O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 8
Capítulo 08 - Eu odeio ela. ODEEEIO!! E ODEEEIO!!!




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J - Nada George, nem um sinal. Nada da Marguerite aparecer. Se algo acontecer com ela, não irei me perdoar, eu deveria ter ido junto, e se Xan descobriu, se a capturou, se o Oroboros falhou, ela pode estar em qualquer lugar, qualquer tempo. Se tudo estivesse bem, ela teria voltado.

C - Calma meu velho, perder a cabeça é pior, logo mais chegamos na aldeia Zanga, eles saberão como nos ajudar. Precisa se acalmar, mal prestou atenção no caminho, você não costuma agir dessa forma. Ontem também, passou o dia inteiro inquieto, de um lado para o outro, não se alimentou, isso não vai trazê-la de volta. Nós vamos encontrá-la, deve existir algum modo, nem que eu precise construir outra máquina de tele-transporte, vamos encontrá-la. Agora acalme-se homem, é preciso que faça isso.  

No dia anterior o caçador permaneceu dentro de casa, alimentando a esperança de que Marguerite voltaria, ansioso, tentando convencer a si mesmo, que tudo estava bem, que tudo não passava de um contratempo. Mas na medida que as horas passavam, sua inquietude aumentava, e como tentativa de ocupar a sua mente, lustrou, lubrificou e realizou a manutenção de todo o armamento, reforçou o mecanismo do elevador, fez o almoço, mas ele mesmo nem tocou na comida, após ainda tirou a mesa e tratou de cuidar da louça, ajudou Challenger no laboratório, Malone a descrever os últimos acontecimentos para registrar em seus diários e mesmo Verônica com os desenhos, observando e opinando sobre. Nada adiantou.

Quando anoiteceu, se deitou, mas não dormiu, todo o quarto lembrava Marguerite, assim como todos os seus pensamentos, os quais não permitiram que o homem tivesse sossego, em todos esses anos passaram por inúmeras situações ruins, mas nada era como aquela, porque aquela era o mesmo que lidar com “o nada”, não havia maneiras de encontrar Marguerite, ainda mais porque depois de 04 anos buscando uma saída daquele platô, encontrar uma outra agora, seria um milagre, e Roxton não acreditava em milagres. Além disto, nada sabiam sobre Marguerite, ela poderia estar viva, machucada ou mesmo morta, o oroboros a essa altura já poderia estar nas mãos de qualquer outra pessoa ou do Xan. O caçador nada sabia, o que era ainda mais angustiante, preferia encarar uma verdade, por mais dolorosa que fosse, do que a incerteza, que só lhe geravam perguntas e dúvidas.

O caminho até os Zangas foi silencioso, todos estavam preocupados, atentos e pensativos demais, ainda que o ritmo que caminhavam fosse acelerado, Verônica começava inclusive a temer que tivesse falhado na sua função como protetora, que assim como o Oroboros, o Tryon não deveria estar funcionando corretamente, o que pode ter causado toda esta situação, ou colaborado para o desaparecimento de Marguerite.

Assim que chegaram à aldeia, seguiram rumo a cabana do Xamã e de sua companheira Luna (curandeira e parteira do local). O casal parecia prever a chegada dos exploradores, diferente dos demais que andavam de um lado para outro, cumprindo com seus afazeres, os dois estavam calmos, o Xamã fumando o seu cachimbo logo na entrada da cabana, enquanto Luna confeccionava uma espécie de pulseira ou bracelete, com palhas e alguns búzios próximos.

X - Olá garota Verônica, vejo que trazem novidades, ou melhor... Problemas?

V - Olá Xamã, Luna, como estão? E sim, infelizmente estamos com sérios problemas, parece que já nos esperávamos não é mesmo?

X - De certa forma sim. Mas vamos, entrem, assim ficaremos mais à vontade.

Luna - Esperem, onde está a mulher de cabelos escuros? Não a vejo junto de vocês.

V - É por causa dela que viemos, ela não voltou depois da última vez que usou o Oroboros.

O casal trocou olhares cumplices, Luna deixou um suspiro escapar e direcionou toda sua atenção ao caçador.

X - Eu e Luna vamos ajudá-los, acho que sabemos o que pode ter acontecido.

 

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Marguerite acordou cedo, com a sensação de que estava no platô, mas bastou reparar ao seu redor para perceber que não passava de um sonho, ao seu lado na cama de casal encontrou ninguém, apenas um enorme vazio, só não era maior, porque parte do espaço tinha sido preenchido por Sexta feira, que por sinal havia sujado os lençóis brancos de terra, mas isso ela cuidaria depois.

