Chamariz escrita por Bibelo


Capítulo 1
Alumbre Cacofônico


Notas iniciais do capítulo

Ok meus amores, essa história se passa num universo original Steampunk. Temos romance Solangelo, mas não é a única coisa que teremos aqui, então espero que gostem desse universo que desenvolvi.

A história será divida em 3 partes de capítulos longos.

Espero que apreciem

!!!Essa história contém gatilhos para morte, suicídio e violência. Leia com cuidado!!!

Boa leitura!



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Há diversas definições para apocalipse, muitas associadas às profecias antigas e fantasiosas, os resquícios de uma era há muito esquecida nos livros arcaicos de uma Babilônia onírica. Todas elas referem-se ao ato de descoberta, um novo começo traçado pelo fim dos tempos, carregados em destruições mundiais, na intenção de expiar aquilo que há de mal na humanidade.

Uma interpretação fantasiosa para livrar-se da culpa de seu próprio extermínio.

Diferente das profecias e cânticos passados de geração em geração, a aniquilação humana não teve relação alguma com divindades raivosas ou destinos escritos em livros premonitórios. Foi causada por suas próprias mãos ambiciosas, no desejo de abandonar uma Era estagnada no tempo, desbravando mares nunca antes explorados; declarando-se donos daquilo que nunca poderia ser controlado.

A Era do Vapor era descrita como uma epopeia de seu tempo, em atos grandiosos de poderio criativo, cívico e revolucionário. Os criadores das primeiras máquinas à vapor foram glorificados; o primeiro avião de bronze a decolar nos céus, desbravando o horizonte nos rastros fartos do vapor em suas engrenagens, foi o estopim de toda a utopia desta Era.

Perdurou-se por décadas, avançando em áreas muito além do conhecimento humano. A medida que o tempo transcorreu, a poluição visual e, por consequência, a destruição natural em torno das Cidades-de-Bronze, acarretou em divergências sociais e políticas.

Esperava-se uma revolução civil provinda dos pontos mais baixos e precários da cidade, mas aquilo que iniciou a destruição do vapor foi sua última criação, um ser pensante capaz de criar, inovar e auxiliar em novos mecanismos.

Seres separados do Vapor, conectados à eletricidade solar e suas variantes ainda desconhecidas. Um passo em direção ao futuro, dezenas em sua aniquilação. Eram criaturas belíssimas, feitas do bronze mais reluzente, das peças mais resistentes e leves. Tornaram-se atração para o mundo, e deles trouxeram o final da Era do Vapor e início da Alta Tecnologia.

E então houve a primeira falha do sistema, e o mundo encontrou-se à mercê daquilo que um dia clamaram controlar. Após as primeiras ondas de destruição, perseguições e precariedade, o fim do mundo arcaico pareceu-lhes bem mais atrativo.

Nico vislumbrava quando menor um apocalipse cercado por fogo, o céu vermelho pungente e os gritos horripilantes de monstros e parasitas. Só o que teve foi um céu enegrecido pelo vapor, assassinatos na neblina de cidades abandonadas e monstros metálicos energizados pelo sol que tanto se escondeu do homem moderno.

Ao sexto ano de massacres contínuos algo mudou. 

E Nico ainda não tinha noção da magnitude de seu envolvimento utópico.

 

⚙ ⚙ ⚙

 

Mesmo após tantos anos de inatividade humana, as Cidades-de-Bronze ainda escondiam-se do sol, encobertas na neblina densa e gélida nos corredores extensos de bronze e aço dos edifícios abandonados. O cenário era turvo, possibilitando a visão parcial dos prédios erguendo-se lânguidos em direção ao céu que os negava, adornados com as ruínas de engrenagens desmontadas, destroços de pontes imponentes e restos de carros majestosos já domados pela natureza local. 

Um espaço nebuloso para se viver, mas longe do radar dos Solaries. A última visita dos autônomos foi há um mês, mas o intervalo das rondas possibilitou à Nico abrigar-se nas profundezas da periferia de Arcania, sob as patrulhas de bronze. 

Ao longo dos anos, Nico aprendeu sua rotina diária, o momento onde os sentinelas vasculhavam a cidade em busca de vida ainda existente em suas paredes ocas; até mesmo os momentos onde destruíam parte de suas construções fragilizadas, na frustração acumulada em seus circuitos, confusos demais para compreenderem os desejos de seu sistema corrompido. 

Nico entendia seus passos, as coordenadas dadas em apitos sonoros e incompreensíveis para os ouvidos humanos, mas facilmente decodificados por aqueles valentes o bastante para permanecerem próximos. No subterrâneo, distante de suas patrulhas, Nico adaptou-se e sobreviveu logo abaixo de sua base. 

Solaries não entravam nos subsolos e, portanto, a maior parte dos sobreviventes ao massacre esgueiravam-se pelos esgotos e canais, criando pequenas vilas e mercados ilegais; uma nova vida enraizada nos confins da humanidade recriando raízes anacrônicas. 

