Katsuki sente que, a qualquer momento, a veia na testa dele vai estourar de tanta raiva. Não é possível! Começou quando esse bando de idiotas insistiu em fazer uma porra de confraternização de fim de ano pra turma, daí inventaram um amigo oculto. Ele não queria nem saber dessa bosta, mas a Rosinha e o Cabelo de Merda ficaram no pé dele pra entrar, que não sei o quê, todo mundo ia participar, até o Aizawa-sensei, bla bla bla, o maldito do Kirishima até o provocou perguntando se ele não queria entrar porque tava com medo de quem ele podia tirar. Imbecil! Katsuki não tem medo de nada, que dirá da porra de um papelzinho com o nome de algum figurante dessa sala.

Quando o Quatro-Olhos passou na carteira dele com as mãos estendidas, cheias de papeizinhos, Katsuki quase mandou tudo à merda e saiu da sala, mas agora já era tarde demais, se ele saísse, iam ter que tirar tudo de novo, e aí sim ele ia ouvir aos montes, não só da Rosinha e do Cabelo de Ouriço, mas de todos esses merdas.

—  Devo lembrá-los de que, caso tirem o papelzinho com seu próprio nome, favor redobrá-lo e devolver ao montinho. Ah, por favor, me mostrem o papelzinho  para que eu possa verificar que realmente é o seu nome, não queremos a mesma confusão do ano passado. Certo, Mineta-kun? — o Quatro-Olhos adverte.

—  Tá, tá! —  o Cabeça de Uva responde, contrariado. Katsuki se recusou a participar ano passado, mas ele sabe que esse taradinho de merda aí ficou falando que tava saindo consigo mesmo só pra pegar outro papelzinho até sair com uma menina. Otário!

O loiro pegou o primeiro papel que botou o olho, sem frescura, ficar escolhendo demais não ia mudar porra nenhuma mesmo! Tsk, seria mais fácil se ele saísse com algum dos idiotas que andam grudados nele, tipo o Kirishima, o Pikachu ou o Fita Crepe, talvez até a Rosinha, mas, se ele fosse parar pra pensar qual nome ele realmente queria nesse papel… Katsuki dá uma olhada pra trás, e a vê. Ela já tirou o papelzinho dela e sorri enquanto conversa com a Menina Sapo, as bochechas gigantes dela ainda mais rosadas do que o normal. Porra, pelo jeito que ela tá envergonhada, ou ela gostou muito do nome que tirou, ou odiou. Ah, foda-se essa merda, não importa com quem ela saiu, o que importa é que ele queria tirar o nome dela.

Uraraka Ochako. Ele não sabe como nem por que começou… ok, talvez ele até saiba. Começou quando eles foram parceiros em um exercício em dupla na aula do All Might no começo do semestre e ela foi… foda pra caralho! Lutou contra o Quatro-Olhos e o merdinha do Deku com tanto sangue nos olhos quanto ele mesmo, até hoje ele se recusa a acreditar que aquela porra terminou em empate, nem fodendo! Eles ganharam aquela merda, Katsuki odeia o termo “vencedor moral”, mas é mais ou menos isso que ele e a Cara de Lua foram. A partir dali, ele passou a prestar muito mais atenção nela, e porra, por trás daquela carinha redonda e sorriso enorme, tem uma puta de uma lutadora que poderia quebrar qualquer um aqui no meio, talvez até ele mesmo se ela tivesse um pouco de sorte, claro. Querendo testar isso, ele a chamou pra treinar um dia, e foi tão foda que não ficou só naquele um dia. Quando ele se deu conta, eles tavam treinando juntos quase todo dia, e foi aí que ele se ligou que não gostava só de treinar com ela, ele gostava, ou melhor, gosta dela.

Mas nada dessa porra importa, porque ele nunca vai falar nada disso pra ela, qual o sentido? Ele sabe como ela é, assim que ele falar, ela vai começar a gaguejar igual a uma idiota e não vai saber o que fazer, essa porra só ia atrapalhar os treinos deles, então deixa quieto. Essa merda vai passar logo.

