Ao chegar na casa do meu avô tive que entrar pela janela do meu quarto uma vez que aparecer pelada na porta de entrada não era lá muito convidativo. Vesti um vestido bege leve e me sentei na cama, colocando a cabeça entre minhas mãos. Eu estava certa de minha decisão, mais certa do que jamais estive. Eu estava finalmente livre do controle de Sam, eu finalmente poderia seguir o meu próprio caminho se quisesse. O lado indomável que eu tanto relutava em abraçar me venceu naqueles poucos minutos após a saída da casa dos Cullen... E isso me fazia sentir inteira e segura. Era como se eu finalmente estivesse completa.

Eu permanecia por Jacob, apenas por ele. E isso me trazia uma calma que eu não tinha experimentado até o momento. Era uma sensação de certeza de que o meu caminho estava bem trilhado, mesmo que desconhecido ainda.

Eu era uma loba livre, sem amarras. Era como respirar ar puro depois de muito tempo.

Ouvi os passos cadenciados e sussurrados de Jacob pelo corredor da casa, em direção ao meu quarto. Ele entrou suavemente e então sentou-se ao meu lado, passando os longos e fortes braços ao meu redor, pressionando seus lábios na lateral de minha cabeça.

— Como você está se sentindo? — ele perguntou.

— Um pouco anestesiada, acho — não era uma mentira, eu me sentia um pouco aérea; não só por conta da situação com Sam, mas também por descobrir que meu irmão agora era o meu inimigo mortal.

— O Conselho está em reunião nesse momento para decidirem o que vão fazer. Seu avô está tentando racionalizar com todos pelo bem do bando, eu mesmo participei...

— Eu sei qual vai ser a decisão da maioria, Jake — falei muito certa e calma — Eles não vão se importar que é o meu irmão. Para todos eles o meu irmão está morto de qualquer forma. O Conselho tem uma visão muito preto no branco... Igual a Sam.

Os braços de Jacob se apertaram ainda mais ao meu redor, seu corpo se tornando novamente presente.

— Eu sinto muito...

— Eu sei. Eu também — suspirei e me encostei em seu corpo.

— O que você vai fazer a respeito disso tudo?

Fiquei um momento em silêncio digerindo a pergunta de Jacob. É claro que ele me conhecia melhor do que ninguém, ele sabia que por mais que o Conselho decidisse matar o meu irmão, se eu decidisse que isso não ia acontecer, ia me opor. A questão era: o que isso ia trazer ao bando? Eu não os queria separar, mas também não ia permitir que matassem Chuck.

— Ele não é um assassino, Jake — murmurei — Sei que ele não teve escolha. É justo matarmos aqueles que não tiveram escolha? Aqueles que deveríamos ter protegido para não se tornarem um deles?

— Eu entendo o que você diz — ele comentou com a voz profunda e triste — Ao mesmo tempo, ele não é mais o seu irmão.

Eu suspirei de novo e voltei a enterrar meu rosto em minhas mãos. Nesse departamento eu me sentia perdida. Eu sabia o que tinha que fazer, sabia que tinha que encontrar uma forma de conversar com Chuck, de salvá-lo não só do bando, mas de si mesmo. Se os Cullen conseguiam, por que ele não conseguiria? Era uma opção. A minha relutância era em provocar uma rixa dentro do bando, eu odiaria que eles se machucassem na batalha por minha causa.

— Não posso deixar que matem o meu irmão — murmurei — Não quando existe um caminho mais pacífico para ele, um caminho igual ao dos Cullen. Sei que não é muito, mas já é algo. Seu eu pudesse ao menos encontrar uma forma de me comunicar com ele antes da batalha...

— Eu estarei do seu lado. Sabe disso, não sabe?

Eu sabia. E era isso o que mais temia. Jacob iria contra o bando se isso significasse o meu bem-estar, se isso significasse a minha paz de espírito. Eu não queria que ele fosse contra os seus irmãos, afinal de contas era tudo o que ele conhecia como família. Eu não deveria ser a ruptura disso. A minha relação com o bando era diferente da dele. Embora eu os amasse profundamente e me colocaria em risco por eles, a nossa ligação não era a mesma que a de Jacob, que cresceu com a maioria.

— Eu sei, Jake — ergui meu rosto o suficiente para sorrir um pouco para os olhos preocupados de Jacob. Seu rosto inteiro estava tenso, a mandíbula fortemente trincada. Eu odiava vê-lo dessa maneira! — Vai ficar tudo bem.

— Contanto que a gente esteja junto, ficará tudo bem — ele completou e encostou sua testa na minha com um suspiro. — Procure descansar um pouco, daqui a pouco iremos encontrar os Cullen.

Eu deixei Jacob me deitar na cama e me abraçar por longas horas, mas não fui capaz de dormir. Quando o horário se aproximou de encontrarmos os Cullen, ouvimos o longo uivo característico de Sam navegar pelo céu. Eu me senti um pouco tensa.

— Como você e Sam estão?

Eu dei de ombros — Vamos nos acertar com o tempo — desconversei. Bom... não era uma mentira. De fato, em algum momento as emoções entre Sam e eu não ficariam tão estremecidas, mas eu sabia que a partir de agora ele manteria um olho em mim e eu faria o mesmo com ele.

Caminhávamos de mãos dadas pela noite em direção à floresta.

— Como que o bando está com tudo isso? — perguntei tentando me preparar.

Jacob suspirou — Estão confusos. Ninguém esperava que você fosse atacar Sam daquele jeito, mas ao mesmo tempo todo mundo meio que entendeu. Paul só ficou irritado porque ele sempre leva como ofensa pessoal qualquer desafio a Sam, mas até ele entende o que você sentiu. Não estão bravos com você, se é o que está pensando.

— Não quero que o bando fique vulnerável por conta disso — revelei quando paramos de caminhar por entre as árvores.

Jacob me abraçou forte — Não ficaremos. Brigas acontecem nas melhores famílias, tudo vai se acertar com o tempo.

