O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 11
Capítulo 11 - É um aviso Challenger




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Cinco dias após o desaparecimento de Marguerite e era como se o mundo estivesse preto e branco, com o passar dos dias sem sequer uma notícia, uma solução ou saberem o que fazer ao certo e como fazer, era desanimador para todos os exploradores e também desesperador, principalmente para Roxton.

Juntos, foram capazes de ler cada diário dos pais de Verônica, como uma tentativa de encontrar algo que poderia ajudá-los ou uma esperança, pensaram em mil possibilidades, até mesmo em explorarem as antigas cavernas e túneis subterrâneos Zanga, ou ainda percorrerem partes inexploradas do platô, entretanto, nada bastava, nenhuma alternativa parecia boa o suficiente ou ao menos plausível.

O caçador a cada dia que se passava parecia mais triste e calado, não pensava em desistir da sua busca, não até encontrar Marguerite novamente, mas nem por isso conseguia alegrar-se, nem com todas as possibilidades que surgiram. Cumpria com suas tarefas, ajudava Challenger ou Verônica, não deixava de caçar ou até de preparar o café pela manhã, pois algo dentro de si alimentava a ilusão de que a qualquer momento a herdeira subiria as escadas reclamando de acordar cedo e afirmar como sempre de que “café era um estado de necessidade”, durante a noite permanecia até tarde na varanda, olhando para céu, mas quando um dos demais exploradores tentava aproximar-se, retirava-se de imediato para o seu próprio quarto, também não dormia mais no quarto que dividia com Marguerite.

Nem mesmo quando Challenger há dois dias anunciou que faria uma nova máquina tele-transportador o animou, nada mais parecia surpreendê-lo, até aquela manhã, antes do horário do almoço algo estranho aconteceu, o Tryon no pescoço de Verônica brilhava, a garota preparava o almoço quando sentiu o pingente queimar sua pele, não sabendo o que estava acontecendo, o tirou e se pôs a observá-lo, o medalhão brilhava, emanando raios de luz semelhantes ao do sol, não como aconteceu antes, era mais fraco desta vez, mas ainda assim, sensível ao toque e reluzente.

Verônica parecia paralisada, tentando entender o que acontecia com o objeto, o que não passou despercebido quando os rapazes entraram na cozinha, prontos para ajuda-la com o almoço, ou assim pensavam.

N - Verônica o que houve? Está tudo bem?

V - Eu não sei Ned. O Tryon, veja... Parece que algo está acontecendo. Começou a queimar em meu pescoço, mas também está brilhando, não sei o porquê.

C - Assim sem explicação, do nada? Interessante, deixe me ver mais de perto minha cara.

V - Claro Challenger, pode pegar, apesar de senti-lo queimar, não é algo que causa dor, o tirei mais para entender o que acontecia.

O cientista segurou o Tryon pelo cordão, evitando o contato direto, já que não podia explicar o acontecia, o brilho era reluzente e de fato não estava tão quente, mas ainda assim era algo que não tinham visto antes, não dessa forma.

C - Verônica os diários de seus pais, não falam nada sobre esse tipo de acontecimento? Pois não me parece ser normal e nem com o que nos descreveu, desde a última vez que algo semelhante aconteceu.

A garota da selva pensou durante algum tempo, olhava fixamente para o Tryon nas mãos do cientista, seguia seus extintos e também, tentava se recordar de alguma coisa que poderia ajudar.

V - É um aviso Challenger.

John ao lado do cientista, inexplicavelmente sentiu como se seu coração acelerasse, era uma esperança, quem sabe a mais plausível que tinham naquele momento.

J - Verônica é um aviso sobre o que?

V - Eu não sei Roxton, mas... Pode ser que algo irá acontecer, se lembra quando ocorreu toda aquela tempestade e as ondas temporais?! O Tryon parecia como agora pouco.

J - Então talvez seja melhor nos prepararmos, já que não sabemos o que pode estar por vir, pode ser tanto bom como ruim certo?

C - Ora meu amigo não diria isso, é sem dúvida algo inusitado sim, mas nada que eu talvez não possa descobrir. Vamos, vamos para o meu laboratório, Verônica leve alguns dos diários de seus pais e alguns seus também, principalmente aqueles que tiver anotações do dia em que ocorreu a tempestade, serão úteis. Talvez possamos chegar a uma conclusão.

 

—--//---

 

Em Avebury, todos os dias que Lady Roxton saia, deixava ordens explicitas de que Marguerite não deveria sair casa e muito menos realizar atividades mais bruscas, se esforçar, tudo para evitar que alguém a reconhecesse e em prol de sua saúde, embora sempre que presente ela mesma mantinha vista grossa.

A herdeira por sua vez, cumpria as recomendações da melhor maneira que podia, já tinha provado cada roupa comprada, contado para Anne quase todas as aventuras que viveu no platô, banhado e escovado o Sexta Feira duas vezes naqueles últimos dias, isso porque o animal ainda não havia se habituado ao local e como um meio de chamar a atenção derrubava um vaso novo a cada dia ou corria atrás dos pássaros pelo quintal, ou seja, sempre estava sujo de terra ou grama, também não aguentava mais ler, passar horas na biblioteca olhando para o nada ou na cozinha comendo os bolos de chocolate da governanta. Sentia-se entediada e percebia que em poucos dias tinha ganhado pelo menos 02 quilos, suas roupas convencionais quando provou, começavam a apertar.