Permitiu-se admirar a vista da varanda, a paisagem era exuberante, agora entendia o motivo de Roxton gostar tanto do lugar. Pode visualizar um lago enorme, os arvoredos frutíferos, o céu limpo, o campo extenso, impossível imaginar o tamanho da propriedade, não era capaz de identificar onde começava ou terminava, e ao mesmo tempo tão diferente do platô, nunca pensou que um dia desejaria voltar para aquele lugar esquecido por Deus.

L.R - Vejo que já acordou, que ótimo. Pensei que terei eu mesma que acordá-la. Preciso tirar suas medidas, vamos trate de sair dessa varanda, não temos o dia todo e mantenha esse animal longe de mim, aliás no seu estado, não era nem mesmo para ele estar na sua cama, e olhe essa sujeira, sinceramente.

M - Bom dia para você também Lady Roxton. Acho que não precisa se preocupar com a proximidade do Sexta Feira, ele sabe muito bem que não deve revirar lixo, nem mesmo chegar perto de um quando vê, portanto, não, ele não irá se aproximar de você. E o que tem com as minhas medidas? Já aviso que se for para providenciar meu caixão, eu não morro tão facilmente. 

L - Escute aqui Marguerite, estejamos juntas nisso, será às minhas ordens que irá acatar, guarde suas insinuações para si. Sabemos bem o que pensamos uma a respeito da outra. E para você é senhora ou Lady Roxton, não gostaria de ficar repetindo cada vez que discutimos, mas se necessário, eu o farei, até que aprenda a lição. Quanto às suas medidas, achei que fosse mais esperta, não minto, não lhe tenho nenhuma afeição, mas também não a quero morta, eu não sujaria minhas mãos com algo assim, sem valor. Vou providenciar vestes adequadas para você, melhores do que esses trapos que chama de roupas. Irei a cidade junto com Anne, para comprar vestidos, sapatos, luvas, tudo o que uma dama precisa, embora sabemos que de dama você não tem nada. Qualquer coisa falo que é para uma sobrinha distante que chegou recentemente e passará alguns em minha companhia. Até que tudo se acerte não vamos levantar suspeitas.

Marguerite respirou fundo e precisou se concentrar em dobro, tinha que admitir, começava a notar que a mulher mais velha carregava algumas características semelhantes as suas, ela mesma responderia igual a Lady fez. Mas se continuassem assim, discutindo por tudo e por nada, seria impossível alcançar o objetivo que ambas desejavam. As coisas pareciam que difíceis do que planejava.

Lady Roxton foi rápida, tirou as medidas de Marguerite com auxílio de uma empregada, que anotava tudo em um pequeno bloco, medidas, numeração dos calçados, tudo que julgava necessário.

L.R - Marguerite o café está posto, sugiro que por hora fique com a sua antiga vestimenta, retorno após o horário do almoço. Por favor se alimente de forma correta, assim quanto antes partiremos para encontrar John.

M - Não tenha dúvidas Lady Roxton,é exatamente o que farei. Nesse momento tudo o que mais quero é encontrar seu filho.

L.R - Só me pergunto se o interesse é realmente em encontrar o meu filo ou l mais de sua fortuna. Tenho um bom dia senhorita Krux e antes que eu me esqueça, não tente fazer nada que se arrependa. Porque eu vou saber de um jeito ou de outro.

A mulher saiu, batendo a porta atrás de si, não dando brechas para qualquer resposta ou comentário que a herdeira pensasse, deixando-a sozinha e por sinal muito irritada.

M - Eu odeio ela. ODEEEIO!! E ODEEEIO!!!

Marguerite gritou e bufou, atirando um dos travesseiros na porta, não conseguia acreditar em tudo que estava acontecendo, sentia-se frustrada e até mesmo inútil, como poucas vezes em sua vida, não se sentia capaz de organizar seus pensamentos, de formular um plano ou encontrar uma solução para toda aquela situação.

Um turbilhão de sensação, e naquele instante, mais uma nova desabrochava, subitamente algo se mexeu em seu ventre, não era ruim, só era novo e estranho. Um sinal de que alguém estava ali com ela, como se fizesse presente, o suficiente para lembra-la que, agora tinha mais uma vida que dependia da sua própria. Ainda trêmula, levou suas mãos a barriga, na tentativa de sentir novamente aqueles movimentos, e em questões de segundos lá estavam, os mesmos movimentos, ainda mais fortes, como se soubesse que ela “os tocava”.

