Após o Despertar escrita por Matheus HQD


Capítulo 4
Capítulo 4: Tudo sob controle




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798278/chapter/4

Mari não demorou a decidir que iria para a escola próxima de sua casa, morava a quatro quarteirões de uma, e preferia ir até lá para se manter segura do que continuar em casa com o temor rondando seus pensamentos sobre algo invadindo sua casa, ela ainda teve um breve pensamento que, caso sua mãe estivesse viva, e chegasse até a casa, provavelmente a procuraria na escola em seguida, como não queria nutrir falsas esperanças, ela logo se focou em arrumar uma mochila com seus pertences que considerou essenciais, tomou o banho mais rápido de sua vida, e vestiu algumas roupas leves por causa do calor.

Ao se olhar no espelho do banheiro enquanto escovava os dentes, ela começou a se lembrar de filmes e animes em que o protagonista da história precisava encarar um mundo perigoso, ela quase sorriu, até se lembrar do medo que sentiu no dia anterior e baixou o olhar. Ela terminou de escovar os dentes e também guardou a escova na mochila, pensou como não queria ter medo das coisas lá fora, voltou a encarar sua figura refletida no espelho e tentou fazer uma cara de confiante, ela olhava para sua própria imagem e tentava buscar as semelhanças com sua mãe que sempre pareceu uma mulher forte pra ela, o tom da pele negra era similar, o formato do queixo também, mas os penteados definitivamente eram o maior diferencial, a mãe com seus cachos até a altura do ombro, a filha com seus dreadlocks.

A garota enfim botou a mochila nas costas, pegou novamente a vassoura enquanto pensava “vai que eu preciso pra... sei lá...”, e se dirigiu ao portão da entrada da casa com as chaves na mão, ela olhou para sua casa por alguns segundos, e girou a chave na fechadura do portão abrindo-o lentamente. A visão que Mariana teve conseguiu surpreende-la, além das marcas de pneu no asfalto e uma certa confusão de alguns objetos e lixo jogado na rua, as machas em um tom vermelho escuro eram o que se destacavam, e no portão dela haviam muitas marcas na mesma tonalidade daquele liquido já seco junto as partes mais pressionadas e levemente amassadas, semelhantes a murros, que foram dadas contra o metal.

A jovem olhou para ambos os lados de sua rua, mas não via sinal de mais ninguém andando por ali, talvez tivessem saído, ou talvez assim como ela estivessem se trancando dentro de casa também, seja como for, ela andou até a calçada lentamente, fechou o portão e trancou, torcendo para que eventualmente, mesmo que demorasse bastante, pudesse voltar para casa. Então seguiu caminhando em direção a escola tentando ficar atenta a tudo ao seu redor.

A caminhada era boa, embora o cenário vazio fosse meio mórbido, ela apreciou o fato de poder caminhar fora de seu próprio lar. Mari também notou que em algumas das casas, era possível notar certos movimentos e atividades pelas janelas, e com o silêncio da rua, ela até pode ouvir algum jornal na televisão dentro de alguma das casas, de fato algumas pessoas estavam em suas casas, quando o portão de uma casa alguns metros à frente se abriu subitamente ela até tomou um pequeno susto, e não tinha para onde correr e se esconder por ali, a tensão subiu, mas se aliviou no instante em que ela viu uma família saindo pelo portão de uma das casas, eles também pareceram se surpreender ao ver a jovem, mas a cumprimentaram ao reconhece-la.

Mariana não conhecia nenhum deles por nome, mas já havia os visto várias vezes pelo bairro, principalmente quando saiam para passear com Zeca, um cachorro vira-lata adotado por eles desde que era um filhote, o nome do animal de estimação sim ela sabia e fazia questão de chamar a atenção e o afagar quando passava perto. O homem, já apresentando as marcas no rosto de alguém que passou dos 40 anos, e cabelos tomando tons grisalhos se apresentou como Alberto; a esposa que parecia estar na mesma faixa de idade, porém com todos os fios de cabelo em cor chocolate, era Ellen, ela puxava uma mala com rodinhas que parecia estar bem lotada com o feixe se esforçando para mantê-la fechada; o adolescente que segurava Zeca pela coleira e foi o último a sair da casa, aparentava ter uns 15 anos, e foi apresentado pelo pai como Tiago.

