Would You Dare? escrita por Drunk Senpai


Capítulo 4
Como Não Se Afogar




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Sob a luz direcionada do banheiro, a moça observava atentamente a imagem refletida no espelho: seus cílios mais volumosos com a ajuda do rímel, em sua pele, a base leve cobria qualquer imperfeição que pudesse haver em seu rosto. Apertou levemente os lábios um contra o outro. Com o tint eles estavam agora delicadamente avermelhados. Aquilo realmente estava bom? Pan suspirou, desviando o olhar. Sabia que se continuasse por muito mais tempo, os defeitos começariam a aparecer aos seus olhos.

Suspendeu a alça de seu vestido preto, que insistia em escorregar por seu ombro esquerdo. Gostava daquela peça, era um pouco justo, mas não a deixava desconfortável, exceto talvez por aquela maldita alça que não parecia querer ficar no lugar. Mas, no geral, estava satisfeita. Era bonito, e ao mesmo tempo simples e prático, e definitivamente, ficaria bem com suas botinhas favoritas.

Estando tão distraída enquanto guardava seus poucos itens de maquiagem em uma bolsinha, não era de se surpreender o encontrão que deram no corredor. O rapaz de cabelos de cor lilás também devia estar distraído, com seu celular em mãos enquanto deixava o outro banheiro. As gotas de água ainda respingavam de seus fios e um pouco em seu peito desnudo. Desviou o olhar imediatamente. Aquele era um caminho perigoso para seus pensamentos percorrerem.

—Foi mal! – Ele sorriu em sua direção, ficando em silêncio por um instante enquanto a observava. Talvez para se assegurar que estava bem, presumiu. – Tá bem bonita. – Disse simplesmente. Como sempre fazia. Sentiu seu rosto queimar um pouco, mesmo que tentasse ignorar com todas suas forças.

—Valeu. – Respondeu. Sabia que o sorriso em seu rosto devia parecer fraco e sem graça, mas àquela altura, era o melhor que podia fazer. Não gostava muito daquela sensação angustiante e que lhe fazia sentir tão vulnerável... Só precisava respirar um pouco mais profundamente e fazer seus pés seguirem seu caminho de volta até o quarto de Bra. Era só o que queria, e o que havia planejado, antes de sentir o toque quente e delicado deslizando em seu ombro.

—Deixa eu consertar isso. – Desta vez, tinha certeza que suas bochechas estavam em chamas, enquanto ele ajeitava a alça de seu vestido. A bendita alça.

Assentiu em agradecimento, antes de seguir seu caminho da melhor forma que conseguia. Queria ser rápida, mas não podia simplesmente correr. Na verdade, até mesmo caminhar normalmente já parecia bem difícil, como se aquele corredor de repente houvesse se tornado infinitamente mais longo. Recostou-se contra a porta ao fechá-la, tentando disfarçar sua falta de folego e fazer seu coração voltar as batidas normais.

As outras duas também estavam se arrumando, Bra usava um vestido justo aveludado vermelho escuro, sua cor favorita e que lhe vestia muito bem. Marron por sua vez, permanecia simples e delicada com seu vestido mais soltinho, na cor branca e suas botas altas.

—Pan, você tá ótima! – A loira elogiou, enquanto arrumava suas madeixas, distraidamente. Era bom ouvir aquilo outra vez, ainda que não lhe causasse o mesmo impacto que antes.

—Valeu. – Já estava mais calma enquanto terminava de adentrar no espaçoso quarto da princesa Saiyajin, que dedicava toda sua atenção ao batom carmesim que aplicava em seus lábios, numa precisão cirúrgica. – Quanto tempo vocês ainda vão demorar? - Sentou-se sobre a cama, repleta de roupas. Haviam passado toda a tarde escolhendo o que usar e o início da noite, se preparando.

Não gostava de chegar muito tarde nas festas, não aproveitavam muita coisa. Mas, mesmo assim, Bra insistia em fazer uma entrada. Portanto, chegar cedo era “inadmissível”, como ela costumava dizer.

—Ah, já estamos quase prontas, não começa! – Reclamou a de cabelos azuis, admirando o resultado final de seu batom. – Além disso, os rapazes já estão prontos pra ir? – Perguntou, ainda sem levantar os olhos do espelho grande de sua penteadeira.

—Como vou saber? – Retrucou, tentando soar natural, mesmo que aquela menção a tivesse feito lembrar do incidente no corredor, momentos antes.

—Então, vai lá checar! Vai apressá-los, ué! – A princesa respondeu, simplesmente, enquanto abria seu closet de sapatos. Detestava aquele comportamento mandão e desaforado, mas depois de tantos anos, já havia se acostumado com a personalidade e a forma de sua melhor amiga de lidar com as coisas.

