Keybringer Pirates escrita por Kardio


Capítulo 8
Capitulo VIII


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Como tem passado? Espero que bem! Venho aqui trazendo-lhes um capítulo que particularmente aguardei muito, espero que gostem!



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Capítulo VIII – Seguindo em Frente.

— - Zodick - - 

Quando me dou conta, tudo o que percebo é a escuridão a me envolver como em um abraço, meu corpo parecia pesado e dormente, uma forte dor de cabeça desfocava minha mente, dificultando em muito a ação de pensar. Abro os olhos lentamente, deparando-me com o já tão familiar teto de madeira, estou no orfanato novamente, mais precisamente na enfermaria, mas... O que aconteceu? Não me lembro de nada desde a conversa com o Eagle...

— Ah, você acordou. – uma voz ressoa alegre á meu lado, movo a cabeça com certa lerdeza, verificando de quem se tratava e encontrando um sorridente Luke sentado na cadeira ao lado de meu leito.

O rosto dele não demonstrava cansaço e não me recordo de ele ter se machucado durante sua luta, mas o pirata possuía um curativo em sua bochecha direita, seus olhos azul-claro brilhavam intensamente e seu sorriso abria-se de orelha á orelha. Seus cabelos negros balançavam suavemente com a brisa que adentrava pela janela, suas roupas agora se resumiam á uma camisa bege de mangas longas e uma calça folgada, provavelmente uma das mudas de roupa que trouxe em suas viagens.

— Por quanto tempo dormi? – minha voz falha um par de vezes, só então percebo o real estado em que me encontro, meu corpo deveria estar sobre efeito de vários tipos de analgésicos, o que explicaria claramente a dormência no corpo, algo muito comum para mim quando tomo certos medicamentos, havia um curativo pequeno em minha bochecha, uma pouco acima de minhas costelas do lado direito e outro sobre o ombro, havia também uma série de ataduras envolvendo meu tórax e, além dos diversos inchaços, uma imensa cicatriz começava a se formar desde o ombro até a coxa oposta, consequência do Eagle’s Flyby. Meu braço direito estava imobilizado, deve ter se quebrado com o impacto causado pelo meu Lion’s Paw, é uma técnica muito poderosa para se usar depois de tanto tempo sem lutar, terei que tomar mais cuidado com ela, minha mão esquerda também estava enfaixada, lembro vagamente de Eagle ter quebrado-a antes de usar sua técnica em mim. Só então percebi a agulha que estava sendo utilizada para injetar sangue dentro de meu corpo, provavelmente alguém doou certa quantidade de sangue para que isso fosse possível, pois não me lembro de ter muito ainda sobrando em nosso estoque particular, mas... Tanto Lenny quanto Bruna são incompatíveis com meu sangue tipo “F” e as crianças do orfanato são muito novas para doar, então... Quem?

— Faz quatro dias desde que eu te encontrei desmaiado na floresta e te trouxe de volta pra cá. – Quatro dias? Não acredito que eu dormi por tanto tempo.

— E Eagle? – minha voz ainda parecia fraca, mas ainda audível. Tento mudar de posição na cama, mas pontadas de dor excruciantes são o suficiente para me fazer desistir.

— Não o encontramos, Sofie fez algumas buscas nesses dias, mas não achou nada, deve ter ido embora. – solto um longo suspiro, olhando novamente para o teto, acho que essa é a primeira boa notícia nos últimos cinco dias.

— Tudo parece distante agora... – murmuro, arrancando um leve sorriso de Luke, vejo-o afastar as mangas da camisa, pareciam incomodá-los, sobre seu braço direito posso ver, mesmo que rapidamente, um ínfimo curativo sobre sua veia, do tipo que só poderia ser feito se ele tivesse sido perfurado por uma agulha. Então foi ele que me doou o sangue...

— Estamos quites. – ele fala, fito-o confuso. – Vocês me resgatam e cuidaram de mim quando desmaiei na floresta, agora foi nossa vez. – ele ri alto, é realmente fascinante o quão alegre ele consegue ser, simplesmente não parece existir algo que o deixaria triste ou furioso.

— Sim, de fato estamos quites. – sinto certa angústia com a sensação que aquelas palavras me despertam, eles não nos devem mais nada será que... – Isso significa que estão de partida? – questiono-o, temendo a resposta. 

— Iremos esperar até que você e Lenny se recuperem, só vamos embora quando tivermos certeza que vocês estão bem.

— Como está o Lenny? – ele sorri calmamente, apontando para o lado, havia um pano dividindo o meu leito do dele, mas posso ver os dedos de seus pés, mesmo que de longe.

