todo mundo que gosta de ficar sozinho, talvez seja por isso que Sofia ande com eles. Mas ela parece ter caído em si." ele disse e a moça assentiu.

 

"E você, Do Contra? Não se incomoda em estar sozinho?" ela perguntou fechando um tabuleiro.

 

"Não, nunca me incomodou. Mas eu também não me incomodo em estar acompanhado." o rapaz respondeu.

 

A ruiva soltou um riso.

 

"Você sempre 'tá em um meio termo, percebeu?" comentou e ele riu.

 

"Eu já fui bem mais extremo, mas nem sempre vale a pena. Agora vamos terminar de arrumar essa sala!" ele disse e a moça assentiu.

 

                                       *

Na quadra, Tikara, vira e mexe, olhava em direção à arquibancada enquanto tentava mostrar sua melhor performance no jogo. Na direção para onde ele olhava, estava Milena junto de algumas outras jogadoras.

 

O grande problema de tanto olhar para a garota era que seu foco na quadra diminuía e isso fazia com que errasse passes. E isso não agradava Cascão.

 

"Tikara! Olha pra bola, moleque!" o capitão gritou pouco antes de o de cabelos lisos perder a bola para Jeremias e chutar o chão.

 

"Ai!" reclamou enquanto os demais membros do time riam.

 

"Fim de jogo, rapaziada! Tikara, fica que eu quero falar com você." Cascão disse e os outros vaiaram.

 

"Não só pra isso, pra arrumar a quadra também! Pra ficar esperto!" um outro falou dando um tapa no pescoço do rapaz.

 

"Tava com a cabeça onde, cara?" Titi perguntou.

 

"No jogo, ué!" Tikara respondeu.

 

"Errou a pergunta, Titi! Devia ter perguntado em quem!" um outro jogador disse fazendo o rapaz gelar, não queria que ninguém se metesse em sua maneira de chegar em Milena.

 

"Tá a fim de quem, Novato? A gente pode te ajeitar! É do vôlei ou do futebol?" Timóteo perguntou.

 

"De ninguém! Chatice!" o novato disse e os demais correram até o vestiário.

 

Tikara foi até a arquibancada onde sorriu para Milena, que esperava Gabriela. A cacheada devolveu o sorriso.

 

"E ai, Tikara? Melhor ficar esperto ou vai acabar no banco." ela comentou.

 

"Sua proposta ainda 'tá de pé? Se eu fizer umas manobras, certeza que esses caras todos mordem a língua." ele perguntou.

 

A moça assentiu.

 

"Claro. Mas eu não sei se vai dar certo, não quero desmerecer o Cas, ele é seu capitão." ela disse.

 

"Vai nada." o rapaz  negou.

 

"Tikara! Precisamos trocar uma ideia." Cascão se aproximou deles junto de outros atletas do vôlei que foram para a arquibancada.

 

"Tchau, meninos." Milena se despediu saindo em seguida com a loira, que ignorou Cascão.

 

"Fala!" Tikara disse.

 

"Cara, tu precisa focar no jogo! Eu não quero ter que te mandar pro banco assim de cara!" Cascão falava e o de cabelos lisos olhava para o balançar dos cachos de Milena.

 

"Aham." respondeu e Cascão, que estava de frente para ele, olhou para trás e pensou um pouco.

 

"Ah… então os caras 'tavam certos. Mas logo a mina que não quer nada com ninguém? Que falta de sorte…" balbuciou enquanto observava o rapaz ainda olhar na outra direção.

 

"Tikara, você não vai conseguir nem meter a bola na rede e nem ficar com ela se ficar só olhando! Durante o jogo então…" ele disse.

 

"Aham… espera, o quê?" Tikara disse e logo encarou o capitão ao perceber o assunto.

 

"Reparei que tu não para de olhar pra Mileninha." Cascão disse despreocupado.

 

"Ah… não, eu… a gente só… bom…" Tikara ficou sem fala, sabia que Cascão era amigo dela e queria fazer tudo por conta própria.

 

"Relaxa, não vou embaçar seu esquema. Mas foca na jogo! Ok?" ele pediu e o outro assentiu.

 

"Ok!" exclamou e foi ajeitar a quadra. O que Tikara não sabia era que mais uma pessoa sabia de seu interesse por Milena, e não era ela.

 

                                          *

Já era quase hora de os alunos jantarem quando Penha sentiu ser puxada por alguém e, ao reparar bem, percebeu ser Nikolas com um semblante nada bom.

 

"Que carra é essa?" ela perguntou.

 

"Você falou com a professora de matemática sobre ter inventado de fazer reforço no sábado?" ele questionou sem rodeios.

 

"Oi pra você também! E não! Por que eu falarria isso?" ela perguntou de braços cruzados.