Ainda assim, Nico estava sozinho em Arcania, a primeira cidade a ser destruída, e uma das únicas com patrulhas mensais ao invés de diárias; esquecida até mesmo pelas bestas de bronze. 

Como em todos os dias após o pôr-do-sol, Nico vagueou pelas ruelas estreitas da periferia, atrás de residências sobreviventes à destruição. Tudo que ainda poderia ser utilizado por suas mãos hábeis eram recolhidas junto à sucata em sua mochila de couro antiga e gasta. A encheu com restos de maquinaria de cozinha, engrenagens funcionais e restos de autômatos destruído pelos destroços de uma casa ruída. 

Ao primeiro sinal de raios solares, abandonou as ruas desertas e retornou ao pútrido do subterrâneo soturno. Desceu por escadas longas e barulhentas, partes delas soltas das paredes de tijolos — herança histórica da qual Nico era grato —, grossos e isolantes para seus trajetos ruidosos. 

Saltou dos últimos três degraus, caminhando à passos pesados pelo canal silencioso. Acendeu a lamparina que deixava próximo da entrada do subsolo, guiando-se na penumbra por longos minutos, o eco de suas botas rebatidas nos tijolos antigos. Respirou fundo, o cansaço da manhã o embalando no escuro do subsolo. 

Após duas curvas chegou ao seu esconderijo. Empurrou uma placa de metal para o lado, cravada na parede junto há várias outras de uma modernização abandonada do canal, entrando pela fresta e a fechando novamente. 

Atrás dele, com a claridade do lampião, o quarto espaçoso ganhava vida em seus tons de cobre e bronze, as sucatas organizadas metodicamente em uma lateral do espaço desprovido de janelas. No teto, um duto de ventilação por hélices trazia o oxigênio para dentro, mas a fumaça da lamparina ainda o sufocava quando muito tempo de uso. 

No fundo, tinha uma cama improvisada com colchão velho, cobertas remendadas e almofadas recolhidas de uma casa da alta Arcania — uma pequena viagem que lhe custou muito mais do que teria pago.

Soltou a mochila no chão, jogando-se minguante na cadeira surrada ao lado de sua mesa de trabalho. Seus músculos doíam depois de longas horas de pilhagem nas ruínas, da tensão constante de medos irreais, mas plausíveis em sua mente caótica. 

Retirou as botas e o colete. Ajeitou o suspensório em seu ombro esquerdo, girando-o em sentido horário, exercitando os músculos sôfregos. 

— Mais uma noite se encerra. — falou para si mesmo esticando o braço direito para o chão, os dedos robóticos ligaram o pequeno autômato à vapor.

A imitação de animais de estimação se tornou febre décadas antes, substituindo os animais nas casas aristocratas pela praticidade e fácil convívio com suas necessidades. Ali no subsolo, Nico secretamente agradecia pela invenção egoísta de falsos inventores. 

O animal remexeu-se, lubrificando as engrenagens, o vapor escapando pelas grades de respiração em suas costas, dando vida ao pequeno cachorro de cobre. Esticou as patas frontais, depois as traseiras, sacudiu-se e pulou no joelho de Nico, latindo numa felicidade quase genuína. 

Nico sorriu. 

— Também senti sua falta, Sra. O'leary. — comentou divertido acariciando a carcaça lisa do animal: — Trouxe algo que irá agradá-la. 

Puxou a mochila pro seu colo, entregando para ele um pequeno brinquedo feito de aço, no formato claro de um trem à vapor, mas que seria bom para o animal que agitava-se aos seus pés. 

— Aqui. — entregou para ela. Sra. O’leary pegou o brinquedo e se jogou na cama de Nico, mordiscando o aço, o rabo abanando em euforia. Nico sorriu, bocejando em seguida: — Eu deveria descansar um pouco, mas preciso terminar os últimos retoques no decodificador. Encontrei restos de autômatos nas ruas, posso usar suas peças. 

Sra. O’leary resmungou algo em resposta vaga, concentrada no pequeno trem. 

Nico retirou as peças de bronze, os restos de um Solarie danificado por destroços. Em sua mesa estava o torso do autônomo e partes de seu crânio que pode ser resgatado. Nico dobrou as mangas, colocou os óculos de proteção — adornado em cobre, remetentes aos aviadores há muito extintos — e começou a trabalhar nas fiações soltas da besta em suas mãos. 

Por horas ouvia-se somente o tilintar das ferramentas, o aço sendo fundido e remontado, dando vida ao decodificador. Era um projeto que vinha trabalhando há mais de um ano, com testes primários e longas pesquisas nas bibliotecas sobreviventes aos ataques. 

Em suas poucas visitas às áreas altas de Arcania, Nico descobriu pequenos arquivos de projetos, preservados em cofres bem escondidos dos olhos afiados de autômatos caóticos. Resgatou alguns poucos de uma loja de criações, além de diversas peças sobressalentes para armas de longo alcance. 