—Bra, não diz isso! – Marron interveio. – Quer que ela entre no quarto do Trunks? Isso seria constrangedor! – Continuou, ela mesma envergonhada. Bra revirou os olhos, já com seus sapatos escolhidos em mãos.

—Constrangedor por que? – Rebateu. – São só aqueles dois bobões: O próprio tio dela e o meu irmão. – Riu. – Você é meio ingênua as vezes, Marron. – Acrescentou.

A loira parecia discordar, mas não lhe deu resposta alguma. Também não seria Pan quem iria lhe dizer o contrário. Na verdade, sequer podia imaginar uma forma de explicar para Bra o porquê de as coisas serem um pouco mais complicadas do que a forma como insistia em vê-las. Era uma outra coisa a qual já havia se acostumado: Bra via apenas aquilo que queria ver, as vezes até mesmo em relação a si mesma. Suspirou, entediada.

—É muito esquisito quando chamam o Goten de meu tio... – Comentou, um tempo depois, mudando o assunto. Era verdade, afinal, haviam crescido juntos, quase como irmãos. Bra apenas deu de ombros em resposta. Marron, já havia voltado a se distrair, sorrindo para uma selfie. – Vou esperar lá embaixo. – Anunciou, antes de se retirar mais uma vez.

Em geral, gostava muito de estar na Corporação Capsula. Havia passado praticamente toda sua infância indo até lá. Mas, assim como em sua própria casa, o fato de não conseguir ver muito bem as estrelas no céu, a fazia sentir sufocada. Nesse aspecto, gostava muito mais da casa de seus avós no campo. Era tudo sempre mais bonito ali, o ar era mais fresco e o contato tão próximo com a natureza era libertador.

Mas haviam coisas, as quais não tinha acesso por lá. Pensou por um instante, enquanto seus olhos vagavam na direção do rapaz de cabelos lilás que exibia seu sorriso distraído enquanto conversava com Goten, na varanda.

Suspirou. Não deveria estar pensando naquelas coisas. Assim como olhar muito atentamente o reflexo no espelho, olhar naquela direção por muito tempo, também não era uma boa ideia. Era melhor se concentrar em calçar suas botas e esperar o momento em que enfim sairiam.

 

***

 

  Goten respirou fundo. A viagem de carro pareceu ter durado uma eternidade depois do que acontecera mais cedo.

Por um instante, havia se permitido acreditar que tudo estava de volta ao normal. Não tinha pensado sobre “aquilo que decidira deixar para lá”, por um tempo, mas mal sabia o que o esperava naquela noite. 

Estava distraído, enquanto conversava com Trunks e Pan, depois que se juntaram a ela, na sala para esperar que as outras duas viessem. Tudo estava indo bem. Estava tranquilo e aquela estranheza dentro de si já parecia ter chegado ao fim. Foi quando ouviu os passos se aproximando. Estava sentado de costas para as escadas, mas já podia sentir algo estranho em seu estomago, não saberia explicar melhor do que como pequenas faíscas que começavam a queimar dentro dele.

Não havia mais o que fazer, quando a viu passar por ele. Seu perfume doce e florido era inebriante e parecia tê-lo enfeitiçado. Não conseguia parar de olhá-la, agora com as mãos na cintura de forma imponente, como sempre fazia. Exceto que, não era como antes. Nada mais o era.

Tinha certeza que nunca havia reparado como sua pele parecia brilhar, ou no quanto devia ser macia ao seu toque. Certamente, jamais havia notado o formato delicado de seus lábios, menos ainda, imaginado como seriam pressionados contra os seus. Aquele pensamento parecia ter transformado as faíscas em chamas impetuosas, agora.

—Então, vamos? – Ela propôs. Seu coração disparou quando os olhos azuis encontraram os dele, por não mais que um instante. Desviou, por impulso, como se temesse que ela pudesse ver algo ali.

Aquilo era um desastre. E se tornou um pior ainda, quando não conseguiu fazer como que Pan abrisse mão de seu lugar no banco do carona, ou mesmo, convencer Marron que se sentasse no meio, no banco de trás. Até tentou convencer a todos de simplesmente voarem até lá, mas no fim das contas, nem mesmo Trunks parecia muito disposto a fazê-lo. Não tinha escolha.

Sentado longe das janelas e com ela ao seu lado, parecia não haver oxigênio o suficiente no mundo, enquanto ele tentava manter seus olhos fixos para a frente e fingir prestar atenção em algo que não fosse o calor irradiado por Bra.

Ao menos, enfim podia respirar livremente, agora. A festa estava acontecendo numa outra mansão, e ele já podia ver muitos rostos conhecidos ao redor. Não demorou muito para que entrasse, precisava muito de uma bebida àquela altura. Bebeu todo um copo, de uma só vez. Aquilo parecia ajudar, pelo menos um pouco. Já se sentia menos esquisito.

—Wow, alguém tá sedento! – Ouviu uma voz divertida atrás dele.

