A Very Weasley Christmas escrita por Morgan


Capítulo 2
Being Georgiana Morgan is the worst




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O natal de 1995 estava na porta e isso fez com que se tornasse três vezes pior ser Georgiana Morgan naquele ano.

Mas, para ser justo, qualquer coisa seria melhor do que ser Georgiana Morgan naquele ano.

A garota estava encostada no muro da saída do corujal observando enquanto sua coruja, Betty, voava sem preocupações em direção a sua casa. Ela havia acabado de enviar uma carta ao seu pai avisando que passaria o natal em Hogwarts. A garota se deu ao trabalho de inventar alguma desculpa como afazeres com a monitoria e estar indo muito mal Poções – o que era inadmissível para Elliot Morgan que queria uma filha no Ministério da Magia e também era uma mentira deslavada. Não havia, para o desespero do professor Snape, aluna melhor do que Georgie em sua aula. Não que ela devesse se gabar já que Poções era, basicamente, a única disciplina que ela ainda tinha uma nota boa. Mas a verdade é que não importava a desculpa que Georgie usasse, ela sabia que seu pai acreditaria ou fingiria acreditar, porque era doloroso demais para ele ver o fantasma de sua falecida mulher em todos os traços da filha.

Jenna havia morrido meses antes em um acidente de quadribol. Em um dos treinamentos, um balaço descontrolado acertou a calda de sua vassoura fazendo com que ela caísse. Não foi uma altura muito alta, mas fez com que ela batesse sua cabeça bem forte. Georgie saiu de Hogwarts assim que terminou os exames do sexto ano para ficar perto de sua mãe. Ela ficou em coma por duas semanas, até que não ficou mais.

Jenna era a melhor artilheira que o mundo já havia visto. Quando ela e Becca Welch, a apanhadora, se juntaram, fizeram o Holyhead Harpies voltar a ser o que era antes. Jenna tinha fãs pelo mundo inteiro não apenas por ser uma jogadora incrível, mas por ser gentil, simpática e amorosa com todos. Jenna foi a melhor pessoa que Georgie já conheceu. E havia sido a sua mãe.

E agora não era mais.

Georgie começava a achar que nunca mais seriam os mesmos sem sua mãe por perto. Era difícil demais. Estar em casa fazia com que ela se sentisse triste o tempo todo. Não é como se ela esquecesse sua mãe quando estava em Hogwarts, mas ao menos não se sentia tão sufocada com lembranças e com a sombra de seu pai acima dela. Talvez fosse uma péssima filha por deixá-lo sozinho no primeiro natal sem a mãe, mas ele também era um péssimo pai por não se importar, então eles estavam quites.

A garota foi andando lentamente de volta a sala comunal onde seus amigos já estavam se preparando para irem embora e ela deveria fazer o mesmo se quisesse que eles acreditassem que ela também iria. Não queria ter que responder perguntas sobre o porquê de ficar em Hogwarts e sabia que qualquer um de seus três melhores amigos conseguiria arrancar a verdade dela em cinco segundos se ao menos desconfiassem que ela estava mentindo ao dizer que iria voltar para casa como todos eles. Nem sequer sabia como estava conseguindo manter aquele teatro para George por tanto tempo. 

— Olá, Mulher Gorda. Tudo bem por aí hoje? – perguntou Georgie assim que chegou no quadro.

— Eu nem te conto o que foi que o Velho do Quarto Andar aprontou! – exclamou a mulher no quadro com entusiasmado e Georgie sorriu. Achava a Mulher Gorda muito engraçada.

— Nem conta mesmo, porque você precisa é abrir a porta – disse uma voz atrás dela que ela conhecia muito bem. – Mimbulus Mimbletonia.

— Você é sempre tão desagradável – disse a Mulher Gorda movendo-se para dar passagem aos dois alunos. – É assim que eu sei que você é Fred Weasley e não George. Será que alguém já lhe disse isso?

— Não, geralmente me dizem que eu sou adorável – respondeu e empurrando Georgie pelos ombros, os dois entraram na sala.

— Eu estava conversando com ela, sabia?!

— Eu nem sei porquê você dá tanta trela para Mulher Gorda.

— Eu gosto dela! – retrucou Georgie.

Fred a olhou com um olhar debochado, jogando-se na primeira poltrona que apareceu em sua frente.