— Ele é duro na queda. – constata Luke. – Ele fraturou alguns ossos e quebrou a mão quando esmagou o tornozelo daquele cara, mas a Bruna disse que ele vai ficar bem, as previsões são que ele já possa ter alta na semana que vem, no seu caso são três semanas de recuperação. - confesso ficar um pouco aliviado, afinal, isso significava que Luke e Sofie estariam por perto por, pelo menos, mais três semanas.

— Onde estão Bruna e Sofie? – ele para pra pensar por um instante, coçando a bochecha onde estava o curativo, noto resquícios de tinta preta nas pontas de seus dedos.

— Sofie falou alguma coisa sobre levar a Bruna pra dar uma volta, mas já faz algum tempo, devem estar voltando.

— Por que você tá com esse curativo na bochecha? Você não se machucou naquela luta. E a tinta nos dedos? – ele sorri.

— Ah, eu vi todos vocês cheio de curativos e ataduras, então resolvi experimentar uma, mas diz ai, não fica legal? – ele faz uma pose como se estivesse muito machucado, arrancando de mim uma risada. – E quanto à tinta... Bem... – vejo um sorriso brotar em seus lábios, mas esse era diferente, aquilo seria... Perversidade? – Em breve você verá.

— - Sofie - -

Depois de quatro dias de um Zodick inconsciente e com Lenny ainda machucado, era possível ver claramente na expressão de Bruna o quão triste e aflita ela estava, quase como se fosse ela que estivesse machucada, foi então que decidi levá-la para tomar o melhor remédio que pode existir contra a tristeza: compras. 

Centenas de lojas visitadas e berries gastas depois, ela parecia finalmente estar relaxando, mas não creio que fosse possível para ela esquecer, nem mesmo por um momento, tudo que havia e ainda estava acontecendo. Resolvo parar em uma sorveteria que havia em frente á uma praça, ela escolhe um sorvete de coco e eu fiquei com o bom e velho sabor de morango, sentamos em um dos bancos da praça que estava infestada de pombos, velhos alimentando pombos e casais se agarrando e beijando-se.

— Sabe... Tem uma coisa que eu queria te perguntar. – ela vira seus orbes para mim, aguardando o questionamento, seus ouvidos atentos a cada palavra. – Como você conheceu o Zodick e o Lenny?

— Bem... – ela fita o chão, como se vasculhasse em sua memória uma que fora cuidadosamente guardada por lhe ser tão preciosa. – Meus pais haviam morrido fazia pouco tempo... – sua voz continha um peso imenso, algo de se cortar o coração. – Eu estava sozinha, com frio, fome e absolutamente apavorada... – ela come mais um pouco do sorvete, degustando cada pequeno pedaço do mesmo. – Eu não tinha mais ninguém para cuidar de mim, não possuía um lar para voltar, eu tinha perdido tudo. Mas... – ela limpa uma discreta lágrima que escorria por sua bochecha direita. – Em uma noite de muita chuva, Zodick me achou... Ele me levou para a casa onde ele morava com Lenny... Cozinhou até eu estar satisfeita... Lenny esforçou-se ao máximo para me divertir... Como se a missão deles fosse tirar de mim toda a tristeza que eu estava sentindo. – sua voz embargava à medida que ela continuava falando, posso ver um pequeno sorriso nascer em seus lábios ao se lembrar de tudo aquilo. – Eles até mesmo ficaram um mês dormindo no sofá só pra me deixar dormir na cama e me sentir mais confortável. – ela ergue seus olhos para mim, seus orbes estavam marejados. – Quando meu mundo estava se despedaçando e caindo ao meu redor... Ele o pegou nos braços e o reconstruiu pra mim. – ela enxuga as lágrimas que começavam a rolar por seu rosto, fungando. – Zodick salvou minha vida. É por isso que quero retribuir a qualquer custo. – abro um sorriso fraco.

— Você teve muita sorte de encontrá-los. – termino meu sorvete, o assunto começava a me amargar dentro da boca. – Minha mãe desistiu de me criar no momento que nasci e meu pai morreu quando eu tinha sete anos. Fui criada por minha madrasta. – ergo o olhar, fitando as nuvens que vagavam pelo céu azul. – Fugi de casa e conheci desde pequena o pior que o mundo e as pessoas poderiam oferecer, então para mim confiança era algo que simplesmente não existia... Mas... – faço uma pequena pausa, relembrando toda a minha trajetória até aqui. – Certa mulher me mostrou que as coisas não são do jeito que eu achava... – mexo em meus cabelos, colocando um fio rubro para detrás da orelha. – Ela me mostrou que algumas pessoas podem sim valer a confiança que depositamos nelas.