—Uub! – Virou-se para cumprimentar o amigo. Uub era mais um de seus amigos próximos, principalmente pelo fato de ter se tornado discípulo de seu pai, anos atrás. O rapaz de pele caramelo, era alto e tinha um porte de atleta similar ao seu. Era conhecido por estar sempre com um sorriso contagiante em seu rosto e por ser um dos esportistas mais talentosos na escola.

—Ah, ouvi dizer que o jogo hoje foi um dos melhores da temporada... – O rapaz comentou. – Parabéns, cara! – Disse num tom irônico, rindo.

—É, eu nem imaginava. – Goten lhe respondeu da mesma forma. – Mas, agora acho que vou ter que segurar a onda nos próximos... – Admitiu, um pouco desinteressado. – Melhor não chamar muita atenção. – Uub assentiu enquanto bebia um gole de cerveja.

—A parte difícil é essa, né? – Considerou por um instante. – Na semana passada, acabei exagerando um pouco... o outro cara quase quebrou o braço... – O outro acrescentou, num tom triste e culpado. No fim das contas, realmente devia ser um pouco mais difícil para Uub, já que estava na equipe de luta. Uma escolha horrível, como ele só percebeu depois de já estar inscrito. - Onde tá a galera? – Perguntou, mudando o assunto depois de algum tempo.

—Bom, na verdade, a gente meio que se separou logo na entrada, mas devem estar por perto... – Respondeu enquanto enchia mais uma vez, seu copo e o bebia com mais calma.

—Beleza, - Uub se distraiu, olhando ao redor. – Vou dar uma procurada, depois a gente se fala! – Completou, antes de se afastar.

Era reconfortante estar em um lugar cheio com outras pessoas. De certa forma, já se sentia muito melhor, não estando tão perto dela. Ainda assim, aquilo era um problema. Não poderia fugir ou evitar para sempre. Sua maior esperança era que eventualmente, aquilo passasse. Não fazia sentido algum. Como poderia tudo mudar tão rápido, de uma hora para outra?

Cresceram juntos, fizeram brincadeiras como aquela, daquela tarde incontáveis vezes. Já estiveram muito mais próximos do que dividindo um assento no carro, como agora a pouco, e Bra sempre foi uma garota bonita e costumava usar aquela fragrância desde que ele se lembrava. Então, o que mudara tão de repente?

Tragou mais um gole. Por que estava pensando naquilo outra vez? O que importava era que as coisas voltassem ao normal, o quanto antes. Talvez devesse pedir conselhos..., mas a quem? Definitivamente, não era algo sobre o qual se sentiria à vontade para conversar com seu melhor amigo. Não, decididamente, Trunks não podia saber sobre isso.

Podia confiar nele em tudo, disso sempre teve certeza, mas, como poderia lhe dizer a forma como a sua irmã o estava fazendo sentir? Sentiu seu rosto queimar um pouco ao lembrar do que houve, outra vez.

Trunks não era um irmão ciumento ou possessivo, esse não era o problema. Mas aquilo não poderia ser algo que ouviria bem. Na verdade, nem mesmo ele, se sentia confortável ao se imaginar dizendo algo do tipo... Soaria como um babaca nojento?

Aquele pensamento embrulhou seu estomago. Aquilo que sentia, o que quer que fosse, simplesmente não parecia certo. Bebeu mais um pouco, antes de passar a mão sobre o cabelo, angustiado. Com quem poderia falar sobre aquilo? Olhou ao redor, tentando encontrar algum de seus amigos. Estava fora de questão falar sobre aquilo com a Pan ou com a Marron também, não queria que pensassem mal dele...

E então, como se uma luz divina se acendesse em sua direção, pôde ver outra vez Uub, que ia se aproximando e abraçando por trás a loira, lhe dando um beijo no rosto. Sim, aquilo podia ser uma boa ideia. O rapaz era também um amigo de confiança, não estava tão diretamente ligado à Bra quanto os outros, e sendo parte de um relacionamento há tanto tempo, ele talvez soubesse uma coisa ou outra sobre o assunto... Afinal, ele era bom naquilo... Era bom em tudo... Engoliu com bebida um pouco daquele amargor que sentira por um instante. Não era o momento de pensar sobre isso.

Talvez devesse mesmo conversar com Uub sobre o que estava acontecendo... Só precisava de mais um pouco de coragem líquida para tanto, ponderou, voltando a encher seu copo, quando viu por relance o rapaz de olhos e cabelos castanhos. Era tudo culpa dele, não? Se Yakii não o tivesse dito aquelas coisas... Podia sentir a irritação crescer aos poucos, dentro dele, enquanto bebia mais um pouco, ainda que seus melhores instintos o tentassem convencer de que aquela não era uma boa ideia. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado,
Até o próximo,
Beijinhos



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