Another Kiss And You'll Be Mine escrita por Anne Masen


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários no capítulo anterior e boas vindas a todos que estão acompanhando a história, boa leitura!



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— Não dava pra ter colocado uma roupa melhor?

Renée estava nervosa, e isso sempre fazia suas palavras saírem em sussurros ríspidos quando direcionadas a Bella, a única que ela não se importava que visse por trás da sua máscara de simpatia. Renée ficava assim quando a família de Charlie estava por perto, e sua forma favorita de extravasar os nervos era implicar com a filha sobre qualquer coisa insignificante que pudesse inventar, então quando ela percebeu pelo canto do olho que a mãe se aproximava de onde estava, um pouco afastada do restante das pessoas reunidas ao redor do túmulo de Charlie, Bella já sabia o que esperar. 

O motivo da vez era a roupa que ela escolheu naquela manhã para o aniversário de Charlie, celebrado com uma visita ao Cemitério de Forks para prestar homenagem, uma tradição da família Swan que fora mantida geração após geração, e envolvia familiares e amigos próximos.

Não que a mãe a estivesse repreendendo por achar que as roupas de Bella fossem um desrespeito a ocasião, a verdadeira preocupação dela era que a família do ex-marido percebesse que ela não levava nada daquilo a sério. Bella odiava o papel de viúva boazinha que Renée desempenhava em momentos como aquele, era baixo até mesmo para ela. Quando desceu para o café da manhã, os quadros de família estavam de volta na parede das escadas, como se nunca tivessem saído, e no sofá estava a manta que a vovó Swan bordou e presenteou em um natal. Tudo parecia claramente ensaiado, e Bella duvidava que realmente enganasse alguém, já que nem mesmo durante o casamento Renée foi uma esposa tão atenciosa. Não era como se a família fosse reivindicar a casa ou algo do tipo, não o fariam nem se pudessem, em respeito ao testamento de Charlie, mas ainda assim Renée achava melhor mantê-los do seu lado.

Bella passou os olhos rapidamente pelo vestido preto que a mãe usava.

— Para alguém que faz isso há tanto tempo, você ainda comete uns erros bem bestas. Deveria me agradecer.

Charlie fora uma pessoa reservada, seus aniversários costumavam ser uma comemoração modesta como sair pra jantar no seu restaurante local favorito, de forma que certamente toda aquela movimentação em seu nome já o deixaria desconcertado, mas uma expressão de luto tão óbvia como aquela seria algo impensável, se dependesse dele. Ele não iria querer que ninguém sofresse por ele, por isso Bella havia feito uma promessa a si mesma de não fazer do aniversário dele uma data melancólica, e tendo isso em mente ela usava jeans e a camisa quadriculada favorita de Charlie que ela guardara consigo, casual como ele gostaria que fosse.

Ela não poderia esperar a mesma consideração de Renée, cuja preocupação era passar uma mensagem para os outros.

— Não sei porque ainda me dou ao trabalho. Pelo menos vá ficar com todo mundo. — a mãe bufou, alisando o vestido bruscamente.

— Quer saber? Tem razão — Bella puxou a camisa pelos ombros e a amarrou na cintura, revelando a blusa azul de manga curta que usava por baixo. — Melhor assim, né?

A visão das tatuagens em seu braço provocou a reação esperada em Renée, que torceu a boca e desviou os olhos como se tivesse visto algo obsceno. Enfrentaria alguns minutos de frio se significasse ver a mãe tão desconfortável.

Bella não esperou por uma resposta, saiu na direção do grupo de pessoas que já começavam a se dispersar, tendo terminado de prestar suas homenagens. Quando o ambiente ficou tranquilo o suficiente, ela se ajoelhou diante do túmulo e conversou com o pai.

Desde que um acidente de carro provocou a morte dele, quando ela ainda estava na escola, Bella dedicava aquele momento para contar sobre a parte da sua vida que Charlie não pôde presenciar. Gostava de pensar que ele sabia que tudo o que fizera por ela não tinha sido em vão. Ele foi o primeiro e principal apoiador dela ser uma artista, desde quando ela era apenas uma criança que adorava desenhar, ele sempre garantia que ela tivesse os meios de praticar e se expressar, pois sabia o quanto isso a fazia feliz. E quando o interesse em tatuagem surgiu, e em pouco tempo evoluiu para uma paixão, o apoio dele não diminuiu. Charlie costumava dizer que contanto que ela estivesse feliz, poderia ser o que quisesse, e que ele estaria lá por ela pois era tudo o que importava para ele.