— Está se sentindo tão sozinha assim, Georgiana?

Georgie revirou os olhos para Fred.

Conhecia o garoto ruivo desde que se entendia por gente. Jenna e Molly Weasley foram melhores amigas durante a escola e ficaram grávidas ao mesmo tempo de Georgie e dos gêmeos. Bom, não seria tão difícil combinar uma gravidez com a de Molly Weasley, já que seus filhos vieram praticamente um após o outro, mas elas agiram como se fosse coisa do destino. As duas mulheres eram tão amigas que escolheram o nome dos filhos juntas. Jenna escolheu Frederick e Molly decidiu que seria fofo que os outros dois chamassem-se George e Georgiana. Jenna e Elliot também se tornaram padrinhos de Fred e Molly e Arthur de Georgie.

Bill sempre diz que Molly e Jenna planejavam o casamento de George e Georgiana desde que decidiram que nomes combinando eram uma boa ideia.

Então, Georgie conhecia e adorava a família Weasley como se fosse sua própria família. Exceto que não era, pois sua família agora se resumia a um pai que bebia e não fazia questão de saber como ela estava.

Não que fizesse alguma diferença para ela. 

Quando Jenna morreu, Georgie foi a primeira coisa na qual Molly Weasley pensou em meio às suas lágrimas. Mas Georgie se recusou a ver qualquer pessoa por um mês inteiro depois do enterro. E quando Molly cansou-se de respeitar o espaço da garota, apareceu em sua casa sem mais nem menos. Georgie pensou que não gostaria de ver ninguém, mas quando Molly apareceu, ela soube que estava enganada. Seu pai havia se prendido na bolha do seu próprio luto e Georgie queria entender, queria mesmo, mas quando sua mãe morre, o que você precisa é do seu pai do seu lado e não da melhor amiga de sua mãe. Quando sentiu que poderia existir sem chorar, passou o resto do verão n'A Toca. As pessoas nunca sabem o que dizer quando sua mãe morre, então foi especialmente esquisito quando ela chegou. Rony mal olhava em seus olhos, Arthur Weasley sempre ficava meio sem graça e Ginny, embora tentasse, achava que deveria ser delicada o tempo todo e isso ficava muito obvio em suas ações, o que deixava Georgie um pouco irritada, pois sabia muito bem como Ginny Weasley era de verdade e desde que nascera, pouquíssimas vezes a garota fora delicada. A não ser que se tratasse de Harry Potter, é claro. 

Fred e George foi uma história completamente diferente.

Quando ela chegou n'A Toca, a primeira coisa que George disse foi:

— Está tudo bem?

— Sim – respondeu a garota.

— Ótimo – disse Fred com um sorriso. – Quer dar uma olhada nos nossos Kits Mata-Aula?

— Claro.

Sua relação com Fred não era como sua relação com George. George... bem, George era seu melhor amigo, aquela pessoa que você apenas conhece e sabe que vai estar na sua vida para sempre e ninguém nunca, nunca mesmo, poderá substitui-lo. 

Enquanto Fred e Georgie se davam bem à sua própria maneira, embora a garota achasse que Fred, de fato, pegava pesado demais com os outros algumas vezes e também o considerasse muito mais imaturo do que George; ainda assim os três eram amigos desde que nasceram e ela não se veria longe de fato de nenhum dos dois. 

O fato é: enquanto todos pisavam em ovos com ela, até George, embora ele disfarçasse isso muito bem, Fred a tratou como sempre havia tratado e isso reforçou a Georgie o que ela já vinha dizendo a si mesma: que a vida continuaria. Poderia ser difícil, mas seria muito pior se ela apenas se afundasse em um mar de auto-piedade como seu pai estava fazendo. Exceto no natal, o feriado favorito de sua mãe. No natal, ela não conseguiria. Não conseguiu aceitar voltar para casa e muito menos aceitar passar o natal com Daisy e sua família ou os Weasley na Toca. Não podia fazer isso. Não podia pensar em se divertir quando sua mãe não estava mais com ela.

Pelo menos, não parecia que iria nevar. Se isso acontecesse, seria o fim para Georgie.

— Não me chame de Georgiana – respondeu sentando-se na frente dele.