M - Você está mesmo aí dentro, de verdade, eu quase me esqueci... Será que está bravo ou brava?! .... Que também sente o que eu sinto, como dizem as mães por aí. Se sentir, então estamos nós dois bravos com a sua avó. Aliás, se ela me ver chamando-a assim, me mataria, nem eu sei porque estou fazendo isso. Ela só serve para me manter aqui e atrapalhar com todos os meus planos, e do George, da Verônica, do Malone e de John.

De repente Marguerite sentiu um movimento mais forte que os demais, com a pronuncia do nome “John”.

M - Ei ei... Vai com calma, eu ainda estou me acostumando com você criança, sei agora que você também está aqui comigo. Mas saiba eu também estou com saudades dele e preocupada, a essa hora John deve ter ficado louco. Espero que os outros saibam como lhe dar com ele e que ele se cuide, por nós dois.

 

—--//---

 

Na cabana, Luna mexia em algumas de suas poções, buscando a certa para a ocasião, enquanto isso o Xamã prestava atenção em cada detalhe da história contada pelos exploradores, analisando cada palavra.

            Logo, a mulher aproximou-se, segurando alguns recipientes, que os colocou a frente do caçador, em um deles depositou água, sal negro e algumas folhagens, o outro deixou-o fechado, ao lado.

Luna - Caçador, eu não posso trazer a mulher de cabelos escuros de volta, eu sinto muito, por você e por ela também. Mas isso foge das minhas mãos e acredito que das dela também.

            Diante da declaração da curandeira, nenhum dos exploradores foram capazes de se pronunciar, o desespero talvez os tivesse consumido, não era o que esperavam ouvir, foi Challenger minutos depois, que pareciam uma eternidade, quem se manifestou, de modo ainda ofegante e desordenado.

C - Por Deus mulher, está insinuando que alguém roubou o Oroboros de Marguerite? E que não pode nos ajudar?

L.R - Veja homem de pouca fé, você acredita em suas máquinas, invenções, mas também sabe que tudo tem o seu tempo e as vezes algumas coisas fogem do nosso controle não é mesmo?! Eu acredito no que o universo me conta, no que posso ver e tocar, no céu, nos elementos e tudo mais que a natureza pode oferecer, basta observar os sinais. Eu sei sobre a amiga de vocês, ninguém roubou o medalhão dela, mas ele também não está sobre seu domínio e para recupera-lo, dependerá de seus esforços também. E não existe nada que eu possa fazer para traze-la de volta, só ela tem esse poder.

            Verônica estava tão confusa quanto aos demais, podia ver isso em seus rostos, mas também percebeu que Challenger se incomodou com o modo que a curandeira respondeu, o que não era surpresa, afinal sempre acontecia certa rivalidade entre a ciência e a magia.

V - Luna, pode explicar melhor o que quer dizer, se Marguerite está com o medalhão, mas ainda assim foge de suas mãos voltar para cá, o que aconteceu e porque dependerá dela também? Existe mais alguém?

            Surpreendentemente Roxton como que desperto de um transe, foi capaz de se manifestar também, mais agitado e ansioso que Challenger e Verônica, mas fez com que Luna chegasse ao ponto que desejava desde quando os viu chegando próximo a cabana.

J - Luna, por favor, tem que nos dizer se algo aconteceu com ela, se corre algum perigo, quem é essa pessoa, esse alguém que falou. Ela precisa voltar para casa, e ela vai voltar não vai? Eu preciso ter noticias dela, se algo aconteceu, por favor, chega de enigmas, de rodeios, precisa me contar tudo o que sabe, já não aguento mais.

Sim Luna por favor me diga ela está bem, corre algum perigo, está sozinha, vai voltar para nós, não vai?

            Mais uma vez, Luna aproximou-se do caçador, sentou a sua frente, o recipiente com água entre os dois, segurou-lhe as mãos, até subiu os olhos para encontrar os de Roxton, podia ver muito além do que mostravam, eram as janelas de sua alma, por eles enxergavam toda dor e desespero, mas também todo o amor pela mulher que procurava notícias.

Luna - Dependera dela, dos seus esforços, da sua capacidade para deter os seus impulsos e do Oroboros também. A mulher que ama não está sozinha, há algum tempo ela não trilha mais sua jornada sozinha, desde quando se conheceram. Mas agora, ainda que não estejam próximos, afirmo que ela continua acompanhada. Como falei anteriormente, não posso traze-la de volta, mas posso mostra-la, se assim desejar.

J - Como isso é possível se não sabemos onde ela está?