Eu esperava que ele estivesse certo.

Quando me transformei dessa vez foi diferente. Eu sentia uma sensação de certeza mais firme dentro de mim, sentia-me profundamente calma e confiante. Era como se eu tivesse amadurecido anos em apenas algumas horas. Via as coisas agora com muito mais clareza, mais racional e menos emocional. O bando estava forte, continuávamos um inimigo formidável. E agora mais ainda, com esse novo lado desperto em mim.

Dessa vez eu não sentia a loba dentro de mim, não da mesma forma que antes. Eu era a loba. Era uma mistura perfeita do meu lado humano com o meu lado animal.

Chacoalhei o meu corpo para livrar o resto da tensão da noite e então trotei ao lado de Jacob até onde o bando tinha se reunido. Ainda faltavam Jared, Embry e Leah. Sam parecia mais composto, embora sua mente estivesse em um estado de alerta que eu nunca tinha visto antes, parte dos seus pensamentos preso nos meus, avaliando. Eu não contaria para ninguém sobre o que tinha acontecido e senti que ele também não. O bando não precisava passar por isso.

A verdade, no entanto, era que Sam não queria forçar escolhas prematuras caso contasse.

Todos estavam relativamente silenciosos, suas mentes focadas na tarefa seguinte que tínhamos a desempenhar. Seria a maior agitação pela qual o bando já passara e todos queriam ter suas melhores performances.

Assim que eu me deitei na relva próxima do bando, Finn se deitou ao meu lado e encostou o seu focinho no meu. Ele parecia incerto de como seria recebido, sua mente presa no momento de hesitação que ele teve quando me viu atacando Sam.

Eu jamais usaria isso contra ele. Eu o amava demais e sabia que ele me amava também, éramos leais um ao outro, mas Finn também era leal ao bando de Sam. Ele não queria causar ainda mais problemas e só por isso hesitou, mas se fosse um momento em que ele visse que eu precisava de ajuda, mesmo sendo contra Sam, ele não hesitaria em me ajudar.

Eu sei disso, fique tranquilo. Sussurrei para ele.

Vai ficar tudo bem, ele disse de volta com seus pensamentos agora na imagem de Chuck. Ele ainda não sabia o que seria feito a respeito disso, mas estava confiante de que tudo terminaria bem.

É claro que vai, eu acariciei seu rosto com o meu.

Jacob estava sentado ao lado de Sam e eles agora trocavam informações de formação para a noite de hoje. Sam queria algo mais furtivo. Não queria revelar o número inteiro do bando e por isso estava pensando quem realmente iria até a clareira com os Cullen. Jacob concordava, mas também achava que nesse primeiro momento era bom ter a maioria do bando, uma vez que seria mais difícil para alguns membros se controlarem do que outros por conta da proximidade com os Cullen. Os números poderiam evitar qualquer confusão caso ela acontecesse.

Era uma situação tensa que nunca tinha sido testada antes. Essa seria a primeira noite que iríamos interagir com os Cullen dessa forma. Acidentes poderiam acontecer.

Os dois avaliavam quais integrantes do bando estavam mais suscetíveis a perder o controle. Quando todos chegaram, o silêncio caiu ainda mais pesado sobre todos. Eu podia sentir a tensão e a excitação no ar, o cheiro do estresse e de animação.

Eu não quero que eles saibam os nossos números, então todos estão proibidos de pensar a respeito disso enquanto estivermos perto deles. Sam ordenou.

Foi uma sensação diferente. Conforme a ordem entrava na mente de todos como um comando absoluto, eu podia sentir a minha mente livre, mas também um comprometimento com o bando que era forte o suficiente para acatar a ordem sem me sentir presa por ela.

Todos iremos a esse encontro, mas quero Leah e Quil ladeando os mais novos, Sam continuou. Será difícil para vocês três não reagirem ao cheiro deles e não podemos ter um deslize do nosso lado.

Jared, Finn e Embry irão ladear Paul, Jacob anunciou.

Raven e Jacob ficarão ao meu lado quando entrarmos no campo de visão deles, Sam disse.

O bando pareceu um pouco surpreso com a formação de ponta, mas eu entendi o que Sam tinha pensado. Primeiro, ele mostraria aos Cullen uma primeira formação poderosa. Por mais que eu ainda fosse uma das menores do grupo, a visão de todos e a de Sam estavam diferentes ao meu respeito. Havia uma selvageria e perigo na minha imagem branca que emanava em ondas, algo primitivo. A loba era visível e Sam queria que os Cullen sentissem essa mesma impressão. O segundo motivo era que comigo o ladeando tiraria o sentimento do bando de que algo de ruim permanecia entre nós dois. Era uma jogada inteligente.

Quando estivermos chegando perto, quero que todos mantenham seus pensamentos silenciosos e a corrida suave. Sam disse. Vamos observá-los de início antes de nos fazermos presentes.

Por mais que hoje todos nós iremos observá-los, precisamos levar em conta no dia da luta que a cidade não pode ficar desprotegida enquanto estivermos fora, Jacob disse. Então alguns membros ficarão para trás, na retaguarda.

Uma onda de reclamações cobriu os meus pensamentos enquanto todos protestavam com isso, cada um não querendo ficar para trás.

É necessário! Sam disse severo. Colin, Brady e Seth ficarão na cidade e cobrirão a retaguarda.

De jeito nenhum! Seth disse enérgico. Por que Leah pode ir e eu não?

Porque sou melhor que você, bebezão, Leah riu.

Por que Finn e Raven não ficam? Eles são os mais novos do bando! Colin disse emburrado.

E é por isso que você não vai, cabeção: por ser burro! Paul disse rindo. Os gêmeos são nossa melhor arma e eles lutam melhor que vocês.

Sam, por favor! Seth ganiu. Eu não vou ficar para trás!

Seth... Sam suspirou.