Nico conhecia bem a cidade, e sabia onde cada estabelecimento de determinada utilidade se encontrava, e se precisasse de algo além do que a periferia conseguia prover, desbravar as ruas largas e expostas da Alta Arcania seria a resposta ideal. 

Ainda de insanamente suicida.

Nico suspirou profundamente, alongando a coluna, deixando seu corpo descansar um pouco. Já era quase meio-dia e precisava comer algo. Ergueu-se com dificuldades, esticando a perna robótica, enroscada na dobra defeituosa. Estalou a linha ao desafivelar a calça enquanto buscava o óleo.

Sentou-se novamente, tratando as peças trincadas em seu joelho. Precisaria de reparos urgentes, mas para isso uma visita à Alta Arcania seria necessária, e sem uma perna boa para fugas emergenciais seria capturado com facilidade. Precisava das peças, mas não teria condições de consegui-las tão logo. 

Não sem o decodificador.

Bufou irritado com a linha de pensamento. Se levantou outra vez, testando a perna problemática e indo atrás dos enlatados em sua estante. Pegou uma colher e comeu em pé, apoiado na parede gélida de aço. 

Procurou o animal no cômodo, observando-a morder a lateral de um armário de cobre ao lado da cama, onde guardava suas roupas e itens pessoais, tentando tirar um pedaço do laminado fundido. Nico sabia que ela conseguiria com um pouco mais de esforço, mas o trabalho braçal que teve para trazer aquele móvel até o subsolo não compensaria sua diversão momentânea. 

— Sra. O’leary, não destrua meus móveis. — alertou, o tom de voz reprovador. O autômato parou, identificando a ordem em sua entonação: — Precisa de óleo?

O animal sacudiu a cauda, sem entender a pergunta, mas Nico se aproximou mesmo assim, ajoelhando-se na frente do animal que pulou em seu colo na mesma hora. Abriu o compartimento em suas costas, mexendo no reservatório de combustível em sua base. 

Metade do reservatório seria o suficiente por mais dois dias, ao menos. Aproveitou sua posição no chão e transferiu seu corpo para a cama, acomodando-se entre as cobertas grossas. Sra. O’leary se ajeitou ao seu lado, encaixando seu corpo no tórax de Nico. 

O rapaz passou o braço por cima dela, buscando conforto no pequeno calor que irradiava de sua carcaça de bronze; da queima do óleo que a mantinha funcionando.

Fechou os olhos, enroscando os dedos no relicário em seu pescoço, se deixando descansar por algumas horas. Ao anoitecer iria atrás de mais sucata, mais óleo para Sra. O’leary e seus membros robóticos. Depois disso, poderia manter-se quieto por um mês, na segurança de seu esconderijo e longe das patrulhas retumbantes na superfície. 

Mais um dia de pilhagem, e então paz. 

 

⚙ ⚙ ⚙

 

Nico empurrou uma das prateleiras de aço para o lado, dando espaço para alcançar um galão de óleo no mercado abandonado. Estava pela metade, parte do óleo espalhado no piso frio do comércio, mas o que sobrou seria o suficiente por duas semanas se economizasse nas luzes. 

Fechou a boca do galão prendendo-o em sua mochila. Esgueirou-se agachado pelas prateleiras, a pequena luz à óleo presa em seu chapéu lhe deu visão suficiente no breu da cidade enevoada. Vasculhou um pouco mais, recolhendo enlatados e utensílios básicos.

No final do corredor ficavam os alimentos perecíveis. Em muitos casos, eram áreas infestadas por animais silvestres; na pior das situações, controlada por predadores desorientados na cidade morta. Avançou com cautela, mantendo-se baixo, ouvidos atentos, o bastão elétrico em sua mão robótica.

Avançou pelos corredores extensos e entrou na área alimentícia, ouvindo o guinchar alto dos ratos ao chão, tomando posse daquela área do mercado. No fundo, o grunhido de javalis o paralisou no lugar, respirando profundamente. Eram agressivos e territorialistas, e na meia luz da lamparina seria quase impossível conseguir capturar um deles sem ter uma parte de sua perna arrancada; e qualquer uma delas que fosse destruída seria um problema para Nico.

Ajeitou a pegada do bastão e retornou por onde veio, deixando o mercado para seus atuais donos. 

Saiu na rua gélida no centro, observando os arredores, atrás de olhos áureos luminescentes na penumbra. Saiu das sombras ao encontrar-se sozinho, arrastando-se pelas paredes, resgatando peças salientes aqui e ali, procurando por portas abertas e desobstruídas. Atravessou a avenida central entrando na loja de roupas. Era uma das poucas quase intacta no Centro. Para os Solaries, roupas não tinham muita utilidade para a sobrevivência humana, por mais que os vissem regozijar-se de ternos, corseletes ou as crinolinas extravagantes. 

De toda forma, precisava de mais camisas e calças reservas. As que tinha rasgavam com facilidade pelos membros robóticos brutos demais para o tecido fino. Respirou com mais tranquilidade, caminhando pelas araras masculinas, atrás de algo que lhe desse conforto para fugas, mas que ainda pudesse se sentir “bem-vestido”. 