E realmente não importa, porque porra, ele não tirou o nome dela. Não chegou nem perto! Assim que ele abriu o papelzinho, já se arrependeu mortalmente de não ter pulado fora dessa merda: Aizawa-sensei. Puta que pariu! Sempre tem um perdedor que sai com o professor, não era possível que Katsuki fosse esse perdedor! Na hora, ele pensou em chamar o Quatro-Olhos e falar que tirou o próprio nome, mas o babaca ia querer ver e ia saber que ele tava mentindo, que merda! Se bem que… podia ser bem pior, ele podia ter tirado o Meio a Meio ou o, ugh, Deku. É, foi o Aizawa mesmo.

A palhaçada só ficou pior algumas horas mais tarde naquele dia, quando a Rosinha parou ele e os outros idiotas na lavanderia e começou a falar da merda de amigo oculto.

—  E aí? Quem vocês tiraram?

—  Achei que o amigo fosse oculto. —  o Kirishima falou, e nessa, Katsuki teve que concordar.

—  Ah, só é oculto pra pessoa que você tirou, bobinho. —  ela respondeu em deboche — E como eu tenho quase certeza que nenhum de vocês tirou alguém daqui, vocês podem me falar pra eu confirmar minhas suspeitas!

—  Como é que você tem tanta certeza, Rosinha? —  ele perguntou, mais irritado do que curioso.

—  Porque eu já sei praticamente o de todo mundo! A Tooru-chan conseguiu ver vários nomes e a gente foi ligando os que a gente ainda não sabia! —  ela respondeu com um brilho desafiador no olhar — Por exemplo, o Kiri saiu com o Koda-kun.

—  Como você sabe?

—  Hum… porque eu tava na dúvida se você tinha saído com ele ou com o Midoriya-kun, mas agora você acabou de confirmar. —  ela sorriu, vitoriosa, e o Kirishima ficou com cara de idiota — O Sero-kun tirou o Presida, a Tooru-chan viu. O Kaminari-kun saiu com a Ochako-chan, e o Bakugou… hum, eu ainda não tenho certeza, mas ou é o Todoroki-kun ou é o Aizawa-sensei. —  tsk, garota futriqueira dos infernos!

—  Tomara que seja o Todoroki! Ia ser hilário o Bakubro revelando o amigo oculto dele! —  o Pikachu debocha.

—  “Meu amigo oculto é um moleque metido do caralho com cabelinho de cantor de k-pop e cara de peixe morto. Vai se foder, Meio a Meio, toma aqui a porra do seu presente!” —  o Fita Crepe fez uma imitação bem bosta dele, e Katsuki se segurou pra não descer a mão nesse idiota.

—  VAI SE FODER! MEU AMIGO OCULTO NÃO É ESSE BOSTA DO TODOROKI!

—  Então é o Aizawa-sensei!? —  a Rosinha sorriu animadamente, caralho! —   Eu sabia! Eu tava na dúvida se era você ou a Ochako-chan que tinha saído com o Aizawa-sensei, mas agora eu sei! Então ela saiu com o Todoroki-kun, e agora eu sei o de todo mundo, yes!!!

—  Peraí, Mina! Você vai falar o de todo mundo, e não vai falar o seu pra gente, pelo menos? —  o Kirishima fez biquinho achando que ia convencê-la, ridículo!

—  Ah, eu até falaria, mas o meu amigo oculto tá aqui, então não posso se não acaba a graça, né? —  ela deu uma piscadinha e saiu toda pimpona, maldita!

Katsuki tava tão puto que quase explodiu a máquina de lavar. Porra, agora esse bando de idiotas sabia com quem ele tinha saído, mas o pior nem era isso: ele também sabia quem a Uraraka tirou —  não foi ele, que merda! — e quem tirou a Uraraka: Pikachu maldito de merda!

