25 de fevereiro, 4 anos depois
Mystic Falls, Virgínia.

As ruas de Mystic Falls estavam enfeitadas. Embora fizesse frio, todos pareciam estar fora de casa, dispostos a participar da festa que acontecia. Era o aniversário da cidade, afinal.

Isabella havia acordado cedo naquela manhã, era sábado, não tinha nenhum compromisso, contudo sendo parte de uma das famílias fundadoras e tendo sua melhor amiga sempre presente e operante no comitê de eventos da cidade, mesmo tendo que lidar com os próprios problemas na faculdade, a Swan fora chamada para ajudar na decoração da escola para a festa que aconteceria no dia seguinte.

Desceu da cama e estremeceu ao sentir os pés entrarem em contato com o assoalho gelado de madeira. Correu até o banheiro, disposta a tomar um banho e livrar-se de seu sono. Enquanto a água morna caia por seu corpo e tirava os vestígios de shampoo, ela teve um estalo e imediatamente lembrou-se de que dia era.

Não era simplesmente o aniversário da cidade, não. Aquela também era, além de tudo, uma data importante para os Swans. Naquele dia, daquele mesmo mês, há 4 anos atrás, Charlie recebera a promoção que mudou a vida de ambos. Isabella sorriu, lembrando-se do dia em que seu pai decidiu contar a ela sobre a oferta.

Fora numa sexta-feira, se sua memória não falhasse. O tempo estava nublado e, como num milagre, quente. Bella havia acabado de voltar da escola, estava sentada na frente da televisão, esperando a comida que estava no forno ficar pronta. Como num movimento combinado, o forno soou anunciando que estava pronto enquanto Charlie entrava desesperado pela porta. Um sorriso no rosto, o casaco pendurado no ombro e o cinto que carregava a arma e as algemas em suas mãos.

Ele subiu as escadas rapidamente, os olhos castanhos da filha acompanharam o movimento, enquanto sua testa se vincava em um claro sinal de confusão. Sem entender o comportamento do pai, a morena levantou-se e tirou o frango assado com cuidado, posicionando-o sobre a mesa em cima da toalha alaranjada, sem saber o que esperar, apenas colocou os pratos no lugar junto dos talheres e voltou para a sala, se sentando na poltrona. Levou cerca de meia hora para que o policial retornasse, agora usando roupas mais confortáveis. Com apenas certezas estampadas no rosto, andou pela casa até parar em frente a TV, desviando a atenção de Isabella para si.

"Bella, querida, tenho uma boa notícia pra te contar!" o Chefe Swan começou, o sorriso entusiasmado nunca deixando seu rosto, enquanto observava a filha desligar a televisão, arrumar a postura no sofá e erguer as sobrancelhas, incentivando o pai a continuar.

"Bem..." respirou fundo, juntando as mãos e entrelaçando seus dedos. "Eu recebi uma promoção." contou a primeira parte antes, deixando o mais difícil para depois. Era errado enrolar tanto, mas sabia que com certeza a segunda parte iria receber mais empecilhos. 

"Sério?" a Swan arregalou os olhos, o corpo automaticamente inclinando para frente com a surpresa, estava genuinamente feliz sobre a notícia do pai. "Isso é... isso é ótimo, Charlie! Para qual cargo passou?" questionou, curiosa, sabia que o pai merecia ser reconhecido, merecia um aumento, merecia tudo. Sempre foi muito esforçado e elogiado em seu trabalho. 

O sorriso desmanchou-se vagarosamente do rosto de Charlie, enquanto ele engolia em seco. Agora vinha a parte mais difícil. "Não é exatamente para qual cargo passei e sim para onde passei..." ao dizer aquilo, as sobrancelhas de Bella se vincaram e a cabeça pendeu para o lado.

"Eu fui transferido para uma outra delegacia Bells... Em Mystic Falls." foi tudo o que disse, antes da sala se engolir num completo silêncio, enquanto a mente agora frágil e sensível de Isabella processava as palavras. 

Tudo o que Bella conseguia se recordar daquele momento, porém, era de ter perfeitamente visto todo seu mundo terminar de desabar. Como se uma cratera tivesse aberto no chão e engolido tudo de uma só vez.