Por mais que boa parte de suas roupas ficassem escondidas debaixo do grosso sobretudo, Nico via-se no luxo de usar roupas mais feéricas, mesmo sozinho naquele fim de mundo. Não precisava depender de trapos e remendos em todas suas peças. 

Isso se tornou uma das poucas coisas que fazia por puro egoísmo. Não havia necessidade para perder meia hora em uma loja de roupas, observando cada uma das peças como se fosse desfilar nas ruas da sociedade vitoriana, compulsiva pela moda clássica.

Vestiu um colete dourado, observando o destaque do preto usual, quando uma luz irradiou pela Avenida, iluminando o interior da loja. Nico foi rápido o bastante para esconder-se atrás do balcão, apagando a lamparina no processo. Usou do espelho ao fundo para observar através da vidraça, o coração disparado em seu peito. 

Não era dia de patrulha. Faltava uma semana para o grupo de Sentinelas retornar para Arcania, naquele cronograma exata que Nico havia decorado quatro anos atrás. Ofegou preocupado, fugindo do campo de visão do espelho, caso algum Solarie resolvesse olhar para dentro da loja. 

Ouviu os passos pesados e ritmados das bestas de bronze, sondando os arredores da Avenida larga. Não eram muitos, um grupo pequeno de autômatos em uma patrulha fora de hora. Seja qual for o motivo, Nico estava bem no meio de sua ronda. 

A sombra de um Solarie encobriu parte da luz que entrava na loja enquanto sua forma observava dentro dela. Nico puxou o ar, entrando no compartimento inferior do balcão, fechando a portinhola até uma pequena fresta, longe de qualquer interesse do Solarie em sua presença. 

A forma continuou parada naquela posição, o som de suas engrenagens funcionando bagunçava a mente de Nico no ritmo acelerado da máquina de combate. O pânico começou a irradiar seu peito farto, o ar lhe faltando em ofegos desesperados. Apertou o colar em seu pescoço, sentindo o gélido do relicário em sua palma úmida. 

Precisaria de sorte para conseguir despistá-los e retornar para o subsolo. De onde estava, havia uma passagem na rua detrás da loja que dava nos esgotos. Não conhecia o caminho por ela, mas uma vez nos canais, Nico poderia se achar com calma e tranquilidade. 

Não soube quanto tempo o autômato ficou naquela posição, mas tão logo a luz se apagou, Nico ouviu os passos pesados do Solarie desaparecendo no final da rua, seguido por mais outros ao longe. Ainda era meia-noite, fora de qualquer rotina que as bestas tinham como absolutas. 

Alguma coisa estava acontecendo. 

Esperou mais um tempo antes de deixar o esconderijo na loja, esgueirando-se pelas araras fartas, encoberto pelos tecidos grossos. Vestiu seu sobretudo por cima do colete dourado, fechando-o até a gola. Jogou a mochila nas costas, e colocou o chapéu com a lamparina. A manteve apagada, teria que se locomover totalmente no escuro. 

Deixou a loja no momento em que se viu no completo breu da avenida. Encostou as costas na parede de metal, usando dela como guia até o beco ao lado, entrando vagarosamente num escuro claustrofóbico. Diferente da Avenida, Nico não conseguia sequer identificar a neblina espessa ao redor, somente o atro profundo e soturno da noite sem lua ou estrelas. 

Sentiu o aroma do óleo queimando, o vapor espalhando-se frente à seus olhos em um caleidoscópio de cores. Nico paralisou, ajoelhado próximo à um amontoado de engrenagens e aço. Escondeu-se em sua sombra, fascinado com a visão na Avenida larga atrás da loja. 

Quinze metros até a entrada do canal, poucos passos e estaria em segurança no labirinto há muito familiar. Em frente à sua rota de fuga havia um rapaz, um homem se reparasse bem. 

Vestia roupas casuais de veraneio, ideais para férias de campo, não para as Avenidas movimentadas em uma sociedade fanática pela boa conduta. O shorts preto terminava em seus joelhos, destacando o bronze das pernas robóticas e visivelmente fortes; feitas para corridas, lutas e resistência. 

Subindo os olhos, para a camisa branca sem mangas, os suspensórios caídos sobre seus braços dobrados, envoltos nas luzes coloridas e claras como faróis; guias de navios perdidos na escuridão de oceanos tácitos e mortais. 

Moveu-se nas sombras, fazendo barulho contra as engrenagens de bronze, chamando atenção do rapaz de pé no centro da Avenida. No instante em que trocaram olhares, foi enfeitiçado na vista fantasiosa diante seus olhos, o sorvendo como um todo.

Ele brilhava nas luzes coloridas que cobriam seus braços e ombros enfaixados. Os cabelos loiros imitavam o próprio sol, tímido em sua essência, mas vívido nos fios dourados daquele homem em êxtase pura. 