— E quanto ao Luke? – Bruna me questiona e imperceptivelmente um sorriso se forma em meu rosto.

— Eu o conheci dez dias atrás e pude perceber desde então... Ele é o cara mais idiota que já conheci. – Bruna solta uma risada, limito-me á continuar minha fala. – Mas... Quando eu estava cercada, ele me salvou e me trouxe junto com ele em uma jornada em busca de um sonho absurdo... Mas... O jeito que ele faz as coisas... – viro-me, olhando Bruna nos olhos. – É como se tudo fosse possível quando ele está por perto, como se tudo isso não fosse só um sonho.

— Eu acho que entendo o que você quer dizer. – ela sorri meigamente. – Sabe... Tanto antes, como durante e até mesmo depois das lutas... Eu estava muito tensa, como se a qualquer momento tudo fosse dar errado e meu mundo fosse desabar de novo... Mas... – ela sorri sem graça, um pouco envergonhada. – Sempre que eu olhava para o Luke, ele estava sorrindo, era como se estivesse estampado na cara dele: “Ei, relaxa, tudo vai dar certo.” – assinto e, quando percebo um silêncio desconfortável havia se instalado. Pigarreio e me ergo, esticando os braços.

— É melhor voltarmos, já faz um tempo desde que saímos. – ela assente, pegando as sacolas e iniciando o caminho de volta ao orfanato.

O caminho pareceu bem mais curto do que era realmente, Bruna parecia novamente revigorada e voltamos conversando por toda a extensão do caminho, tornando imperceptível o quanto realmente demorou. Ao chegarmos, a garota quase não se conteve de felicidade ao ver Zodick acordado novamente, imediatamente começando seu diagnóstico a respeito do estado do moreno, tudo parecia normal, até que noto a tinta que sujava os dedos de Luke, ao questioná-lo, o capitão simplesmente se levanta e vai até o lençol que dividia o leito de Zodick do de Lenny, afastando-o para o lado, é então que vejo no rosto de um Lenny adormecido os mais ridículos desenhos de tinta que já vi, até mesmo um bigode estranhíssimo havia sido representado pela “arte” do capitão. Nem eu, Zodick e muito menos Bruna conseguimos conter as risadas. Quem diria que ele nos faria rir até mesmo sobre essas circunstâncias.

— - Narração - -

Ao horizonte, a luz do sol parecia insignificante tamanha a magnitude da estrutura que era iluminada pelos raios solares. Red Line. O único continente do globo, tão grande a ponto de dar uma volta inteira em vertical pelo planeta, uma parede de rocha colossal, tão alta que conseguia alcançar as nuvens e até mesmo ir acima delas, a corrente próxima a essa monstruosidade começa a ficar cada vez mais intensa até finalmente desembocar na única entrada segura para a Grand Line: A Reverse Mountain. Sua corrente era algo hipnótico de se ver, a água das fortes correntezas choca-se contra a rocha, sendo empurrada para o único caminho possível, um caminho ascendente montanha acima, era impressionante o que a natureza conseguia fazer sob as condições certas. E era isso o que tanto prendia a atenção da jovem à amurada do navio.

Ela possuía por volta de seus dezesseis anos, mas suas feições eram muito mais severas, sua seriedade e compromisso rapidamente a fizeram se destacar em meio à tripulação, até mesmo a fazendo conseguir uma posição de confiança para com o capitão, seus cabelos castanhos eram curtos na parte da frente de seu rosto para que os mesmos não atrapalhasse a visão da garota, enquanto que na parte de trás de sua cabeça ele crescia grande e sedoso, chegando até a metade de suas costas, sobre sua cabeça trazia um boné cinza com desenhos de caveiras em branco, sobre as caveiras ela desenhara algumas orelhas de coelho, seu corpo era esguio, ela usava botas que eram fechadas com velcro, suas meias vinham até suas coxas, alternando entre listras pretas e brancas na horizontal, usava um short curto, preto e cheio de bolsos onde guardava as cápsulas de bala da arma que deixava guardada em um coldre na cintura, usa uma regata preta coberta por uma jaqueta de mangas longas de mesma cor, a jaqueta possuía detalhes vermelhos em suas extremidades e brancos sobre os ombros e na gola, o zíper ao centro era prateado.

Seus olhos perdiam-se facilmente entre a imponência colossal da Red Line, a beleza abismal do sol e a tranquilidade hipnótica do mar, não sabendo ao certo com o que se fascinar mais, mas a garota é tirada de sua contemplação por uma voz que lhe chama com grande reverência.