Não odiava o seu nome, mas preferia ser Georgie, apenas Georgie. Georgiana era a forma como o pai a chamava quando estava com raiva e a forma que a mãe a puxava no canto para contar algum fato aleatório como se fosse o maior segredo do mundo e tal qual o maior segredo do mundo, era óbvio que Georgiana deveria saber. Molly Weasley também a chamava assim às vezes. Eram as únicas vezes que ela não se incomodava. Todos os outros a chamavam de Georgie.

Todos, exceto Fred Weasley, é claro. Mas isso era melhor do que quando ele a chamava de pé grande ou qualquer coisa que remetesse a isso só porquê havia colocado na cabeça que a garota tinha um pé grande demais quando viu seu sapato no vestiário da Grifinória certa vez depois de um dos jogos. 

— Eu gosto de Georgiana – disse ele colocando os pés na mesa com um sorriso de lado que fez Georgie revirar os olhos pela segunda vez.

— Vá até o cartório e mude o seu nome então, aí poderá usá-lo quando quiser. Mas... – ela parou de falar. 

— Mas o que? – perguntou Fred, interessado.

— Não sei por quê alguém se interessaria nisso. Ser Georgiana Morgan é a pior coisa do mundo.

Georgie esperava que Fred a chamasse de dramática, mas ele apenas a encarou por poucos segundos até abrir um sorriso fino.

— Não sei se é tão ruim assim. Mas sei que Georgiana só fica bem em você – disse sereno e Georgie ergueu uma sobrancelha para o garoto, ele riu e se ajeitou na cadeira. Georgie pensou que ele estava sem graça até ele abrir a boca novamente. – É feio como você.

— Vê se cresce, idiota.

— Vocês já estão discutindo? – perguntou Daisy descendo as escadas com seu malão.

— Não. Eu estou falando inglês, mas ainda não fui capaz de compreender o dialeto dessa espécie diferente – disse Georgie abrindo os braços para receber o abraço de despedida de Daisy.

— Eu que deveria dizer isso, Iéti! 

Georgie se mexeu para soltar-se de Daisy e dar pelo menos um tapa em Fred, mas a garota continuou a segurando até ela parar, pois já sabia que era isso que ela ia fazer.

— Vou sentir tanta falta de vocês! – disse quando finalmente a soltou e se afastou para ir em direção a Fred para dar um abraço no garoto também.

Daisy era uma garota baixinha com cabelos loiros que iam até os ombros e grande olhos castanhos que conquistavam todos. Georgiana, Fred e George haviam a conhecido durante o primeiro ano quando alunos da Sonserina estavam mexendo com a garota no meio do pátio. Georgie correu até eles e quando perceberam, estavam todos em detenção. Georgie por empurrar um dos alunos no chão, Fred por ter dado um soco no garoto quando este levantou correndo e bateu em Georgie e George por ter empurrado os garotos que ainda seguravam Daisy. Daisy foi para detenção apenas por estar lá. Foi totalmente injusto, mas depois desse dia os quatro nunca mais se separaram. Os três porque já estavam juntos praticamente desde o cordão umbilical e não conseguiam se largar mesmo quando discutiam (isto é, Fred e Georgie discutiam enquanto George assistia) e Daisy porque poucas coisas são capazes de gerar uma amizade mais forte entre quatro crianças do que passar um mês na companhia de Filch na Floresta Negra.

De qualquer forma, Georgie sempre considerou Daisy o equilibrio perfeito que eles precisavam. Fred era estourado e impulsivo, e embora ela tentasse, sabia que não ficava muito atrás dele nisso. Ganhava pontos por tentar raciocinar em uma situação que a deixasse furiosa (não que funcionasse sempre), coisa que Fred raramente sequer tentava. O que, aliás, gerou uma discussão entre eles uma vez, porque Georgie disse que Fred só agia como um "animal descontrolado" porque sabia que George sempre estaria lá para lhe dizer a hora de parar, o que é inadmissível no mundo adulto. Fred não gostou nada, mas a garota sabia que era verdade.

Bom, George sempre gostou de lembrá-los desse pequeno defeito em comum dos dois já que sempre fora a parte mais metódica e sensível do trio. Daisy chegou para fazer companhia para ele nisso. Apesar de ser um pouco mais molenga e medrosa que eles e não gostar nada de quando eles tentava aprontar com alguém, Daisy nunca deixou de participar. E eles também nunca a deixariam de fora. 