As luzes de Natal o destacava no centro de Arcania, radiante como a própria árvore na neblina fina de uma manhã de verão. Nico se viu hipnotizado pela paisagem, pelos olhos índigos presos nos seus; anárquicos no brilho divertido, vis-à-vis ao perigo iminente. 

Nico o assistia de longe, e sabia que se havia se atraído por aquela visão cacofônica, os Solaries também teriam. Avançou rapidamente pela rua, os olhos vagantes nos arredores opacos, escondidos na neblina densa da madrugada. 

O homem o encarou se aproximar, a diversão em seus olhos se desmanchou em confusão. Nico apertou o mecanismo das luzes, desligando o holofote humano que havia criado. Gesticulou para o lado, indicando para que o seguisse. 

Não olhou para trás enquanto apressava-se em direção à entrada do canal, vasculhando com cautela os cantos da viela. Acendeu a lamparina num gesto calculado, iluminando o beco sem saída onde estavam, a entrada obstruída por metal e concreto.

Nico estalou a língua, consternado. Se virou para a figura esbelta ao seu lado, observando-o ponderado; prudente à uma distância segura. O som alto na Avenida fez os dois prenderem as respirações, num gesto instintivo de sobrevivência. O homem puxou Nico pelo pulso, escondendo-o na rachadura de uma das casas, funda o bastante para protegê-los da luz proveniente dos Solaries.

Apagou sua lamparina, deixando-se ser abrigado pelo rapaz maior que ele, o cheiro de óleo forte do reservatório das luzes de Natal. A luz amarela e ofuscante focou no final do beco, analisando seus cantos. Os passos do sentinela adentrando no beco fez Nico recuar o braço direito até a lateral da mochila, retirando o bastão elétrico de seu encaixe. 

Passou o braço livre pela cintura do rapaz, o puxando para o lado, criando uma abertura para uma investida caso precisasse. A besta parou um pouco antes da fenda, vasculhando ruidosa, os sons agudos da comunicação perturbando os ouvidos hipersensíveis de Nico.

Segurou o chiado em seus lábios, resistindo à necessidade de encolher-se com o som incômodo. O sentinela deu meia volta desaparecendo da viela, levando consigo a luz áurea e a tensão em ambos corpos.

Nico relaxou por curtos segundos antes de lembrar-se do homem à sua frente, tomando a postura rígida. 

Saia. — falou baixo, autoritário, querendo se ver o mais distante daquele homem.

O rapaz saiu da fenda, verificando os arredores antes de gesticular para que Nico saísse. 

— Estamos seguros, por enquanto. — garantiu num sorriso largo, divertido com a situação precária à qual se encontravam. Nico engoliu a resposta afiada, ajeitando a mochila em seus ombros. 

— Agradeço vossa ajuda, mas não o conheço, e considero-o impulsivo e perigoso por expor-se na Avenida, de tal forma despretensiosa. — afirmou Nico, coluna hirsuta perante aquele homem alguns centímetros mais alto. 

O olhou de perto. Por mais que possuísse uma estrutura esguia, era mais largo que Nico e claramente mais forte, precisaria prestar atenção aos seus movimentos. O rapaz mediu Nico por breves instantes antes de rir baixo, contido, mas uma risada clara; algo que Nico não ouvia há quatro anos. 

— Meu lorde, suponho que em momentos como este, não há necessidade de usarmos de formalidades. Não há sociedade para julgar-nos perante conduta impessoal nas ruas de Arcania. — comentou divertido, um brilho no olhar desconcertante para Nico: — Permita-me, porém, compensá-lo por minha travessura de mais cedo. 

Nico respirou profundamente, encarando aquele homem solto das amarras da sociedade já extinta, diferente dele e de muitos outros rastejando nos esgotos, portando-se como Lordes e Ladies.

— Como devo chamá-lo? 

— William Solace, meu Lorde. — apresentou-se cordial. 

— Nicolò di Angelo. — respondeu, acendendo a lamparina outra vez, a centelha do fogo iluminando os cabelos áureos do homem sorridente: — Não somos mais estranhos, acho que posso ser informal. 

Will riu. 

— Fico feliz, não falo desse jeito tem seis anos. Já era cansativo na época, agora é totalmente desnecessário. — admitiu dando de ombros, sentando-se nos escombros do beco. 

— Não é cansativo quando se cresce falando desta forma. — explicou Nico alerta, diminuindo o tom de voz: — O que fazia no centro da Avenida, iluminado com essas luzes?

Will seguiu o olhar de Nico para seus ombros e braços ainda envoltos nas luzes natalinas. Alargou um sorriso, como se aquele fato lhe passasse desapercebido. 

— Não tem Natal sem luzes, certo?

Nico franziu a tez: — Natal?

— Sim! — exclamou mais alto, tapando a boca na sequência. Permaneceram em silêncio por dois minutos antes de Will voltar a falar: — Já estamos no final do ano, sabe, as festas comemorativas, as reuniões de amigos e família. Essas coisas. 

— Sei o que é o Natal, mas ninguém o comemora há anos. — relembrou amargo. A situação atual não lhes dava muitas brechas para reuniões calorosas.