Não! Não vou deixar todo mundo ir para a luta e ficar para trás! Sou tão bom lutador quanto todos daqui, Seth insistiu.

Você é muito jovem, Seth. Jacob interpôs, o seu tom preocupado com Seth.

Não quero a sua preocupação! Eu posso me virar. Vou lutar! Seth olhava para Sam e Jacob, esperando que o apelo dele fosse levado em conta.

Vamos pensar nisso depois, já está quase na hora de encontrar com os Cullen, Sam disse.

Começamos então a correr. Sam mancava um pouco em sua corrida, mas eu podia ver que sua perna estava quase completamente curada agora. Voávamos pela floresta como fantasmas em uma formação desconexa a princípio, mas que ia se ajustando conforme chegávamos mais perto. Não demoramos muito para sentir o cheiro característico dos vampiros, então a formação se abriu para Sam seguir a frente, com Jacob o ladeando pela direita e eu pela esquerda. O restante do bando começou a sua própria divisão.

Finn estava um pouco mais atrás de mim, ao lado esquerdo de Paul, enquanto Jared estava do outro lado do amigo e Embry um pouco mais atrás. Leah continha a sua corrida o máximo possível para ladear o próprio irmão ao mesmo passo que Quil reduzia sua corrida ao lado de Jacob e se colocava entre Colin e Brady.

Diminuímos o ritmo da corrida para uma passada suave conforme o vento nos trazia os sons da clareira a frente, movimentação de pernas, conversação casual aqui e ali. O bando, que já não estava muito falante naquele momento, caiu ainda mais em silêncio. Todos agora andavam calmamente pela floresta, os corpos um pouco baixos para manter o som das passadas contidas. Sam parou de andar e assim toda a formação parou. Agachamo-nos um pouco, escondidos pelas sombras da noite e pela vegetação densa.

O clã estava levemente separado. Alice e Jasper estavam mais distantes e ela tinha uma expressão emburrada no rosto, algo que Edward comentou ser por conta da cegueira dela causada pela nossa presença. O restante do clã estava um pouco mais próximo. Edward e Carlisle conversavam brevemente sobre quanto tempo levaria para que a gente chegasse ao passo que Carlisle expressou gratidão pela nossa ajuda.

Sam não pensou conscientemente em se fazer presente, mas a sua postura deixou isso claro e então todos nós nos levantamos em uníssono, o que atraiu a atenção de Edward. O namorado de Bella — que surpreendentemente estava presente na clareira — avisou a sua família que estávamos escondidos.

Sam caminhou alguns passos para próximo da orla da floresta comigo e Jacob o ladeando. Aos poucos a formação se tornou mais evidente conforme os demais também se aproximavam, mas mantinham suas posições.

Emmett praguejou conforme seus olhos nos encararam. Os Cullen se rearranjaram em uma formação onde Emmett e Jasper eram a ponta de lança. Todos estavam paralisados com a nossa presença.

— Não consigo ver nada — Bella sussurrou para o namorado.

— A alcateia aumentou — Edward explicou para ela.

Estávamos agora na beira da floresta, visíveis até para Bella — se ela forçasse sua visão na noite enluarada. Sam estava a meio passo à frente. Escutei Colin e Brady guincharem bem baixinho pelo cheiro forte de vampiro. Eu sentia o leve tremor de seus corpos daqui. Paul não estava em uma situação melhor, fazendo com que Jared e Finn desse um passo a mais que ele, bloqueando um pouco seu caminho conforme Embry se mantinha firme atrás de Paul, pronto para pular nele se essa fosse a saída.

Carlisle deu um passo para frente, mas parecia cauteloso. Senti a maioria dos olhos do clã seguir seus passos, uma expressão de preocupação ao vê-lo realizar aquele movimento. Ele parecia ter a intenção de tranquilizar a todos ao nos saudar.

Nós vamos observar e escutar, nada além disso. É o máximo que posso exigir do bando. Sam pensou para Edward, que traduziu.

Carlisle agradeceu e então estendeu uma mão para Jasper, avisando que ele tinha um conhecimento especial sobre os recém-criados e iria nos passar alguns ensinamentos importantes de como lutar contra eles.

O que os difere de vocês? Sam perguntou. Edward traduziu a sua forma.

— Eles são mais novos... Por assim dizer. A vida deles nesse novo mundo começou agora, são inexperientes de certa forma. No entanto, possuem muita força bruta e impetuosidade nesses primeiros meses. O número deles caiu para vinte integrantes... O que podemos dividir igualmente. É possível que esse número caia, pois eles brigam entre si.

Só dez para cada?! Quil pensou emburrado. Rá! Achei que isso ia ser mais interessante.

Nem vai dar para tira-gosto, Leah pensou rindo.

Assim não vai ter graça! Embry bufou.

Embora a maioria do bando reagia de forma decepcionada, ainda era o maior número de vampiros que lutaríamos. E isso deixava a todos animados. Até eu ficaria animada se minha mente não estivesse presa entre essa queda de números. Quem será que tinha morrido?

Podemos puxar mais para a nossa parte, claro, Sam pensou.

Carlisle sorriu mais relaxado — Veremos.

Quando e por onde eles vão chegar? Dessa vez quem perguntou foi Jacob.

— Temos uma estimativa de tempo por enquanto, mas Alice os vê chegando em quatro dias, no final da manhã, pelas montanhas.

Obrigado. Vigiaremos esse território também, Sam respondeu.

Carlisle assentiu e então deu um passo para trás, olhando agora para Jasper e silenciosamente lhe passando a palavra. Nós nos deitamos na relva aos poucos, prontos para escutar tudo atentamente.

— O lobo branco... É de arrepiar. Sabe quem é? — Alice sussurrou para Edward tão baixo que eu quase não consegui ouvir.

— É Raven, parceira de Jacob — Edward respondeu no mesmo tom baixo. Vi Bella virar o rosto para tentar me procurar na escuridão.