Desde então ela havia conquistado tantas coisas, tinha viajado a lugares e conhecido pessoas que a lembravam diariamente que ela tinha feito a escolha certa em seguir seu sonho, e em todos esses momentos ela pensava em Charlie, desejando que ele estivesse com ela. Durante a hora que passou no cemitério, seu coração se encheu com saudade e gratidão, e ao terminar, despediu-se colocando uma flor em cima da lápide, e seguiu sozinha para casa.

***

Bella aguentou um par de horas do almoço que costumava ser oferecido para os familiares e amigos na casa dos pais antes de se despedir de todos e se retirar para o quarto. Tinha tentado se manter ocupada conversando com os tios, primos e matando a saudade de Claire, sua avó paterna, mas era difícil aguentar Renée e seu teatro tão de perto, e sua paciência logo atingira o limite.

No andar de cima, aproveitou para adiantar algumas coisas para a semana de trabalho que teria pela frente. Voltaria para Seattle na manhã seguinte, e na parte da tarde estava cheia com sessões marcadas, então pelas próximas horas ela se debruçou sobre seu tablet e trabalhou nos modelos que precisaria.

Quando se deu por satisfeita, começava a escurecer lá fora, e ela tentou dormir um pouco, sentindo o cansaço do dia pesar o corpo, mas não conseguiu desligar a mente, seus pensamentos correndo para todo lado e para lugar nenhum ao mesmo tempo. Depois de quarenta minutos encarando o teto, recorreu a um banho quente pra ajudar a relaxar, depois tentou uma xícara de chá e até — já não sabendo mais o que fazer consigo mesma e inquieta demais para tentar meditação — um livro de jardinagem que encontrou jogado na cômoda, no qual ela não tinha o mínimo interesse. Ainda assim, a inconsciência não veio.

Depois de muito vagar, seus pensamentos recaíram na ida a McCarty’s. Sentando-se na cama, pegou o celular e abriu o Instagram, iniciando uma busca nos seus seguidores. Lá estava, o perfil profissional do estúdio. Ela tocou no retângulo que dizia “seguir de volta”.

Começou a olhar as fotos, até que uma lhe chamou a atenção: um close up do que parecia ser um ombro, masculino, onde um gato preto fora tatuado em estilo aquarela. Ela gostou da noção de movimento que o desenho transmitia, em especial pela cauda do animal, que tinha a forma de uma pincelada. Não havia nenhuma identificação do cliente na legenda ou na foto. Sorriu quando um pensamento lhe cruzou a mente. Tocou duas vezes na tela para curtir e escreveu nos comentários: Ficou incrível! E outro em seguida: Não sejam tímidos, podem marcar o Edward.

Um minuto depois, enquanto ela seguia curtindo as fotos do perfil mais antigas do perfil — pro inferno a etiqueta das redes sociais —, uma notificação desceu do topo da tela. O usuário era diferente.

@edwardcullen mencionou você em um comentário: Você acabou de me fazer perder $20

Ela escreveu de volta: Como assim? (E também: desculpa?)

Enquanto esperava, ela abriu o perfil de Edward. Clicou em “seguir de volta”. Etiqueta de rede social e tal. A notificação logo veio com um apito.

@edwardcullen: Talvez houvesse uma aposta rolando de que não descobriram que sou eu na foto

Ela riu. Alto. O som repentino ecoou pela casa silenciosa.

Voltando ao perfil dele, ela abriu o chat de mensagens diretas.

Eu retiro minhas desculpas

Você estava pedindo para perder esse dinheiro

Ela observou os três pontinhos surgirem enquanto ele digitava.

Meu orgulho quer dizer que pareceu uma boa ideia na época

Mas eu acho que você está certa

Edward, eu fiz o comentário de brincadeira com base na meia hora que passei na sua presença, e foi o suficiente pra você perder

Eu ESTOU certa

Hahahah Ok, eu me rendo

Mas se não fosse pela Abigail eu poderia ter passado despercebido

Não tente culpar um animal inocente, essa derrota é só sua

Uma pausa.