— Eu sou Mariana. Oi Zeca! — Ela exclamou quando cachorro se aproximou latindo duas vezes e depois ficou cheirando a perna dela.

— Nos ouvimos no rádio mais cedo que as pessoas deveriam começar a ir para as escolas o quanto antes, você está indo pra lá? — Perguntou o chefe de família.

— Sim, eu li sobre isso numa notícia que me mandaram pelo celular, eu preferia ir pra lá a ficar lá em casa mais tempo.

— Você estava sozinha em casa? Você não mora com sua mãe?

— É... é que eu não tenho notícia nenhuma dela a quatro dias...

Ellen percebeu como a jovem desviou o olhar e seu timbre de voz baixou enquanto ela respondia, ela então preferiu não tocar no assunto e acenou para com a mão para que todos fossem andando de uma vez.

— Entendo... Bem, vamos logo pra lá, não parece que todos do bairro estão com intenções de ir por agora, mas eu gostaria de chegar logo lá.

No caminho até a escola os quatro foram conversando sobre tudo que tem vistos nos noticiários, e a experiência vivenciada por Alberto ajudou a garota a saber um pouco mais do que aconteceu do ponto de vista de outra pessoa. O homem de voz grossa contou que estava no ônibus voltando do trabalho quando escutou de longe uma explosão, ao olhar para trás viu a cortina de fogo que subiu não muito longe de onde ele embarcou no ônibus dez minutos antes, ele observou enquanto viaturas policiais e caminhões do bombeiro se dirigiam em direção ao centro, ele comentou como estava aliviado naquele momento em pensar em sua esposa trabalhando em Home Office atualmente e como era bom que seu filho também não estivesse naquela região.

Chegando no bairro deles, tudo ainda estava normal, no dia seguinte entretanto, os transportes públicos não estavam rodando devido a todos os pontos obstruídos no trânsito, quando ele foi até a padaria as pessoas ali comentavam que os números de chamadas para polícia, bombeiros e Samu em alguns momentos até obstruíam as linhas, e o irmão do caixa da padaria que trabalha como enfermeiro havia dito que os hospitais estavam lotando com feridos e pessoas com histórico psiquiátricos tendo surtos mesmo estando sob medicação. Ao entardecer da noite anterior Tiago foi dar uma volta com Zeca aproveitando para ir até a padaria comprar algumas coisas que sua mãe havia pedido, mas no caminho ele viu uma pessoa estranha segurando uma faca indo até a padaria, o adolescente ouviu sons de luta e alguns gritos vindos de lá então voltou correndo para casa pra contar aos pais o que aconteceu, durante a madrugada Ellen alegou ter ouvido sons na rua como se fossem objetos sendo empurrados ou arrastados, toda essa situação fez a família seguir o indicado pelo radialista e seguirem para a escola, a qual só faltava caminhar por mais  um quarteirão.

Se aproximando do quarteirão da escola eles já podiam ver três viaturas policiais próximas a entrada da escola, e além disso, um pequeno grupo de pessoas que também vinham aos poucos pela outra esquina, ainda assim, eles não totalizaram nem duas dúzias de pessoas, contando os policiais ali presentes para coordenar os civis. Não demorou para ficar evidente que os oficiais estavam se esforçando para auxiliar as pessoas, mas também não tinham muita noção de tudo que acontecia, só seguiam as ordens e orientações que lhes foram passadas. Dentro da escola maridos, esposas, e filhos dos oficiais atuando do lado de fora já tentavam se organizar e recepcionavam quem vinha chegando.

Mariana era esperta e logo se deu conta, até os altos escalões deviam estar tentando se organizar da maneira mais rápida e improvisada possível, e se tantas decisões estavam tentando ser tomadas de uma forma acelerada, é porque eles previam algo pior a longo prazo. A garota estava correta em sua linha de raciocínio, porém, nem ela nem os mais estudiosos da humanidade poderiam prever todas as mudanças que iriam ocorrer e nem o quão duradouras todas elas seriam.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo demorou um pouco a sair porque tive muito trabalho nas últimas semanas. Mas já iniciei parte do capítulo 5 e espero que tanto ele quantos os outros possam ser escritos e postados em uma frequência razoável.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Após o Despertar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.