A Criança do Labirinto escrita por Daniela Lopes


Capítulo 2
Insônia


Notas iniciais do capítulo

Esta fanfic fala especialmente sobre perdas, dor, perdão e amor. Aos poucos, cada personagem vai encontrando suas motivações e buscando seu caminho.

Boa leitura!!



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Helen viu o último freguês deixar o pub e fechou a porta de vidro. Voltou para o balcão e terminou de lavar e secar os copos e taças, os talheres e pratos. O gerente fechava os valores recebidos junto de outro funcionário e quando terminaram, penduraram seus uniformes no suporte da parede e convidaram Helen para ir embora com eles. Ela sorriu e acenou:

               _Daqui a pouco. Preciso guardar os molhos no freezer e depois fecho tudo.

            Os homens acenam e saem dali, deixando a mulher sozinha. Pouco depois ela ouve o sino da entrada tilintar e seu ex-marido sorriu-lhe:

            _Oi!

            Ela suspirou:

          _Você... O que veio fazer aqui? Estamos fechados!

          _A porta não estava trancada e como sei que sai por essas horas, vim ver você e te fazer um convite.

         Helen segue até o interior da cozinha e leva os frascos de molho e condimentos para guardar. Apanha a bolsa, retira o uniforme por cima do vestido e se volta para o homem:

         _ Scott... Preciso fechar agora.

        _Vamos sair. Comer alguma coisa, beber um bom vinho... Pelos bons tempos! Que tal?

       _Bons tempos? E quando foi isso?

      _Não comece... Eu fiz de tudo pra que nosso casamento desse certo, mas você não colaborou!

     _Você tem uma curiosa visão de como poderia dar certo. Foi por isso que me divorciei de você!

     _Certo. Entendi. Você não mudou nada nesses três anos e sinceramente, não vale a pena eu insistir nessa aproximação...

   _E quando foi que eu quis que a gente voltasse? Oh, Scott! Você é tão egoísta! Por favor, pare de vir aqui! Pare de me ligar pra sairmos! Eu não sinto mais nada por você! Eu...

  Scott sorri e se vira:

—Ok! Ok! Tem razão! Estamos perdendo tempo aqui! Acho melhor ficarmos mesmo afastados! Ah! Antes que eu me esqueça... Não gostei nada daquele policial me procurar no meu trabalho. Está saindo com ele, por acaso?

  Helen não respondeu e esfregou o rosto com as mãos, nervosamente. Não acreditava na postura evasiva e egoísta do ex-marido mesmo depois de tanto tempo. Quando casados, ela suportava as farras e mudanças de humor dele, mas quando ele começou a gastar as economias que ambos guardavam para o tratamento de infertilidade dela, Helen deu um basta e divorciou-se dele.

     Sonhava em ser mãe e compartilhou esse sonho com o marido, que parecia pouco animado para tal feito. A vida dos dois mudaria totalmente com a chegada de um filho ou filha e o fim dessa rotina confortável não era atraente para Scott.

     A mulher trancou a porta e saiu para o estacionamento da galeria a céu aberto. A noite estava fria, mas o céu estava limpo e repleto de estrelas. Ela sentiu saudades de sua família. Dos pais já falecidos e do irmão mais novo que foi morar na Nova Zelândia e nunca mais deu notícias. Avaliou sua jornada de vida e suspirou:

—Droga. Preciso dar um jeito nisso.

 Seguiu para o ponto de ônibus e tomou o último da noite. Saudou o motorista, já acostumado à presença dela, e sentou-se, recostando a cabeça no encosto macio. Quarenta minutos depois, descia no quarteirão de seu apartamento e caminhou rápido para sair da geada noturna.

  Helen estava sentada na cama com o controle remoto da tv na mão, selecionando os canais aleatoriamente, aborrecida por não achar nada interessante pra assistir:

—Nenhum filme sonolento o bastante. Acho que vai ser outra noite em claro daquelas e...

            De repente, do vão de sua janela aberta, uma forma entra e voa pelo quarto, na semi escuridão, fazendo Helen gritar e se encolher na cama. O estranho animal ricocheteou na parede, bateu na tela do televisor e caiu aos pés da cama, o barulho de asas se debatendo no assoalho de madeira.

            Helen esperou até que a coisa parou de fazer barulho. Tremendo e assustada, ela engatinhou pela cama em direção à beirada, murmurando para si mesma:

         _Tomara que não voe na minha direção! Oh, senhor! E se for um morcego daqueles grandes? Como vou tirar isso do meu quarto?