De certo, o tempo que passou em Forks poderia ser considerado quase como uma montanha-russa. Cheia de altos e baixos, giros, reviravoltas, momentos de deixar qualquer um de cabeça para baixo. E, embora no momento ela pudesse se considerar em um trecho desta mesma montanha russa que só desce cada vez mais, isso ainda não era motivo suficiente para ela querer deixar a cidade.

Por conta te tanta insistência, acabou levando cerca de uma semana para Charlie convencer Isabella a deixar a pequena cidade de Washington para trás. Nessa uma semana, a garota tentara de tudo para convencer o pai de que poderia ficar, mesmo que fosse sozinha: arrumou dois empregos, um na loja onde já trabalhava e outro em uma sorveteria perto do cinema, dedicou-se mais a escola, estudando para provas e até mesmo se arriscando a participar de grupos de estudo... até ir atrás de Jacob foi e até hoje se lembra perfeitamente daquele dia.

Estava chovendo e ela se escorava no guarda-chuva amarelo que segurava como se sua vida dependesse disso enquanto esperava ser atendida na porta da casa dos Black. Havia estacionado o carro na frente do lugar e ficara cerca de meia hora ali, criando coragem para sair e bater na porta. Depois do que pareceu uma eternidade e o fez, se viu esperando mais vinte minutos antes de finalmente ser atendida. 

No momento em que Jake apareceu na porta, seu coração pulou. Estar perto de seu sol sempre a fizera bem, ele era seu melhor amigo afinal, mesmo tendo a afastado nas últimas semanas e dito, através de uma nota aliás, que não podiam mais se falar. Mesmo assim Bella se sentiu bem ao vê-lo. O cabelo castanho escuro estava úmido, indicando que havia acabado de sair do banho, vestia um moletom e calça jeans. 

Por alguns instantes ambos permaneceram se encarando, até a Swan finalmente recolher toda a coragem necessária e se pronunciar. Engoliu em seco e riu fraco, desviando o olhar tímido para os pés, o medo de ser rejeitada a consumia e estava desesperada pois esta era a sua última cartada para conseguir ficar na cidade. 

"Preciso de um favor seu." se pronunciou, a voz baixa, quase em sussurro, se atendo as lembranças da amizade dos dois como uma criança se agarra ao cobertor nas noites frias para ter esperanças de que o rapaz iria escutá-la. 

O moreno se viu paralisado, na porta, a encarando pelo que pareceram ser os três minutos mais longos da vida da humana e então jogou todos os seus planos por água abaixo quando a feição se endureceu e ele simplesmente fechou a porta, sem dizer uma palavra sequer. 

Não é preciso dizer que o fiasco só serviu como mais um tiro na autoestima já completamente em pedaços da garota, que apenas voltou para casa em soluços e lágrimas escorrendo dos olhos inchados. E, se nenhum dos outros feitos convenceu o Chefe Swan a deixar sua filha para trás, vê-la naquele estado quando a garota voltou da casa de Jake somente serviu para cimentar ainda mais sua decisão. Então, mesmo contra a sua vontade, Isabella Marie Swan Gilbert acompanhou o pai até a ensolarada cidade de Mystic Falls.

Riu das lembranças enquanto desligava o chuveiro e saia do box, enrolando a toalha vermelha no corpo úmido. Quem olhava sua atual situação não acreditava que tinha sido tão difícil tirá-la de Forks. As vezes, se pegava tentando imaginar o que poderia ter acontecido caso Jacob tivesse a ajudado. Caso Edward e os Cullen não tivessem a deixado. Bom, provavelmente ela não teria ido para Mystic Falls e assim, não cumpriria sua promessa de encontrar o rapaz de olhos azuis.

Por que sim, ela o reencontrou.

Por mais improvável que pudesse parecer, ela o viu em Mystic Falls. E então, de repente, não achou tão ruim assim ter se mudado para a pequena e pacata cidade da Virgínia. E, seguindo as normas de acontecimentos em lugares como Mystic Falls, o reencontro ocorreu no lugar mais frequentado do município, neste caso o Mystic Grill. Era sábado de manhã e Isabella achou melhor andar pela pacata cidade afim de conhecê-la melhor e aprender aonde ficava cada estabelecimento e afins.