Naquela noite não dormiu absolutamente nada, não suportava mais aquela situação, quando saiu da cama o sol ainda estava escondido, o que era uma surpresa pra si mesma. Permitiu-se um banho de banheira mais demorado e quando terminou, pôs a se arrumar, prendeu todo o cabelo em um coque simples diferente dos penteados mais elaborados que usava nos últimos dias, se trocou, escolheu um vestido verde cintilante, semelhante a cor de seus olhos, deixando-os ainda mais vivos e diferente do habitual, não esperou por Anne para acompanhá-la, por algum motivo sentia-se mais ansiosa que qualquer outro dia, quando finalmente terminou de se arrumar, tratou de sair perambulando pelos corredores.

Planejou encontrar Lady Roxton naquela manhã, afinal era cedo ainda, ela não deveria ter saído, e precisavam conversar sobre o Oroboros, já que no dia seguinte poderiam realizar a viagem de volta para o platô juntas, além de carregar consigo a esperança de que concordassem em antecipar a viagem. Aguardou por quase uma hora e nenhum sinal da Lady, sentia impaciente.

M - Cansei de esperar, não aguentou ficar mais um minuto nesse lugar. Olá, Lady Roxton? Você está aí? Eu vi a porta entreaberta, precisamos conversar.

...Lady Roxton?

Passo a passo, a herdeira entrou na alcova da Lady, olhou para os lados e não viu ninguém, também não obteve respostas, nem um sinal. No entanto, próximo à varanda, sobre uma mesinha, junto de alguns documentos e pastas, lá estava o Orobora, brilhava com a luz do sol, sentiu dominar-se por um sentimento que não soube explicar, por impulso aproximou-se do medalhão, tinha que tocá-lo novamente, talvez era como um sinal, de que o objeto ainda o pertencia.

Marguerite aproximou-se, tocava com delicadeza, sua passagem de volta para o platô estava ali, diante dos seus olhos, era só ela pegar e desejar, mas ao mesmo tempo, pensava que não seria justo, apesar das diferenças com Lady Roxton, que não foram poucas, ela a acolheu de certa forma, tinham feito um acordo, e gostando ou não, ela era a mãe do homem que amava e avó da criança que carregava. Há um tempo atrás não hesitaria em abandoná-la, mas hoje não.

No entanto, para seu espanto alguém tocou em seu ombro, Marguerite não esperava por ninguém, tinha verificado antes, chamou e não obteve respostas, não havia ninguém, seus pensamentos estavam distantes, perdidos entre a Lady, o platô e suas lembranças, só não esperava que fosse mais do que isso, eram como desejos de seu coração, que agora tinham sido atendidos, em frações de segundo se viu ao lado da cerca elétrica abaixo da casa da árvore.

M – Mas o que? Como? Ótimo Marguerite, você tinha que desejar estar aqui, seu coração tinha que pedir isso não é mesmo, mas que droga!

L.R- Marguerite como pode?

Era Lady Roxton quem a tinha tocado e assustado instantes atrás, e agora estava diante dos seus olhos, ao seu lado cobrando satisfações, mas não menos espantada, quando olhou ao redor, mal acreditava no que via.

M - Lady Roxton?! Isso não podia melhorar!

... Bem, não é o que está pensando, eu entrei em seu quarto, gostaria de conversar com você, a chamei e procurei, mas não a vi. Não tinha nenhuma intenção, eu só quis tocar novamente no Oroboros, apenas isso, mas quando me tocou, eu estava tão concentrada no platô, que como pode ver, aqui estamos.

Lady Roxton ainda atordoada, não sabia com o que estava mais espantada, se pela declaração da morena, pelo susto de vê-la perto do Oroboros e imaginou que perderia tudo o que começava a acreditar ou por estar em qualquer lugar que não fosse exatamente o seu quarto como segundos atrás.

L.R - Eu saí cedo hoje, quando voltei a vi tocando no Oroboros esqueci de escondê-lo, achei que estava pensando em partir sem cumprir o nosso acordo, o que na verdade não me surpreenderia e aparentemente eu não estava errada não é mesmo?!

...Reparando o lugar que estamos, ainda bem que a toquei, embora admito não esperava parar no meio do mato.

M - É sempre culpa minha mesmo!

...Nem vou tentar explicar, porque sei que não vai adiantar. Mas então, a senhora não queria conhecer o platô, ótimo, é bem aqui onde estamos. Feliz?

L.R - Não, não vai adiantar de fato, nenhuma explicação sua irá me dizer o contrário. Mas está me dizendo que isso aqui é o platô?

...Ora isso não passa de um monte de mato e um bando de arvores, nada demais.

M - Sinceramente Lady Roxton, só pode estar cega, já fez os exames este ano, senão acho bom que faça.

