Aesthetic - Drarry escrita por Lecah


Capítulo 2
Quando garotos beijam outros garotos


Notas iniciais do capítulo

Notas finais de importância hoje, pf leiam!



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Eu abri os olhos para a luminosidade clara, observei o teto preto com estrelas fosforescente do meu quarto, era algo infantil, uma ideia genial de minha mãe para o meu medo do escuro que acatei aos seis anos e desde então nunca mudou, meu pai já havia se oferecido para reformar o ambiente, mas eu gostava, era juvenil, mas era reconfortante, e de tantas coisas que me incomodavam no mundo, com certeza o teto estrelado não era uma delas. Virei o rosto para a mesa de cabeceira, só para ter certeza de que precisava levantar e me arrumar para a aula, o rosto de Draco veio automático em minha mente, me aperfeiçoei a memória de sua face e do som de sua voz indiferente a mim.

Dois meses e dezoitos dias, o loiro me fascinou em todos eles, eu o queria em segredo e me detestava por observar seus passos, por apreciar o som de sua voz sempre que ele dava o ar da graça de se fazer ouvir em sala, Draco era diferente de todos os outros garotos, era elegante e métrico, cada movimento seu parecia ser calculado. Ele não era introspectivo, adaptou-se facilmente ao colegial, desfrutava da companhia de alunos do último ano, o que era interessante, havia essa áurea que lhe dava um ar de superioridade, eu queria detestá-lo.

As garotas ficavam eufóricas em sua companhia, ele era gentil com a maioria, pelo menos de longe era o que parecia, mas não havia fofocas, nenhuma delas se vangloriava pelos corredores em ter fisgado Draco Malfoy, na verdade depois da terceira semana o loiro tornou-se tão comum para os outros como qualquer outro garoto excessivamente lindo, me perguntei porque eu ainda me via fascinado.

— Harry! - O grito de minha mãe me tirou os devaneios, eu levantei relutante, em direção a porta do quarto.

— Estou acordado. - Resmunguei alto suficiente antes de seguir em direção ao banheiro, precisava livrar minha mente de Draco.

...

Subi cada degrau de pedra polida que me levaria até o interior do colégio sem vontade, eu estava com sono, estava com frio e também saturado. Às segundas eram insuportáveis, elas eram repletas de comentários sobre festas regadas a álcool que meus colegas amavam, as fofocas transcendiam por todo o dia, eu não conseguia simplesmente me desligar, e também tinha Rony, ele frequentava tais lugares com a namorada Hermione, era a minha fonte direta de informações indesejadas, eu não as pedia, mas também não o evitava.

— Draco Malfoy e Blaise  Zabini, acredita? - Foi o bom dia de Rony, a mochila pendendo no ombro, o sorriso enviesado como quem acabara de me contar a maior notícia do século, essa inclusive incompleta me fazendo respirar fundo, eu não havia entendido, mas gostava de tudo que remetia a Draco Malfoy.

— O que exatamente tem eles? - Devolvi com a sobrancelha erguida fazendo meu caminho de sempre ao corredor de armários.

— Aos beijos na festa de ontem, na frente de toda a escola. - Eu perdi o processo de erguer a mão até a fechadura do armário, me obriguei a travar o maxilar disfarçando minha cara de surpresa, o que isso significava? Rony não pareceu reparar a euforia que me invadiu. - Simas fez uma brincadeira com os dois após o beijo, saiu com o nariz sangrando, Malfoy tem uma esquerda potente - ele é canhoto, queria me gabar sobre os detalhes de Draco que eu conhecia, mas me limitei em observar o ruivo encenando um soco no ar, eu continuei estático.

— Que brincadeira? - Indaguei me encostando no armário que desisti de abrir, Rony por outro lado abriu mão da encenação, ocupado com o segredo de sua porta, eu conhecia Zabini, o nome não me era estranho, talvez do último ano, deveria ser com certeza, Draco estava sempre cercado de alunos do terceiro ano.