Após tanto se mudar com Renée e se perder diversas vezes, tinha virado uma mania sua. A morena detestava depender dos outros para achar algum lugar, a coisa mais difícil para ela era admitir que as vezes utilizava do aplicativo de GPS instalado em seu celular de última geração -que Charlie insistira em comprar assim que se mudaram. 

Depois de o equivalente a uma hora de caminhada, decidiu fazer uma parada na, aparentemente, lanchonete mais famosa da cidade... ao menos foi isso o que disseram para ela no posto de gasolina onde parou para comprar uma garrafa d'água já que esquecera a sua em casa. Só esqueceram apenas de mencionar que aquela era uma das únicas lanchonetes por ali. 

Bella adentrou o local prestando atenção a cada mísero detalhe, desde a decoração um tanto quanto rústica e aconchegante, até as pessoas que estavam presentes no lugar áquela hora da manhã. Na mesa próxima a janela, um casal de namorados dividia um copo de café e discutiam seriamente sobre algo. Ao menos foi o que pareceu, já que ambos gesticulavam bastante. Em uma das mesas do centro, algumas garotas de idade próxima a sua conversavam baixo umas com as outras, enquanto digitavam mais de dez palavras por segundo em seus celulares. E, finalmente, havia o bar. 

Passou os olhos castanho-escuros pelos bancos com assento de couro e estrutura de metal, procurando o lugar perfeito para sentar sem chamar atenção desnecessária. Porém, sua visão se fixou em outra coisa totalmente diferente. Lá estava ele, as costas apoiadas contra o balcão, os cotovelos sobre a mesa, servindo para dar melhor apoio. Usava nada mais, nada menos do que uma blusa azul marinha de botões com uma jaqueta de couro, calças jeans e um sapato. E não foi preciso nem um mísero segundo para que ela reconhecesse ele como o dono dos olhos azuis e sorriso torto que não saíram de sua cabeça por semanas.

Damon.

Lembrava-se de cada detalhe daquele momento. Como por exemplo o fato de que por alguns segundos, enquanto o choque não passava, questionar-se se Charlie havia feito aquilo de propósito. Contudo, ela somente reparou que encarava-o por tempo demais quando o mesmo abriu mais ainda o sorriso no rosto e, com a cabeça, indicou para que ela sentasse ao lado dele. Sem saber ao certo o que fazer, a Swan abaixou a cabeça e corou, deixando um sorriso tímido apossar-se dos lábios recém-umedecidos a medida que andava em direção ao rapaz.

Não é segredo para ninguém que Damon havia sido um idiota com ela naquele dia. Mas não no mal sentido, quer dizer, talvez um pouco. Fizera de tudo para vê-la corar. E todas as suas tentativas deram certo. Mais tarde, logicamente, ela se viu "obrigada" a aprender a lidar com o jeito do Salvatore e foi um tanto quanto imprevisível, porém antes que todos percebessem os dois viraram grandes amigos. Aonde um estava, bastava olhar melhor que logo se encontrava o outro. E, embora as más línguas insistam em dizer o contrário, levou um bom tempo para que aquilo virasse algo a mais.

Saindo de seus pensamentos, a mroena respirou fundo e prendeu o cabelo em um coque assim que terminou de escovar os dentes. Fechou a torneira, lavou a escova, guardou-a e finalmente saiu do banheiro, um sorriso no rosto e a letra de uma música que tocara na rádio ontem de noite em sua cabeça, acabou tomando um susto assim que pisou no quarto novamente.

"Damon!" berrou, assustada, segurando a toalha contra o corpo, podia ouvir o coração acelerar, enquanto isso via o vampiro sentado confortavelmente em sua cama. A perna cruzada e os dois braços estendidos para trás, dando-lhe apoio, como se nada tivesse ocorrido.

"Bom dia para você também, Isabella." debochou, se arrumando e sentando na beirada da cama, abrindo mais um de seus costumeiros sorrisos irônicos, o que fez a Swan revirar os olhos.

Sem pronunciar mais nada, ela apenas deu de ombros e girou os calcanhares, indo em direção ao armário, abrindo o mesmo a procura de uma roupa. Não demorou muito, sentiu duas mãos enlaçarem sua cintura por trás. Continuou a procurar, como se nada estivesse acontecendo.