— De onde eu venho comemoramos todos os anos. Do que adianta tentarmos sobreviver se nos esquecemos de como viver? — seus olhos brilhavam na meia luz da lamparina, em tons azuis iridescentes. 

Nico balançou a cabeça, cético. Will reluzia no beco, os feixes de luz atraídos por ele, como uma fonte natural; uma supernova em contato com o escuro e frio do universo despido. Nico se percebeu encarando-o, focado na forma leviana e divertida daquele homem, na boêmia em sua postura largada, nos olhos tão focados nos seus. 

— Não há vida aqui, não mais. — foi tudo que Nico disse antes de recolher suas coisas e caminhar para fora do beco. Will o seguiu.

— Você está aqui e está vivo. — relembrou ao seu lado, observando os arredores enquanto ajustava as luzes de natal em seus braços, atrapalhando-o em sua caminhada: — Está sozinho?

Nico concordou, silencioso. Correu o olhar pela extensa Avenida antes seguir para o Sul, em direção ao ponto mais próximo dos canais. Três quadras abaixo e para a esquerda. 

Ouvia os passos pesados de William atrás dele, o ruído distante dos Solaries na Avenida adjacente. Virou-se para Will, irritado. 

— Pare de me seguir. Já conseguiu suas luzes, vá embora! — alertou severo, o punho cerrado no bastão elétrico. 

Will ergueu ambas palmas, inofensivo. 

— Acalme-se. Só queria saber se não quer vir comigo. — propôs gentil, o veludo em sua voz intensificando a irritação de Nico. 

— Desculpe-me por achá-lo um imã para problemas. — ralhou irônico, gesticulando entre eles: — Mas não irei me envolver com alguém que sequer conheço, enrolado em luzes de natal como se fosse normal. 

Will cruzou os braços, fechando a expressão. 

— Me apresentei para você, acho que não somos mais estranhos. — evocou baixo, a sombra de um sorriso em seu rosto acobreado. 

Nico não conseguia ver claramente na luz da lamparina, mas identificava um problema quando o via. Suspirou, incomodado. 

— Estamos expostos. Quando chegarmos aos canais a gente conversa, pode ser?

Will alargou o sorriso sutil, expondo-o em dentes perfeitamente alinhados. Nico desviou o olhar outra vez. Não sabia como lidar com aquele homem em profusão. Continuou o caminho lentamente, gesticulando para Will em pequenos intervalos, quando o som dos Solaries se tornava mais próximo. 

Esconderam-se próximos ao canal no momento em que os Solaries voltaram para a Avenida. Pressionaram as costas nas paredes metálicas, ocultos pelas sombras dos escombros antigos e vastos. Will estalou a língua no céu da boca, seu rosto retorcido em desprezo. 

— Eles roubaram nosso sol, e agora andam na noite como se a lua lhes pertencesse. Não entendo como fazem isso. — resmungou baixo. Nico conseguia ouvir sua revolta no tom grave de sua voz. 

Virou-se em sua direção. 

— Os Solaries têm reservatórios de energia, suportam até três horas após o anoitecer, mas normalmente preservam suas energias para situações de emergência. — explicou devagar, num assunto considerado tabu na maioria dos refúgios. 

Will arregalou os olhos: — Eles guardam o sol dentro deles?

Nico precisou segurar a risada com sua mão antes que eclodisse na noite silenciosa. Sentia o tremor em seu corpo, a tensão de antes se rompendo como corda, num sentimento que havia o abandonado há anos. 

Independente de seu envolvimento diário com a Sra. O’leary, fazia quatro anos desde que viu outro humano ao seu lado, era compreensível que fosse levado ao limiar da euforia. 

Não tinha controle sobre a risada espontânea. 

Will sorriu largo, radiante com seu feito, ainda que confuso. Nico encostou a cabeça na parede, permanecendo com o sorriso pregado em seu rosto. Encontrou seus olhos azuis, divertido. 

— Eles não armazenam o sol, mas sim a energia que o sol produz. — explicou outra vez, devagar: — A luz solar produz energia para plantas crescerem, animais viveram e, claramente, nos locomovermos. Os Solaries são a invenção capaz de armazenar esta mesma energia destinada à matéria viva, e portanto, conseguem andar como se produzissem energia própria. 

Will manteve-se paralisado, encarando Nico como se houvesse, finalmente, o visto pela primeira vez. Nico deixou o sorriso se desfazer, sentindo a represália no olhar duro do Solace. De alguma forma, sua explicação poderia ser interpretada de outra forma. 

Encolheu-se na parede, ajeitando o bastão em sua palma enquanto focava nos sons distantes do Solaries. Ergueu-se novamente, disposto a voltar para a Avenida, para longe do clima desconfortável. 

Will o puxou pelo braço mecânico, desequilibrando Nico no processo. Se virou para o Homem, buscando sua pistola no coldre em sua cintura, arisco. 