— Vice-Imediata Clair.

— - Clair - -

A cada dia que se passa, o mar me impressiona mais, primeiro me deparo com tamanha beleza natural diante de meus olhos, agora sou surpreendida com a notícia de que um dos sequestradores imprestáveis, que o Imediato fez questão de contratar, conseguira retornar.

Caminho a passos rápidos e suaves até o convés, onde alguns homens amontoavam-se entre atividades rotineiras e de desembarque, o sequestrador vem em minha direção, seus passos eram cambaleantes e ele parecia proteger uma parte de seu corpo, provavelmente por causa de algum ferimento. Devo dar a ele os méritos de ter encontrado nosso galeão nesse estado, afinal, podíamos estar em qualquer ponto próximo à Red Line, e não é tão fácil achar um navio de velas negras, muito menos quando não há nenhuma Jolly Roger na mesma. Sempre achei interessante essa maneira de operar: ”Somos um bando pirata, mas vocês não saberão qual.” Era uma maneira engraçada de manter-se em sigilo.

Conduzo o sequestrador para dentro do navio enquanto ordeno aos tripulantes que voltem a suas atividades, desço as escadas que levam até os corredores, uma à esquerda, outra à direita e um último à frente, cada um levando a diferentes partes do navio. Tomo o caminho da direita, ao fim do mesmo chegamos á uma porta de madeira, a única do navio inteiro que não havia uma... Como é mesmo o nome daquelas janelas redondas ridículas que ficam nas portas de navios? Ah, tanto faz, nessa porta aqui não tem mesmo, o capitão sempre achou que fossem apenas mais um modo de ser espionado sem ser notado. Bato na porta suavemente, esperando alguma resposta.

— Entre. – a autorização é dada e abro a porta para que o sequestrador entrasse e adentrasse o local logo depois, fechando a porta em seguida.

O quarto é espaçoso, mas não parece ser o melhor lugar para se dormir, mas sim para se preparar para uma guerra, não havia camas ou sofás e por todos os lados era possível ver estantes abarrotadas de mapas de cartografia, topografia, demografia e todas as outras “grafias” que existam. Joseph era o tipo de homem que gostava de saber de tudo sobre os locais que planejava ir, isso rendeu a ele o título de capitão da 1° divisão de nossa frota e a alcunha de “O Arquiteto da Guerra”, além de ser o imediato direto do grande capitão da frota. No centro do quarto havia uma grande mesa circular, onde ele comumente chama seus principais oficiais para traçar planos junto á ele, e sobre ela o mais novo xodó do capitão, o famigerado mapa-múndi de Nami, “A Gata Ladra”; a navegadora dos Piratas do Chapéu de Palha, um dos membros mais próximos do Rei dos Piratas. Sobre a mesa havia apenas a parte que correspondia ao East Blue, se não me engano esse é o mar onde estamos, o resto do mapa estendia-se metros chão á fora. Joseph focava seus olhos no mapa como se sua vida dependesse disso, seus olhos castanhos nem ao menos piscavam, o capitão é dono de cabelos negros repicados e uma barba fechada, pouco abaixo de seus olhos surgia uma cicatriz, tão vermelha como se estivesse banhada em sangue, ela estendia-se de um lado á outro de seu rosto, passando por sobre o nariz do mesmo, seu corpo forte era coberto por uma camisa cinza simples, sobre o mesmo havia uma placa de ferro em forma de triângulo sobre seu peito, uma espécie de armadura protetora, ele usava um protetor no ombro direito com alguns espinhos projetando-se para fora do mesmo, um coldre prendia-se á seu braço esquerdo e uma mini-pistola presa à mesma.

Joseph analisa cada pequeno centímetro cartograficamente representado, de maneira detalhadíssima devo dizer, do East Blue, tanto que demora alguns segundos até que finalmente note nossa companhia, mesmo que ele mesmo tenha dado a ordem para adentrarmos.

— Oh, Clair. – ele constata, ainda compenetrado em seus estudos minuciosos. 

— Capitão Joseph, um dos sequestradores que Oren contratou acaba de retornar. – ele ergue uma sobrancelha, como se tentasse se lembrar. – Ele fora chamado para raptar o garoto Lyon, para que forçasse seu pai a aceitar nossa proposta de tornar sua ilha parte de nosso território. – meu tom se demonstra sério e inexpressivo, o capitão parece finalmente se lembrar do que se tratava.

— Espero que sejam boas notícias. Sabes que não gosto de ser atrapalhado. – Joseph senta-se à mesa em um pequeno banco, encarando o sequestrador que suava frio á meu lado, vejo-o engolir em seco antes de iniciar seu relatório.