Jasper deu um passo para frente e então virou-se de costas para nós, como se tentando bloquear o desconforto da situação. Ele começou a falar brevemente sobre como os recém-criados eram quase como crianças, completamente inexperientes em luta. No entanto, ele levantou alguns pontos de atenção. O primeiro deles era não permitir que os novos vampiros passassem os braços pela nossa lateral e o segundo ponto era não fazermos um ataque óbvio. Ele chamou Emmett para uma demonstração, dizendo que Emmett era o melhor exemplo de um ataque óbvio. É claro que isso era uma provocação entre eles, que fez o grandalhão sorrir sinistramente antes de provocar de volta.

Os dois então começaram a investir um contra o outro. Eu entendi o que Jasper quis dizer.

Raven? O que acha? Sam perguntou. Ele não podia ignorar o meu ponto de vista.

Emmett é previsível. Todos os seus movimentos são muito claros e abertos, fáceis de precipitar. Eu respondi enquanto analisava a simulação entre eles. Mostrei a eles o que quis dizer enquanto previa o próximo movimento de Emmett antes dele de fato o fazer. Viu? Ele anuncia o seu ataque antes de fazê-lo.

Jasper, em um movimento rápido enquanto se esquivava mais uma vez com facilidade do ataque de Emmett acabou com a simulação ao se colocar atrás de Emmett com os dentes próximo de seu pescoço. Emmett xingou e pediu revanche, embora Edward reclamasse que era sua vez. Era nítido que mesmo sendo uma situação tensa, existia uma animação ao redor do clã nesse treinamento.

O bando fez um som de apreciação.

Esse Jasper é rápido, Paul comentou irritado.

Ele não é tão claro em seu ataque. Movimenta-se muito bem, Jacob concordou um pouco surpreso com a expertise de Jasper em combate.

Jasper negou momentaneamente a simulação com Edward, declarando que primeiro queria mostrar algo para Bella. Alice então deu alguns passos à frente com um sorriso travesso em seu rosto. A sua pequena forma parecia frágil demais à frente do corpo cheio de cicatrizes de Jasper.

Quando a simulação com Alice começou, senti meu corpo ficar tenso com o que eu observava.

Eu não estou entendendo, Colin disse confuso. Ela só está parada!

Talvez ele não consiga atacar a própria parceria de verdade, Quil comentou. Ele nem deve estar se esforçando.

Prestem atenção! Leah disse severa. Ela está se movimentando, sim.

Ela se movimenta uma fração de segundo antes de Jasper, Finn observou. Ela pode prever o futuro, certo? Isso faria dela um alvo quase impossível de pegar. Ela sempre vai saber quando e onde será atacada. É uma luta infinita.

Alice então se movimentou rápida como um fantasma e se acoplou nas costas de Jasper, depositando um beijo em seu pescoço. O som do bando agora foi de atenção.

— É bom que eles vejam isso. Assim possuem respeito por nós — Edward murmurou para Bella.

Eu fico imaginando, no entanto, como seria uma luta entre Alice e um de nós, eu falei. Edward ficou um momento imóvel, lendo o meu pensamento. Ela não pode nos ver, certo? Então como ela veria o nosso ataque? Ela não é assim tão indestrutível.

É isso aí! Paul disse animado. Bem pensado, Raven.

Sam assentiu com a cabeça, concordando com a minha teoria. O bando se dividiu entre imaginar as possibilidades do que ela poderia ver caso fosse atacada por alguém do bando. Poderia ela estreitar sua visão apenas para movimentos em que veria o seu fim? Será que até isso não ficaria incerto uma vez que a nossa interferência a deixava completamente cega? Era algo a se analisar.

Edward pressionou os lábios com força antes de largar a mão de Bella e ir em direção a Jasper, pronto para lutar um pouco.

Seth, assim como eu, quase não piscava de tanta concentração na luta. Ele queria mostrar para Sam e Jacob que ele estava aprendendo tudo e que ele se empenharia para fazer parte da luta. Tanto Sam quanto Jacob ignoravam a direção dos pensamentos dele.

A luta entre Edward e Jasper foi a mais longa. Embora fosse claro que a experiencia de Jasper sobrepujava a de Edward, não tinha como ele ganhar a luta com um leitor de mentes sempre prevendo o seu passo um segundo depois dele o decidir. Edward se movia com agilidade também, ele não era um oponente frágil. A luta só parou quando Jasper declarou empate, uma vez que nenhum deles conseguiam de fato investir contra o outro de forma eficaz.

Enquanto lutava, Jasper explicava o processo de pensamento dele. Ficou claro que era importante sempre nos mantermos em movimento, sermos rápidos e letais em nossos ataques para não darmos tempo de reação.

A mente do bando agora estava mais dispersa, uma vez que a tensão finalmente tinha cedido. Quil e Embry conversavam sobre um novo filme que viram em cartaz e planejavam quando poderia ver depois que tudo isso acabasse. A minha mente estava concentrada o tempo todo na luta, mas só porque eu não queria que outros pensamentos ficassem claros para o bando e para Edward. Leah lambia a própria pata enquanto discutia com Seth sobre uma reclamação que Sue tinha feito sobre o seu quarto. E isso fez com que todos tirassem um momento para caçoar de Seth.

Leah estava em um humor um pouco irritado hoje. Eu não conseguia entender o motivo ainda, mas ela parecia mais ácida que o normal.

Você também não está nenhuma flor que se cheire, ela pensou de volta para mim. Fico surpresa que consiga se manter ao lado de Sam depois de quase tê-lo matado.

Leah, Jacob advertiu.

Só estou dizendo. Leah respondeu dando de ombros. É um pouco estranho que vocês estejam fingindo que nada aconteceu quando Raven aí quase arrancou a cabeça de Sam. Ninguém está curioso para saber o que eles conversaram?

Caramba, Leah, sua vida deve estar muito monótona para você estar se importando tanto com isso, eu murmurei incomodada.

Se fosse da sua conta, você saberia, Sam completou.