O olhar de Will era diferente do anterior e, por longos instantes, Nico se perguntou se aquele homem não detinha do sol como prisioneiro em seu próprio corpo. Ele sorria largo, tão desconfortavelmente animado que desestabilizou Nico em seu sua autodefesa. Soltou o cabo da pistola, desarmado. 

Você é um inventor! Um inventor de verdade, que sabe criar e consertar. — Will comentou empolgado, como se houvesse feito uma descoberta revolucionária. Nico se sentiu corar, sem saber o que responder. 

Concordou com a cabeça, devagar, imaginando o porquê daquilo ser tão importante para o Solace. Will vibrava, como se fosse saltitar no lugar em pura euforia. Nico ainda estava confuso. 

— Eu estava atrás de um inventor por quase dois anos! Eu finalmente achei alguém! di Angelo, venha comigo, por favor! — pediu o homem, no tom macio e aveludado de antes, os dedos firmes nas engrenagens de seu braço robótico, sem ter como sair de seu aperto sem uma briga. 

Olhou para trás, para a Avenida escura e silenciosa, depois para o Solace, para sua feição magnânima. Suspirou pesado, passando a mão pelos cabelos longos. 

— Vamos até o canal, Sr. Solace. Depois… depois conversamos. — insistiu Nico, baixo, derrotado. 

Nunca teve que lidar com tanta energia de uma só vez, aquilo o desgastou. Will concordou diversas vezes com a cabeça, num gesto impulsivo. Soltou seu braço e o seguiu com uma determinação diferente, disposto a acompanhá-lo.

Nico precisava prestar atenção nos Solaries, mas continuava hiper ciente da presença de William Solace atrás dele. Respirou fundo, tenso, irrequieto. 

Nunca trataram sua profissão com bons olhos depois da revolução dos Solaries. Era só mais um dos inimigos daquele tempo, responsável pelo desastre do mundo, pela derrota da humanidade profana. Nico apertou a alça de sua mochila, remoendo em seu peito aquele sorriso tão abrasivo. 

Nunca sorriram para ele daquela forma. 

 

⚙ ⚙ ⚙

 

Assim que colidiu suas botas no chão frio do canal, se permitiu soltar o ar tenso da perseguição na Avenida. Podiam não ser os alvos da busca compulsiva dos Solaries, mas definitivamente teriam sido pegos se avistados pelas bestas de bronze. Rolou os ombros, retirando a tensão das juntas.

Caminhou até a parede, reavendo um lampião à óleo reserva. O acendeu, iluminando a passagem onde estavam. Se virou para Will que havia sentado na beirada do canal por onde deveria correr a água da cidade. Havia anos que se mantinha seco e inutilizado. Nico aproximou-se dele, erguendo o lampião acima de sua cabeça.

— Tudo bem?

Will apoiou o corpo para trás nos braços esticados, erguendo seu rosto para Nico. 

— Sim, e você? Parece tenso.

Nico trocou o peso das pernas, abaixando o lampião entre eles, sentando-se ao lado de William. Não gostava de ficar no meio do canal, mas não guiaria aquele homem até seu esconderijo sem antes entender porque precisava dele. 

Ignorou sua pergunta: — Disse que queria que eu fosse contigo. Por que? Para onde? 

Will soltou uma risada pequena, ajeitando a postura. 

— Nós temos um ritual desde que fomos forçados a nos abrigar longe das cidades. Sempre comemoramos o Natal, todos os anos, sem falta. Nosso antigo inventor, Valdez, recriou uma árvore de Natal bem no centro do nosso refúgio. Alta, larga, totalmente feita de bronze e cobre. — recordou-se nostálgico, olhos vidrados nos negros de Nico: — Ele não conseguiu terminá-la antes de ser capturado pelos Solaries, dois anos atrás.

Nico abaixou o olhar, compreensivo. Muitas vidas foram perdidos nos árduos anos que se seguiram desde o desastre, a maioria delas caçadas pelos Solaries nos refúgios ao ar livre, distantes da proteção da escuridão. Lembrava-se bem do dia em que tudo desabou, encaminhando-os ao fim muito antes de compreenderem o poder do inimigo criado por suas mãos pecadoras. 

Lembrava-se da forma como os robôs que flanavam pelas Avenidas revoltaram-se, atacando cidadãos impiedosamente. Seus olhos áureos e certeiros em seus alvos, o quebrantar de ossos e o rasgar de peles ecoando junto à gritos viscerais de homens desatentos e mulheres desamparadas.

As grandes cidades arderam nas chamas causadas pelos autômatos, a população dizimada por sua programação de combate; massacre atrás de massacre, como se a humanidade fosse o alvo de seu novo circuito recalibrado. 

O câncer do mundo escondido sob o vapor de suas invenções funestas. 

Nico pigarreou.

— Sinto muito por sua perda. — foi solidário, voltando a encará-lo. Will sorriu triste, a primeira amostra de uma ruptura em sua expressão libertina: — Mas, você quer que eu vá consertar uma árvore?

