O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 13
Capítulo 13 - Os planos de Marguerite




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Os exploradores festejaram juntos a notícia da gravidez de Marguerite, todos os integrantes riam e conversavam durante o almoço, Roxton sentado entre às duas mulheres de sua vida, transbordava de tamanha felicidade, estava estampado em seu rosto, seu olhar, seu sorriso e gestos, a cada momento olhava para um dos lados, sentia que seu coração podia explodir. Mesmo a própria herdeira que não aceitava carinhos ou os retribuía abertamente, ainda mais na frente de todos, agora estava ali, segurando uma das mãos de John, rindo de algo que o caçador confessou baixinho, ao pé do ouvido, enquanto descansava a outra mão involuntariamente sobre o seu ventre.

Challenger não pode deixar de observar Marguerite mais atentamente, com exceção a Lady Roxton, ele era o mais velho de todos presentes e tinha que admitir que com os anos aprendeu a lidar com a diferença de cada um deles, a respeitar e a carregar um carinho, o que tinham construindo era além de uma amizade sincera, era uma família. No entanto, a herdeira sempre lhe chamou mais atenção, era a mais temperamental de todos, mas também a mais surpreendente, possuía conhecimentos linguísticos, geológicos, históricos e ainda que jamais admitisse ela pensava muito mais nos outros do que em si mesma, perdeu as contas de quantas vezes ela arriscou a si para salvar um deles, mesmo no primeiro ano no platô já demonstrava sua empatia, de modo acobertado por suas camadas de autopreservação, mas que aos poucos pareciam se desfazer, camada por camada.  

C - Sem dúvida... Muitas coisas parecem que irão mudar não é mesmo.

L.R - Eu creio que sim professor Challenger, creio que sim.

Não era uma pergunta que esperava resposta e tão pouco foi dirigida a alguém, era apenas um comentário, mas que não impediu a mulher mais velha de responder, não com aquele ar irônico ou arrogante do primeiro dia que conheceu Marguerite, só estava sendo sincera, nunca tinha visto o filho amar de verdade uma mulher, o cuidado, a emoção vê-la, John além de caçador mundialmente famoso, também possuía a fama de mulherengo, isso não era segredo para ninguém, infelizmente por várias vezes ouviu boatos desagradáveis de seu filho mais novo e rebelde. Mas que de alguma forma parecia mudado, seja lá o que ou como, mas Marguerite era o motivo disso.

M - Inclusive você, Elizabeth. Parece que mudou um pouquinho, desde a minha chegada é claro.

L.R - Eu diria que sim Marguerite, digamos que você me deu uma “mãozinha”.

Os exploradores não podiam deixar de olhar intrigados para as duas mulheres, questionavam-se o que significava essa “mãozinha”.

M - Olha minha mão não é tão pequena assim, é me lembro muito bem que seu rosto ficou até com às marcas de meus dedos, se chama isso de mãozinha, espero que não, mas se houver uma próxima vez eu prometo que irei me empenhar mais.

Todos naquele instante encaravam às mulheres com espanto, Challenger parecia incrédulo do que tinha acabado de ouvir, Verônica passou as mãos no cabelo e olhou para herdeira com mais atenção, John não sabia bem se olhava para ela ou para a mãe do seu outro lado.

J - Marguerite você? Não, quer dizer, não sei. Mãe?

L.R - Sim John, Marguerite me deu um tapa de mão aberta no rosto, mas sabe que foi esse tapa que me trouxe a realidade de volta, assim como essa criança.

Malone por mais incrível que fosse era o menos espantado, não se preocupou sequer em conter o riso, de certo modo já esperava por algo assim, ainda mais se tratando de Marguerite.

N - Marguerite de todos os acontecimentos no platô, dessa vez você se superou.

C - Minha cara, eu não sei bem o que dizer, mas bater em Lady Roxton?

M - É vocês esperavam o que? Sendo ela Lady ou não, foi quem começou.

J - Mãe é verdade, quer dizer você e ela?

L.R - Ora John, não está ouvindo o que Marguerite acabou de falar?! É claro que é verdade, mas até eu reconheço que passei um pouco dos limites, apenas um pouco. Contudo, já ficou no passado, espero, acho que agora o que nos interessa é o futuro. A todos nós quero dizer.

C - Muito bem colocado Lady Roxton, temos uma decisão a tomar. Principalmente agora com uma criança a caminho, teremos que pensar muito bem.

Marguerite durante os dias de tédio que passou em Avebury, teve bastante tempo para pensar sobre tudo isso, e se tinha algo que a herdeira era habilidosa, era em solucionar problemas ou arquitetar planos.

M - Elizabeth, o Bryan pelo pouco que sei também tem influência e é um membro da sociedade de zoologia, estou certa?

L.R - Sim, por conta do nome da família e digamos que tem sim até uma certa influência, mas não vejo como isso pode ajudar.