E foi assim que ele se viu forçado a acompanhar os três patetas nas compras dos presentes, porque porra, o Pikachu sozinho já conseguiria fazer merda, mas Katsuki sem querer ouviu uma conversa dele com aquele Cabeça de Uva maldito, e não é que o pervertido de merda tava quase o convencendo a dar lingerie pra Uraraka? Idiota maldito, fez com que Katsuki saísse de casa nesse frio só pra ter certeza que o imbecil do Pikachu vai comprar um presente decente pra ela.

A real é que ele queria trocar com o Pikachu, mas porra, quem é que iria querer ter o professor como amigo oculto? Fora que se ele pedisse, o imbecil ia querer saber o por quê de Katsuki querer tanto trocar com ele ao invés do Kirishima, por exemplo, e nem fodendo que ele ia deixar esse idiota saber desse caralho de crush que ele tem na Uraraka. É, Katsuki pode não ter saído com ela, mas sabe quem saiu, então ele vai fazer de tudo pra que ela ganhe um bom presente, não o melhor, mas… pelo menos algo decente que a faça sorrir, além de ser Natal, o aniversário dela também é por esses dias, então mais um motivo pra ela ganhar algo que não seja a porra de uma lingerie que só ia deixá-la envergonhada a ponto de nunca querer usar essa merda.

Por isso que quando o Kirishima e o Fita Crepe se afastam pra ir atrás dos presentes deles, Katsuki gruda no Pikachu pra ver onde esse maldito vai.

—  Hã… tá precisando de ajuda, Bakubro?

—  Não, já comprei o meu presente. —  ele comprou pela internet e até já chegou, é um kit de almofada de pescoço mais máscara de dormir com estampa de gato. Porque é uma merda sair com professor, mas Katsuki tem quem admitir que o Aizawa é um puta de um cara foda que merece ganhar alguma coisa que ele curte.

—  Ah, você saiu com o Aizawa-sensei, né? Que azar, cara! Mas deve ser fácil achar coisa pra ele, né? E eu que saí com menina? —  o imbecil cora de vergonha enquanto coça a cabeça — Tem tanta coisa que menina usa que eu nem sei pra quê serve.

—  Porque você é um imbecil! —  ele resmunga, olhando ao redor pra ver o que seria um presente legal pra ela. Porra, do jeito que ela é, ia gostar de ganhar algo simples, por algum motivo, ela odeia que gastem muito dinheiro. É, ele lembra da vez que pagou um lanche pra ela depois de um dos treinos deles e ela ficou sem-graça pra caralho, falou umas quinze vezes que ia pagá-lo de volta e bla bla bla.

Ele sente vontade de sorrir quando lembra a carinha de satisfação dela quando o pagou de volta.

Porra, Katsuki tá mesmo agindo como um idiota por causa dessa menina, ele tá tão louco que tá até imaginando a voz dela nessa loja. Mas ao se virar pra trás, ele percebe que não é imaginação: Uraraka tá mesmo aqui, junto da Menina Sapo e da Rosinha, que logo os avista e acena pra eles.

—  A-ah, olá, garotas! —  o Pikachu engrossa a voz igual a um idiota e anda na direção delas —  Procurando presentes também?

—  Ah não, a gente já terminou e veio dar uma olhadinha em uns acessórios pra gente! —  a Rosinha responde.

—  Todas aqui saíram com meninos, ribbit, então nem tinha como. —  a Menina Sapo complementa — Vocês estão procurando presentes?

—  O Bakubro não, eu tô. —  ele ri meio sem-graça — Tentando pelo menos, né? Meninas são difíceis de agradar.

Eles continuam jogando conversa fora, mas Katsuki não tá nem aí, ele só consegue olhar pra Cara de Lua, ela sorri animadamente, mas parece estar meio sem-jeito também, ugh… a carinha envergonhada dela é tão fofa que deveria ser um crime, puta que pariu! Ele segue o olhar dela, e nota que ela está olhando na direção de uma presilha de cabelo adornada com estrelas. É… bem a cara dela, pra ser bem honesto.