Me diga que não foi você que deu a ideia da aposta

Meu Deus. Ok, eu declaro autossabotagem.

Ele curtiu a mensagem e mandou alguns emojis chorando de rir.

Ela pairou com os dedos sobre o teclado, pensando no que dizer em seguida. Deveria ter pensado melhor antes de iniciar uma conversa; agora não sabia como encerrar o assunto sem ser com um silêncio constrangedor. Releu as mensagens, escreveu algumas vezes e depois apagou, até lembrar que ele podia ver quando ela digitava. Xingando, ela bloqueou a tela e jogou o celular na cama. Talvez ela não precisasse dizer nada, só deixar quieto do jeito que estava. A curtida que ele dera na sua mensagem era a linguagem universal de “esse assunto pode descansar em paz”. Etiqueta de redes sociais. Não precisava se preocupar.

Ela cruzou os dedos sobre a barriga e varreu o quarto com os olhos, esperando que o sono a levasse.

Pegou o celular outra vez.

Hey, vocês ainda estão no estúdio?

Fechando agora. Por que?

Pensei em ir aí

Pode vir

Mesmo?

Sim, privilégios de tatuadora famosa.

Ha! Boa tentativa. Sua aposta ainda é horrível. Tô indo.

Quando saiu do carro no pequeno estacionamento que ficava na lateral do estúdio, uma caixa de pizza em mãos, achou que talvez tivesse exagerado. Agora é tarde demais, pensou. No pior dos casos, seu presente de fim de expediente serviria para quebrar o gelo.

Ela equilibrou a caixa em uma mão para bater na porta da frente. O neon da placa de aberto estava desligado, assim como as principais luzes lá dentro, deixando o lugar na penumbra. Ela primeiro ouviu, depois viu uma silhueta que parecia ser Edward se aproximando, e ela se preparou para fazer um comentário engraçado sobre a pizza, mas quando a porta se abriu, as palavras morreram em sua boca.

— Uau, pelo visto o privilegiado sou eu — as sobrancelhas dele se ergueram, o olhar caindo sobre a pizza.

Era, de fato, Edward, mas essa versão dele usava óculos de grau estilo vintage. Ela não achou que ele pudesse ficar mais bonito, mas estava tão enganada.

Ela piscou, lutando para achar a voz.

— Desculpa, Clark Kent, estava esperando outra pessoa .

Ele revirou os olhos e deu um passo para trás para deixá-la entrar.

— Muito original, Bella.

Ela entrou e esperou que ele trancasse a porta atrás deles, depois entregou a pizza quando ele se ofereceu para levar. Ela conseguia enxergar bem com a luz que vinha dos fundos, mas não disse ou fez nada para impedir quando sentiu a mão dele delicadamente envolver seu pulso para guiá-la estúdio adentro. Uma versão intensificada da corrente elétrica que sentira nas mãos concentrou-se no ponto em que eles se tocavam durante os segundos que levaram para cruzar a recepção, seguindo pelo corredor até um escritório na parte de trás do estúdio.

— Emmett, olha quem voltou — Edward anunciou.

Emmett estava curvado sobre uma mesa grande de madeira em meio a um pequeno caos organizado que ela conhecia muito bem a julgar pelos rascunhos, material de desenho e fotos de referências, além de um tablet e um notebook.

— Edward, eu juro por Deus que se essa gata… Bella! — foi impossível não retribuir o sorriso de covinhas de Emmett.

— Oi, grandão, trouxe um presente pro vencedor da aposta mais fácil do mundo.

Com isso, a mão de Edward deu um leve aperto em seu braço para chamar sua atenção, e indicou com a cabeça o canto da sala. Ele foi na frente, e pousou a pizza na mesinha de centro retangular ladeada por um sofá de três lugares e uma poltrona de couro. Ela tomou um lugar no sofá enquanto ele, só então soltando seu pulso, foi até o frigobar.

— Lição número um — ela disse olhando para Emmett. — Ninguém produz nada de barriga vazia, venha logo aqui antes que esfrie.

Ele riu e levantou para se juntar a ela, escolhendo a poltrona. Edward voltou com três garrafas de Coca-Cola.

— Nada de álcool até que todos terminem o dever de casa — explicou.

Emmett resmungou alguma coisa sobre aflorar a criatividade mas pegou uma garrafa. Edward sentou-se ao seu lado no sofá e pousou as duas outras garrafas na mesinha à frente deles.