Georgie observou quando Fred antes de se separar de Daisy beijou sua bochecha e a garota nem sequer piscou de maneira diferente. Era muito simples para ela ser carinhosa com todos, mas Fred e Georgie nunca conseguiram se tocar assim.

Bem, exceto aquela vez no quinto ano...

Antes que Daisy pudesse perguntar sobre George, dois malões saíram voando da escada com o garoto atrás, varinha em mãos e um sorriso bobo no rosto. Ele pousou os malões ao lado do irmão.

— Você também já está indo? – perguntou George a Daisy que apenas assentiu.

George foi até a garota e a abraçou. Georgie levou um tempo até perceber que os três a olhavam sem falar nada.

— O que vocês estão fazendo? – perguntou ela, rindo.

— Tem certeza que só irá amanhã? – perguntou George.

— É véspera de Natal, o trem vai estar lotado. Do jeito que você é tonta é capaz de se perder sozinha por aí – disse Fred e Georgie suspirou, irritada. Se não estivesse tão acostumada com os comentários bobos de Fred talvez tivesse notado uma certa preocupação na voz do garoto. 

— Gente, eu vou ficar bem um dia sem vocês. Não se preocupem! E eu não tenho a cabeça cheia de vento como você para me perder, Frederick – disse se levantando e começando a empurrar os amigos em direção ao buraco do retrato – Vão. Vou ficar bem. E desejem feliz natal a Tia Molly e Tio Arthur por mim. 

— Ela ainda está chateada por você não ir – disse George parando enquanto Daisy abria a porta. Como se ela não soubesse que havia partido o coração de sua madrinha o suficiente. 

— Meu pai precisa de mim – disse Georgie tentando não colocar muita emoção em sua voz. Era uma terrível mentirosa, sabia disso. George assentiu e a abraçou. – Feliz Natal, Georgiezinho.

O garoto riu. Ainda crianças, quando perceberam que seus nomes eram muito parecidos começaram a se chamar de "Georgiezinho" e "Georgiezinha". Até hoje assinavam as cartas que mandavam um ao outro dessa maneira.

Os abraços de George eram sempre os melhores. Georgie não se achava baixa, mas era definitivamente bem mais baixa que os gêmeos, então quando George a abraçava, sentia-se totalmente coberta por ele e era uma sensação muito boa.

— Feliz natal, Georgiezinha.

E então, quando se separou de George, a coisa mais estranha do mundo aconteceu: Fred tomou o lugar do irmão na sua frente e a abraçou sem nem dar a ela tempo para pensar. Georgie não se mexeu durante alguns segundos, olhando para os amigos por cima do ombro do garoto. Daisy apenas levantou os dois polegares e George deu de ombros. E sem saber o porquê, apenas deixando que seu corpo se movesse da maneira que queria, no lugar de levar as mãos aos ombros de Fred como fazia com George, apenas passou os braços ao redor da cintura do garoto enquanto ele a puxava para o seu peito e respirou fundo, inalando o cheiro que emanava do suéter dele.

Georgie não sabia bem como reagir, nunca em 17 anos haviam se abraçado e já haviam se despedido um montão de vezes. Será que ele estava com pena dela como todos os outros? 

Mas esse não era o Fred que ela conhecia.

— Feliz natal, Georgiana.

Fred se afastou com um sorriso de lado tão desconcertante que Georgie até mesmo demorou a responder.

— Feliz natal, Frederick.

Depois que os três foram embora, Georgie voltou para a poltrona, pensando no malão que havia arrumado para Daisy acreditar que ela partiria amanhã cedo e suspirou. Ainda pensava nos braços de Fred ao seu redor. Como poderia o abraço dele ser tão diferente do de George, que ela ganhava a anos? Georgie ainda sentia a sombra do abraço dele sobre si e isso estava começando a assustá-la, porque sabia muito bem que as coisas não iam bem quando pensava muito em Fred Weasley. Sabia mesmo.

Fred e Georgie já haviam jogado quadribol juntos, já haviam feito poções juntos, já haviam até mesmo azarado outras pessoas juntos e trocado presentes em seus respectivos aniversários, mas nunca, nunca mesmo havia achado o garoto tão estranho quanto naquele momento.