Claro, como se mesmo as coisas que fossem da nossa conta vocês compartilham, certo? Leah falou rolando os olhos.

O que você quer dizer com isso? Seth perguntou irritado, ele odiava quando Leah provocava o bando desse jeito.

Várias coisas que Sam e o Conselho sabem, mas não compartilham. Você ainda duvida de verdade que o Conselho não sabe quem é o pai de Embry? Ela retrucou.

Leah! Jacob disse indignado.

O que? Ah, qual é! Ela bufou. Embry, não é possível que você não esteja nem um pouco curioso para conhecer o seu papai.

Cale a boca, Leah, Embry murmurou.

Não entendi, pensei confusa.

Não é nada demais! Embry disse irritado. Leah só está sendo inconveniente como sempre.

Leah soltou uma risada latido baixa. É verdade! Eu me esqueci que você só chegou no bando há alguns meses, Raven. A verdade é que Embry não é de La Push, nem sua mãe. Ela é de outra tribo, mas chegou na cidade há muitos anos carregando esse bebezão, aí. Quando Embry se transformou, veio a grande pergunta: mas de quem ele puxou os genes? Tiffany não foi casada com nenhum membro direto da linhagem. Embry na verdade nem conhece o próprio pai. Mas fica aí o questionamento de qual dos três homens poderiam ter passado a herança genética: Billy, Velho Quil ou o pai de Sam, Joshua. Todos eram casados na época.

Eu me senti extremamente mal com essa revelação feita assim, de forma tão exposta sobre a vida pessoal de Embry.

E aí, Raven, quem você acha que é o candidato mais plausível? Eu diria que é seu pai, Sam. Ele nunca foi um pai mesmo. Leah comentou casualmente, mas com um conhecimento de causa que irritou Sam.

Leah, você sabe ser uma tremenda idiota às vezes, eu respondi.

Leah fungou indiferente e voltou a lamber a pata. Eu tentei não me levar pelo que ela tinha acabado de dizer, voltar a minha atenção para a aula à minha frente, mas era difícil. Quando Embry abaixou a cabeça entre suas patas, completamente desconfortável, eu decidi me concentrar em não deixar o ambiente ainda mais estranho. Então voltei a minha atenção para Jasper, que agora fazia uma simulação com Carlisle.

Todos do clã tiveram as suas simulações com Jasper. Eu me sentia um pouco ressabiada com ele, o conhecimento no que falava era óbvio e seu estilo de luta era muito imprevisível, difícil de rastrear. A maioria dos outros membros do clã tinham um estilo de luta muito mais claro, mais limpo. Jasper era uma constante incógnita.

Cara, isso tá demorando, Paul disse e reprimiu um bocejo, sabendo que Sam provavelmente o repreenderia. Já entendemos! Quando é que a gente vai dar umas mordidas neles?

Embry e Brady reprimiram a risada, mas o som gutural ainda assim soou pela clareira.

Eu duvido que você consiga encostar uma ponta da sua garra no loiro cheio de cicatrizes, Seth disse, embora parte de sua mente estivesse um pouco sonolenta. A maioria de nós estávamos quase com turnos dobrados.

Rá! Eu duvido que Paul consiga encostar um dedo na loirinha estranha ali, Embry provocou.

Parem de provocar, a gente sabe que Paul não conseguiria nem pegar a Bella se ele quisesse, Finn caçoou.

Sam rosnou baixo para o bando todo e as brincadeiras cessaram. Eu abaixei minha cabeça e a deitei nas minhas patas. Observava o máximo que podia, aprendia tudo o que Jasper estava nos mostrando e, principalmente, pensava em formas de aplicar.

Isso vai ser difícil, eu pensei para mim mesma, mas ciente de que o bando e Sam estavam ouvindo. É mais fácil para os Cullen aplicar essas técnicas uma vez que eles estão com as mãos livres e seus corpos são menores. Em um campo de batalha, com muitos deles, nossa forma pode nos atrapalhar. Como lidar com muitos deles de uma vez só sem termos baixas? Como vamos nos movimentar com agilidade e manter nossos flancos protegidos?

Minha mente tentou bolar uma simulação com um de nós em campo, tentando colocar em prática. Então pensei em vinte vampiros todos juntos, em um ataque. Não seria um ataque coordenado, pois o próprio Jasper disse que eles não possuíam nada além de força bruta. Mas um ataque em massa ainda poderia ser letal. Pensei em outras formas de ataque, tentando adaptar o que Jasper tinha mostrado para a nossa forma. Era um ajuste incerto. Íamos precisar de prática.

Não acho que eles vão querer se oferecer para nos ajudar com essa parte, Finn comentou ao ouvir os meus pensamentos.

Talvez não precisem, eu murmurei ainda perdida em estratégias de ataque. Se a gente treinar com pelo menos um de nós em forma humana, talvez a gente consiga ter uma noção do que vamos enfrentar.

É uma boa ideia, Jacob concordou. Não será a mesma coisa que a luta real, mas pode nos dar uma noção de espaço melhor.

Vamos ajustar as nossas estratégias depois, Sam disse solene.

Colin fungou e então espirrou. Cara, eles fedem.

É tudo o mesmo fedor, Leah concordou.

Jasper então se virou para nós novamente um pouco desconfortável e nos avisou que amanhã estariam ali novamente treinando.

Nós estaremos aqui, Sam concordou. Seria melhor se a gente pudesse memorizar o cheiro de vocês, assim no dia não vamos nos confundir. É possível? Para isso, preciso que vocês fiquem o mais imóvel possível, ajudaria muito.

Edward repassou o pedido, que foi prontamente aceito por Carlisle. O clã imediatamente se colocou em linha reta, um ao lado do outro, e então viraram quase estátuas na nossa frente.

Sam rosnou alto, um comando. Todos nós nos colocamos em pé em um único movimento. A tensão agora percorria não somente o bando, mas os Cullen também. A nossa proximidade não era fácil para eles, mas a deles tinha um impacto muito maior em alguns membros do nosso bando.

