Dragões Imperiais escrita por cocasuco


Capítulo 16
Memórias em papel




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   - Vou contar para vocês desde o começo, eu fui mandada aqui para ir atrás de seu chefe, como é o nome dele mesmo, “Senhor Touro”, é assim que vocês chamam ele? – começou a cair na gargalhada Rebecca, ela estava tentando ao máximo irritar as feras que andavam entorno de seu corpo, como astros em translação para com o Sol, aquilo era um tipo de círculo da morte, eles não iriam deixar ela sair daquele lugar sem múltiplos ferimentos, eles estavam prontos para fazer ela passar pela maior lição de sua vida e caso fosse de escolha de seu chefe, eles iriam matar Rebecca – Olá senhor touro, eu vim aqui lhe presentear com um pouquinho de feno, espero que o senhor goste, no pasto tem bem mais de onde esse veio.

   - Você abusa demais da sorte menina lobo – disse um dos homens que rodeava ela, o ambiente era bem escuro, mas mesmo assim seus rostos, quando passavam na posição em que o foco de luz era mais intenso eles podiam ser vistos, o homem tinha cabelos negros e um físico bem alto, ele deveria ter bem que a altura da Helena, ou coisa parecida, seu rosto era moreno, bem bronzeado, um nariz grande e pontudo e seus olhos, eles eram olhos comuns e castanhos, mas quando ele rotacionava em sentido no escuro, seus olhos brilhavam na escuridão como esferas luminescentes. Ele usava uma roupa de grife, algum tipo de terno, parecia ser bem caro, mas conhecendo aquele lugar, estava mais para alto falso, tecido pirateado, o Touro tinha dinheiro, ele com certeza era tão rico quando poderia ser um nobre, tudo por causa de sua grande influência no submundo, mas ele também era tão conhecido por ser ganancioso que com certeza não gastava tanto dinheiro assim com roupas para seus subordinados. Sobre sua cabeça ele também tinha um chapéu de aba rotativa e uma faixa vermelha no seguimento da nivelação de altura do acessório.

   - Que fofinho, acho que esse apelido pegou mesmo, me lembrou até o Alex, faz mais ou menos cinco dias que eu não me encontro com ele – disse Rebecca perdida em seus pensamentos.

   - Óia sua pirraia, ou ocê colabora com nóis aqui e debanda qui nem uma oveia assustada, ou ocê vai sofrer as consequências, vai ti embora que ninguém si machuca, nóis sabe que ocê num tá mais nas saia da biscate da Rainha, o exército num vai atacar nóis se você sumir – disse um dos outros integrantes, ele era mais velho, era já um senhor, deveria ter mais de quarenta anos, uma camiseta velha e toda rasgada, calças compridas e de pernas acolchoadas, botas estilo peão de rodeio e um cigarro acesso em sua boca, uma boca nojenta e lábios que minavam saliva como se estivesse babando. Ah claro, o sotaque dele quase fazia Rebecca voar em sua garganta, ele tinha um sotaque caipira tão debochado que irritava qualquer um que escutasse, com certeza era forçado, mas ele deveria usar tanto que acabou virando uma mania.

   - Sim Rebecca, nós ficamos sabendo, nós temos informações de todo o país, sabemos que um dos três capitães da rainha foi expurgado, Forza perdeu seu posto e você caiu junto como a serviçal dela que você, a mandante perdeu seu posto e a cadelinha caiu junto, cadê sua coleira, Forza deve estar por perto, fiquem de olho – disse a terceira e última integrante do trio que rodeava Rebecca naquele lugar escuro. Era uma moça de cabelos negros e presos em forma de pompons, ela usava uma roupa de mangas longas, abotoada e um shorts jeans, era um pouco acima do peso que os outros dois e mesmo assim, ela tinha bastante músculos, parecia treinar.

   - É justamente essas informações das quais eu preciso e eu irei consegui-las, mesmo que eu precise passar por cima de vocês três para isso – respondeu Rebecca os desafiando.

   Cinco dias atrás. Em um vilarejo, bem distante da cidade de Tesouro, vila “Madeira”, uma imagem, uma pessoa, passava de casa em casa, ela era tão rápida, que mesmo os mais ágeis olhos não conseguiam ver ela correndo. Os animais com toda certeza iriam se assustar, mas pareciam já estar acostumados, e o som, o belo som do vento que saltava em fortes correntes quando essa pessoa passava era o que deixava muitas pessoas loucas de vontade de abrirem a porta de suas casas, o que elas queriam especificamente, elas estavam desesperadas por notícias, notícias de outras vilas e é claro, queriam saber o que estava acontecendo em Tesouro. A pessoa, o homem, que entregava notícias, mais especificamente jornais, entregava jornais para todo o país, ele passava de portas em portas em qualquer região do país, saia logo cedo pela manhã da vila Cetrim e voltava ao cair da tarde, a cidade de Cetrim era bem famosa por apresentar notícias ocorridas em todo o país, desde pequenos furtos, até mesmo grandes desastres causados em Tesouro, nenhuma notícia escapava dos ouvidos atentos dos informantes daquele lugar, um lugar que ganhava uma fortuna de Tesouro para apresentar suas inúmeras notícias, eles publicavam de tudo, mas muitas coisas eram vedadas pela família real e é claro, um lugar que trabalhava com entregas de notícias não poderia ficar sem o seu maior trunfo, um entregador que pudesse apresentar tantas notícias em poucas horas, seu nome era Hector McGarden, seu grande entregador, mais conhecido pela alcunha de Hermes, já que ele era tão rápido que mesmo armas de fogo não podiam lhe atingir.