—  E você, Uraraka? Teve dificuldade pra encontrar um presente? —  o Pikachu pergunta.

—  Nossa, muita! —  ela admite —  Meu amigo oculto não fala muito, então é meio difícil…

—  Ah, mas sua ideia é super fofa, acho que ele vai adorar! —  a Rosinha a encoraja.

—  Ela decidiu fazer um presente caseiro, ribbit.

—  Sério? Que legal! — o Pikachu sorri animadamente.

—  Bom, não exatamente, eu… —  ela tira alguma coisa da sacola que carrega, é uma caneca —  Eu comprei a caneca, aí vou pintar na louça, já conversei com a Hatsume-san e eles têm esmalte de porcelana no departamento de suporte, ela vai me emprestar.

—  Esse povo do departamento de suporte tem de tudo, né?

—  É lógico, porra! —  Katsuki finalmente se manifesta, olhando feio pro Pikachu.

—  A ideia dela é maravilhosa, e o amigo oculto dela vai ficar muito feliz porque é bem especial, né? —  a Rosinha sorri, e Katsuki fecha a mão em irritação. O maldito do Todoroki não merece um presente assim! Ele nem vai saber agradecê-la direito, aquele idiota! —  Enfim, vamos indo, meninas? Tchau tchau, garotos! — As três se despedem e se afastam.

—  Ugh, eu devia ter dado uma de esperto e pedido umas dicas pra Uraraka. Tipo ”e aí? O que você acha que seria um presente legal pra uma menina? O que você gostaria de ganhar?” e tal…

—  Tsk, não tem nada de esperto nisso, seu idiota! Só ia dar na cara que você saiu com ela! —  ele anda até a prateleira pra onde a Cara de Lua tava olhando.

Mas ao se aproximar, ele percebe que talvez ela não estivesse olhando pra presilha, e sim pra um colar prateado com um pingente de planeta que só pode ser Saturno, é… ainda mais a cara dela, mas… hum, ela nunca compraria por causa do preço… não é nada tão caro, mas ela não pagaria essa grana em um colar se tem dias que deixa até de comprar comida, tsk.

—  Ah, tem várias coisas bonitinhas aqui! Boa, Bakubro! Deixa eu ver alguma coisa que ela ia curtir… —  Katsuki nem deixa ele terminar, só enfia a presilha na cara dele e sai andando, irritado — Ah, esse aqui? Hum… é, pode ser! Valeu por me ajudar, Bakubro!

—  Tsk. —  é a única resposta dele, sem saber se ele tá mais puto porque um idiota desses saiu com ela, ou porque ela saiu com aquele babaca!

***

Confraternização é o caralho! Ele não aguenta mais essa merda e não vai confraternizar com ninguém! É o segundo ano, e esse povo é um pouco mais tolerável do que era ano passado, mas caralho, esse clima natalino é insuportável, todo mundo tá mais amigável e irritante do que o normal e toda essa decoração com luzinhas e coisas brilhantes o enfurecem, até na academia tem a porra de uma árvore de Natal! A Cara de Lua ficou enrolando pra treinar ontem por causa daquela merda, admirando os enfeites e a estrela no topo, tsk.

Ele fica fuçando no celular até a hora que a Rabo de Cavalo anuncia que o amigo oculto vai começar. Porra, finalmente! Ele vai entregar o presente pro Aizawa logo, pegar a merda que seja lá qual imbecil saiu com ele vai dá-lo e vazar! Katsuki não tá muito animado pra ir pra casa e passar o recesso de fim de ano com os velhos dele, mas é melhor que essa merda aqui, com certeza!

—  Muito bem, quem começa? —  o Aizawa surge de dentro do saco de dormir e pergunta.