Ela gesticulou para que Emmett fizesse as honras, e ele prontamente se serviu primeiro, seguido de Edward. Aproveitou para tirar o casaco enquanto esperava sua vez, e quando Edward recostou-se de volta ela teve a impressão que ele a observava, em especial seus braços e ombros nus graças a blusa de alça que usava. Como estava sentado à sua esquerda, ele tinha a visão completa das tatuagens que cobriam seu braço em uma espécie de colagem imagética construída ao longo dos anos. Ela imaginou, com uma onda de satisfação, se ele apreciava a visão dela da mesma forma que ela apreciara a sua.

A noite foi preenchida com histórias das suas vidas enquanto artistas tatuadores, de estilos preferidos a casos bizarros e engraçados com clientes. Bella se surpreendeu com a facilidade com que a conversa fluiu entre eles, considerando o pouco tempo que se conheciam. Edward era um ouvinte paciente, enquanto Emmett fazia mais o tipo curioso, ávido por qualquer detalhe que pudesse extrair dela. Os dois ouviram atentamente ela contar — a pedido deles — a história de como seu interesse por tatuagem tinha começado. 

Ela contou que achou tatuagens interessantes desde a primeira vez que viu uma, mas que o momento que mudara tudo para ela aconteceu quando ela tinha doze anos, e alguns garotos da escola estavam pegando no seu pé, zombando de seus desenhos, até que uma mulher que passava por perto interviu em sua defesa. Ela era coberta de tatuagens dos pés à cabeça, do jeito que Bella só tinha visto na TV, e geralmente em homens. Ela ameaçou chamar a direção caso os meninos não a deixassem em paz e isso foi o suficiente para assustar os meninos. 

Ao se abaixar para ajudar Bella a recolher os desenhos que eles haviam jogado no chão, a mulher abriu um sorriso analisando um deles, e disse que se ela tivesse espaço para mais uma tatuagem, adoraria que fosse um desenho como o dela. Bella só conseguiu sorrir timidamente, completamente impressionada com a mulher que parecia ter saído diretamente da sua imaginação. A partir desse dia ela ficara obcecada com a ideia de ver sua arte no corpo de alguém, e passara a aprender tudo o que podia sobre o assunto.

Ganhara seu primeiro kit de tatuagem aos 15 anos, um presente do pai, e que ele fora a primeira pessoa que aceitou ser sua cobaia, permitindo que ela lhe fizesse uma tatuagem na parte interna do seu calcanhar. Contou também das idas até Port Angeles depois da escola em busca de profissionais dispostos a ensiná-la o que sabiam, desde a técnica a como as coisas funcionavam em um estúdio de verdade, e como nos estúdios mais tradicionais ela não era levada a sério por ser uma garota e por ser tão jovem, mas que ela teve a sorte de encontrar outros que escolheram vê-la pelo seu potencial.

Bella contou, resumidamente, como as coisas ficaram difíceis depois da morte de Charlie, levando-a a quase desistir de tudo, e como levou quase um ano até que ela recuperasse a vontade seguir com seu sonho, mas que, uma vez que isso aconteceu, fizera dele sua maior prioridade.

Precisou arranjar um emprego na loja de ferramentas do pai da melhor amiga, em parte para ajudar nas despesas da casa, mas principalmente para que não precisasse mais depender financeiramente da mãe, para a qual seus planos de tatuar sempre foram um desperdício de tempo e dinheiro que não a levaria a lugar nenhum, e que certo dia decidira não destinar mais um centavo a isso. Ela não precisou entrar em detalhes de como Renée reagiu a sua decisão de não fazer faculdade e usar as economias que Charlie deixara em seu nome para investir na carreira de tatuadora.

As coisas melhoraram quando ela encontrou Rosalie em uma convenção em Seattle, aos vinte anos. Rosalie era apenas dois anos mais velha, há alguns meses se tornara tatuadora profissional, e pretendia abrir um estúdio próprio no futuro próximo: ela tinha o dinheiro graças a família afortunada, e só precisava de outros artistas interessados em formar parceria. A afinidade entre as duas foi instantânea, e no mês seguinte, depois de provar que ela valeria o investimento, Bella dizia um adeus definitivo a Forks para dividir um apartamento com Rosalie em Seattle, tornando-se aprendiz dela pelo próximo ano e meio. Uma vez que fora devidamente licenciada a atuar como tatuadora, puderam executar a parte final do plano, e meses depois oficializaram a parceria com a abertura do estúdio.