   Hermes já havia passado em diversas vilas e quando passou por uma em específico ele deixou o jornal na porta, bateu três vezes na porta, em uma velocidade tão grande que pareceram ser uma meia mais ou menos e se dirigiu até a próxima residência. A porta foi aberta por uma menininha à mando de seus pais, ela era tão pequena que teve de se esticar ao máximo para que pudesse segurar na maçaneta, girou ela, já que era uma maçaneta em formato arredondado e abriu a porta, ela se encantou, seus pais sempre liam as notícias para ela como se fosse uma história em quadrinhos, de alguma forma a menina se encantava de saber das notícias de vilas a fora. Pegou o jornal e fechou a porta fazendo força contra ela, que bateu na fechadura e se fechou sozinha.

   - Papai, papai, olha, o jornal! – começou a gritar a menina enquanto corria pelos corredores da casa. Uma mãe bem preocupada saiu colocou sua cabeça na porta da cozinha, que ficava no mesmo sentido do corredor para alertar sua filha.

   - Não corra filha, você pode acabar caindo e se machucando – disse a mãe, enquanto esfregava suas mãos em um pano, a menina acenou com a cabeça e rapidamente diminuiu a velocidade da passada – toma, aqui, pega um pirulito enquanto o almoço não está pronto – a mãe levou um pote cheio de pirulitos na direção da menina, que pegou um, logo abriu o saquinho, jogou no lixo da cozinha e continuou andando apressada até seu pai que estava na sala.

   A menina cruzou a porta da sala e se deparou com seu pai, ele estava consertando a perna da mesa de madeira, batia pregos nela de uma forma bem amadora, o lugar já estava cheio de pregos tortos, mas mesmo assim ele insistia em sua falta de habilidade. Quando viu a menina entrar na sala ele abriu um grande sorriso.

   - Tudo bem filha, trouxe o jornal para o papai – a menina respondeu que sim, ele então se sentou na poltrona e a menina se sentou em seu colo, a mãe que também estava bem curiosa, saiu da cozinha e foi até onde os dois estavam.

   Outro vilarejo, vila “Carvalho”, um mordomo, com um grande e belo terno, calças escuras, da mesma coloração que o terno, sapatos caros, relógio dourado, trazia em sua mão direita um papel dobrado em forma circular, como se formando um cone em suas mãos, aquele era o jornal, ele trazia o jornal para seus superiores. Andava pela enorme casa, até que chegou em encontro com um jardim nos fundos da casa em que seus patrões estavam desfrutando do Sol.

   - Senhor e senhora Scalls, o jornal de nossa residência acabou de ser entregue na porta da frente por aquele senhor de rodos os dias – disse o mordomo que se curvou e colocou sobre uma pequena mesa o jornal.

   O homem que estava sentado ao lado da mesa, de pele pálida, assim como seus cabelos prateados e mesmo olhos, brancos como neve, pegou o jornal e o abriu na frente de seu peito, curvado para que conseguisse ler. Ao seu lado, sua mulher desfrutava de uma bebida não alcóolica, na qual flutuavam pedaços de morango, ela tomava a bebida por um canudo.

   - O que diz as notícias amor? – ela perguntou e logo em sequência tomou um pequeno gole de sua bebida, tão gelada que se sentiu refrescar – algo sobre a nossa filha?

   Em uma terceira vila, a vila “cobre”, uma careca, com olhos amarelos e um pomposo bigode loiro, tinha acabado de comer, quando escutou Hermes deixar o jornal na porta de sua casa, ele deu a última mordida no pão em que ele mastigava e o resto que sobrou ele enfiou na boca para mastigar enquanto buscava o jornal.

   - Final...men...te o jon...nal – ele falava enquanto mastigava, pegou o jornal e olhou sua página, enquanto lia a matéria que estava na página ele engolia o que estava em sua boca, se apoiou em uma parede, acendeu um cigarro e começou a fumar enquanto lia as manchetes.

   Em tesouro, após lerem o jornal, muitas pessoas se assustaram com o que estava escrito, muito começaram a rir de alegria, pessoas comemoraram, braços aos céus e diversos tipos de aplausos, finalmente, o medo que os assombrava havia passado, na capa do jornal, a manchete usada para atrair o maior número de leitores estava lá, depois de semanas de sofrimento e mortes, depois de tanto medo, o título era: “O general de Tesouro, Normam, vence o assassino em série da cidade, usando sua grande força, ele traz a paz novamente para a cidade de Tesouro”, logo abaixo uma foto do corpo morto do homem que se transformava em uma aranha gigante. Mas como nem todas as notícias da cidade são boas, logo na contracapa estava uma foto de Helena, fazendo uma cara feia como sempre que tiravam uma foto sua, isso como o título: “A capítã Helena Forza, que servia cerca de 18 anos a cidade de Tesouro, perdeu seu posto por inúmeros crimes contra a cidade”, essa segunda notícia fez com que as pessoas ficassem em um impasse, muitos acharam ruim que a cidade perdesse um soldado tão forte quanto ela, já outros apoiaram a ideia, esses na maioria conheciam seu título de Demônio e por isso prefeririam ter ela longe de suas casas. Diane tinha recebido o seu jornal a alguns minutos atrás, ela então estava lendo a matéria sobre Forza.