           Devagar ela se aproximou e esticou o pescoço para olhar o que estava ali caído, mas não estava preparada para ver um homem deitado aos pés de sua cama, vestido com roupas estranhas, cabelos revoltos e de um louro quase branco que cobria-lhe o rosto anguloso. Ela ouviu-o murmurar:

        _Eu odeio o seu mundo...

            Helen cobriu a boca com as mãos e quando tencionou sair da cama, o estranho ergueu-se a meio corpo e gesticulou na direção da mulher, falando palavras estranhas e lançando sua magia contra ela, que sentiu o corpo anestesiado e a mente nublada, caindo adormecida na cama. O estranho homem ergueu-se e olhou o quarto ao redor. Analisou a mulher deitada e suspirou profundamente. Poucas horas atrás esteve com Sarah Williams e o pouco que conversaram deixou-o aborrecido, fraco e zangado consigo mesmo. Virou-se para a penteadeira onde via seu reflexo na pouca iluminação do cômodo e riu, mas não de satisfação.

          Recordou-se de vê-la ainda parada na varanda da casa dos pais, uma das mãos pousada na face rosada e suave, olhos perdidos na rua onde minutos atrás estava estacionado o carro de seu acompanhante. A jovem sorria para si mesma ao recordar que havia sido beijada duas vezes na sala de cinema. Sentiu-se eufórica e leve até ser despertada de seus devaneios por uma voz grave, profunda e familiar:

           _Sarah...

            A moça virou-se de uma vez, surpresa:

           _J-Jareth?

           _Ainda se lembra do meu nome... Bom.

            Exasperada, ela o encara:

           _O... O que faz aqui?

          _Vim ver como você está. Parece que as coisas estão indo bem, não é?

          _Está me... Vigiando?

            Ele analisa o rosto tenso da jovem:

            _Não. Eu... Só queria ver você de novo, Sarah...

            Ela cruza os braços e diz:

           _O nome dele é Edward. Está na faculdade, adora xadrez e animais!

            Tomado de surpresa, o Rei goblin emite uma sonora gargalhada:

           _Há, há, há, há, há! A ficha completa do rapaz? Posso ficar mais tranquilo de agora em diante!

          _Não ria tão alto! Meus pais podem acordar!

            Ele se aproxima e a encara. Seu rosto está sério, uma ponta de tristeza soa em sua voz:

           _Três anos do seu mundo... E você já me esqueceu? Eu te ofereci o meu mundo e você fugiu de mim!

            Ela recua dois passos e ele avança devagar:

          _Eu disse palavras que jamais diria a quem quer que fosse e você virou suas costas pra mim. Eu...

            Sarah suspira:

          _Acho que você não entendeu, Rei goblin... Eu disse que não tinha poder sobre mim! Eu só queria meu irmãozinho de volta.  Eu... Não poderia ser quem você queria. Era só uma menina assustada e você o Rei dos gnomos...

            Jareth se inclina para ela:

           _Se eu dissesse que meu coração ainda é seu...

            Ela o olha com pesar:

           _Não faça isso... Não me peça algo que não posso dar a você!

            Ele recua devagar:

           _Curioso... Agora é você que tem poder sobre mim, Sarah Williams, e me despreza.

            Ela se aproxima dele:

         _Por favor, não diga isso! Você... Foi importante pra mim! Por sua causa eu me tornei uma pessoa mais forte e decidida! Eu sou uma pessoa melhor e por sua causa eu... Conheci o Edward. Ele me trouxe para a realidade e ficou do meu lado ou eu ficaria louca com tudo que aconteceu!

            Jareth olha a noite que avançava:

           _Hum... Então peço desculpas por vir tirar o equilíbrio de sua nova vida. Nunca mais me verá de novo, Sarah... Que seu futuro seja feliz e próspero.

            Alçando voo, o Rei goblin se transforma na coruja branca e parte pelo céu noturno. Sarah cobre o rosto com as mãos e chora em silêncio, murmurando:

            _Adeus, Jareth!

            Após aquela conversa, o Rei, agora transformado, dispara sem rumo pela noite. Seus poderes abriam e fechavam portais onde ele entrava e saía, alcançando distâncias cada vez maiores, até que, intoxicado pelos odores do mundo humano, pela fumaça, sons e pelas luzes das cidades, ele entrou sem perceber por uma janela aberta, batendo nas paredes, cego pela luz da tv no quarto de Helen McVeigh.

            Enquanto se debatia no chão do quarto da mulher, sentia o peito dolorido, o coração prestes a explodir tanto pelo esforço do voo, quanto da emoção de ter visto e falado com Sarah, para em seguida, desistir dela e partir de volta para seu mundo. Ao ver a humana em choque por encontrá-lo caído aos pés de sua cama, Jareth usou sua mágica nela, fazendo a mulher adormecer profundamente.