M - Era o que eu precisava saber, só um instante e explicarei.

...Challenger acha que em uma semana é o bastante, para prepararmos tudo o que for necessário e então, retornar?

C - Claro minha cara, até antes.

M - Ótimo então trate de começar.

...Lady Roxton, iremos retornar hoje, mais tarde pedirei pessoalmente que Bryan vá até a sociedade de zoologia, precisarei que ele saiba usar toda a influência de sua família. Irá informar que a expedição de Challenger retornará em aproximadamente uma semana, falaremos que voltamos por meio de uma brecha entre às montanhas, a qual se fechou atrás de nós, e que quando chegamos ao porto conseguimos contatar a sua família, que de imediato enviou uma embarcação particular para nos resgatar em meio a selva Amazônica.

...E antes que perguntem, sim, estou ciente dos riscos que correrei, que aliás Elizabeth, você saberá em breve, inclusive o motivo de ter me encontrado mexendo no cofre do seu filho. Mas por enquanto, basta saber que terei que enfrenta-los mais cedo ou mais tarde e que, também não posso mais ficar aqui no platô, não assim. Afinal em Londres ou Avebury tenho toda a assistência necessária e com vocês juntos, a proteção que preciso também. Não é o meu melhor plano, ainda preciso pensar muito sobre, mas é o que nos resta agora. Então o que acham?

Challenger sentia-se feliz, ele desejava logo voltar para casa, para Jessie, John em contrapartida estava dividido, Marguerite tinha razão, seria arriscado demais para ela ficar no platô grávida, mas temia o que Xan poderia fazer, quando descobrisse tudo. Além do que, ainda tinham Malone e Verônica, os dois não estavam dispostos a voltar para a sociedade, mas também não poderiam deixar de ajudar a herdeira, ela precisaria da proteção deles, como falou, e ainda que com o Oroboros poderia viajar para onde quisesse, logo a gestação não permitiria mais essas façanhas.

C - Minha jovem é uma ideia, uma boa ideia devo admitir, arriscada talvez, mas é a melhor que temos. Não é segredo que de uns tempos pra cá tudo o que mais quero é voltar para casa, para Jessie e de certo modo, acredito que de volta e todos juntos, poderemos pensar em algo, que irá atrasar seus adversários. Também acho que é melhor fazermos o quanto antes, se todos estiverem de acordo, em dois dias retornamos para Avebury.

M - Por mim, você quem decidi Challenger, como falei, terá tempo o suficiente para se preparar e nós também, de qualquer forma esperem pelo menos uma semana, assim ganhamos tempo para arrumarmos tudo por lá, principalmente novas desculpas caso a sociedade de Zoologia não aceite as de Bryan.

C - Perfeito, hoje mesmo começarei a arrumar tudo para o nosso retorno.

John estava quieto, não sabia muito bem o que opinar, tinha receio que algo pudesse acontecer, que algo poderia dar errado, não seria a primeira vez. Verônica e Malone até então haviam decidido ficar no platô, mas agora o jornalista parecia calado e angustiado, ele nunca abandonaria Verônica, não faria isso, mas também queria rever a família, apresentar a esposa para eles e ainda tinha os amigos, sabia que o casal diante de si, também contava com eles. Marguerite percebeu o silêncio dos três, ela já esperava por algo assim.

M - Ei vocês... Eu tenho uma proposta a fazer, e isso inclui você também John.

...Verônica e Malone voltem conosco, não estou pedindo para que fiquem definitivamente, mas gostaria que ficassem até a criança nascer, pode parecer besteira, mas me sentiria mais segura e, assim Malone pode rever sua família, Verônica pode conhecer um pouco do nosso mundo também e outra, estarão juntos e podem ficar na minha casa, até porque não precisarei de duas casas, ainda mais uma em frente à outra.

...E quanto a você John, eu aceito o seu pedido de casamento, mas apenas no cartório, não quero me casar diante de toda a elite londrina parecendo que engoli um melão e não fez a digestão. Acredito que como sua esposa, também me torno uma “Lady”, já que títulos como este são passados através de uma união ou de geração para geração, o que pode intimidar Xan, pelo menos durante um tempo e com isso, estaremos melhor preparados. Quanto ele vier me procurar, estaremos todos juntos, na sua casa em Londres ou em Avebury, com a cópia do Oroboros em mãos e todo o ouro e pedra que precisamos também, e se essa criança já tiver nascido, estará bem longe dele, pelo menos durante o nosso encontro.

J - Você nunca deixa de me surpreender, já pensou em tudo não é mesmo minha Marguerite?

M - Bem, alguém tem que fazer.

John depositou um dos braços envolta da herdeira e deixou um beijo carinhoso em seu rosto, demonstrando todo o seu orgulho e também aceitando o seu plano de bom grado, principalmente a parte do casamento.