Nem quando os dois se beijaram.

Sim, porque eles haviam se beijado.

A Grifinória havia acabado de ganhar a Taça de Quadribol durante seu quinto ano e os alunos precisavam comemorar. Principalmente os jogadores que haviam aturado os surtos de Oliver Wood.

E então, Katie, uma das artilheiras do time e nascida-trouxa, teve a ideia genial de apresentar a eles uma das brincadeiras que os trouxas adolescentes gostam de fazer: verdade ou consequência. Ela sempre gostava de trazer jogos trouxas. Todos já estavam felizes e animados por terem ganhado e a cerveja amanteigada que os gêmeos conseguiram roubar só os deixaram ainda mais soltos, então, por que não?

Depois que ela explicou a brincadeira, Alicia Spinnet foi a primeira a rodar, a garrafa apontando de Angelina Johnson para Oliver Wood.

— Ok, verdade ou consequência? – disse Angelina.

— Verdade – respondeu Wood com uma risadinha quando George o vaiou por considerá-lo fraco demais.

— Ok... Você está saindo com Georgie? – perguntou fazendo Georgie se engasgar com a cerveja amanteigada que tomava.

— Não – disse Wood na mesma hora, impassível. 

— Que mentiroso! – disse Katie.

— É verdade, ele não está – disse Daze da outra ponta da roda.

— Ela deu um fora nele – disse Fred tentando reprimir um sorriso e falhando. Wood revirou os olhos para ele.

— Fred! – exclamou Georgie.

Georgie e Oliver haviam saído juntos duas ou três vezes para Hogsmeade, haviam se beijado algumas vezes e embora ambos concordassem que o beijo era legal, parecia que faltava alguma coisa. Então eles prefeririam ficar apenas como amigos. Eram bons daquele jeito. Não havia ficado nada de ruim entre eles, até porque nem sequer haviam namorado, mas era muito estranho ficarem falando dos dois assim.

— Tudo bem, se o interesse pela minha vida amorosa já passou, eu vou rodar – disse Wood inclinando-se e pegando a garrafa que parou em Alicia e Fred.

— Verdade ou consequência? 

— Não seja um bundão, Freddie – provocou George fazendo Georgiana e Daisy revirarem os olhos.

— Consequência – respondeu ele com um sorriso malicioso, como se não houvesse nada no mundo que Alicia Spinnet pudesse dizer que ele não conseguisse fazer vendado e com as mãos amarradas nas costas.

— Hm... – ela olhou em volta, avaliando as possibilidades e quando finalmente achou, olhou para Fred como se finalmente tivesse achado seu calcanhar de Aquiles. – Beije Georgie Morgan.

O sorriso malicioso de Fred foi se desfazendo aos poucos até sumir de vez, provando a Spinnet e a todos que ela provavelmente havia achado o que queria. 

— Me beijar?! – exclamou a garota ao lado de Fred – Eu não quero beijar Fred!

— Eles são amigos – intrometeu-se Daisy que havia se compadecido pela expressão assustada dos dois amigos. 

— Ah, vamos lá, vai ser como beijar George! Nada que você nunca tenha feito antes – disse Angelina, seu tom de voz despejando muito mais veneno do que Georgie achava possível a garota ter. Georgie já estava acostumada com as pessoas pensando que ela havia ficado com George em algum momento, porque aparentemente era impossível ser tão próxima de algum garoto e nunca ter enfiado a língua na boca dele, então não foi exatamente isso que a incomodou.

Georgie viu Fred desviar o olhar e franziu o cenho para a garota.

— Primeiro, eu nunca beijei George na minha vida – começou, seu tom aumentando conforme ela falava. – Segundo, eu não preciso beijar George para saber que beijar ele e Fred são coisas totalmente diferentes porque, surpresa, eles são duas pessoas diferentes!

— Está tudo bem, Georgie – disse George, mas a garota apenas balançou a cabeça, pois havia visto no rosto de Fred o quanto aquele comentário havia sido incômodo mesmo que por alguns segundos.

— Não, não está tudo bem. Foi um comentário incrivelmente rude, ela deveria ter vergonha!

— Ok, desculpem, garotos! – disse ela levantando as mãos para cima. – Mas vocês ainda precisam se beijar. São as regras.