"Nossa, assim parece até que não está feliz em me ver..." ouviu a voz do Salvatore em seu ouvido, o tom de voz parecia magoado, mas ela o conhecia perfeitamente bem para saber que era puro fingimento. "E nós dois sabemos que isso é mentira." ele sussurrou, enquanto traçava uma pequena trilha de beijos pelo pescoço dela.

"Damon..." advertiu-o, enquanto puxava do cabide sua calça jeans preta, abrindo a gaveta logo depois e passeando os olhos pelo mar de blusas que estavam ali. Desde que chegou em Mystic Falls muita coisa mudou, entre elas seu gosto por roupas e surpreendentemente a sua vontade de ir comprá-las. 

"O quê?" ele questionou, erguendo as sobrancelhas e parando com os beijos enquanto a observava pegar uma blusa azul escura na gaveta. "Prefiro a preta" comentou casualmente, apoiando o queixo em seu ombro.

"Certo." Bella revirou os olhos, o tom de voz cínico. "Mas eu quero a azul escura." deu de ombros, sorriu e virou-se de frente para o moreno. "Você me assustou..." respirou fundo, semicerrou os olhos e encarou-o. "Poderia pelo menos ter batido na porta, ou sei lá." comprimiu os lábios, formando uma linha reta

"Mas eu bati!" argumentou, na defensiva, erguendo as sobrancelhas. "Se você não escutou não tenho culpa." deu de ombros, arrumando as mãos que ainda se encontravam na cintura da namorada, puxando-a um pouco mais para perto.

Bella manteve os olhos semicerrados e adicionou, a voz entediada e obstinada, ali Damon soube que muito dificilmente ganharia aquela sugestão "Poderia ter esperado, não?" ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços na frente do corpo.

"Talvez..." foi a vez dele de dar de ombros e revirar os olhos. "Escuta, nós dois sabemos que essa discussão não vai dar em nada." o Salvatore decidiu encerrar e concluiu, enquanto voltava a puxá-la pela cintura, fazendo com que ela fosse mais para frente e colocasse os braços ao redor do pescoço dele. "Da próxima vez eu prometo que espero você atender, okay?"

"Olha só, não doeu nada, certo?" ela revidou sarcástica, porém seu tom indicava que estava brincando. "Obrigada" respondeu por fim, sorrindo vitoriosa, mesmo sabendo que muito dificilmente o moreno iria seguir com o que havia prometido. Retribuindo o sorriso, o Salvatore aproximou mais ainda seu rosto do dela e a beijou.

"Sabe..." Bella começou, assim que se separaram, tombando a cabeça para o lado. "Poderíamos aproveitar que está aqui, e você poderia me dar uma carona até a escola, o que acha?" um biquinho formou-se nos lábios da Swan.

"Escola?" Damon questionou, franzindo o cenho. "Você lembra que se formou tem alguns anos, certo?" ergueu a sobrancelha direita, analisando-a de cima a baixo. "O que aconteceu, está com saudades dos corredores vermelhos e do mascote dos timberwolves?" brincou, umedecendo os lábios.

"Não é nada disso, Damon..." bufou e deixou um sorriso abrir-se em seus lábios. "Acontece que eu prometi ajudar Caroline na decoração da escola, para a festa..." um sorriso cínico substituiu o singelo que ela antes apresentara e então empurrou levemente o Salvatore, fazendo com que ele caísse sentado na cama, enquanto ela começava a vestir-se.

"Compreendi..." ele riu, arrumando-se na cama de lençóis claros, sentando-se na ponta, uma das almofadas azuis em seu colo. "Mas sabe que você pode não ir, certo?" sorriu com uma certa malícia, mostrada também no tom de voz.

"Claro que sei..." Bella revirou os olhos, terminando de fechar a calça jeans. "Mas não estou afim de deixar Caroline matar alguém simplesmente por eles não saberem a diferença entre bordô e vinho, ou por que alguém não sabe o que é magenta." debochou, rindo logo depois.

"Tudo bem... você me convenceu." foi a vez de Damon rir, levantando-se mais uma vez, os olhos azuis observando-a passar a blusa pelo corpo, atento aos movimentos, a certa intensidade com a qual a olhava provocando um certo rubor nas bochechas da humana.