— Nós fomos até a ilha, assim como fomos ordenados, tivemos a grande sorte de achar o garoto e o raptamos,mas antes que pudéssemos entrar em contato através do DenDen Mushi, um cara se intrometeu. – Joseph ergueu uma de suas sobrancelhas.

— Um marinheiro? – improvável, a Marinha não tem base ou quaisquer tipos de controle sobre aquela ilha.

— Um pirata, Luke Hardy é seu nome. – o capitão estreita os olhos e vejo o sequestrador arrepiar-se de cima a baixo, começando a gaguejar nervosamente. – Ele não era um cara comum. Quando ele luta, uma energia azul cobre o corpo dele, eu o vi quebrar um taco de beisebol com as mãos nuas usando isso! – ele parecia realmente nervoso. – Ele me acertou com isso e eu fui arremessado quilômetros no mar, veja. – ele ergue a camisa, mostrando um ferimento que parecia realmente com a forma de um punho. O capitão ergue seu olhar em minha direção.

— Um usuário famoso? – nego com a cabeça.

— Não temos registro de nenhum pirata com esse nome e de nenhuma Akuma no Mi que conceda poder semelhante. – tenho plena certeza disso, memorizei precisamente cada nome, recompensa e aparência de cada pirata em todos os mares, além de também ter aprendido todos os poderes concedidos por cada Akuma no Mi, não existe nenhuma que conceda tal poder. Energia Azul? Nunca ouvi algo assim. Vejo o capitão abrir um sorriso.

— Um novato com um poder misterioso então. – o sequestrador precipita-se.

— E tem mais, apareceu também uma tal Sofie Ciero. – a assassina Sofie? Outra sugestão de Oren. – Ela se aliou a ele, consegui constatar que agora ela faz parte de seu bando e, além disso, ela matou o outro sequestrador que foi contratado junto comigo. – O capitão escuta á tudo em completo silêncio, pesando dentro de sua mente cada palavra dita.

— Devo fazer algo a respeito disso, capitão? – Joseph ergue a mão.

— Deixe estar, por enquanto, dê a este homem a recompensa por seu trabalho. – após trabalhar com Joseph por tantos anos, já sei como o capitão gosta de fazer as coisas, trabalhos bem feitos são imediata e abundantemente recompensados, porém os que não são...

O corpo do sequestrador cai ao chão em um baque surdo, seu sangue e miolos se espalhando pelo piso. Apesar de ter acabado de dar um tiro que durou menos de um segundo desde o saque até a queda do oponente, tomei bastante cuidado com o ângulo da bala para que o sangue não sujasse os mapas quando se espalhasse pelo chão, Joseph com certeza odiaria isso.

— Você faz jus á sua alcunha, Clair, “The QuickShot”. – ele volta a se concentrar em seus mapas. – Chame alguém para limpar essa bagunça. – ele fala secamente. – Onde está Oren? – o nome do Imediato desperta uma pontada de fúria em minha mente, à qual decido ignorar.

— Ele se dizia entediado, capitão. – Faço uma pequena pausa, tomando cuidado com as palavras que pronunciarei a partir daqui. – Ele partiu ao amanhecer para a ilha mais próxima daqui, Loguetown, disse que iria atrás de um bar.

— Entendo. – Joseph responde desinteressadamente. – Mantenha-se informada a respeito de seu paradeiro, por enquanto ele está livre para fazer o que bem entender, mas o dia da reunião da frota se aproxima e precisarei de ambos os meus imediatos para ela. 

— Como quiser capitão. – faço uma curta reverência, virando-me para ir embora.

— Clair. - Joseph chama e o fito, à espera de novas ordens. – Mantenha-se informada a respeito desse tal... Luke Hardy, não é? – Joseph ergue seu olhar em minha direção, havia um brilho de curiosidade nos mesmos. – Mantenha-o no seu radar, é sempre útil ter informações daqueles que podem se tornar nossos aliados ou possíveis inimigos. – a quantidade de cautela que Joseph demonstra é algo realmente impressionante para alguém tão poderoso quanto ele. 

Assinto, saindo do quarto e deixando-o continuar seus estudos. 

— - Sofie - -

— Então quer dizer que Lenny conseguiu seus poderes de gorila comendo uma fruta? – assinto, parece que, após eu explicar a mesma coisa pra ele durante cinco dias, ele finalmente começou á entender o conceito das Akuma no Mi. – Quer dizer que se eu comer uma laranja eu também consigo? – solto um longo suspiro, parece que não vai ser tão fácil assim.