   - O que você fez dessa vez Forza, não sei se você está muito feliz com essa ideia, enquanto muitos te chamavam de Demônio, outros te chamavam de Chamas da esperança, lembro do nosso tempo, você ensinado ao meu pai sobre o país e como ser um soldado real, o que proporcionou essa mudança tão grande, o que você busca? O que você teve que abandonar para chegar a esse ponto – disse a doutora Diane.

   Ela então virou a página, logo na página seguinte estava uma matéria sobre mortes na cidade.

   De volta na vila Cobre, o homem que lia o jornal enquanto fumava tinha acabado de virar a página de seu jornal, ele achou bem interessante a queda de um dos Capitães, uma das três maiores forças militares do país, quando virou a página seus olhos se arregalaram, aos poucos suas mãos começaram a tremer e seus olhos foram se fechando, enquanto se enxiam de lágrimas, as gotas que escorriam pelo seu rosto ficavam suspensas em seu queixo até ganharem peso e caírem sobre as folhas, deixando manchas em formatos redondos.

   - Por que Albert?! Quem fez isso com você, sempre tão encantador, sempre amigável com todos, como te deixaram morrer?! AAAAALBERT! – começou a gritar ele, seu cigarro nessas horas já havia caído no chão e as próprias lágrimas do homem loiro já haviam apagado ele, ele mesmo caiu de joelhos no chão, batendo com tanta força que com certeza ele machucou, o que ficaria marcado mais tarde, mas aquela dor não era nada em comparação com perder um filho, esse era o pai de Albert Blem, Magni Blem.

   De volta para na vila Carvalho, o homem que estava sentado lendo seu jornal ao lado de sua esposa, ambos tomando drinks sem álcool, ele leu sobre a Forza e logo em seguida virou a página, ao virar a página ele pode ver a foto de três jovens, uma dos três jovens lhe chamou a atenção, uma menina de cabelos prateados e olhos brancos, ele passou dois de seus dedos sobre a foto da menina, como se acariciasse alguém, seus olhos ficaram grandes, ele achou que tinha lido errado, mas isso não era verdade, ele realmente tinha lido que Richet havia morrido.

   - O que foi meu amor, algum problema? – perguntou a esposa, ele estava de cabeça baixa e agora com a mão na frente de seus olhos, ele ao escutar a pergunta dela não respondeu nada, apenas jogou o jornal na mesa, chegando bem perto dela, quase caindo as folhas em seu colo, ela pegou o jornal e ele tem baixo falou “terceira página”, ela então abrindo direto na terceira página. Ela também não conseguiu acreditar.

   - Sim Richet Scalls, nossa filha, Richet Scalls II morreu naquele lugar, ela morreu, tudo por causa de seu sonho patético de se tornar um soldado, não diz nem ao certo quem matou ela ou “esses outros” sem importância que estavam com ela, mas está escrito aí que eles morreram protegendo o reino – disse o homem albino – não podemos fazer nada querida, não podemos trazer nossa pequena de volta à vida.

   - Nós podemos consultar a igreja – respondeu a esposa.

   Agora na vila madeira, o pai tinha acabado de ler a reportagem, a menina que estava no seu colo estava olhando o tempo inteiro a foto dos três jovens que morreram, ela então apontou o dedo na direção de Sara na foto.

   - Papai, quem é essa moça...ela é bem bonita não é – perguntou a pequena.

   - Não sei minha filha, não é alguém que tenha importância em nossas vidas – disse o pai.

   - Mas papai, eu já vi fotos de vocês dois com uma outra menina que parece muito essa, mas um pouco mais nova, você não conhece ela mesmo? – fez mais uma pergunta a menina.

   - É alguém que já deveria estar morta faz muito tempo, ela já esteve entre nossa família, mas nunca me representou nada – disse a mãe.

   Na base controlada por Ezequiel Contraforte, todos os soldados estavam em luto, durante um dia eles ficaram sem treinamento, flores foram colocadas nas coisas dos antigos soldados e naquele dia, houve uma reunião, em que todos os soldados da base ficaram posicionados, colocando seus chapéus militares em seus estômagos e fazendo o juramento da base em nome dos três antigos soldados mortos, Richet Scalls, Sara Red e Albert Blem.

   - Que seus corpos tenham sido mortos, mas que suas almas continuem nos dando forças, eu ofereço minhas gratidões, que seus nomes atinjam as estrelas, obrigado meus caros alunos – disse o capitão Ezequiel.


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