Fred e Georgie se entreolharam, todos na sala comunal agora olhavam para os dois. Era quase possível cortar a tensão entre os dois.

— Nós não precisamos fazer isso, é só um jogo bobo – disse Fred, mas Alicia e Katie resmungaram atrás deles.

Georgie balançou a cabeça e se virou totalmente para ele.

— Está tudo bem – disse ela.

Os dois continuaram se encarando quando Wood suspirou em alto e bom som e com um sorriso convencido, disse:

— Vamos logo com isso! É Georgie. Digo por experiência própria que ela beija bem.

Georgie sentiu as bochechas esquentarem assim que as palavras saíram da boca de Oliver, mas antes mesmo que ela pudesse dizer algo, Fred se virou para o garoto com uma expressão tão congelante que ela se surpreendeu pelo capitão do time não ter caído duro ali, em frente de todos. 

— Se eu fosse você, calaria a boca, Wood – sibilou Fred – Ninguém nunca te disse que só babacas saem por aí beijando alguém e comentando depois? 

— Humpf, rude! – exclamou Daisy alto, olhando de cara feia para Oliver, pois assim como Fred havia achado o comentário do jogador extremamente grosseiro. George riu e passou um dos braços em volta dos ombros da amiga e usou a outra mão para descruzar os braços dela de maneira carinhosa.

Fred já havia se virado novamente para Georgie e os dois riram da reação de Daisy e quando seus olhares se encontraram de novo, o sorriso não se desfez. Fred colocou uma das mechas do cabelo acobreado de Georgie atrás de sua orelha e depois repousou a mão em sua bochecha que começou a formigar imediatamente ao toque dele. E então Fred se aproximou. Inicialmente seus lábios apenas se tocaram levemente, como se estivessem apenas se cumprimentando, e o coração de Georgie batia tão forte que ela sabia, ela apenas sabia, que todos ali conseguiam ouvir. Quando Fred realmente capturou seus lábios no dele, ela sentiu-se derreter e eles nem sequer haviam se movido um centímetro para se aproximar de verdade. Ele apenas segurava seu rosto com delicadeza enquanto seus lábios macios faziam Georgie pensar que estava no céu experimentando a coisa mais incrível que os deuses já criaram.

Sem pensar, Georgie levou a mão até o joelho de Fred que estava encostado em sua coxa. Precisava tocar nele de volta. Assim que Fred sentiu a presença de Georgie ali, aprofundou o beijo puxando seu rosto ainda mais para ele. O beijo continuou lento, mas agora Georgie sentia a língua de Fred encostar na sua. 

Seus lábios se separaram depois de um tempo e Georgie abriu os olhos lentamente, ofegante, surpreendendo-se quando viu Fred ainda tão perto dela. Suas íris cor-de-mel pareciam mais claras do que o normal. Pareciam brilhar e Georgie pensou que se elas de fato estavam brilhando, não queria nem imaginar como estavam as suas.

— Isso foi... – sussurrou Georgie.

— Estranho! – disse George ao lado de Fred.

— Muito estranho! – concordou Daze. 

— Eu vou ter que concordar – disse Rony Weasley mais atrás. Eles estavam participando da festa, mas não totalmente, pois ainda tinham só treze anos.

— É – concordou Katie e Wood, que parecia mais incomodado do que quando Fred o cortou antes do beijo.

Fred soltou seu rosto devagar e riu, meio sem graça, virando-se para frente sem encarar Georgie.

— É, estranho.

Ainda olhando para ele, mas tentando mostrar que não estava nada afetada pelo beijo nem pelo que ele havia acabado de falar, mesmo que na verdade sentisse como se tivesse acabado de receber um grande balde de água fria, Georgie soltou uma risada um tanto quanto falsa, mas que ninguém, exceto Daisy e George perceberiam.

— É, definitivamente não vamos repetir isso.

E foi assim, com essas duas palavras de Fred Weasley, que o encanto que Georgie achou estar recaindo sob ela se quebrou. Por um momento ela se viu dentro de uma bolha totalmente distante dos amigos onde tudo que existia era ela, Fred e o beijo que estavam dividindo, mas quando acabou, ela percebeu que ela estava nessa bolha sozinha. E tudo bem.