— Não. – estico meus braços, me espreguiçando, preparando-me para recomeçar a explicação, acomodo-me melhor a cadeira que estava próxima a mesa enquanto Luke estava no lado oposto, Bruna fazia o almoço e fazíamos companhia à ela. – Existem frutas especiais espalhadas por todo o mundo, essas frutas são chamadas de Akuma no Mi. – ele assente, até esse ponto ele parece ter assimilado bem. – Cada uma dessas frutas é diferente da outra, mas elas se caracterizam por um padrão ondulado em suas cascas e dizem possuir um gosto horrível. – faço uma pausa, pegando uma maçã da cesta de frutas que havia sobre a mesa, logo em seguida mordendo-a. – Quando uma pessoa morde uma dessas frutas, ela ganha o poder que habita nela.

— E o que acontece se várias pessoas comerem a mesma fruta? Todas ganham o poder de virarem gorilas? – os olhos dele brilhavam de pura curiosidade. Nego com a cabeça.

— Duas pessoas não podem herdar o mesmo poder, não importando se ambos comerem a fruta, dizem que o demônio que habita na fruta só habitará o corpo do primeiro que a comer. – dessa vez pego uma laranja na cesta de frutas, botando-a lado á lado da maçã, agora sobre a mesa. – Da mesma forma, uma pessoa não pode comer duas frutas, e acaba por morrer se o fizer. – dou outra mordida na maçã, saboreando-a cuidadosamente. – Aqueles que comem as frutas também se tornam incapazes de nadar, perdendo totalmente o controle do próprio corpo quando submerso na água. – Luke parece demorar um tempo, mas finalmente compreende.

— Então existem outras frutas como essa, né? Talvez encontremos mais homens-animais em nossa viagem. – ele constata ao pensar um pouco, assinto.

— Mas também não é só isso que vamos enfrentar. – continuo a explicação. – A fruta de Lenny é uma Zoan, um dos três tipos de Akuma no Mi, ela permite ao usuário assumir uma forma humana, uma animal e uma híbrida, no caso de Lenny, ele pode se transformar em Gorila, mas outras frutas Zoan permitem a transformação em outras espécies de animais. – ele assente, parecia bem atento. Fixo meus olhos na laranja sobre a mesa. – Existem também os tipo Paramecia, quem o come se torna dono de um dom que supera os limites humanos, existem lendas que pessoas com essas frutas podem fazer diversos tipos de coisas, desde ficar invisível até atravessar montanhas usando só a força dos punhos. As Paramecias são o tipo mais comum de Akuma no Mi.

— E qual o terceiro tipo?

— Eles são conhecidos como Logia, dizem que são as frutas mais poderosas de todas, mas são tão raras que nunca vi ou ouvi falar de nenhuma. – Luke parece ficar levemente desapontado, mas logo em seguida ele se enche de seu vigor característico e estufa o peito.

— Vamos encontrar vários caras com poderes incríveis, mal posso esperar para partir. – sorrio para ele e Bruna se aproxima.

— O almoço está pronto, vocês podem levar o do Lenny e do Zodick enquanto eu sirvo as crianças? – assinto, pegando um prato enquanto Luke toma o outro em suas mãos.

Ao chegarmos à enfermaria, Luke rapidamente se dirige até Lenny, começando a conversar algum assunto aleatório com o garoto enquanto dirijo-me até Zodick.

— Olá. – ele acena com a cabeça quando me aproximo. – Como está se sentindo?

— Melhor. – sua voz parecia melhor, ele se mexe desconfortavelmente sobre a cama, tomando postura para começar sua refeição. – Uma dor aqui, outra ali, mas nada muito grave. – acho que ele não se deu conta de que perdeu uma quantidade de sangue que seria suficiente pra ele morrer duas vezes, mas resolvi não mencionar nada.

— Zodick. – chamo quando o moreno começa a comer. – Posso te perguntar algo?

— Vá em frente. – ele leva a colher à boca, saboreando prazerosamente a refeição que Bruna fizera.

— Como você conseguiu fugir da Marui no passado? – um silêncio desconfortável se instala no local, até mesmo Lenny e Luke se calaram, fitando-nos, pareciam interessados na história.