Lembrem-se de quem precisa ser ladeado, Sam disse severo. Leah e Quil automaticamente se reajustaram para que os mais novos ficassem entre os dois na fila indiana que faríamos. Paul se posicionou logo atrás de Jared, com Embry e Finn atrás dele.

Tem certeza, Sam? Paul perguntou incomodado.

Mantenha o controle, Paul, e isso era uma ordem.

Sam foi o primeiro a entrar na luz da clareira, sendo seguido por Jacob e então por mim. A fila seguia logo atrás de nós. Jacob mantinha um controle tão firme quanto o de Sam na mente de todos, reforçando o controle sem dizer nada. O vento na clareira soprou em nossa direção e trouxe um forte cheiro de vampiro. Os mais novos se encolheram por um breve instante. O meu nariz ardia tanto que não tinha como não repuxar os lábios.

Sam foi o primeiro a chegar até o clã, abaixando a sua cabeça para cheirar Carlisle o mais próximo que podia. Ele estremeceu com a força do cheiro e a irritação no nariz.

Espalhem-se, Sam ordenou.

Eu sai de trás de Jacob, embora pudesse sentir sua cabeça acompanhando os meus movimentos até estar à frente de Emmett, que estava do outro lado de Carlisle. Emmett sorriu grande e largo para mim.

— Você parece ser formidável em uma luta — ele sussurrou para mim enquanto eu aproximava o meu nariz dele.

Eu queria espirrar, mas segurei. O cheiro era tão forte que quase me deu dor de cabeça.

Foque na essência do cheiro, vocês perceberam que há diferença entre eles. Jacob instruiu enquanto se aproximava de Carlisle para o cheirar.

Respirei um pouco mais fundo de novo, tentando identificar algo de diferente. Emmett tinha um cheiro mais... Ativo. Era forte, mas trazia um tom de energia diferente. Passei então para Carlisle, que me olhava atentamente embora continuasse imóvel.

Aos poucos o bando foi experimentando, mas Paul sempre sendo ladeado por Finn e Jared, que estavam atentos em cada reação dele.

Cara, como fedem, Leah estremeceu, mal chegando perto de Esme. Vou ficar com esse cheiro preso em mim por dias.

Brady se encolheu mais um pouco. Acho que vou vomitar.

Não acho que seja tão ruim assim, Seth disse um pouco animado para o bando. O caminhar do bando então avançou sem que ele percebesse e ele ficou sozinho entre Carlisle e Jasper. Ei, não me deixem sozinho aqui! Esse Jasper é de arrepiar!

Seth ganiu e então deu um pulo mais próximo de mim.

Embry riu. Que grande lobo corajoso você é, Seth.

Cale a boca, Embry, Seth murmurou, mas também não saiu da minha cola enquanto eu me movia para cheirar a pequena Alice. Você não acha tão ruim, acha Raven?

Não é um mar de rosas, eu disse franzindo o nariz próximo de Alice. Mas acho que a gente acaba acostumando-se, pelo menos não está mais ardendo tanto.

— Olá, Raven — Edward cumprimentou quando parei a sua frente. Jacob estava logo ao meu outro lado, olhando-me atento.

Eu balancei a cabeça em reconhecimento, então passei meus olhos para Bella. O cheiro dela era doce, quente. Mas estava tão rodeado pelo cheiro dos vampiros que modificava de alguma forma, deixando o cheiro doce demais.

— Jake? — Bella perguntou insegura, como se não soubesse ao certo se era ele ou outro do bando. Então ela me olhou — Raven?

Jacob fez um som engraçado e rolou os olhos. Ela já me viu como lobo tantas vezes e mesmo assim fica na dúvida.

Já é o suficiente, Sam disse.

Eu parei ao lado de Jacob, observando o bando agora recuar aos poucos e os Cullen relaxarem um pouco a sua postura.

Vamos? Jacob perguntou.

Eu dei mais uma olhada para Bella e Edward, que também me olhavam. Os recém-criados estavam atrás de Bella e o cheiro dela estava pela cidade inteira. Mesmo se a gente os interceptasse, alguns ainda poderiam escapar para a cidade. E isso enfraqueceria o bando.

Sabe onde eles vão escondê-la? Perguntei. Imagino que ela não estará no campo na hora, mas precisamos levar em conta onde ela estará. Se o bando precisar se separar por conta de algum imprevisto, ficaremos mais fracos.

É uma boa pergunta, Jacob analisou. Para onde você levará Bella, sanguessuga?

— Ainda estou vendo isso, precisamos levar em conta outras variáveis — Edward respondeu, mas ignorou o olhar confuso de Bella.

Como o quê? Jacob perguntou.

— Como a Raven notou, o cheiro de Bella já é forte por si só, mas fica ainda mais distinto quando misturado ao meu. E o cheiro dela está pela cidade toda. Precisa ser um lugar perto para que eu possa chegar com tempo de sobra caso aconteça algum imprevisto, mas não muito próximo para que consigam alcançá-la — ele explicou, então olhou para o rosto preocupado da namorada e lhe deu um sorriso calmo, a tranquilizando de que só estava sendo superprotetor.

Jacob? Sam perguntou, o bando agora estava nos observando e esperando a nossa retirada.

Podem ir na frente, estamos acertando algumas coisas aqui ainda. Jacob disse.

Finn olhou para o bando se afastando e então para mim. Eu sentia a preocupação dele em me deixar só com Jacob e todos os Cullen. Por fim, Finn caminhou na minha direção e sentou-se ao meu lado, observando o bando também se retirar.

Cara, vocês têm certeza de que vão ficar? Quil perguntou.

Como podem ainda querer ficar perto desse cheiro insuportável? Leah balançou a cabeça, sem entender.

Tudo bem, sanguessuga, qual é o seu plano então? Jacob perguntou, ignorando os demais. Bella pode ficar na reserva, Charlie estará lá e com certeza deixaremos alguns membros para proteger a cidade.