 

"Porque como não teve um relatório seu, ela veio me xingar!" o rapaz respondeu.

 

"Eu não posso fazer nada." Penha respondeu despreocupada.

 

Nikolas bufou.

 

"Olha, Penha, você precisa fazer a sua parte! Eu não vou ficar me ferrando por sua causa!" exclamou.

 

A moça arregalou os olhos.

 

"Temos um acordo!" lembrou.

 

"Eu sei! Mas pelo menos conversa com a professora sobre sua situação, no nosso trato não tinha nada sobre eu perder pontos!" Nikolas exclamou.

 

A morena revirou os olhos.

 

"Parra de drama, garroto! Você tem nota boa!" ela exclamou.

 

"Não se trata só de nota! Se trata de responsabilidade! Se você não tem, eu tenho!" o rapaz rebateu surpreendendo a moça.

 

"Quem você pensa que é pra falar assim?" ela questionou olhando feio.

 

"Ninguém. Eu não sou ninguém!" o rapaz falou irônico dando as costas a ela.

 

"Ei! Não me ignorre!" a moça exclamou frisando seu olhar e ele sequer se virou.

 

"Ué, não é isso que você faz com todo mundo? Você não é a toda poderosa? Ser ignorada por um Zé ninguém não deve fazer diferença nenhuma a você. Recomendo que leve o reforço a sério, você já 'tá na mira da professora, as coisas podem piorar." Nikolas disse deixando a moça para trás com uma feição incrédula.

 

"Esperra, Nikolas! Honre o acordo, moleque." ela correu atrás dele.

 

"Eu 'tô honrando! Você que precisa fazer sua parte!" ele rebateu.

 

Assim que os dois viraram o corredor, trombaram com Xavier e Cebola que, por incrível que pareça, andavam lado a lado. O loiro parecia irritado.

 

"O que vocês dois 'tavam fazendo juntos? Já é a segunda vez que vejo isso!" Cebola perguntou de cenho franzido.

 

Os dois se entreolharam sem uma resposta.

 

"Ér… ela 'tava… eu 'tava…" o dono dos dreads falava olhando para todos os lados.

 

Xaveco também estava surpreso e curioso. Mas assustou quando Penha gritou.

 

"E o que você 'tá fazendo com esse menino aí? 'Tá tentando recrutar novos membros pro grupo? Isso daí já é demais!" Penha disse apontando zombeteira para Xaveco.

 

"Nossa, não precisa falar assim também." Xaveco disse ofendido.

 

"Se me dão licença, falou." Nikolas saiu rapidamente.

 

"Pera aí, Nikolas!" o loiro exclamou indo atrás do amigo.

 

"Xavier! Pensa no que eu te disse!" Cebola exclamou e o outro deu de ombros.

 

"O que tu 'tava falando com a Penha?" Xaveco perguntou ao amigo.

 

"Eu não 'tava falando com ela! Era no celular!" o outro respondeu.

 

"E enfiou onde esse celular? Porque você não 'tá com celular nenhum! Nem pode!" o loiro lembrou.

 

"Ai, Xaveco…" ele disse andando mais rápido sendo seguido por um risonho amigo.

 

                                         X

Ainda no corredor, Cebola olhava para a namorada de braços cruzados.

 

"E ai? Qual a desculpa da vez?" ele perguntou.

 

"Ah, qual foi? Doeu a cabeça e 'tá achando que é chifre? Relaxa, eu não sou dessas! Mas o que você 'tava fazendo com o Xavier?" ela devolveu a pergunta.

 

"O moleque manja de xadrez, quero uma revanche, mas ele não quer." respondeu.

 

"Ai, Cebola! Você queima seu próprio filme! Além de jogar um jogo de velho, fica atrás de um moleque aleatórrio feito esse Xavier." Penha comentou.

 

"Não é jogo de velho! E você é outra que fica atrás de gente aleatória! Já é a segunda vez que te pego com o Nikolas!" Cebola exclamou.

 

A moça bufou enquanto massageava as têmporas.

 

"Ai, Cebolácio! Eu não 'tô te traindo! Que coisa! Eu 'tô cansada! Só hoje o Toni e a Sofia quase mancharram nossa imagem e a Denise deve que vai ligar o foda-se. Se você não se preocupa, problema seu. Eu vou descansar agorra!" ela disse saindo e o rapaz bufou.

 

O fim do dia passou estranho. Alguns alunos, como era o caso de Sofia, simplesmente não quiseram  falar de certos assuntos com ninguém. Além disso, os boatos sobre uma possível abertura de vaga no grupo influente estava mexendo com a cabeça de muitos alunos, assim como uma estranha movimentação dos estudantes do terceiro ano que pareciam animados até demais.


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