Não tinha problema.

Eles eram amigos.

Mas ela não conseguiu evitar lembrar-se disso quando ele a abraçou e seu corpo todo pareceu voltar no tempo para aquele dia. Era mais fácil fingir que aquela bolha nunca tinha existido pra ela quando eles não precisavam se tocar.

Se fechasse bem os olhos e relaxasse ainda conseguia sentir os lábios doces dele sob os dela.

Não que ela fosse, é claro, só era possível.

[...]

— Ah, merda! – exclamou Fred. – Espere, acho que esqueci minha varinha!

— Está brincando – disse George olhando para o irmão como se ele fosse uma porta. – Como você poderia esquecer a sua varinha?

Já estavam no térreo do castelo quando a paranoia de Fred o venceu. Ele simplesmente sentia que Georgie estava estranha. Ela ria, o xingava, fazia piadas, mas algo estava errado com ela. E quando eles saíram, ele simplesmente teve certeza de que ela estava mentindo. Precisava ver uma última vez. Só mais uma e depois iria embora. 

— Vai ser bem rápido, eu juro – disse ele para o irmão. – Vamos deixar as malas aqui no canto.

George resmungou o caminho inteiro e quando chegaram no penúltimo andar, ele parou, encostando-se na parede.

— Vá. Vou esperar aqui.

Fred não insistiu, apenas continuou subindo de dois em dois degraus.

— Você de novo? – perguntou a Mulher Gorda com indiferença.

— Sim, eu de novo. Mimbulus Mimbletonia.

O quadro o deu passagem, mas ele nem precisou entrar totalmente para ter a confirmação de suas suspeitas. Georgie estava sentada com Katie Bell no sofá perto da lareira, de costas para a porta.

— Você vai ficar? – perguntou Georgie e Katie negou.

— Não, vou para casa de Angelina e você?

— Eu ficarei em Hogwarts esse ano – disse Georgie e Fred sentiu o corpo todo congelar no lugar.

Ele sabia! Sabia que ela estava escondendo algo! Fred quis entrar com tudo na sala comunal e perguntar por que diabos ela havia mentido e arrastá-la até a carruagem, porque não haveria nada no mundo que fizesse com que ele a deixasse sozinha no natal.

Mas ele sabia o porquê dela estar fazendo isso, sabia que não era assim que as coisas funcionavam com Georgiana Morgan e ele, e principalmente, achava que nem sequer teria coragem para tal. E foi pensando nisso que ele virou os calcanhares e correu até George. 

Sim. George. Ela nunca dirá não para George, pensou ele com uma amargura pouco característica quando se tratava do irmão. 

George o olhou impaciente. Estava com fome e era uma longa viagem até em casa.

— Pegou?

— George.

— O que?

— Acabei de ouvir Georgiana dizer a Katie Bell que pretende passar o natal em Hogwarts – George franziu o cenho ao ouvir o irmão, já começando a subir as escadas. – Sozinha.

Alguns minutos e algumas discussões depois, Fred convenceu George que precisavam fazer Georgie ir para Toca com eles. George concordava com o irmão, mas achava que se a garota havia resolvido ficar em Hogwarts, deveriam respeitar o que ela queria também.

Fred apenas não aceitou esse argumento.

— Você sabe porquê ela quer ficar sozinha – disse ele ao irmão. – E se ficar, vai ser pior.

George, por sua vez, não conseguia discutir com isso.

Esperaram Katie Bell sair da sala comunal e entraram pouco tempo depois. Georgie continuava no mesmo lugar. Sem nenhum aviso prévio, os dois sentaram-se no sofá, um de cada lado da garota, fazendo com que ela desse pulo de susto.

— Merlin! Que droga! – exclamou com a mão no peito. – O que vocês estão fazendo aqui? Me despedi de vocês agora a pouco!

— Veja só que história engraçada – começou George.

— Estávamos indo embora – disse Fred. – Agora mesmo, como você sabe, e aí esbarramos na nossa amiga Katie Bell! Artilheira da Grifinória. Lembra dela?

Georgie engoliu em seco olhando de um para outro. Havia sido pega. Não precisava nem que eles dissessem, conhecia muito bem aquelas expressões.

— E ela nos contou uma história totalmente sem pé nem cabeça – disse George.