—  Começa você, sensei! —  ah porra! Isso quer dizer que Katsuki vai ser o último a revelar? Nem fodendo!

—  Eu começo essa merda! —  ele se manifesta, indo pro meio da roda que se formou na sala —  Meu amigo oculto é o A-

—  Ah não, Bakugou! Faz direito! Dá umas dicas antes de sair falando quem é! —  a Rosinha faz biquinho.

— Vai se foder, você já sabe com quem eu saí! —  ele mostra o dedo pra ela — Meu amigo oculto é o Aizawa! Toma aqui pra gente agilizar essa merda!

—  Certo… obrigado, Bakugou. —  o professor agradece em tom monótono, mas todo mundo percebe ele tentando segurar um sorriso quando abre o embrulho —  Ha… haha, ok… continuando. Meu amigo oculto é um aluno com grande potencial, mas…

A porra do amigo oculto continua, e Katsuki torce pra que a pessoa que saiu com ele não fique por último, porque puta que pariu se ele tiver que esperar todos esses idiotas! Ugh… ele começar foi uma merda de ideia! Ele tá pouco se fodendo pra essa besteira toda, até que aquele moleque grandão e beiçudo que ele esqueceu o nome revela que o amigo oculto dele é o Pikachu.

Katsuki não liga, não dá a mínima pra isso, mas mesmo assim, ele quer ver o que o trouxão vai falar pra revelar a amiga oculta dele… não, foda-se isso, o que ele quer mesmo é ver a reação dela…

—  Então… hã, minha amiga oculta é… uma garota, hã… garota baixa, mas não super baixa, ela tem uma altura normal, não que pessoas baixas não sejam normais. Foi mal, Mineta! —  puta que o pariu! — Enfim, minha amiga oculta é baixinha, fofa e hã… a comida favorita dela é mochi, eu sei disso porque ela me falou uma vez que eu chamei ela pra sair, mas ela nunca me respond-

—  É A URARAKA-CHAAAAAN! —  a Celofane diz empolgadamente, e o Pikachu só acena com a cabeça, envergonhado. É bom mesmo que ele tenha vergonha pela besteira que acabou de falar!

A Uraraka sorri e anda até o meio da roda, completamente sem jeito ao pegar o presente. Ela abre o embrulho e… Katsuki jura que a sala fica mais brilhante com o olhar dela, essas luzinhas de Natal não tão com nada perto do sorriso dela, caralho! E então… o coração dele acelera quando percebe que ela o olhou rapidamente, ela… sabe que foi ele que escolheu essa presilha? Não, não tem como, deixa de ser imbecil, Katsuki!

—  K-Kaminari-kun, é… lindo! Muito obrigada! —  ela se inclina na direção dele, e o Pikachu se afasta, a cara mais vermelha do que aquelas bolas de Natal penduradas ali.

— Hehehe, que bom que você gostou… —  ele responde, sem graça.

—  Eu amei!  — ela acena com a cabeça e dá um abraço nele. Pikachu maldito do caralho, ele que apareça na academia por esses dias pra ver se Katsuki não quebra a cara dele!

O maldito fica com aquela cara de imbecil que ele fica quando se frita todo com os choques, o Kirishima até sai do lugar dele pra ajudar o babaca a sair da roda. Bem feito, pelo menos, que aquela Orelhuda tá claramente putaça pelo jeito que ele reagiu ao abraço.

—  Ok, Uraraka, sua vez. —  o Aizawa a apressa, parece que ele quer acabar com essa merda logo também.

—  Ah sim! B-bom, meu amigo oculto é… uma pessoa que me intriga muito, eu sinto que quase tudo que a gente sabe dele é o que ele aparenta mais do que ele é de verdade, mas… o que eu sei é que ele é um cara honesto, corajoso e que se importa com todos, mesmo que não demonstre muito e… ah, ele vai ser um grande herói, não tenho dúvida disso! —  ela ruboriza, e Katsuki sente um tranco no coração. Maldito Todoroki! Ao olhar pro Meio a Meio, ele nem se surpreende em ver que o imbecil tá com aquela cara de zumbi de sempre, aaarrrgh!— Meu amigo oculto é… o Bakugou-kun! — É O QUÊ?