            Ele era o Rei dos Goblins, rei do Labirinto, uma criatura orgulhosa e sobrenatural. Não queria admitir que seu coração estava magoado com a recusa de Sarah em aceitar a oferta de ficar em seu reino para sempre, ser sua rainha e ter todos os seus desejos atendidos. Ele não entendeu a recusa de uma oferta tão sedutora, como ela podia resistir a ele?

            Sentou-se no parapeito da janela e esticou os braços, assumindo de novo a forma de uma bela coruja-das-torres e alçou voo para longe dali, de volta ao seu mundo. Sentia-se estranho e inquieto, como se alguma coisa em seu castelo estivesse errada. Ele pousou numa encosta acima do grande labirinto e vislumbrou ao longe seu reino, envolto em névoa, sombrio e sem cor.

            Desde a partida de Sarah, Jareth não suportava ficar muito tempo em seu trono. Naturalmente inquieto, o Rei Goblin conhecia cada canto de seu vasto reino, cada criatura que nele habitava e todos lhe prestavam respeito e adoração, mas agora isso não alimentava seu ego, não satisfazia seu orgulho, não trazia prazer algum. Até mesmo os goblins que ele tinha por hábito espezinhar perceberam que seu mestre os ignorava e deixava de dar-lhes a punição diária quando falavam besteiras ou cometiam algum erro sob suas ordens. O Rei goblin estava diferente, mais pensativo, reflexivo e por assim dizer, um tanto melancólico.

            Aquelas palavras ecoavam em sua mente de forma repetitiva e dolorosa:_ “Você não tem poder sobre mim!”.

         Isso era perigoso. O delicado equilíbrio mágico daquele mundo dependia do estado de humor de seu mestre. Assim como o antigo Rei-coruja, era necessário que ele mantivesse seus pensamentos e desejos condizentes com sua posição ali. Apesar de ser o soberano do Labirinto, ele era tão prisioneiro desse mundo e suas regras quanto os seus súditos.

            Helen acordou em sua cama. O relógio despertador marcava onze horas e ela se espreguiçou, sorrindo:

           _Huumf! Minha nossa! O que houve comigo? Como pude dormir tanto assim?

            Parou um momento e refletiu em voz alta:

          _Foi... O estranho sonho! Só pode ser! Aquela criatura... No meu sonho ele fez alguma coisa comigo. Mas... Nunca dormi tão bem como nessa noite e... Não me importaria de sonhar com ele de novo se pudesse dormir assim todas as noites! Caramba! Meu chefe vai ter um ataque cardíaco!

            Ela riu e seguiu para o banheiro. Precisava se arrumar e ir ao trabalho, onde já deveria estar duas horas atrás. Descansada, fechou o apartamento e seguiu para o ponto de ônibus. Enquanto esperava, murmurou para si:

            _Eu lhe daria boas vindas, se ... Mudasse um pouco a minha rotina.

            Sacudiu a cabeça e riu:

            _Credo! Estou ficando maluca... No que estou pensando?

            Naquele segundo, no reino dos duendes, as esferas de cristal do Rei goblin se iluminaram e se ergueram no ar, ao lado do trono. Jareth estava parado junto à grande janela de sua sala real e olhou para trás. Os duendes ao redor dele se alvoroçaram e ele sorriu. Ergueu a mão direita e as esferas flutuaram até ele. Nelas ele viu uma série se imagens e falou:

             _Ora, ora! Um convite, meus senhores! Um curioso convite do mundo dos humanos... Eu aceito.

            Os duendes saltaram e gritaram como em festa e Jareth permaneceu ali, silencioso novamente, olhando o rosto de Helen refletido numa das esferas.

            Nessa noite, Helen ficou até mais tarde no trabalho, arrumando o estoque e pagando o atraso para que não tivesse descontos em seu salário. Eram 23 horas quando ela terminou, fechou o pub e seguiu para o ponto de ônibus. Olhou o relógio de pulso e suspirou:

            _Droga! O último ônibus passou quinze minutos atrás! Vou ter que tomar um táxi e...

            Então ela ouve um som estranho a alguns metros de onde estava. Um pouco depois da galeria de bares e lojas onde trabalhava havia um pequeno parque que permitia acesso à rua atrás do local. Helen caminhou devagar, rente ao muro e olhou da esquina a origem do barulho. Estava escuro entre as árvores e ela percebeu que um grupo de pessoas estava reunido ao redor de outra caída no gramado. Eles riam e caçoavam e um deles desferiu um chute potente nas costas da pessoa.