— Foi há dez anos... – Zodick começa á falar, seus olhos se distanciam como se tentasse lembrar-se de cada pequeno detalhe daquela noite.  – Eu estava prestes a concluir meu treinamento como o mestre Marui do Leão, foram três anos de sangue, suor e lágrimas, e faltava apenas mais um passo para conseguir. – a voz dele era séria, seu olhar compenetrado parecia assistir a cena se desenrolar diante de seus orbes. – Naquela noite, lutei e venci.  Meu oponente estava de joelhos perante a mim. A marca do Leão recém-marcada em minha pele. Foi então que veio a ordem. – ele ergue o olhar, encarando-me nos olhos. – “Mate-o”. Foi o que ele disse. Foi meu Pai a dar a ordem. Não sei se você pode compreender o que digo, mas é uma escolha muito difícil pra se fazer hoje em dia, então imagine para uma criança de só oito anos. – ele faz uma pequena pausa, o ar estava tão pesado que era quase palpável, mesmo que eu não diga nada, sei exatamente como ele se sente, aos nove anos tive que fazer a mesma escolha que ele fez, e desde então, nunca mais fui a mesma. – Eu me neguei. – continua ele. – Neguei, neguei e neguei novamente. – seus olhos vacilam, sua voz falha por um instante. – Então meu Pai foi lá e quebrou o pescoço dele na minha frente. – suas mãos se apertaram ao redor dos lençóis da cama. – Enchi-me de fúria a tal ponto que explodi, ataquei-o com meu Lion’s Paw. – ele solta um longo suspiro, controlando a si mesmo. – Ele foi arremessado longe e comecei a correr até encontrar a porta de aço que levava ao lado de fora; Soquei-a com tanta força que ela fora arremessada do outro lado da ilha, mas... Eu não tinha saída. – ele faz outra pausa, recuperando o fôlego. – Do lado de fora algo em torno de 30 mestres Marui me esperavam, prontos para me deter. – engulo em seco antes de fazer a pergunta.

— E então? O que houve? – ele solta um sorriso fraco.

— E então eu fui salvo. – olho-o confuso e ele prossegue. – A luta se estendeu por horas, derrotei doze mestres Marui antes de ter forças somente para me manter de pé, parecia o fim, mas naquela hora surgiu alguém para me ajudar. – ele faz outra pausa, tentando se lembrar da imagem daquele que o ajudou. – Ele era uns cinco anos mais velho do que eu, seus cabelos rosados e seus olhos como ouro cintilante. – ele come mais uma colher de seu almoço antes de continuar. – Ele tinha um poder de Akuma no Mi, seu corpo liberava uma substância estranha, parecida com chiclete, em um único golpe ele prendeu todos os mestres Marui e me mandou fugir. – ele volta a fitar-me nos olhos. – E foi isso, eu fugi da ilha e nunca mais tinha escutado nada sobre o garoto ou sobre a Marui, pelo menos não até Eagle aparecer.

— Entendo. – falo calmamente ao final da história. – Bom, não vou mais incomodá-lo. – ergo-me, deixando-o almoçar em paz, mas existia uma sensação que eu não podia conter e essa sensação se tratava de uma incrível curiosidade a respeito do jovem que salvou Zodick. 

— - Zodick - - 

— Prontinho. – Bruna conclui, um sorriso de satisfação se formava em seu rosto enquanto ela terminava de remover minhas ataduras. – Você está oficialmente de alta. – após ouvir aquilo, ela finalmente me dá a autorização para ficar em pé, não que eu visse isso como um motivo para me alegrar.

Durante essas semanas em que estive acamado, eu, Bruna, Lenny, Luke e Sofie estivemos juntos quase que integralmente, brincávamos, conversávamos, comíamos, eles até mesmo colocaram alguns colchões pelo chão para poderem dormir perto de nós, quer dizer, ficar conversando bobagens até de madrugada até desmaiarmos de cansaço. Rapidamente eles se tornaram pessoas preciosas para mim, se tornaram algo que nunca tive e que eu não gostaria de perder: uma família. E agora que estou recuperado. Eles estão indo embora.

— Eu também não estou feliz com isso. – Bruna fala, como se lesse meus pensamentos, ela e Sofie se tornaram particularmente próximas no tempo em que estiveram por aqui. – Mas não podemos impedi-los de partir, afinal é no mar que os sonhos deles os esperam, tudo o que podemos fazer é guardar as boas lembranças que tivemos com eles e desejá-los uma boa viagem com um grande sorriso no rosto. – abro um pequeno sorriso, ela está certa, mas o que realmente me impressionou foi que, se essa fosse a mesma Bruna que conheci há anos atrás, nesse exato momento ela estaria chorando por eles estarem indo embora e a abandonando, mas ver o quanto ela amadureceu realmente era algo de encher o coração de orgulho.