Com um sorriso no  rosto, após terminar de se vestir, ela caminhou até o namorado, abraçou-o pelos ombros e selou os lábios do mesmo rapidamente. "Eu já lhe disse que te amo, hoje?" questionou-o, ainda sorridente.

"Hoje não, mas eu adoraria ouvir." o Salvatore respondeu, puxando-a mais para perto, enlaçando as mãos ao redor da cintura da Swan e encostando sua testa na dela, o que fez a mesma rir nasalmente.

"Eu te amo." sussurrou, encarando-o nos olhos. Em questão de segundos, sentiu os lábios do moreno chocarem-se com os seus, levou as mãos aos ombros dele e subiu até a nuca, onde prendeu seus dedos, puxando os fios lentamente enquanto o beijo ficava mais profundo. "Eu também me amo." ouviu o namorado responder, assim que os dois se separaram e a resposta do mesmo a fez semicerrar os olhos.

"Mas te amo mais." Damon rapidamente emendou e ergueu as mãos, em sinal de defesa, enquanto ria.

"Vamos logo..." Isabella revirou os olhos e se afastou, indo em direção à porta.

"As suas ordens, capitã." Batendo continência, ele a seguiu e logo ambos saíram do quarto.

(...)

Bella conseguiu evitar três assassinatos durante as horas que passou ao lado de Caroline.

O primeiro fora o de Marina, uma garota do primeiro ano que, na visão de Caroline, cometera a indecência de não saber qual era o lugar das flores, sendo que a Forbes havia enviado um e-mail com o mapa das mesmas para todos que se prontificaram a ajudar no evento.

O segundo fora o de Charles, um pobre ser humano do terceiro que não sabia a diferença entre branco-gelo e branco-neve.

E o terceiro fora o próprio, quando ela inocentemente sugeriu que magenta e rosa eram cores totalmente parecidas e não havia problema nenhum em usar os lenços rosa uma vez que os outros estavam em falta.

Não é necessário ser um expert para saber que a Forbes deu um escândalo de meia hora e fez questão de explicar a diferença entre ambas as cores e o quão ruim e destoada a decoração ficaria caso trocassem uma pela outra. Óbvio que cada vez que a loira terminava de fazer seus dramas e saia de perto, a morena explodia em risos, o que acabava contagiando todas as outras pessoas ao seu redor. O importante era que no fim do dia a decoração estava toda pronta e, Bella precisava admitir, apesar do excesso de excentricidade, Caroline sabia exatamente o que fazer.

Após trancar a escola inteira, se despedir das pessoas e juntar as coisas, as duas foram para o estacionamento, onde o carro de Tyler estava estacionado e entraram no mesmo. Até hoje a Swan não entendia como a outra convencera Tyler Lockwood a emprestar-lhe o carro por uma semana. Justo Tyler, que tratava aquele carro como se fosse um filho.

O caminho fora preenchido pelas vozes das garotas cantando as músicas que tocavam no rádio. Não se importavam em estar sempre no tom e quando erravam a letra riam e diziam que o tal artista que havia cantado errado. Quando trocava para uma música desconhecida, conversavam um pouco sobre o que lhes dessem na telha. E sem que percebessem, já estavam na rua de casa. Isabella foi a primeira a descer do carro, esperando a loira na frente da porta, procurando a chave dentro da bolsa.

"Sinceramente, eu vou te dar um chaveiro maior..." Caroline bufou, tirando a própria chave do bolso e abrindo a porta. "Ou, talvez, uma bolsa menor."

"Nossa, como você é engraçada, Care." Bella revirou os olhos e arrumou a bolsa nos ombros, entrando em casa atrás da loira. "Se vamos discutir quem precisa de uma bolsa nova, por que não falamos do seu armário, também?" ergueu a sobrancelha esquerda, parando no corredor, esperando a loira fechar a porta.

"Aquele armário era bom o suficiente pra mim até eu ter de dividi-lo com você." retrucou, enquanto as duas andavam até as escadas.

"Finge que é verdade e eu finjo que acredito." Bella respondeu rindo, e Caroline fechou a cara, porém antes que a mesma pudesse respondê-la, as duas foram interrompidas.

"Isabella, Caroline..." a voz vinha da sala e elas puderam facilmente identificar como a voz de Liz. "As duas poderiam vir aqui por uns instantes, por favor? Queremos falar com vocês."