C-como assim? Que porra é essa? Ela não tinha saído com o Meio a Meio? Rosinha idiota, falou que sabia o amigo oculto de todo mundo, mas errou o da Uraraka, e errou feio pra caralho! Imbecil! Ah, mas ela vai ver o dela.

—  Bakugou, outras pessoas ainda precisam revelar os deles. —  o Aizawa o repreende, e ele só sente o Fita Crepe empurrando-o pra dentro da roda. Ele caminha até ela, os pés tão pesados que parece que têm chumbo dentro, sentindo o rosto tão quente que é como se fosse explodir a qualquer momento.

—  Aqui, Bakugou-kun! É meio sem-graça, porque você já sabe o que é, fiquei tão surpresa quando te vi na loja aquele dia… —  ela diz toda constrangida enquanto entrega pra ele — Enfim, eu nem sou tão boa pintora, mas não ficou ruim, é bem simples, mas eu fiz de c-

—  Cala a boca! —  ele murmura, perdendo o fôlego ao abrir o embrulho e ver a caneca pintada de preto com um X laranja, claramente imitando o uniforme dele de herói. Caralho, Cara de Lua, quem deu esse direito pra ela de ser tão ridiculamente adorável? Ele vai ter um treco do coração por causa dela! —  V-valeu! — ele mal a olha diretamente de tanta vergonha, só leva a mão na cabeça dela, dando uns tapinhas e bagunçando o cabelo da Uraraka como se ela fosse um cachorro, e dá as costas, ainda admirando a caneca.

***

A brincadeira teve que recomeçar depois da vez dela, e a Rosinha se ofereceu pra continuar, revelando que o amigo oculto dela era o Meio a Meio. Maldita, ela não tinha falado que o dela era um dos idiotas que tava na lavanderia aquele dia? Tsk, o que é dela tá guardado também!

À noite, quando todo mundo tá nos dormitórios se arrumando pra ir pra casa dos pais, Katsuki vai pra cozinha. Tá um frio do caralho, e a individualidade dele fica meio estranha quando o clima tá assim, ele precisa se esquentar, então nada como um chocolate quente pra fazê-lo sentir-se melhor. Ele prepara o chocolate e se serve na caneca que a Uraraka deu pra ele. Sozinho na cozinha, ele se permite sorrir um pouco, é, ela realmente não é uma grande pintora, mas foda-se, o que importa é que ela fez isso sozinha e ainda disse que ele vai ser um grande herói. Katsuki nunca teve dúvida disso, mas é bom saber que ela concorda.

A cara de bobo dele imediatamente se desfaz quando a porta do elevador abre, porra! Ele dá as costas ao ver que é justamente ela, merda, ele achou que ela já tinha ido dormir pra pegar o trem da manhã amanhã.

 — Ah, é você, Bakugou-kun! Achei que não ia ter ninguém aqui… —  ela diz, andando em direção às prateleiras — Vou fazer chocolate quente, você quer?

—  Já tenho o meu. —  ele balbucia, evitando olhá-la diretamente, mas nem precisa, ele sabe que ela tá dando um daqueles sorrisinhos debochados porque viu que ele tá usando a caneca que ela deu pra ele.

—  Certo! —  ela começa a fazer o chocolate dela —  Então, vai passar o Natal com seus pais?

—  E eu tenho escolha? —  ele dá de ombros.

—  Você pode… não passar com eles, se você não gosta, ué. —  ela retruca — Se eu pudesse, eu passaria com os meus.

—  Como assim? Você não vai pra casa, Cara de Lua?