— É longe demais, não posso correr o risco de não chegar a tempo — Edward disse — Penso em algum lugar na montanha, alto e longe de onde a batalha vai acontecer, mas não posso deixá-la sozinha também. E preciso estar perto o suficiente para ouvir qualquer pensamento diferente.

Um de nós pode ficar com ela, Finn propôs a Jacob. Será uma ligação direta com o bando, que pode avisar imediatamente. E com isso a distância não importaria.

— A distância não importa para vocês? — Edward perguntou admirado — Qual a maior distância que já testaram?

Corremos até a fronteira do Canadá uma vez, não tivemos nenhuma interferência. Jacob respondeu.

— Incrível! — Edward disse em tom admirado — Isso pode funcionar, com certeza facilitará a comunicação. Mesmo assim, ainda preciso me preocupar com o cheiro que ela deixa para trás, precisamos pensar em uma forma aonde eles não vão por um caminho alternativo e topem com o cheiro dela.

Talvez a gente possa ajudar com isso também, pensei para Jacob. O nosso cheiro é tão ruim para eles quanto o deles é para a gente, certo? Então imaginei Bella correndo nas costas de alguém do bando, mascarando o cheiro dela com o nosso.

— Nada mau, Raven — Edward perguntou — Isso pode funcionar. Importa-se de tentar?

Eu fiquei um momento incerta com o pedido dele, mas sabia que Finn não gostaria de fazer isso e honestamente eu não queria Jacob fazendo também. Com um suspiro, acenei com a cabeça.

Tem certeza, anjo? Jacob perguntou preocupado comigo.

Não quero o bando se prejudicando porque não pensamos em tudo, falei para ele, mas não estava nem um pouco feliz com a situação.

Ah pronto! Raven virou o burro de carga da Bella, Leah comentou irritada.

Cale a boca, Leah! Dessa vez foi Finn quem disse antes que Jacob pudesse rosnar um xingamento para ela. Eu posso fazer se quiser.

Está tudo bem, só vamos logo com isso, falei sem emoção.

Caminhei e parei à frente de Bella, que arregalou seus olhos ao encarar os meus. Eu podia ver o meu reflexo em seus olhos castanhos, em como o meu pelo se destacava na noite, como os olhos cor de âmbar traziam uma selvageria perigosa. Agachei-me no chão, deitando.

— Bella, nós vamos precisar fazer um teste. Raven tentará mascarar o seu cheiro para que ninguém possa rastreá-la até o seu esconderijo — Edward disse — Você terá que montar nas costas dela.

Bella hesitou e então nos olhou como se aquilo fosse uma brincadeira.

— T-Tem certeza? — ela perguntou olhando para o namorado.

— É o único jeito de sabermos, querida.

— Raven, você não se importa? — Bella perguntou indecisa ainda, sua postura encolhida quase atrás do namorado.

Eu não diria que não, mas só vamos acabar logo com isso, respondi.

— Ela não se importa, está fazendo pelo bando — Edward traduziu.

Não foi bem isso o que eu disse! Resmunguei um rosnado para ele. Não era mentira, mas era uma tradução muito livre.

Edward segurou um sorriso enquanto guiava Bella pela mão e a ajudava a subir nas minhas costas.

Um pouco mais para trás, as pernas dela precisa ficar atrás das minhas dianteiras, eu instrui Edward, que repassou para Bella. Ela não tinha quase nenhum peso nas minhas costas, mas eu não era indiferente a sua presença em cima de mim. Ela vai precisar se segurar firme nos meus pelos, não vou correr muito rápido para não derrubá-la, mas será mais rápido que o normal. E ela vai precisar ficar o mais abaixada possível, assim o cheiro dela não será captado e ela também não cortará o vento, correndo o risco de cair.

— Não quero te machucar — Bella disse baixinho, suas mãos se fechando um pouco nos meus pelos longos.

Rolei os olhos. Ela precisa segurar mais firme que isso, Edward. Pode enfiar a mão na base do pelo, não vai me machucar.

Eu tentava ignorar a preocupação e incomodo que rondava a mente de Jacob e Finn. Eu não precisava disso agora, precisava levar essa menina até um ponto e então voltar com ela e acabar logo com isso. Antes eu do que os dois.

Bella finalmente se ajustou como eu instruí e então eu me ergui. Ela ainda estava instável nas minhas costas e era uma sensação estranha, desconfortável para mim também. Testei andar um pouco para frente. As pernas dela incomodavam um pouco os meus movimentos, mas nada que me impedisse de correr.

Ela precisa apertar as pernas mais um pouco, senão vai cair para o outro lado, Jacob disse.

Bella se reajustou quando Edward traduziu o pedido. Não mudou muito, mas era o melhor que a gente ia conseguir hoje.

O clã Cullen olhava de esguelha a situação inusitada, mas por enquanto não comentavam nada. Foi apenas quando Edward chamou Jasper para perto, que já nos olhava curioso, que o restante dos membros se viraram mais explícitos para observar.

— Tudo bem, pode ser uma boa ideia — Jasper disse após a explicação de Edward do que a gente estavam pensando em fazer.

Lá vamos nós, eu pensei.

— Prepare-se, Bella — Edward avisou.

Tensionei os meus músculos, testando a minha firmeza no solo para que a corrida não fosse instável demais e ela acabasse caindo. Eu não ia disparar em uma corrida agressiva, mas queria fazer isso o mais rápido possível. Senti o torso de Bella se dobrar e encostar nas minhas costas. Impulsionei para frente e então começamos a correr. Escutei quando Bella prendeu a respiração e suas mãos se fecharam mais firmes nos meus pelos.

Pule algumas árvores, quem sabe ela não cai, Leah disse rindo. A maioria do bando já tinha chegado em La Push e Leah estava se retirando da ronda.