— Ah, foi algo realmente idiota se você quer saber, você sabe Harry, eles não fizeram nada realmente e Simas estava muito alto, chamou os dois de viadinho ou algo assim. - Eu mordi o lábio segurando o ar, a última frase de Rony foi quase um sussurro quando ele jogou os livros de qualquer jeito no armário. - Malfoy não gostou, você precisava ver - Rony sorriu empolgado em meio a fala. - ele olhou Simas como se ele fosse um objeto, não tivemos nem tempo de tirar o cara da frete, o soco veio do nada, o sangue escorreu na hora. - O ruivo foi expressivo nas ações enquanto contava, eu me permiti rir. - Claro que Dino não gostou nada, você sabe como ele e Simas são amigos, foi para cima de Malfoy, mas ele esquivou, deu as costas puxando Zabini que estava com aquele olhar todo esbugalhado. 

Eu me permiti sorrir, a cabeça longe, me obriguei a finalmente abrir a porta do armário e despejar minhas coisas no automático, como eu poderia explicar para minha mente que a ideia de Draco beijar um garoto não mudaria os fatos. Eu nunca havia visto nada do tipo, claro que eu sabia dos garotos gays da escola, ouvia as piadas e injúrias, mas algo explícito, beijo em público? Era de uma audácia deliciosa, sorri tanto que até esqueci que na verdade o beijo não fora comigo. Poderia ser? 

— Você não vai dizer nada? - Rony se mostrou ofendido quando voltamos a andar pelo corredor.

— Não é exatamente da minha conta. - Tentei mostrar desinteresse, o ruivo rolou os olhos.

— Ele não tem cara de gay, veja o cara, as meninas estavam doidas por ele até ontem. - Eu olhei na mesma direção que Rony, Draco caminhava paciente, alheio - ao menos parecia - aos olhares que recebia, o mesmo Draco de todas as manhãs, enigmático, deslumbrante e lindo, mais uma vez desejei odiá-lo, dessa vez mais do que nunca.

— Não tem problema...? - Não deveria ser soado como uma pergunta, mas a interrogação estava ali, Rony deu de ombros empurrando a porta da sala.

— É o que você disse, não é da nossa conta... Estranho, talvez. - Eu mirei o ruivo quando ele entrou na sala, ponderei o peso de suas últimas palavras, eu já era, afinal, um estranho há muito tempo, então.

— Bom dia, Potter. - Eu virei o rosto na direção da voz, senti minhas bochechas esquentarem para meu descontentamento, fui pego de surpresa quando encarei os olhos cinzas.

— D-dia. - Precisava mesmo gaguejar, Harry, jura que você não consegue se controlar a esse ponto? Eu continuei estático, Draco a me encarar, os olhos prendendo os meus, minhas bochechas a essa altura poderiam até mesmo serem confundidas com tomates, eu sabia disso sem nem precisar ver.

— Você me permite entrar? - Seu hálito soprou em meu rosto, fez cócegas, não havia impaciência em sua voz, talvez por isso eu tenha me sentido tão dopado com sua presença repentina.

— Aonde?! - Eu respondi e considerei um surto de loucura, o loiro riu baixo, eu quis sair correndo porque só então me dei conta de que na verdade eu estava fazendo papel de idiota impedindo sua passagem na sala de aula. Dei um passo para o lado liberando o fluxo de entrada, ele me encarou de cima a baixo, oh Deus, por favor me deixe morrer agora, de onde saiu tamanha idiotice.

— Está distraído, Potter... - Ele murmurou quando passou, observei seu caminhar até a mesa usual, ao fundo da sala, o olhar em minha direção quando ele se ajeitou na cadeira, me odiei por continuar parado como um idiota na frente da sala. Mas que culpa eu tinha, pela primeira vez na vida eu estava atraído por alguém compatível a mim, não que isso resolvesse tudo, mas assim minhas fantasias iriam fluir de forma muito mais nítidas.

Adiantei meus passos ainda constrangido para o meu lugar habitual, uma mesa de distância de Draco, perto o suficiente para fazer meu corpo se empolgar em querer olhar na sua direção. Juntei as mãos em cima da mesa encarando minhas unhas curtas, eu senti um olhar queimar sobre mim, não havia como ter certeza, mas era Draco, porque outra pessoa iria me encarar naquele momento, eu era neutro, não atraía olhares.

— Cara. - Eu ergui o olhar para Rony quando ele veio sentar-se ao meu lado após a habitual rotina de cumprimentar os colegas de time. - O que houve na porta?

— Deu para notar? - Eu respondi alheio, era muito fácil distrair Rony, se você fosse evasivo ele se perderia nas próprias teorias e pensamentos, eu não conseguia compreender como mantínhamos uma amizade, não era algo desde a infância, não éramos vizinhos, não tinha nada que justificasse, mas ainda assim ele se sentava ao lado, me convidava para as festas que eu nunca ia, fazia duplas comigo nos trabalhos - tenho certeza que não era por minha inteligência, porque não havia nada de excepcional. Era apenas uma amizade, eu a apreciava 85% do tempo, Rony era tranquilo de se conviver, eu também não era nenhuma fardo. 

— Eu posso te fazer uma pergunta? - Eu levei o indicador até minha têmpora, então eu finalmente estava dando sinais de que não era comum, que vim defeituoso de fábrica. 

— Adiantaria se eu dissesse que não? - Instiguei sorrindo sem vontade, evitando seu olhar.

— Na verdade não. - Eu havia previsto sua resposta.

— Foi o que pensei - Conclui voltando meu olhar a frente da sala, a Sra. Parkinson adentrou a sala com o tom monótono de sempre, eu nunca entenderia a pessoa responsável por organizar grades de aula colocando cento e vinte minutos de história nas primeiras horas da manhã.

— Você gosta de... - A voz do ruivo soou baixa, seu corpo curvado em minha direção, eu engoli em seco, desviei o olhar para a direita, tentando fugir da voz de Rony. Draco estava distraído com o rosto voltado para a mesa, o queixo descansando na mão direita enquanto a esquerda rabiscava o caderno, queria saber o que ele escrevia tão concentrado com o lábio inferior preso entre os dentes. - Você sabe. - A voz do ruivo não me permitiu a fuga que eu gostaria, eu senti o nó em minha garganta, os olhos já úmidos, como eu lhe responderia algo que nem mesmo eu tinha condições de dizer para mim.

— Não. Não sei. - Menti mirando seus olhos, ele recuou levemente talvez pelo meu tom áspero, eu ri com escárnio. - Na verdade sei sim, mas se está me perguntando, sabe a resposta.

— Não precisa reagir assim, cara, somos amigos. - Eu avaliei os parâmetros de nossa amizade incompatível e estranha.

— O que você pensa sobre? - Perguntei desafiando-o, eu estava mesmo pronto para ouvir sua rejeição, seu discurso do quanto aquilo - eu - era anormal e estranho?

— Eu não sei. - Eu cerrei os olhos, ele ruborizou, estava envergonhado por omitir a que pensava.

— Vamos lá, Ronald, você mesmo disse que somos amigos. - Eu encostei na cadeira cruzando os braços, ele fez o mesmo me imitando, o rosto voltando na minha direção tentando não aparentar que estávamos em uma conversa nada harmoniosa para quem observasse.

— Ontem, quando Draco foi embora, todo mundo começou a comentar, até mesmo hoje os comentários continuam, ele não parece ligar... - A cabeça de Rony sinalizou a direção do loiro, eu não o olhei. - Hermione disse que são todos uns enxeridos e que não há nada de errado, ninguém manda no coração. - Rony sorriu quando proferiu o nome da namorada.

— Hermione disse isso? - Eu duvidei, então me dei conta que eu implicava com a garota sem motivos reais, era ridículo.

— Ela é incrível não é, ela sabe de tudo. - Rony respondeu como quem nutre orgulho, eu revirei os olhos.

— Mas não me respondeu, Rony, o que você pensa sobre? - Insisti, ele se inclinou na mesa.

— É isso, Harry, não importa o que eu penso ou qualquer um pensa, Hermione tem razão. - Eu encarei seus olhos azuis iguais de gude, Rony era muito bonito, mas provavelmente eu nunca poderia lhe dizer isso. Eu digeri suas palavras e ele se voltou para o caderno tomando notas do que estava escrito no quadro negro em frente a sala. Não havia verdade mais absoluta, não era mesmo da conta de ninguém, era sobre cada um consigo mesmo, mas ainda assim, porque eu mesmo me sentia tão diferente, tão errado.

— Hermione Granger é uma ótima influência para você. - Eu respondi baixo também me voltando para minhas anotações, sem ter noção do que estava realmente escrevendo, me permiti um desvio breve para Draco, me surpreendi ao encontrar seus olhos cinzas, uma curiosidade repentina no seu semblante, maneei a cabeça sentindo o rubor, porque ele me afetava tanto? Desviei minha atenção sem vontade. - Eu sou gay, Rony. - Sussurrei sem lhe observar.

— Tudo bem, Harry. - Havia cumplicidade em sua voz, eu me permiti um sorriso, saboreei o gosto da palavra, sussurrei de forma inaudível novamente, para mim. - Desculpe ter dito que era estranho, não é estranho... Acho que leva tempo para ser sensato como a Mione, você sabe, ela já nasceu perfeita.

— Ela realmente é uma ótima influência. - Brinquei tentando estabelecer o clima de sempre, ele riu, era fácil empolgar Rony, seu monólogo sobre os planos de levar a garota em um jantar romântico na sexta encheram meus ouvidos, eu me senti grato, me deixei levar pelos planos do ruivo, ouvi atento sua preocupação em achar um local com comida vegetariana para a namorada, me perguntei se algum dia eu poderia também conversar abertamente com ele sobre um possível relacionamento meu, eu teria um dia? Voltei meu olhar para a direção de Draco Malfoy, nossos olhares se esbarraram de novo, eu sorri com a coincidência antes mesmo de conseguir me sentir constrangido, ele ergueu o cantos dos lábios também, nele tudo ficava lindo, até mesmo um sorriso mínimo de canto.

— Você está me ouvindo, Harry? - Eu encarei o ruivo ainda sorrindo.

— Claro que sim. - Respondi ofendido, ele ergueu a cabeça olhando por cima da minha, ruborizei violentamente.

— Você tem uma queda pelo Draco? - As sobrancelhas erguidas e a voz sussurrada me fizeram afundar ainda mais na cadeira.

— Talvez. - Dei de ombros e ele pareceu se esforçar para entender algo?

— Desde hoje cedo? - Eu encarei Rony como se ele fosse um ser irracional.

— Não seja burro. - Eu o acusei, ele riu sem graça. - Esqueça isso.

— Faz sentido até, você está sempre encarando-o.

— Claro que não. - Neguei veemente tentando atribuir verdade a minha mentira.

— Sabia que ele era gay? - Rony indagou curioso, eu o encarei na esperança de que ele recobrasse a inteligência sem que eu precisasse lhe explicar o óbvio.

— E como eu poderia saber? - Insisti sem paciência. - Além de tudo, não podemos afirmar isso sobre ele.

— Verdade, foi mal... - Ele coçou a nuca, eu suspirei observando minha caligrafia irregular no caderno. - Você poderia falar com ele. - Ron voltou a olhar na direção de Draco e eu rapidamente puxei sua orelha fazendo-o olhar para frente.

— Só esqueça isso. - Eu finalizei a conversa, ele resmungou massageando o local que eu havia beliscado. - Não tem o que falar, Ron, sério.

Rony não voltou a insistir no assunto, bem, claro que isso só aconteceu após eu ter ignorado suas várias indagações, por fim o venci pelo cansaço, quis voltar meu olhar a Draco, mas me impedi, então foquei minha atenção no quadro, tentei mergulhar no assunto, mas minha mente divagou para um universo paralelo onde eu era destemido, corajoso o suficiente para puxar assunto com o loiro, interessante o bastante para atrair sua atenção e bem resolvido para não ter medo dos meus desejos, medo das pessoas, medo dos meus pais.


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Notas finais do capítulo

Eu estou tão empolgada para essa história que se eu não me controlar posto um capítulo por dia.

Sobre o Rony, ele é amável, descolado e de boa com a vida, a desconstrução dos preconceitos dele será feita ao longo da história, tenham paciência com ele, em 96 a sociedade era totalmente complicada.

Todo e qualquer evento preconceituoso na fic não me representa, é apenas uma abordagem da história para ser utilizada como objeto de desconstrução e ensinamento.

E sobre o Harry, heim? Gente eu amo o Harry, caramba, ele é o verdadeiro significado de mãe ama, mãe cuida.

Deixa teu comentário tá, eu tô vendo você passando reto sem me dar um feedback!!!

Ps: vocês querem outro capítulo amanhã ou deixa para segunda?
Beijos ❤️❤️



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