...Olhe a minha frente e veja o que temos aqui, é uma cerca, uma cerca elétrica por sinal e se prestar mais atenção e olhar para cima verá uma casa na árvore. É lá que está seu filho.

L.R - Meu ...filho? John está mesmo lá então?

Lady Roxton perdeu todas as cores de seu rosto, a notícia que John possivelmente estaria tão próximo, há poucos metrôs de distância, a havia perturbado, tanto que a mulher não se sentiu capaz de responder a ofensa ou qualquer provocação de Marguerite.

M - Sim. Seu filho está bem ali. Agora vamos, se tivermos sorte John não estará caçando e poderemos nós duas reencontrá-lo. Me siga e não toque em nada que eu não tocar.

As duas mulheres passaram pelo portão da cerca elétrica, Marguerite sabia onde podia ou não tocar, e logo estavam no elevador, quando a morena entrou no salão principal notou que algo de estranho tinha acontecido, viu a mesa do almoço arrumada, comida feita, mas não tinha ninguém, a mulher mais velha olhava cada detalhe, cada vez mais pasma, não podia acreditar no que seus olhos viam, se alguém a contasse, não acreditaria. Era uma estrutura muito bem elaborada e quase inacreditável que estivesse no meio da selva.

M - Ótimo, vamos nos separar, Elizabeth vai pela aquela escada, para o laboratório e eu irei por aquela outra, que dá aos quartos.

L.R - Nos separar? Não, não. Eu não sou daqui, pode acontecer algo e, se eu encontrar John?

M - Ótimo, vai encontrar antes que eu. Não há nada que temer, agora vá.

L.R - Marguerite, eu nunca pensei que um dia falaria isso, mas vamos juntas sim, vamos pensar melhor?

M - Lady Roxton, não tem motivos para estar assim. Estamos “em casa”, não existe nenhum perigo aqui em cima, só acho que separadas encontramos eles mais rápido.

L.R - É pode ser, talvez dessa vez esteja certa, está bem, vou por aquela escada que falou.  

 

No laboratório, algo havia chamado a atenção de Verônica, parecia ter ouvido barulhos, no entanto, a atenção de todos estava direcionada para o Tryon, que segundos atrás brilhava reluzentes e de repente, subitamente “apagou”, diante dos olhos de todos, nem parecia o mesmo medalhão senão o conhecesse.

C - Mas que estranho, o que pode ter causado isso?

J - Você é o cientista George.

V - Shhh... Estou ouvindo passos, pensei que tivesse escutado o barulho do elevador, mas agora tenho certeza, acho que temos visitas.

Nitidamente passos se aproximavam, descendo as escadas.

V - Eu irei na frente.

J - Tem certeza Verônica?

V - Tenho, até porque sou a única que está armada aqui, vocês não estão com suas armas.

J - Bom, não pensei que dentro de casa fosse tão necessário.

V - Certo, vou subir.

Verônica subiu cada degrau cautelosamente, segurando uma de suas facas, medindo os passos, quando se deparou com uma mulher mais velha, desconhecida, vestes diferentes, caminhava a seu encontro, parecia assustada ou com medo de alguma coisa, e quando a encontrou frente a frente, se pôs a correr para o andar de cima, o mais rápido que pode, erguendo suas saias, respirando fundo, atravessou o salão e desceu para o próximo lance de escadas.

Verônica voltou até o laboratório, apresada, buscando os outros.

V - Ei... Preciso de vocês, tem uma mulher aqui dentro, mas saiu correndo quando me viu.

Todos espantaram-se com a declaração da garota, como era possível, uma mulher lá dentro e outra porque ficaria com medo de Verônica. Os exploradores subiram juntos, mas não encontraram nada, começaram a procurar pela sala, cozinha, varanda, primeiro no andar de cima. Enquanto Marguerite no andar de baixo conversava com Lady Roxton, tentando acalmar e entender o que a mulher havia visto.

M - Certo, você viu uma selvagem, que você acha que tentou te atacar, por um acaso ela era loira e vestia apenas uma pequena blusa e uma saia?

L.R - Sim, exatamente isso mesmo, eu não a vi direito, mas tenho certeza que uma figura como ela é bem...digamos perceptível.

...Mas... Espere, suas feições, eu já vi antes, ela..., ela é a Verônica, aquela mulher das fotos, é ela mesmo, porém está tão diferente.

M - Não é ela que está diferente, são só às roupas, aqui é o lar dela, ela se veste como quer e não como a sociedade a obriga. Agora, vamos subir logo e desfazer toda essa confusão, pelo menos Verônica está em casa.

Marguerite subia na frente, seguida de Lady Roxton, estava tão feliz por estar em casa de novo, que quase saiu que correndo pelas escadas, não podia mais se conter, e como não sabia quem mais estava em casa, não excitou em chamar.

M - Verônica!

A garota da selva estava na cozinha, mas era John quem estava mais próximo, na sala, foi quem ouviu mais claramente pelo chamado, e ele reconheceria aquela voz, seja onde fosse.

J - Você ouviu isso?

V - É Marguerite.

J - Ela voltou.


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