Chuva de verão escrita por Juillet


Capítulo 5
Capítulo 5




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Os próximos treze anos da minha vida foram inesquecíveis.

Com os recursos e conhecimento de Alberto, ele me mostrou lugares por todo o mundo. Dias que passávamos em quartos de hotéis dormindo, conversando, lendo livros e jogando jogos de cartas e de tabuleiro, e noites visitando qualquer lugar que parecesse interessante. Eu mantinha contato mensal com minha família através de cartas, e aparecia com Alberto para vê-los ao menos uma vez ao ano. Eu sempre apresentava-o como meu companheiro de viagem, mas acredito que minha mãe suspeitava que havia algo além da amizade entre nós. Não importava, já que todos gostavam dele e éramos sempre muito bem recebidos. 

Eu tive diversos hobbies: pintura, instrumentos musicais, alguns esportes e até cozinhar. Alberto queria que eu experimentasse tudo o que havia para experimentar, assim como ele teve oportunidade de fazer em todos os seus anos de vida. Conhecemos pessoas de todos os gêneros e tamanhos, hábitos e costumes. Eu me via como uma esponja capaz de infinitamente absorver tudo o que estivesse ao meu redor. 

Quanto mais perto da minha hora de partir, menos nós pensávamos ou falávamos sobre isso. Era inevitável, então eu não sentia que precisava ser discutido. Quando eu comecei a ter os sintomas e recebi meu próprio diagnóstico de Papulária,  Alberto veio até mim e me ofereceu a possibilidade de ser como ele. Eu pude ver em seus olhos que ele não queria isso, mas sentiu que precisava me fazer a proposta de qualquer forma. Naquele momento, eu segurei o rosto de Alberto e sorri para ele. 

— Eu tive uma vida maravilhosa por sua causa. Você sabe que aceitar essa proposta seria uma forma de egoísmo que eu já não mais preciso ter. Está na hora de nós descansarmos, Alberto. Não te farei passar pelo que minha família e eu passamos com meu pai. Assim que meu estado piorar, irei até uma clínica e acabarei com tudo.

— Estes foram os anos mais longos e ao mesmo tempo mais curtos da minha vida, Francisco. Eu não quero me despedir deles, mas eu conheço os dois lados da moeda. 

Eu puxei Alberto para mais perto e beijei sua bochecha suavemente, deixando meu hálito quente aquecer sua pele fria.

— Eu sei. O direito de se despedir desse mundo também é seu, não vou te tirar isso.

Alguns meses depois, antes de ir para a clínica, juntei todos os meus diários escritos desde que nós nos conhecemos em uma caixa. 

Eu não sabia o quão mais longa seria a vida de Alberto, mas queria que ele pudesse se lembrar da nossa.


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