Trocando olhares um tanto quanto preocupados, as duas arregalaram os olhos "Claro..." falaram ao mesmo tempo, enquanto andavam vagarosamente até o cômodo. Assim que passaram pelo corredor e adentraram a sala, puderam ver Charlie e Liz, lado a lado, os ombros encostados e expressões levemente sérias no rosto. 

Um sorriso bobo abriu-se nos lábios de Isabella, era bom saber que o recomeço não havia sido somente para ela.

Quando chegou em Mystic Falls, fora muito bem recebida por Elena e seus amigos. Caroline e Bonnie rapidamente a abraçaram e logo ela fazia parte do clube que as duas, juntamente de Elena, haviam formado. Havia esquecido o quão bom era fazer parte de algo e todos eram de certa forma tão unidos que conseguia perfeitamente chamá-los de família.

Contudo, enquanto sua vida ia mudando aos poucos e melhorando, Charlie parecia estacionado em um período da sua. Demorou bastante até que Bella conseguisse fazer com que o pai se abrisse e dissesse a ela sobre uma moça que havia chamado sua atenção. Ele não havia citado nomes e ela também não cobrara. O que interessava era que foram necessárias apenas duas semanas de conversas e conselhos até que Charlie finalmente criasse coragem e chamasse a tal mulher para jantar na casa dos dois.

Na época, os Swan haviam alugado uma casa um tanto quanto pequena, mas servia perfeitamente para os dois, Bella havia encarregado-se de arrumar a mesma e deixá-la impecável assim que descobriu que o pai traria companhia.

E quando o Chefe Swan passou pela porta da frente, sorridente e usando de toda a educação que recebera na vida, qual não fora a surpresa de Isabella ao saber que a tal mulher na qual ele havia se interessado não era ninguém mais, ninguém menos do que Liz Forbes?

Bem, depois de contar a notícia para Caroline, ficou estabelecido que as duas ajudariam seus pais a ficarem juntos. Planos foram formados, regras foram estabelecidas e então o jogo foi posto na mesa. Com a ajuda das filhas e com a coragem que os dois tomaram repentinamente, dentro de alguns meses, os dois estavam namorando. Embora nenhum dos dois se achassem novos o suficiente para usar o termo e por isso, quando perguntados, apenas diziam que estavam juntos.

Foi uma questão de um ou dois anos até que Charlie fizesse o pedido oficial e eles ficassem noivos. Noivaram em Dezembro e casaram-se em Julho, Caroline e Isabella levaram as alianças e Charlie acabou escolhendo Alaric como padrinho e Jenna como madrinha. Liz escolheu Carol Lockwood e seu marido –que estava vivo na época. A Igreja de Mystic Falls nunca esteve tão cheia e a cidade tentava se recordar de quando fora a última vez que alguém que se casava ali tinha tido tanto foco e exposição.

Casados e sem mais nenhum problema a resolver, decidiram juntar-se em uma casa só. A casa escolhida fora a dos Forbes, uma vez que a casa de Charlie havia sido apenas alugada e era bem menor.

"E então, o que tem para nos falar?" Caroline interrompeu os pensamentos da morena ao decidir se pronunciar, vendo que nem Charlie e muito menos sua mãe tinham pressa em dizer sobre o que se tratava.

"Bem..." Charlie começou. "Bella, você se lembra de um velho amigo meu de Forks, Jonathan, certo?" encarou-a, esperando pela resposta.

"Sim, claro." dando de ombros, respondeu, cruzando os braços logo depois. Um nó se formou em seu estômago e uma sensação ruim começou a construir-se dentro de si, por que ela tinha a impressão de que não iria gostar nada do rumo da conversa?

"Eu não quero enrolar muito... Então, há mais ou menos uma semana atrás ele ligou aqui para casa querendo falar comigo. Ligou para o meu celular e eu estava no trabalho durante o ocorrido." Charlie respirou fundo e sentiu a mão de Liz encostar na sua, assim que a segurou, um certo alívio o preencheu. Ela sabia tão bem quanto ele que, talvez, aquilo não terminasse nada bem. "John me ligou por dois motivos. O primeiro é que ele irá renovar seus votos de casamento e, como eu acho que já contei para você, eu fui padrinho do casamento dele. Então ele me chamou para ir para lá para a comemoração." Sorriu e encarou a filha.