— O resto é história.

A caixa de pizza estava vazia, a mesa abarrotada com garrafas vazias e uns pacotes de guloseimas que Emmett em certo momento tirara de um esconderijo “secreto” — um pote na segunda gaveta da mesa, mas ele não sabe que eu sei, Edward confidenciou a ela em voz baixa. Para seu espanto, o relógio na parede dizia ser quase dez da noite — nem sentira o tempo passar. 

Na verdade, sentia-se curiosamente desperta para alguém horas antes não conseguia dormir. Os dois a fitavam, meditando sobre o que ouviram. Quando o silêncio ficou insuportável, bateu com uma mão no espaço entre entre ela e Edward no sofá.

— Você, sua vez.

Ele piscou, parecendo despertar de um transe. Edward estava sentado na outra ponta do sofá, com uma perna dobrada em cima do estofado para que tivesse o corpo virado para ela. Ele recolheu o braço antes apoiado por cima do encosto do sofá para ajustar os óculos no rosto e passar a mão no cabelo. Ela guardou o combo de gestos na memória.

— Não há muito o que dizer.

— Vamos, Edward, se apresente para a classe — ela usou sua melhor voz de professora. — Não precisa ser um relato épico, vou me contentar com lugar de nascimento e seus medos e desejos mais profundos.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Bom, desse aí eu conheço até demais. Se me dão licença, preciso terminar um projeto pra amanhã. Sóbrio. — Emmett disse a última parte fuzilando Edward com os olhos enquanto levantava e voltava para sua mesa de trabalho, levando consigo um pacote de doces.

Edward não deu atenção ao amigo, tinha os olhos ainda fixos nela. Bella se considerava boa em manter contato visual, mesmo com estranhos, mas nunca conheceu alguém como Edward, começava a ter a sensação que se olhasse para as íris cor de esmeralda por tempo suficiente, se perderia ali.

Ela desviou o olhar para chamar sua atenção de novo. Edward inspirou profundamente e soltou as palavras de uma vez

— Nasci em Chicago, mas minha família veio para Forks depois que meu pai morreu quando eu tinha 10 anos. Minha irmã mais nova tinha acabado de nascer, então mudamos para ficar mais próximos à família da minha mãe, que é daqui. Terminei a escola aqui, mas voltei para Chicago para fazer faculdade. Pretendia me tornar médico como o meu pai, mas no meu último ano percebi que não era o que eu queria de verdade e decidi não fazer o teste de admissão para a faculdade de medicina. Depois da graduação, voltei para casa. O resto é história.

Pela primeira vez desde que se conheceram, Edward deliberadamente evitou seu olhar.

— Você e Emmett se conheceram na escola? — Bella perguntou.

— Sim, sempre fui meio introvertido então tive dificuldade de me adaptar quando cheguei, mas depois dele insistir muito, nos tornamos grandes amigos — o sorriso de Edward na direção de Emmett foi zombeteiro. — Praticamente meu único amigo, pra ser sincero. Quando voltei ele já morava no apartamento no andar de cima, com intenção de transformar o andar de baixo no estúdio, mas estava a procura de alguém para dividir as despesas do aluguel. Eu não queria voltar para casa dos meus pais, então ajudamos um ao outro.

Bella assobiou. Agora entendia o tempo que eles ficaram processando a história dela.

— Atendi a pelo menos um dos seus pedidos — ele apontou.

— Ex-quase médico. Caramba. — ela olhou em volta. — Então agora está feliz aqui? Você faz mais alguma coisa além de ficar na recepção?

— Como o Emmett? Quer dizer, aprendi o básico no tempo que estou aqui, mas não tanto assim. Pratico arte digital no meu tempo livre, mas minha veia artística acaba aí.

— Por que?

— Bom, você acaba tendo muito tempo livre na recepção-

— Não, por que “acaba aí”? — ela o interrompeu. — Já considerou aprender a tatuar pra valer?

Ele franziu o cenho.

— Não acho que eu leve jeito.

— Nem eu levei quando comecei, é uma questão de prática. Meu ponto é sobre abrir os horizontes — argumentou com delicadeza. — Posso ver seus desenhos?