            Helen cobriu a boca e sentiu o coração acelerar. Aqueles covardes atacavam alguém indefeso e não havia ninguém ali além dela para tomar uma atitude. Respirando fundo e tomando coragem, ela saiu de seu esconderijo e gritou:

           _Ei! Covardes! Eu chamei a polícia! Parem com isso!

            Os sujeitos se viraram para ela e ficam a mirá-la por um longo tempo, como se pensassem naquela ameaça. Helen não podia ver-lhes os rostos, mas percebeu que eram menores e mais atarracados que um homem adulto. A vítima gemeu e eles saíram correndo, sumindo entre as árvores. Helen correu até o homem caído e ajoelhou-se ao lado dele, olhando ao redor para certificar-se de que estavam sozinhos:

           _Oh! S-senhor? Está... Ferido? Quem eram aqueles...

          _Jarod...

        _C-como?

            O homem virou-se devagar, com dificuldade e a mulher pode ver a extensão dos ferimentos. Ele parecia ter dificuldades em respirar e tinha um lado do rosto inchado e sangrando muito:

          _M-Meu nome...

            Ela exclamou e tocou o ombro dele:

           _Não se mexa, senhor! Pode ter quebrado alguma coisa! Vou chamar a ambulância e...

         _Hospital não... Por favor... Eu... Sou ilegal no país.

        _Oh, céus! Não pode ficar aqui assim! Eu...

            Helen olha a rua deserta. Não havia ninguém para recorrer e ela temia que os agressores percebessem que não havia polícia nenhuma e voltassem para terminar o trabalho. Tocou o ombro do homem e falou:

          _Senhor... Você consegue ficar de pé?

            Ele inclinou o corpo para o lado e apoiou-se no braço que parecia ileso. Sentou-se e gemeu, tocando a barriga. Ela segurou-o pela cintura com cuidado e ajudou-o a ficar de pé, então caminhou com ele devagar até fora do parque. Nisso, um farol apontou metros à frente e ela acenou. Era um táxi e Helen sorriu, aliviada.

            Dentro do veículo, o motorista viu o homem com o rosto ensanguentado e perguntou:

           _Hospital, moça?

            Ela volta o olhar para Jarod e fala:

         _Não. Siga para o endereço que falei. Tem uma pessoa lá que vai me ajudar.

         _Tem certeza?

         _Sim! Por favor!

        O motorista entendeu que havia algo mais naquela situação, mas decidiu não se intrometer. Deixou-os no endereço, recebeu pela corrida e desapareceu noite afora.

      Helen abriu a porta do apartamento e levou Jarod direto para o quarto, tirando-lhe os sapatos, a camisa suja e rasgada e por fim, avaliou a extensão dos ferimentos. Tinha um kit de primeiros socorros bem montado e fez o que sabia de curativos no estranho rapaz. Foi ao telefone e fez uma ligação, enquanto ele permanecia ali, sentado a olhar para o nada. Ela aproximou-se e falou:

   _Jarod? Eu chamei uma amiga. Ela é enfermeira e uma pessoa maravilhosa. Vai avaliar você pra sabermos se não há perigo de alguma costela quebrada ou outra coisa que não estamos vendo... Ela é discreta e não vai te colocar em risco, está bem?

    Ele concorda com a cabeça e fecha os olhos, respirando devagar. Seus cabelos eram louros e chegavam até abaixo do pescoço, enquanto uma franja longa e partida ao meio quase escondia seus olhos. Helen analisou o rosto dele e sentiu-se estranha, como se recordasse tê-lo visto antes. Pestanejou e foi para a cozinha, quando a campainha tocou.

    Helen atendeu e veio acompanhada de uma mulher baixa, corpulenta e sorridente. Parecia de origem latina e tinha os cabelos curtos, negros e cacheados. Ela trazia uma maleta e falou:

     _Quando me ligou, fiquei preocupada, querida! Você nunca adoece!

     _Não é pra mim, Manoela... Eu quero te apresentar uma pessoa...

      Jarod se volta para as duas mulheres. Desde o momento do ataque até os primeiros socorros, já haviam se passado duas horas e alguns minutos. As pancadas começavam a mudar de cor e o rapaz parecia consternado com seu estado deplorável. A enfermeira aproximou-se, assustada:

  _Meu Jesus! Que fizeram com você, rapaz?