Will aquiesceu: — Sei que pode parecer idiotice, mas é algo importante para nós, que tenhamos algo para lembrar dele que esteja completo. Não uma lembrança do que ele foi incapaz de terminar. Ela zomba de nós. — resmungou amargo das memórias incômodas.

— Por isso foi atrás das luzes? — Nico questionou apontando para o fio de cobre em seu corpo, cobrindo-o como um véu de ouro, dando peso para a aparência feérica de William. 

— Estamos usando pinheiros normais, mas precisamos usar as luzes que tínhamos, então aqui estou eu. — confessou dando de ombros: — Mas se você puder consertá-la, eu posso me livrar delas. — propôs em tom divertido, apoiando os cotovelos nos joelhos metálicos, sugestivo. 

Nico balançou a cabeça.

— Mesmo se eu quisesse ajudá-lo, não posso. — gesticulou para sua perda direita, coberta pela calça social preta: — Quebrei uma das peças do meu joelho, não consigo andar longas distâncias ou correr sem que ele trave. No pior dos casos, posso acabar quebrando o restante da estrutura. Não posso viajar para outra cidade neste estado.

Will se inclinou em sua direção, a tez franzida. 

— Não tem como consertar?

— Tenho, mas as peças de que preciso estão na Alta Arcania. — respondeu desesperançoso. 

Will puxou o ar entredentes, compreendendo o problema. 

— Alta Arcania é aberta, acima do vapor. Não tem como andar pelas ruas sem ser visto pelos Solaries. — comentou severo, repassando a situação em sua mente. 

— Estou ciente. Quebrei minha perna na minha última visita à Alta Arcania, atrás de peças para meu projeto. — admitiu resignado: — Consegui fugir por pouco, mas eles sabem que estou na cidade, só agem como se eu fosse insignificante. 

Will arqueou ambas sobrancelhas, ligeiramente impressionado. Se virou totalmente para Nico, dobrando as pernas sob seu corpo, segurando-o pelos pulsos. Nico estremeceu, surpreso pelo toque. Não evitou de ruborizar de vergonha. Havia regras contra toques longe de áreas privadas, algo que a Sociedade Vitoriana havia rotulado como impróprio e indecente. 

Não sabia como reagir àquela proximidade tão invasiva. Tensionar os ombros, aguardando suas palavras.

— E se fizermos uma troca de favores? Eu vou até a Alta Arcania e pego as peças que você precisa e, em troca, você vem comigo. — sugeriu empolgado com a ideia, apertando seus pulsos levemente. 

Outro tremor percorreu sua espinha.

Nico negou, mecânico: — É perigoso demais. 

— Tudo fora dos canais é perigoso, di Angelo. É uma questão de perspectiva. — acrescentou leviano, finalmente soltando-o. Gesticulou entre eles: — Podemos nos ajudar, seria bom ter sua perna funcionando novamente. E em troca só peço para que venha e conserte nossa árvore. Talvez até queria ficar, mas se realmente quiser voltar para Arcania, eu mesmo o trago de volta. O que me diz?

Nico queria dizer não. Era uma missão suicida, tanto ir até Alta Arcania quanto sair da cidade e sobreviver nas florestas densas e tropicais. Além, claro, daquele homem que havia conhecido há menos de uma hora e já estava invadindo o espaço e rotina de Nico sem pedir permissão. 

Tudo em Nico gritava de que ele era perigoso, que tinha algo naquele olhar babélico que o impelia a fugir, sumir na escuridão do canal subterrâneo; longe da atitude pândega de um homem cuja natureza eclodia de seus poros. 

Avaliou o homem na luz do lampião, na forma esguia e forte sob a camisa rasgada; nas pernas metálicas feitas para corrida e batalhas, nas tatuagens que não havia percebido no atro da avenida, expostos entre as faixas cobrindo seus braços. Seus olhos ardiam com determinação ímpar, e Nico identificou o que o atraiu de primeira. 

William Solace era um revolucionário.

Respirou profundamente, sentindo-se insano em seus pensamentos dissonantes. Poderia sair de Arcania na companhia da vanguarda ativa; da tatuagem da lua em seu braço esquerdo. 

— Está certo. Temos um acordo.

Will sorriu satisfeito, moldando-o em uma feição mordaz.

— Preciso das minhas coisas, estão fora da cidade. E então vou te tirar daqui. Está na hora de voltar a viver, Nicolò.

Foi a vez de Nico sorrir.


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Notas finais do capítulo

Ok, olha só que enredo totalmente diferente e doido? ruehruehrehu Ai, mas eu tinha ele guardado desde o ano passado, e resolvi finalmente usá-lo. Vai ser uma história curta, de no máximo 20k de palavras (sim, pra mim é curta) e estou empolgada pra saber se esse tipo de enredo é bem-vindo nas fanfics ou só aceito em originais.

Se tiverem alguma duvida, perguntem ;)

De toda forma, agradeço que tenha lido até aqui. Ainda estou relendo para erros, mas caso os ache me avise ;)



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