Ele foi pegar o tablet que ela vira na mesa de Emmett, parecendo meio zonzo com o curso que a conversa tinha tomado. Bella sentia uma excitação na boca do estômago.

Ela não precisou olhar os desenhos por muito tempo para confirmar sua suspeita. Ela garantiu que ele tivesse uma vista clara do seu rosto quando falou.

— Edward, sua arte deveria estar no corpo de alguém. O que te impede de dar um passo a mais? Por que não tentar? Você claramente tem o talento.

Ela viu o rosto dele ficar gradativamente vermelho. Ele olhava para o tablet em seu colo.

— Foi você que fez o design da sua tatuagem de gato? — Ele assentiu. — Edward!

Edward riu quando uma bolinha de papel a acertou na cabeça. Emmett, que usava um fone de ouvido headset, tinha o dedo indicador colado à boca, pedindo silêncio. Ela mexeu a boca em um pedido de desculpas mudo.

— Eu realmente acho que você deve se dar essa chance, a não ser que algo te prenda aqui. Você tem planos de voltar a estudar ou algo do tipo? Um relacionamento?

— Não — ele bufou, o rosto ainda levemente corado.

Uma parte do seu cérebro guardou com atenção especial a negativa para a segunda pergunta.

Bella jogou os braços para cima e deixou que caísse em seu colo, como se dissesse “tá esperando o que?”. Quando ele ainda assim não disse nada, pensou que talvez tivesse exagerado na animação, acabando por sobrecarregá-lo sem querer.

— Tá tudo bem não saber a resposta. — ela tentou amenizar. — Só prometa que vai pensar nisso.

— Você é mesmo apaixonada por isso, né? — o sorriso torto dele apareceu. Ele sustentava seu olhar novamente.

— Aposte nisso na próxima vez — ela sorriu de volta.

A conhecida eletricidade pairava no ar entre eles. Bella se viu forçada a desviar o olhar quando ficou intensa demais.

— Já é tarde, é melhor eu ir.

Os cantos da boca dele se inclinaram para baixo, mas ele assentiu, compreensivo.

— Você tá de carro?

— Sim, está lá fora. — respondeu ela, se levantando.

Antes que ela pudesse registrar o movimento, ele lhe estendia seu casaco, segurando a peça aberta para que ela passasse os braços. Virando-se de costas, ela o fez, sussurrando um “obrigada” enquanto ele deixava o tecido cair suavemente em seus ombros. Edward também ajeitou seu cabelo, os dedos roçando seu pescoço só por um segundo, mas o suficiente para fazer sua pele formigar.

— Eu te acompanho. — ele disse simplesmente, alheio a que aquele toque inofensivo provocara nela. Ela assentiu, tentando clarear a cabeça.

Ela se despediu de Emmett e Edward a levou até seu carro. Parando ao lado do veículo, Bella estendeu a mão para ele.

— Obrigada por me receber, vocês são muito receptivos com as celebridades que vem aqui — disse ela, piscando um olho.

Ele riu, pegando sua mão.

— Honrado — ele fez uma pequena reverência, levando sua mão aos lábios e a beijando, o tempo todo com o olhar fixo nela.

    Bella piscou, enquanto a sensação reverberava através dela. Era desconcertante como eram os pequenos gestos dele que pareciam afetá-la mais.

    Edward abriu a porta do motorista para ela e Bella entrou.

    — Eu vou voltar para Seattle amanhã — se pegou dizendo.

    Edward assentiu, inclinando-se um pouco para vê-la melhor pela janela, uma expressão pensativa no rosto.

    — Pretende voltar?

    — Não por um tempo, não.

    — Bom, tenho certeza que nos veremos de novo — ele disse.

    — Eu gostaria disso.

    Ele tinha os olhos fixos no seu rosto, como se para memorizá-lo. Ela se viu fazendo o mesmo. Ele esperou que ela manobrasse para fora do estacionamento, e ao tomar a rua principal a caminho de casa, ela olhou de relance para ele algumas vezes pelo retrovisor, imaginando quando esse dia chegaria.


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Notas finais do capítulo

A leitora em mim fica querendo pegar a cabeça dos dois e dizer "agora beijem", mas o lado autora adora um "vem aí" hahahah

Não deixem de comentar, até mais!



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