Eclipse Lunar escrita por jujuba


Capítulo 19
Gatilho de liberdade


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Seth organizou com alguns membros do bando — os que não estariam em ronda — uma noite de filme de terror em sua casa. Eu não estava particularmente animada para filmes de terror, até porque ser uma loba gigante não me protegia de espíritos malignos, então eu tinha com certeza pavor de filmes assim. De qualquer forma, não tinha como negar nada a Seth. Não só por sua constante carinha de cachorro abandonado quando ele fazia um convite, mas também porque eu não tinha nada planejado com Jacob para aquele final de tarde. Ele estaria na formatura de Bella e passaria lá depois para ficar com a gente. Estar com o bando era uma boa distração, até porque eu não precisava esconder a minha natureza, não precisava usar roupas ridiculamente quentes para passar despercebida.

Vesti o colan preto de alcinhas e a calça jeans azul clara de cintura alta, dobrando um pouco a barra que ainda estava muito comprida. Calcei meus tênis brancos de sempre e sequei meu cabelo para estarem levemente decentes.

Caminhei ao lado de Finn até a casa de Seth, mas tinha a minha mente longe dali. