Estranhei o fato do conselho do colégio me chamar para uma  reunião, na maioria das vezes eu é quem os chamava. Estou com a consciência tranquila, sei que não fiz nada que infringia ou desrespeitava as regras do colégio Nort Hart. Até porque, foi eu quem ajudei nas regras do local.

Não que eu seja a queridinha do colégio, talvez do diretor do prédio, ou seja, meu papai. Porém, sempre o pedi para que não me tratasse com exclusividade; pois nesse colégio sou apenas uma aluna, igual à todos. 

Antes de entrar, bato na porta que está entreaberta.

— Me chamou Diretor? — percebo que do conselho do colégio, está somente presente meu pai, junto dele à outra pessoa. 

— Sim Melinda, sente-se — meu pai se pronuncia. Sorrio de boca fechada e me sento de modo comportado.

— Esse é o Sr. Rosemberg — aponta para o homem ao meu lado. O cumprimento com um aperto de mão — Vou direto ao ponto — papai solta um pigarro — O Sr. Rosemberg sempre nos ajudou em eventos que contribuíram para o colégio, sempre fez parcerias conosco. Por causa disso, o mínimo que possamos fazer é cumprir com o pedido que ele tanto deseja — me sinto confusa.

— Okay — tento assimilar tudo — E eu por acaso estou envolvida nesse pedido tão desejado, certo?  — franzo a testa.

— Bem que você disse que ela era esperta — o homem de voz rouca se pronuncia.

— Sim, você está envolvida nisso — papai me olha como se estivesse me pedindo para concordar com tudo, mesmo sem ter falado a proposta misteriosa — Não sei se você sabe, mas o Henk Rosemberg tem três filhos da sua idade — eu reconheço esse sobrenome.

— Com licença, Diretor Berkeley. Se me permitir, agora quero falar diretamente com ela — meu pai concedeu essa conversa. Colocando em ordem seus lápis — Melinda, tenho três filhos, cada um com suas personalidades diferentes. Estão com as notas abaixo de D- — arregalo os olhos — Um quer ser cantor e tem o dom para a música; o outro é  um rebelde e o último, mas menos importante; acha que é popular — revira os olhos, o que me faz segurar o riso — Eles precisam de você e da sua inteligência. Quando entrei nessa sala e vi seu histórico escolar, já sabia que você seria perfeita para eles.

Fico alguns minutos em silêncio, tentando assimilar tudo o que me havia dito.

— Eu adoro ensinar à outros tudo o que eu sei, mas não sei se consigo comandar três garotos. Cá entre nós, não me dou muito bem com garotos — abaixo a cabeça envergonhada.

— Eu até pago se precisar. — diz rapidamente —  Até faço eles obedecerem você, não terá problema algum com eles. Isso eu garanto — me afirma confiante.

— O dinheiro não tem mera importância quando ensinar é minha paixão. Mas quanto abusos, posso pensar um pouco? — era como se eu estivesse pedindo esse tempo não só para o Sr. Rosemberg, mas também para o meu papai.

— Claro, só não demore muito — sorri mostrando suas covinhas fundas. Essas covinhas me parecem familiar.

No refeitório expliquei tudo o que aconteceu na grande, mas sufocante sala do Diretor. Aiysha e Evan, meus melhores amigos, ouviam tudo atentamente.

— Você sabe que não é obrigada à ensina- los — Evan dá sua opinião enquanto come seu macarrão com molho branco.

O loiro é o tipo de amigo que não fala o que você quer ouvir, mas sim o que você precisa. Quando vai me aconselhar, percebo que preciso de seus conselhos mais que tudo.

Antes que pudesse pensar em uma resposta, Every e seus cachos loiros chegam roubando toda a atenção. Como de costume.

— Maison Rosemberg é um sonho — Every se junta a nossa mesa — Por que será que ele nunca fez uma música para mim? — a cacheada até se perde no que fala quando ele passa por ela com seu violão pendurado nas costas.

— Você dá em cima de todo mundo, não me surpreende ele nunca ter feito nada — Aiysha à olha com sua sobrancelha escura arqueada.

— Você falou o quê! Maison Rosemberg? — é o mesmo sobrenome do Henk — Ele por acaso não tem mais dois irmãos, tem? — por favor fala que não.

Parte de mim queria que aquilo fosse mentira ou que eu estivesse sonhando. É impossível pensar na minha pessoa dando aula para eles. Não gosto e nem estou acostumada a ter contato com nenhum tipo de garoto. Nenhum garoto que não inclua Evan.

Já a outra parte estava confusa com tudo o que acontecia na frente dos meus olhos. É difícil tomar uma decisão importante quando todos te pressionam e te incentivam a fazer o contrário.

— Henrik e Liam Rosemberg contam como dois irmãos? — Every me olha com receio.

Ambos os garotos que Every acaba de mencionar, entram juntos no refeitório; atraindo toda a atenção para eles. Era incrível o que um pouco de beleza e dinheiro podia fazer. 

O interessante é que não era o Liam, o popular;  que fazia as garotas suspirarem por onde passa-se. Mas sim Henrik, com seu jeito rebelde e caladão que conseguia ofuscar o brilho dos irmãos. E era isso o que atraía as garotas. Para elas ele é um desafio. Engraçado é que mencionavam Henrik como fosse um cubo indecifrável. Nenhuma delas conseguiam arrancar alguma coisa dele. Esse seu jeito era  quieto um muro que afastasse todos a sua volta. 

Olho para Aiysha que o encarava como se estivesse vendo um grande pedaço de pudim, que no caso é sua sobremesa favorita. Mas garoto solitário, como todos o chamam. Não era apenas uma sobremesa para ela, e sim um banquete por inteiro. O que eu não sabia é que a Aiysha era uma das garotas que suspirava por ele.

Os três irmãos pareciam andarem câmera lenta. Tentei de toda forma achar algo neles de especial, ou ver eles como todas as viam. Mas não achei nada de diferente. Apenas garotos que aparentavam ser arrogantes e cheios do dinheiro. E para o meu azar, única coisa que consegui foi ser notada por Liam e Henrik, o que era de importância alguma para mim.

 O popular me mandou uma piscadela. O irônico é que ele achou que eu iria morrer de amores, logo após da piscadela que me enviou. Mas o que ele não sabia é que eu não estava nenhum pouco interessada. 

Henrik revirou os olhos com o ato de seu irmão, o que me fez segurar o riso igual da última vez.

— Você precisa dar aulas para eles — Aiysha fala no meu ouvido, enquanto eles ainda me olhavam.

Viro a cara para eles e fico de frente para meus amigos. Era óbvio que agora estava me sentindo envergonhada. Depois da cena em que todos viam eles me olhando, não tem quem não fique.

— Ei — com meu ombro empurro Evan — são uns idiotas né — sei que não gosta nem um pouco deles.

— Sem sombra de dúvidas — o loiro me empurra de volta, enquanto ri.

— Se não fosse melhores amigos eu shipparia — Every joga sua cabeleira loira para o lado. 

— Não se esqueça que é você quem já teve uma queda por ele — arqueio minha sobrancelha clara.

Evan a olha pasmado, é como se ele estivesse juntando as peças de tudo. De todos os crush da Every, Evan e Maison foi o mais platônico. Tinha vezes que ela ficava com ciúmes da minha pessoa e da Aiysha com ele. Isso tudo só porquê ele não fazia idéia que ela gostava dele. Mas se ela ao menos tivesse contado para Evan antes, tudo seria diferente.

— O quê? — o mesmo quase engasga com sua água com gás, parando de toma-lá — Não vai me dizer que eu sou um dos caras que você colocou as iniciais do nome no seu caderno! — ele debocha esperando uma resposta.

A loira estava toda corada. Every  o olhava sem ter uma resposta para dar. Tenho certeza que quer me matar por ter revelado isso. Depois desse vacilo, eu devia uma para ela. Então usei uma das minhas respostas mais sarcástica, mas que ao mesmo tempo foi  improvisada.

— Evan, ela gostava de você. Agora você não tem mais nenhum significado para ela — Every me olhava com alívio e raiva, até porque foi eu quem a meti nesse constrangimento.

— Concordo — Vicent se intromete na nossa conversa.

Vicent Marshall, o segundo na categoria dos garotos que faz as adolescentes suspirarem. No entanto, as meninas nem lembram mais dele. No exato momento em que Rosemberg pisaram no colégio, tomaram seu lugar por inteiro.

Seu título de ser o número um na vida das garotas foi por água à baixo. É engraçado pensar desse modo, Vicent e Evan não se suportavam. Mas viraram amigos porquê tem somente uma coisa em comum, não vão nenhum pouco com a cara dos Rosemberg. 

Uma parceria e tanto esses dois.