O Sexta Feira escrita por Miss Krux


Capítulo 10
Capitulo 10 - Acordo Feito




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Marguerite estava deslumbrante, tinha que admitir Lady Roxton podia ser tão amargurada como um limão velho, mas o seu gosto por roupas ou decoração eram impecáveis. Para o jantar escolheu um vestido de noite, longo, no tom bordo, o cabelo envolto em um coque, a maquiagem um pouco mais carregada, própria para a ocasião e por mais inacreditável que fosse, a mulher mais velha exigiu que usasse algumas joias “não confio em você Marguerite, mas se quer provar que não é uma ladra, essa é a sua melhor oportunidade, use-as durante esta noite, é costumeiro uma dama da alta sociedade expor o seu poder”.

Não importava, até porque em partes sentia-se muito bem, lembrava-se do quanto desejava tais futilidades em outras ocasiões, no platô por exemplo, só lamentava por tudo ter saído fora do controle, não era exatamente assim que tinha planejado os últimos acontecimentos, nunca pensou que um dia fosse capaz de se sentir saudades daquele maldito platô.

No salão principal, percebeu que alguém perambulava pelo local, andava de um lado para o outro, impaciente, era o homem que viu mais cedo e supostamente o hóspede especial que Lady Roxton mais cedo comentou. Na medida que se aproximava, pode perceber quem era.

M - Outro dia seu primo comentou comigo, que você é o favorito da Lady Roxton porque é o que mais se parece com o William, eu digo que conheci os dois, e você só não é igual ao John porque está usando um terno e não roupas de caça.

Era Bryan, um dos primos de John, que encontraram há poucos meses atrás, pelo pouco tempo que estiveram juntos naquele dia e também pelos relatos do próprio Lord, não passou despercebido por Marguerite, que o rapaz era jovial em idade, mas em aparência e comportamento parecia um homem já formado, aparentava ser dotado de boas atitudes, independente e maduro, era compreensível o motivo da Lady Roxton deseja-lo tão bem. De certa forma, ambos estavam felizes pela oportunidade de se reencontrarem, Marguerite enxergava como algo bom, ter alguém conhecido por próximo.

B - Então você é a famosa Senhorita Krux ou devo chamá-la de Senhora Montclair?

M - Nem um, nem o outro. Não deixe sua tia saber, mas sendo a esposa do seu primo, já posso ser chamada de Lady Roxton.

B - Hahaha nesse caso, penso que o melhor a se fazer é chama-la apenas pelo primeiro nome ou do contrário, minha tia, bem... Não sei o que seria capaz, mas coisa boa não é, desde que soubemos de você, o seu mau humor tem sido pior que o de costume.

M - Sabe, John me ensinou a nunca provocar um T-Rex quando vemos um, portanto, é melhor mesmo não provocar sua tia.

B - Ainda bem que você está ouvindo o meu primo.

M - Às vezes, apenas quando me beneficia também.

De longe Lady Roxton observava os dois conversando e aos risos, o que a incomodou, afinal pensava que se Marguerite tivesse mesmo um compromisso com o seu filho, deveria honrá-lo e respeitá-lo.

L.R - Ora, ora não é que os dois já estão íntimos, pelo visto Senhoria Krux não perde tempo, não basta meu filho, meu sobrinho também?!

Bryan tomou a frente da situação, vendo que Marguerite a fuzilava com os olhos, estendeu o braço para a Lady, abrindo um dos seus belos sorrisos e os dois colocaram-se a caminhar a frente até a mesa de jantar, seguidos por Marguerite.

B - Sabe Titia já lhe disse o quanto está linda hoje? Esse seu vestido azul combina perfeitamente com os seus olhos. Agora, vamos... Abra um sorriso, eu tenho Marguerite como esposa de meu primo e mãe do seu neto ou neta, a senhora será avó, olha que noticia maravilhosa, uma é sempre bem-vinda e deve trazer alegrias, não discussões.

A mulher mais velha sentiu-se momentaneamente atordoada, ainda não havia pensado dessa forma, depois que John partiu, ela quem teve que aprender a lidar com os negócios da família sozinha, administrar toda a fortuna e ainda aprender a lucrar, a fazer com que tal fortuna aumentasse, Bryan era seu braço direito, sempre estava ao seu lado desde jovenzinho, mas como sempre estava ocupada, além dos compromissos tradicionais, entre participar de uma ou outra festa, chás, compras ou com amigos da família mantendo a postura e honrando a fama da família, deixou o sonho de ser avó de lado, até porque com o passar dos anos já acreditava que o filho estaria morto, que nunca realizaria isso.