Até ali, Isabella retribuiu o sorriso, lembrava-se da história do casamento de Jonathan. Ele era o melhor amigo de seu pai desde a época de escola. Charlie e ele haviam, no melhor estilo de um filme americano, combinado que um seria padrinho de casamento do outro.

"O outro motivo e, na verdade o que mais me preocupa, é que ultimamente alguns assassinatos vem acontecendo em Forks e, pela descrição que ele passou para mim e para Liz, não são simples assassinatos, eu acho que vocês podem compreender." sorriu, encarando as duas garotas a sua frente. "Por conta disso, ele pediu para que eu e Liz, ou somente eu fôssemos para lá passar de um a dois meses para ver se conseguimos dar um jeito na situação."

"Certo..." Caroline sorriu. "Vocês podem ir livres de qualquer preocupação, eu e Bella vamos tomar conta da casa e..."

"Caroline." Liz cortou a filha, o tom de voz pacífico, porém tenso. "Não é só isso, filha. Primeiro por que Jonathan não chamou somente Charlie para a cerimônia, ele chamou a todos. Eu, você e Isabella estamos incluídas no convite." com a cabeça, Liz apontou para a mesa de vidro a sua frente, onde uma folha de papel levemente alaranjada permanecia.

"E, sobre os meses em Forks, eu gostaria que vocês todas fossem comigo." Charlie voltou a falar. "Liz está de férias, vocês também... podemos perfeitamente passar uns dias de família em Forks, além do que nem eu e muito menos Liz gostaríamos de deixá-las sozinhas aqui." deu de ombros. "Então, é isso... espero que entendam nossa decisão, nós partimos depois de amanhã." Charlie concluiu, a feição séria e os olhos viajando entre as duas jovens a sua frente.

Na sua mente, aquilo havia ido bem, até. Nenhuma delas havia esboçado reação alguma até o presente instante e ele tinha para si que aquilo era um bom sinal.

Infelizmente, ele estava tremendamente errado.

Um sorriso cínico abriu-se lentamente no rosto de Isabella, enquanto ela encarava o pai a sua frente. Era isso, ele estava obrigando-a a ir para Forks? Mesmo depois de tudo o que ele a vira passar, toda a decepção por causa dos Cullen e depois a facada nas costas de Jacob, ele realmente esperava que ela fosse ignorar tudo assim, do nada, e aceitar sem nem pensar duas vezes? O fato de ela não ter pisado na cidade nem para o enterro de Harry Clearwater não havia deixado perfeitamente claro que ela nunca mais queria chegar perto de Forks?

"E vocês só decidiram contar isso agora por que...?" juntando forças de algum canto de seu cérebro, Isabella conseguiu formular aquela frase, enquanto sua cabeça pendia para baixo e ela encarava o chão.

"O convite chegou hoje." Liz respondeu. "Sabemos que deveríamos ter dito isso para vocês antes, mas estávamos pensando em alguma forma de dar a notícia de uma forma menos trágica, só que quando o convite com a data chegou, entramos em pânico e decidimos fazer tudo isso logo."

A Swan riu nasalmente.

"Vocês sabem que não tem o direito de me avisar uma coisa dessas dois dias antes, certo? Muito menos o direito de me obrigarem a pisar lá!" ainda olhando para o chão, mordeu o lábio inferior e respirou fundo antes de voltar a falar. "Honestamente, eu esperava mais de você, Charlie." ela ergueu a cabeça e encarou o pai, olho no olho, expondo cada partícula de raiva que ela estava sentindo naquele instante. "Justo você que praticamente me obrigou a sair de Forks, agora me obriga a voltar para lá..."

Sem mais nada a acrescentar, ela apenas meneou a cabeça e se retirou da sala sem esperar por alguma resposta. Subiu as escadas correndo e atirou-se na cama sem nem retirar os sapatos. O barulho da porta de madeira batendo assustou os três que haviam permanecido lá em baixo.

Sem reações e procurando por respostas, Charlie encarou Caroline e no momento em que viu a enteada menear a cabeça de olhos fechados, retirando-se da sala segundos após, ele percebeu que provavelmente havia feito a maior besteira de toda a sua vida.

E o pior é que não tinha volta.