— Você está certa, e nós vamos fazer o possível para ajudá-los em sua jornada, não é? – ela assente e assim o fazemos, ajudamos Luke e Sofie á comprar e estocar tudo aquilo que fosse necessário para uma viagem: comida, remédios, roupas. Tudo o que podíamos fazer foi feito, agora tudo o que restava era o adeus.

 

Eram cinco da manhã e o sol começava a surgir no horizonte, este provavelmente era o melhor horário para se viajar, afinal, não deveriam ter muitos barcos por aí à essa hora. Eu acho.

O som das águas correntes do rio e o farfalhar das folhas formavam a sinfonia que serviria como trilha sonora para a despedida. Estávamos à beira da ponte que passava sobre o rio, o orfanato em nossas costas, a floresta à nossa frente, do outro lado do rio. Luke e Sofie estavam de frente para nós, o capitão pirata abria um enorme sorriso enquanto a ruiva sorria de canto. Lenny e Bruna preferiram não ir até o barco para os verem partir, então se despediram ali mesmo, à beira do rio. Lenny foi até Luke e cumprimentou o amigo com o toque secreto que eu nunca conseguia me recordar como funcionava. Já Bruna presenteou Sofie, dando á ela a sequóia-gigante em miniatura que tanto deslumbrava Sofie quando a mesma a viu sobre a cômoda da enfermaria. A navegadora parecia ter adorado o presente, agradecendo com um forte abraço.

Começo a conduzi-los através da floresta, o caminho parecendo muito maior e mais silencioso do que consigo me lembrar. Nenhum de nós trocava nem ao menos uma palavra. Este deveria ser o momento em que eu deveria me despedir, mas para ser sincero, eu não queria me separar, não queria ter que dizer adeus, não queria que essa fosse à última vez que nos veríamos, uma forte tristeza tomava conta de meu peito a cada passo dado, chegando a seu ápice quando avistamos o navio. Luke e Sofie dirigem-se até a praia sem esboçar nada, parando à beira das águas marítimas. O capitão vira-se, me olhando nos olhos, seus orbes azul-claro pareciam ver através de minha alma.

— Não existe nada que você tem que nos dizer? – ao ver seus olhos posso perceber, ele sabia e queria que eu fizesse o pedido, e eu queria pedir, mas não posso, o orfanato, Lenny, Bruna. Eles ainda precisam de mim.

— Zodick. – Uma voz suave me chama, vinda de trás de mim, viro-me para acabar me deparando com Lenny, que trazia uma bolsa em seu ombro, e Bruna, o olhar de ambos estavam marejados. – Eu queria te agradecer. – Agradecer? Pelo quê? – Você nos salvou e cuidou muito bem de nós até agora. – ela engole em seco, como se ela mesmo temesse o que estava prestes a dizer. – Mas não podemos mais prendê-lo aqui... – sua voz começa a embargar à medida que ela falava. – Nós dois sempre sentimos... Você ainda fará coisas grandiosas, Zodick. Coisas muito além de nossa imaginação. Mas você nunca conseguirá se ficar aqui. – Lenny dá um passo à frente, me entregando a mochila que trazia consigo.

— Vai nessa, nós vamos cuidar de tudo por aqui, eu prometo. – o jovem sardento fala sorrindo. Pego a mochila em minha mão, dando uma longa olhada para ambos. É impressionante ver o quanto cresceram. Também é um motivo de muito orgulho. Aproximo-me, abraçando os dois com força, posso sentir as lágrimas de ambos caírem sobre meus ombros.

— Eu vou sentir falta de vocês. – sussurro baixinho. 

— Nós também. – murmura Lenny ao nos separarmos.

— Se cuida, tá? – pede Bruna, assinto, sorrindo carinhosamente, enxugando as lágrimas que escorriam nos rostos de ambos. 

— Pode deixar. – sussurro, novamente me virando em direção a Luke e Sofie.

— Não existe nada que você tem que nos dizer? - Luke repete a pergunta, posso ver um pequeno sorriso se formar nos lábios da ruiva ao seu lado, sorrio de volta para ele, passando a mão sobre meus próprios cabelos, falando.

— Capitão Luke Hardy, você me aceita como parte de sua tripulação? – dessa vez o sorriso de Luke se abre.

— Claro que sim. – ele ergue os braços, gritando à plenos pulmões. – VAMOS NAVEGAR!

— - Continua - -




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Notas finais do capítulo

E aqui estamos nós mais uma vez com nosso segundo arco finalmente encerrado! Damos nosso adeus para a ilha Shannon que (talvez) reapareça em breve. Gostaria de pedir que deixem suas opiniões/comentários/reviews/pensamentos e que nos acompanhem em nossa nova jornada. Até próxima semana!



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