Bem verdade que imaginava-se morrendo velha, sozinha e sem nenhum herdeiro e agora lá estava Marguerite estava diante de si, carregando um filho que poderia ser John, seu único filho vivo, ainda que duvidasse muito do caráter da morena, não tinha muito como negar a paternidade daquela criança, não depois das às “provas” expostas, ainda existiam tantas dúvidas, perguntas não respondidas, mas também a esperança de reencontrar o filho e responder cada uma delas.

Lady Roxton não respondeu o sobrinho, passou o resto da noite quieta, comentava uma coisa ou outra, mas estava mais concentrada em seus pensamentos. Enquanto isso, Marguerite, Anne e Bryan conversavam sobre o platô, sobre as novidades da sociedade, das as mudanças que ocorreram nos anos que a herdeira esteve ausente, conversaram sobre muitas coisas durante todo o jantar.

 

—--//---

 

Mais tarde em seu quarto, Lady Roxton via-se inquieta com toda aquela situação, sentia que precisava conversar com Marguerite, não sabia o porquê disso tudo naquele momento, já que não simpatizava com a morena, nem com o seu péssimo hábito de sempre ter uma resposta pronta para tudo, não tinha nenhuma afinidade por ela e a achava mal educada também, mas talvez precisava apenas conhecê-la um pouco mais, permitir certa proximidade. Enquanto isso, a herdeira terminava de desembrulhar os pacotes, era um dos últimos que faltava, sentiu-se estremecer quando viu uma manta branca, feita a mão, bordados vazados e aveludados, lembrou-se de uma das primeiras aventuras que vivenciou no platô, quando pressa na caverna do pavor e teve alucinações com sua “suposta mãe”, as mantas eram semelhantes, pensou que se fosse ela a escolher aquela peça para a criança, talvez tivesse feito a mesma escolha que a Lady. Além disto, tinha o par de sapatinhos, que eram tão pequenos que cabiam na palma de sua mão.

M - Que pequenos... Nunca vi algo assim, bem nunca me dei bem com crianças, nem planejei ter uma, espero saber cuidar desse bebê, de você.

Lady Roxton havia entrado no quarto, há tempo de presenciar a herdeira com os sapatos em uma das mãos, e a outra acariciando a barriga por cima da camisola, talvez inconscientemente, nem ela mesmo havia percebido o seu gesto de afeto.

L.R - Vai ter que saber Marguerite ou vai aprender pelo jeito mais difícil, na pratica.

M - Lady Roxton, o que faz aqui? Sabia que é educado bater?

L.R - Não me venha falar de educação, não quando a sua é no mínimo questionável e é certo que não é melhor que a minha. Não bati porque achei que já estava dormindo, para preservar você e, é assim que me retribui.

...Estou aqui para saber como está, mas já começo a me arrepender.

M - Saber como estou? Ora Lady Roxton pode enganar seu sobrinho talvez e, até mesmo o seu filho e empregados, mas não a mim.

...Porque está aqui? O que quer?

A Lady sentou-se do outro lado da cama, mesmo sem “permissão” ou convite, tinha uma aparência perturbada, percorria o local com o olhar, parecia procurar algo, provável por onde começar aquela conversa, até repousar os olhos em Marguerite, observou que a herdeira com a camisola mais justa ao corpo ganhava formas e traços mais marcantes, ainda que esguia, a sua gravidez começava a ficar mais aparente.

L.R - De fato, eu não estou aqui para saber como você está se sentindo. Não quando a vi há tão pouco tempo.

...Mas estive pensando, tenho muitas dúvidas sobre você, sobre quem você é e mais ainda sobre seu relacionamento com meu filho, tendo em vista que usam alianças e também não acho que posso negar que esteja esperando uma criança do meu John, ou seja, creio eu que serei avó, tem ideia do quanto isso significa para mim depois de todos esses anos?

...Não, é claro que não tem, você não sabe nem mesmo o que é ser mãe, diga-se de passagem, está descobrindo isso agora.