  Jarod sorriu suavemente e suspirou. A mulher abriu a maleta e tirou medidor de pressão sanguínea, estetoscópio, lanterna clínica e iniciou uma anamnese para conhecer o homem ferido. Em seguida procedeu aos exames superficiais e com ajuda de Helen, terminou tudo bem mais rápido. Ela tocou o rosto de Jarod e falou:

—Ah, querido! Seria ideal que fosse a um hospital, mas Helen me contou de sua situação aqui... Até onde pude ver você não tem nenhum ferimento que te coloque a vida em risco, mas vai ficar dolorido e cheio de hematomas por um bom tempo! Eu tenho algumas amostras de anti-inflamatório e analgésico que vai poder tomar... Helen vai cuidar disso, ok? Vou levar amostras de sangue e urina para saber se está tudo bem com sua saúde... Se importa?

  Jarod balança a cabeça e segue até o banheiro para fornecer a amostra pedida, enquanto Helen recebe os medicamentos e guarda na gaveta do criado mudo. Manoela sorriu para Jarod, que retornava:

—Tem outra coisa que quero te falar, rapaz! Você está muito Magrelo! Fraquinho! Precisa comer direito!

   Jarod sorri e Helen segura Manoela pelos ombros e começa a andar com ela para fora do quarto:

—Oh, céus! Manoela! Acho que está ficando tarde e você acorda cedo amanhã, não é?

    A enfermeira ri e sai com a jovem, falando que o rapaz era bonitão e não tinha aliança. Helen dá um gemido baixo e pouco depois, o som da porta fechando é ouvido pela casa. Helen retorna ao quarto e suspira:

—Ah... Desculpe! Manoela é um amor de pessoa, mas sempre fala o que pensa, não importa a ocasião!

—Eu não sei como agradecer a vocês duas... Poderia estar morto agora.

—Acho que o que mais importa é sua recuperação. Vai descansar agora e... Oh! Está com fome? Quer que eu prepare alguma coisa?

            Ele sorri:

—Estou bem agora. Vou seguir seu conselho e dormir um pouco...

            Ele se levanta e veste uma camiseta que Helen ofereceu. Ela ergue as mãos na direção dele:

—Ei! Onde pensa que vai?

—Hum? Tem um sofá na sua sala, não? Parece convidativo e...

—Negativo! Vai ficar aqui e dormir na cama!

—Mas você...

—Minha casa, meu sofá, minhas regras!

            Ele ri e ela ri. Ele volta para a cama e suspira:

—Estou em dívida com você.

—Está nada. Descansamos agora e amanhã você me conta essa história de imigrante ilegal. Hum... De onde você é? Seu sotaque é...

—Pinerolo. A alguns quilômetros de Turim... Conhece a Itália?

—Só de catálogos de viagens ou filmes daqueles cinemas alternativos.

            Eles se calam e ela olha para o relógio no criado mudo:

—Uau! Está bem tarde! Vou deixar você descansar agora. Você... Está muito longe de casa, hein? Deve... Sentir muitas saudades de seu pessoal.

—Mais ou menos... Meu pessoal se resumia a meus pais e uma avó materna, mas já não estão nesse mundo.

            O rosto de Helen cora violentamente e os olhos dela se enchem de lágrimas. Ela acena e sai dali rapidamente, deixando o rapaz sozinho, pensativo. Ele se deita na cama e respira fundo. Fecha os olhos e sorri de leve.

            Na sala do pequeno apartamento, Helen arruma uma cama improvisada no sofá. Ela soca o travesseiro enquanto resmunga:

—Que pergunta foi aquela, Helen! Ele é imigrante e órfão! Argh! Que vergonha!

            Pouco depois ela adormece, exausta pelas emoções da noite. Após algum tempo, a porta do quarto dela se abre e Jarod caminha devagar, silenciosamente, até o sofá onde a moça dormia. Ele se ajoelha ao lado dela e a observa por alguns minutos, ergue a mão e murmura algumas palavras estranhas, enquanto um estranho brilho envolve o corpo da jovem. Ele se ergue e puxa o cobertor sobre ela, caminha de volta para o quarto e fecha a porta suavemente.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Acho que quem já leu alguma das minhas fics, sabe que valorizo muito as personagens femininas. Quase todas as minhas histórias são de protagonistas do sexo feminino e essa não será diferente. Helen é uma mulher comum que vai cair de paraquedas numa situação surreal e assim como a história original do Labirinto foca no crescimento de Sarah, minha fic vai levar as ações de Helen para um outro patamar. Vou dar um pequeno spoiler... Se Jareth foi um agente de mudança, Helen também será, mesmo que ela não queira.
Fiquem atentos aos personagens secundários, eles serão de grande importância e acabei me apaixonando por eles mais do que pelos principais.



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