Verônica e Malone se olhavam, estavam de mãos dadas, a garota da selva, ainda que falasse que nunca deixaria o platô e de fato não faria, também tinha desejos de conhecer aquele outro mundo, que tanto ouviu e leu em alguns diários de seus pais ou mesmo por meio dos próprios exploradores, além disto não era definitivo, só até que o bebê de Marguerite nascer, o que deveria ser em mais ou menos 7 meses, mas ela poderia retornar semanalmente, para verificar a casa da árvore, o próprio platô, saber se tudo estava em ordem, claro se Marguerite concordasse em emprestar o medalhão.

V - Marguerite eu irei com vocês, mas com uma condição ou um favor seu.

Marguerite a encarou durante alguns instantes, no último ano, ela e Verônica tinham deixado muitas de suas diferenças de lado, uma aprendeu a lidar com a outra mais como irmãs, do que amigas, conhecia a garota, e também os seus medos, estava animada por saber que ela tinha aceito a proposta, mas isso teria um preço.

M - Pois bem, peça e veremos o que posso fazer.

V - Sabe muito bem que não posso abandonar o platô por tanto tempo, nem o platô, nem a casa da árvore, também não posso pedir que viaje comigo, não nesse estado. Então vou pedir que me empreste o Oroboros a cada uma ou duas semanas, para que eu venha e verifique como tudo estará por aqui. Do contrário, eu sinto muito, mas não poderei acompanhar vocês, é tempo demais pra mim.

M - Acredito que quando voltarmos eu não irei usá-lo mesmo e nem posso por conta de chamar a atenção, portanto, está certo a cada duas semanas, combinamos de você ficar com o medalhão, sabe que também não posso me separar dele, ou eu vou para Londres ou você irá para Avebury, revessamos, você vem, fica o tempo que precisar e retorna. Não poderia negar isso, de modo algum. E outra, quando estiver mais próximo de vocês dois voltarem pra cá, podem trazer mais armas, munição, roupas e até mesmo alimentos, assim, ainda que fiquem aqui estarão mais bem preparados.

C - De fato, uma esplêndida ideia... Sabem estive pensando, se Jessie aceitar e claro Verônica e Malone permitirem, gostaria de trazê-la pra cá, nem que for uma só vez, existem lugares nesse platô que ela iria gostar muito de conhecer.

V - Ora Challenger, claro que pode trazê-la, quando quiser.

...Mas me digam, não irão revelar tudo sobre o platô não é mesmo?

 

A pergunta de Verônica os silenciou, principalmente o cientista, sabiam que se revelassem tudo, logo teriam expedições e inescrupulosos caças dotes tentando invadir, desbravar e explorar tudo e todos que encontrassem no platô, e isto era algo que nenhum deles desejava, até porque além de todas as criaturas extintas, o platô abrigava inúmeras aldeias, pessoas que dependiam da sua preservação para sobreviverem, os Zangas mesmo era um exemplo, e ainda deveriam se preocupar com todas as correntes de energia magnética encontradas, que se caíssem nas mãos erradas poderia causar uma calamidade de efeito mundial ou todas as criaturas místicas que nem se fosse exposto em uma biblioteca seria o suficiente para explicar.

C - Bem, se todos concordarem, declaro apenas que encontramos algumas plantas raras que pensávamos estar extintas, uma ou outra aldeia com costumes e linguajar diferente de tudo o que já vimos, e alguns espécimes de animal desconhecidos. E que talvez não tenhamos sequer saído da Amazônia, que sim fomos atacados por canibais e Verônica é de uma aldeia que nos abrigou durante esse tempo. Assim preservarmos o platô.

M - Mas Challenger isso não o faria um farsante ou um mentiroso?

C - Eu não sei Marguerite, mas odiaria ver este lugar sendo destruído por dinheiro, porque certamente será isto que irão fazer se falarmos a verdade. E bem, posso dizer que também não sei ao certo qual destino terei, nossos colegas da sociedade de zoologia sempre me surpreendem.

J - Bem e você Nedboy não falou nada, do que acha ou pensa do plano?

N - Na verdade John ainda não estou acreditando que depois de quatro anos iremos voltar e melhor ainda Verônica vai conosco. Só que agora, hoje e sempre sei muito bem que meu lugar é aqui, é onde meu coração está. Irei sim, afinal não é todo dia que iremos ver Marguerite Krux com uma criança nos braços e você usando uma “coleira”, não é mesmo?

M - Hahaha Ned e suas gracinhas, não podia faltar não é mesmo.

...Mas é bom que veja mesmo, assim já vai treinando para quando o seu vier.

A gargalhada contagiou a todos, Verônica e Malone ainda não tinham pensado nisso, mas a herdeira estava certa, quem sabe em breve pensariam melhor sobre, diferente de Marguerite, o casal certamente saberia lidar com uma criança ali, saberia criá-la no platô, como superar os obstáculos e dificuldades, e a garota da selva sempre gostou de crianças também, ou seja, poderiam sim pensar nisso logo mais.

 


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