—  Haha, não. Fica muito caro viajar no fim de ano, então eu vou ficar por aqui mesmo! —  ela diz, num tom ligeiramente lamentoso — Mas tá tranquilo, o Deku, o Iida e a Tsu vão sair comigo no dia do meu aniversário!

—  Vai passar o Natal sozinha. —  ele resmunga, odiando-se por constatar em voz alta o que é óbvio.

—  S-sim, mas não é grande coisa, ano passado foi assim também… enfim… eu vou-

—  Uraraka. —  ele diz em um tom sério quando ela se vira pra encarar o fogão, fazendo-a olhar de novo pra ele.

Não é assim que ele tinha planejado, a ideia dele era passar o embrulho por debaixo da porta dela, mas porra, já que ele já tá aqui, foda-se. Katsuki saca do bolso um embrulho e praticamente empurra na mão dela.

—  Bakugou-kun… o que… o que é isso?

— É só abrir que você descobre, porra! —  merda, ele não queria ser tão babaca, mas agora já foi. Ela o encara com olhos arregalados, alternando entre olhar pra ele e pro embrulho, até que finalmente resolve abrir o pacotinho, deparando-se com o colar com pingente de Saturno que eles viram na loja.

Uraraka faz um som de surpresa e leva a mão à boca, os olhos dela parecem tremer, porra, será que ela odiou? Mas ela tava olhando aquele dia, não tava? Foi por isso que ele comprou quando o Pikachu se afastou, puta merda! Será que ele entendeu errado?

—  B-Bakugou-kun… como você… sabia? Não precisava, eu…

—  Eu sei que não precisava, mas eu quero te dar, então tô te dando. Vai combinar com a presilha que você ganhou daquele imbecil do Pikachu! —  ela parece emocionada, o rosto dele esquenta, e ele só consegue imaginar que deve estar mais vermelho que um pimentão, até que ela dá uma risadinha—  Qual é a graça, Cara de Lua?

—  Nenhuma, nenhuma! É só que… eu fico muito feliz pela Mina ter topado trocar o amigo oculto dela comigo… —  ela abaixa a cabeça, envergonhada. Pera, é o quê?

Katsuki não é idiota, nunca foi nem será, mas ele precisa de um minuto pra entender isso certo. Ela… acabou de dizer que trocou o amigo oculto dela pra poder tirá-lo? Ela fez o que ele não teve coragem de fazer?

—  Você… você tinha saído com o Meio a Meio?

—  E ela com você, como ela saiu falando com quem tinha saído, achei que… seria uma boa tentar trocar, ela topou na hora, eu fiquei tão feliz… —  ela morde o lábio inferior, e porra, ele sente-se arrepiar inteiro. Que porra, ele tá mesmo devendo uma pra aquela maldita da Rosinha? — E valeu a pena, não tem mais ninguém com quem eu gostaria de ter saído…

Katsuki não sabe o que responder, pela primeira vez na vida, ele tá sem palavras, apenas admirando o rosto iluminado dela e a caneca que ela deu pra ele.

—  Você… —  ele limpa a garganta —  não vai passar o Natal sozinha.

—  O que?

—  Eu vou passar com você. Quer dizer, a gente vai passar o Natal junto, vamo ver a tal árvore no centro e… o que mais você quiser fazer.

—  B-Bakugou-kun, você tá me chamando num en- enc-

—  Um encontro. É isso mesmo, Cara de Lua! —  ele a interrompe — A gente vai ter um encontro, e você vai usar a presilha e o colar! Se você quiser, eu não sou desses babacas que diz o que você tem que- —  antes que ele termine a frase, ela se aproxima, ficando na ponta dos pés, e aperta os lábios dela contra os dele. É bem rápido, mas o suficiente pra esquentá-lo mais que o chocolate quente.

—  Combinado. —  ela sorri e se afasta — Feliz Natal, Bakugou-kun.

Feliz Natal, hein? Porra, ele acabou de ganhar o melhor presente, é óbvio que esse vai ser o melhor Natal da vida dele.