— Disse que você, Georgiana Morgan – disse Fred dando um leve toque na ponta do nariz de Georgie ao dizer seu nome. –, planeja ficar em Hogwarts.

— Eu achei impossível, porque isso quer dizer que você mentiu para mim – disse George. – E eu disse a Fred, claaaro que não, Georgie não mente para mim!

— Mas pelo visto...

— Ok, tudo bem! – interrompeu ela, exasperada, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos. – Vocês me pegaram. Satisfeitos?

— Não, nenhum pouco – disse George. – Você não pode estar falando sério!

— Ficar aqui sozinha até depois do ano novo? – emendou Fred.

— Fala sério, Georgie.

— Eu não posso ir para casa, vocês sabem disso – disse ela, encarando as mãos.

— Então não vá! Venha para casa conosco – disse Fred – Não é negociável. Se você não vier, vamos ficar.

Georgie arregalou os olhos olhando de um gêmeo a outro.

— Sua mãe mataria vocês! E depois mataria a mim por fazer vocês ficarem!

— Mamãe nunca mataria você – disse Fred – Gosta mais de você do que de nós. Além do mais, ficaria orgulhosa depois de saber a quantidade de vidas que salvamos da fúria maluca da Abominável Mulher das Neves. 

Georgie deu uma cotovelada na barriga de Fred, que xingou e se encolheu por alguns segundos, rindo. Ele não perdia a chance de falar dela. 

— Ainda assim – Georgie balançou a cabeça, não achando graça alguma – N'A Toca se a família não estiver reunida...

— Então não é natal – terminou George. Era uma frase que Molly Weasley repetia todos os anos e levava muito a sério. – Vamos lá, Georgie. Venha com a gente.

Georgie suspirou, pronta para abrir a boca novamente e dizer que não e que já havia decidido quando Fred falou antes dela. 

— Ou seja, não vai ser natal de qualquer jeito sem você, Georgiana – disse ele ainda passando a mão onde Georgie havia batido. Ele disse com tanta sinceridade que algo pareceu ligar dentro de Georgie. Ela não sabe por quanto tempo os dois ficaram se encarando, mas pareceu mais do que horas para ela. – Você é família, Georgiana. 

Georgie mordeu o lábio inferior e ficou de pé. Fred e George se entreolharam batendo as mãos no ar em forma de comemoração. Ela não precisava falar para eles saberem que tinham convencido a garota. Georgie havia planejado passar o natal sozinha, dividida entre ficar feliz e triste por não haver neve e chorando, mas seus amigos tinham uma ideia totalmente diferente da dela. E pela primeira vez, ela se viu sem ser capaz de dizer não a Fred Weasley, não a George, mas ele. Fred. 

Pensou que este último fato era mais do que motivo suficiente para se recusar. Mas então também pensou nas inúmeras cartas preocupadas que Molly Weasley enviaria e como a mais velha seria capaz de organizar um natal especial no meio do castelo se sonhasse que ela estava pior do que realmente estava e suspirou, derrotada.

Então, ao invés de discutir mais um pouco, ela cruzou os braços e olhou para os dois, dizendo:

— Tudo bem, mas um de vocês vai carregar o meu malão – disse. – E se Fred passar um tiquinho da linha, eu quebro o nariz dele.

— Existe uma linha?! – exclamou Fred com um sorriso.

— Claro que existe.

— E depois de todos esses anos, eu ainda não a cruzei?

Georgie comprimiu os lábios um no outro.

— Não, não passou. 

— Ora, mas que tipo de pessoa eu sou agora? Você não pode me dizer que existe uma linha e simplesmente esperar que eu não queira ver o que tem depois dela.

— A única coisa depois da linha é o seu nariz quebrado – disse Georgie, mas seu tom era brincalhão e um sorriso parecia querer se formar em seu rosto. 

— Acho que vale a pena por você, Georgiana.

A garota revirou os olhos, mas não conseguiu não notar o sorriso que surgiu nos lábios de Fred quando ele levantou e foi em direção ao buraco do retrato dizendo que o malão seria responsabilidade de George, muito menos a forma que seu coração só passou a se acalmar quando ela correu para o dormitório e levou muito mais tempo que o necessário se arrumando para a viagem em direção a casa da família Weasley.

 


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