O terreno da floresta não era regular, de fato tinham alguns troncos de árvores caídos por conta das tempestades, mas fiz isso da maneira mais graciosa que pude. Eu também não queria que ela vomitasse nas minhas costas. Isso sim ia me deixar fula.

Ouvia a corrida sussurrada de Jasper logo atrás de nós agora, ele tinha esperado um tempo para nos seguir. Eu me movimentava com suavidade pela noite, esquivando das árvores com leveza para não causar muitos estragos em Bella.

— Obrigada por estar fazendo isso — ela sussurrou para mim, o rosto quase colado no meu dorso.

Não era por ela que eu fazia, mas imaginava que ela já soubesse disso. Continuei correndo em silencio, ignorando a preocupação mental de Jacob.

— Eu... Queria te pedir desculpas — Bella sussurrou. Senti o meu corpo ficar mais tenso. Eu sabia o que ela queria dizer com aquilo.

Anjo... Jacob pensou para mim, triste.

Cale a boca, pensei tanto para ele quanto para ela. Como Bella não podia ouvir os meus pensamentos, eu apenas rosnei para que ela se calasse.

O que ela quer dizer com isso? Colin perguntou para Brady, longe em sua ronda.

Não faço ideia, Brady deu de ombros. Deve ser rolo dos três.

— Tudo bem... Eu só queria que você soubesse que eu sinto muito mesmo — Bella disse baixinho.

Tá, tá, já entendi, eu pensei e grunhi para ela impaciente.

Acho que já está bom, Jacob me avisou.

Ainda bem, pensei.

Fui parando a corrida para um trote rápido e então virei o corpo, correndo de volta para a clareira, agora com mais velocidade do que antes, ansiosa para estar ao lado de Jacob e então ir embora de lá. As mãos de Bella agarraram ainda mais nos meus pelos e ela soltou um grunhido assustado. Suspirei e reduzi a velocidade para que ela não passasse tão mal.

Chegamos na clareira e todos do clã nos olhavam, com exceção de Jasper que ainda não tinha chegado. Fui até onde Jacob, Edward e Finn estavam e então me abaixei para que Edward pudesse retirá-la das minhas costas.

— Muito obrigado, Raven — ele trazia uma sinceridade fervorosa em sua voz ao segurar Bella apertado em seu corpo.

Tudo bem, pensei e então chacoalhei meu corpo, esticando então as patas dianteiras para os músculos se soltarem um pouco mais.

Jasper surgiu na clareira com um rosto animado, Alice o encontrou no meio do caminho e os dois seguiram para mais próximo de nós — Deu certo, não imagino ninguém colocando o nariz no rastro. Cobriu quase que totalmente, Bella só não pode tocar em nada no caminho — então ele se virou para mim — Você tem uma corrida muito elegante, quase não te escutei pela floresta. Achei que sua forma pudesse atrair mais sons, mas foi bem silenciosa.

Toda elegante, ela! Brady disse rindo.

Raven é suave como a noite, Colin fez graça.

Vocês talvez devessem aprender um pouco com ela, Jacob disse irritado.

­­­- O que me deu uma ideia enquanto eu corria – Jasper disse.

— Uma ideia que vai funcionar – Alice disse sorrindo animada.

Argh. Como você aguenta isso? Jacob perguntou para Edward, mas de forma retórica.

Edward sorriu. Jasper sugeriu então de Bella de fato deixar um rastro, mas um rastro falso. Isso faria com que as chances dos recém-criados em se dividir diminuíssem ao seguir o cheiro dela diretamente para a clareira, ou seja, leva-los até nós ao invés de esperarmos por eles e corrermos o risco de termos que nos separar. A partir do ponto em que ela marcaria o rastro, alguém a levaria para o esconderijo que Edward arranjara.

É brilhante, Sam concordou.

Jacob se virou para Edward. Problema resolvido então. Podemos deixar Seth com Bella no dia. Ele tem relutado em ficar para trás protegendo a cidade.

— Muito bem — Edward assentiu — Vou ficar mais tranquilo com Seth a acompanhando. Eu conheço um lugar nas montanhas que é fora da rota que os recém-criados irão tomar, mas é fácil de chegar se precisarmos. Na sexta-feira vou trazer Bella para marcar o rastro e então vamos acampar, acha que Seth conseguiria fazer isso?

Claro, claro, Jacob disse agora passando sua cabeça em meu dorso, um carinho consolador por saber o quanto aquilo tinha me incomodado.

Inesperadamente Edward reagiu a algum pensamento de Jasper, pois o olhou feio e rosnou uma advertência.

O que houve? Jacob perguntou. O olhar de confusão de Jacob foi o suficiente para Jasper explanar os seus pensamentos. Ele comentou que se de fato Bella estivesse na clareira, as chances de ganharmos seria total, uma vez que os recém-criados ficariam loucos demais com o cheiro dela lá para prestar atenção na luta. Edward reclamou novamente e Jacob concordou com ele com um rosnado de indignação.

Isca viva. Tinha que ser um sanguessuga mesmo pra pensar em uma coisa ridícula como essa, Finn rosnou em irritação.

Jasper pediu desculpas e então se virou com um sorriso para Alice ao pedir mais uma simulação com ela.

— Jasper pensa de forma estratégica, ele só está sendo prático – Edward disse se desculpando pelo irmão.

Quero ir embora, falei para Jacob. Eu estava cansada, ainda tinha muito o que pensar em algo que aconteceria dentro de quatro dias.

— Obrigado de novo, Raven — Edward disse.

Eu não respondi, só queria ir para casa. Finn correu na minha frente enquanto eu o seguia de perto, com Jacob logo atrás. Seus pensamentos estavam focados nos meus, analisando o que eu estava sentindo. Agora que tinha acabado eu não estava mais tão desconfortável, mas não seria algo que eu faria de novo. Eu não era o cavalo de ninguém, muito menos de Bella.

Para algo bom isso tinha servido, pelo menos: eu já não a odiava como antes. Ainda não gostava dela, mas o desejo de matá-la não era mais tão latente.