Durante alguns segundos a mulher ponderou sobre suas palavras, como se medindo-as antes de pronunciar qualquer uma delas, parecia disposta a compartilhar um segredo.

L.R - Eu sei que tenho sido dura com você, não nego e não pense que é porque estamos tendo esta conversa que algo irá mudar, porque não vai. Mas por mais difícil que seja acreditar é para o seu bem e dessa criança em seu ventre também.

...Penso que durante todos esses anos sozinha, eu não sei mais como confiar ou lidar com pessoas que não conheço, os anos de solidão me fizeram perder o tato talvez. Eu me vi assumindo os negócios da minha família, quando deveria estar carregando netos em meus braços, a esperança de que John estivesse vivo senti perde-la entre as minhas mãos. Admito que me amargurei, não seria a primeira vez que isso acontece na minha vida, perdi muito mais do que gostaria e, então você me aparece com o seu medalhão mágico e eu não sei até que ponto é verdade o que diz ou deixa de dizer.  

...É senhorita Krux você talvez tenha colocado abaixo todas as minhas convicções, no final Bryan pode não estar tão equivocado.

Marguerite encarou nos olhos a mulher a sua frente, não esperava isso, estava preparada para outra bronca não desabafos como aquele, até lhe ocorreu Penso que afinal Lady Roxton não era tão diferente de si própria.

M - Engraçado... Eu nunca sonhei em ser mãe, ou se sonhei isso algum dia, a vida me tirou também.

... Passei toda a minha vida sozinha, viajando, cuidando dos negócios e do meu sustento até a guerra chegar e levar tudo o que havia conseguido. Os homens que amei só me fizeram ficar mais desacreditadas no amor, até conhecer John, se esta é uma das suas perguntas não faladas ou um dos seus temores, eu o amo.

Não vou mentir, depois de tudo o que aconteceu entre nós duas, das discussões e acusações eu não sei o que essa criança significa para vo... para a senhora, mas eu não planejei nada disso, estou experimentando emoções e sentimentos que nunca pensei viver e talvez esteja acontecendo o mesmo com a senhora, só está com medo, medo que isso venha acabar antes de começar, principalmente depois de anos de solidão como acabou de comentar.

L.R - Olhando assim não parecemos tão diferentes, não é mesmo?!

...Você não é o que eu esperava, digo, como esposa do meu filho, se bem que eu nunca imaginei John casado e erguendo uma família, não era algo compatível com seu perfil, do William talvez, ele eu nunca duvidei que se vivesse mais um pouco logo estaria bem casado e enchendo essa casa de crianças. No entanto, William está morto e John não e, isso nos leva a você e essa criança, eu a quero que seja criada como um Roxton, que leve o nosso nome e toda honra e tradição da nossa família, mas isso não vai mudar o que sinto por você, nós duas temos consciência, bom espero que tenha.

...O motivo de eu estar aqui, é que do modo como estamos nos comportando também não é suportável que permaneça por mais tempo, sendo assim, sugiro que até que possamos viajar para esse tal platô, passamos a nos tratar de forma mais respeitosa, tentarei não lhe dar muitas ordens, controlarei meu ímpeto de sempre controlar tudo e todos ao meu redor, e aquela que eu fizer, você as obedece?

M - Ainda que eu não goste e não costume receber ordens de ninguém, nem do seu filho, acredito que eu não tenha escolha, nenhuma de nós temos. Afinal, ou é isso ou duvido chegarmos inteiras ou ilesas até a nossa partida. Esta feito Lady Roxton, temos um acordo.

Em seguida, rumo a saída do quarto, Lady Roxton parou e avaliou alguns pensamentos, enquanto observava a herdeira organizando o enxoval da criança no móvel ao lado de sua cama, é verdade que muita de suas dúvidas e incertezas pareciam de certa forma amenizado, por algum motivo desconhecido em seu íntimo sentia que a conversa havia surtido efeitos, se sentia mais leve, e até mesmo como se recuperado todas as energias perdidas dos dias anteriores.

L.R - Marguerite, é Elizabeth.

M - Elizabeth?

L.R - Sim, este é o meu nome, Elizabeth. Pode me chamar pelo primeiro nome apenas, se quiser e, é claro desde que não seja em momentos que exijam certas formalidades, como o uso do meu título ou o sobrenome.

M - É claro, está bem então Elizabeth. Boa noite.

L - Boa noite.

 


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