Luna - De maneira semelhante aquele que trouxe o seu irmão de volta a vida, meses atrás, a diferença é que não uso máquinas.

J - Está bem, é única chance que eu tenho, faça o que for necessário fazer.

Luna - Preste bem atenção, diante de nós temos um jarro com água e mais alguns ingredientes, que são sal negro, permitirá uma limpeza espiritual profunda, anis-estrelado para melhorar o seu estado emocional e despertar sua intuição, sálvia que permitirá sabedoria e da clareza mental e por último, uma pitada de tomilho vai ajudar a manter a força, a coragem e foco necessário até chegar a sua meta. Além disto, ao seu lado direito tem um frasco com chá de alecrim, é uma erva usada para tratar assuntos do coração, quero que tome esse chá e após olhe para água, irá vê-la, no aqui e agora, não por muito tempo, mas deve ser o suficiente, é tudo o que posso fazer.

Roxton assim o fez, de forma obediente seguiu todas instruções da mulher, sem pestanejar ou questionar, era a sua única opção e o que restava para o aqui e agora, como ela havia falado.

A princípio viu seu próprio reflexo e nada mais além disto, mas logo a própria coloração da água alterou-se, parecia um céu estrelado, ainda que a cor fosse num tom roxo, até que foi limpando, como nuvens dispersas, e então lá estava Marguerite, trajava um vestido de noite, o cabelo envolto de um penteado, bem arrumado, assim como a maquiagem muito bem feita, e do modo como sempre gostou ornada de joias. Parecia feliz, um de seus mais belos sorrisos estampando o rosto e, para desespero do caçador abraçava um outro alguém, um homem também muito bem trajado aparamente, que não soube identificar quem era, já que o mesmo estava de costas.

Não podia acreditar no que via, ou melhor não queria acreditar naquilo, sentia-se quebrado e divido, seus sentimentos diziam que Marguerite não capaz de abandonar qualquer um deles, abandonar ele mesmo, que o seja lá o que viu, não passava de uma ilusão, no entanto, sua razão ainda tinha motivos para acreditar nas palavras de Malone do dia anterior, talvez Marguerite tivesse deixando-os, todos eles, afinal transbordava alegrias nos braços de outro homem.

A visão sumiu, foi momentânea, entretanto John permanecia olhando para a água, alimentava a esperança de visualizar algo mais, o que foi em vão.

Luna - Então, o que viu?

J - Desculpe Luna, o que perguntou? Eu não estava prestando atenção.

Luna - É claro que não estava, mas porque não compartilha com todos nós o que viu, está branco e abatido, diga, não foi o que esperava?

...Mais alguns minutos passaram...

C - Vamos homem, fale logo, precisamos saber o que está acontecendo, o você viu Roxton?

J - O que eu vi George, vi uma Marguerite muito bem. Aliás do modo como sempre gostou, rodeada de luxos e riquezas, melhor do que imaginávamos, e muito bem acompanhado pelo visto.

As palavras de Roxton soaram com amargura e remorso, mas também como a de alguém que fala sem perceber o tom usado ou as consequências causadas, ainda agindo de forma impulsiva e impetuosa, sem olhar para os amigos, o caçador se retirou da cabana, deixando todos sem compreender o que se passava ou sem uma explicação qualquer, além de preocupados, não tiveram tempo hábil o bastante, para visualizarem o caminho que o homem tomou entre os demais da aldeia.

 


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Notas finais do capítulo

Observação e Curiosidades.

As ervas citadas pela personagem Luna, foram devidamente estudadas e aplicadas para a cena em questão, no entanto, não causam tal efeito alucinógeno, isto deve-se a trama fictícia.


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Anis-estrelado (erva morna ou equilibradora):
Atua melhorando nosso humor; desperta a intuição; torna o ambiente agradável e desagrega energias negativas.
Sálvia (erva morna ou equilibradora):
Para Proteção e Limpeza Espiritual. É conhecida por ser a planta da sabedoria e da clareza mental. É a erva da saúde.
Tomilho (erva morna):
É usado em rituais para ter mais força e coragem, ajudando a manter uma atitude positiva e o foco necessário para chegar à meta.)
Podem ser utilizadas as três juntas como forma de banhos espirituais.

Alecrim, é erva da alegria, do perdão para com os outros e para si mesmo, é também a erva ligada as assuntos e desejos do coração, o povo cigano usa muito para benzer os enfermos e aqueles que tem o coração partido, ou ainda para ajudar com alegrias e assuntos que devem ser superados.
O seu uso pode ser através de chá, nos alimentos como um tempero/condimento, ou ainda banho e incensos.



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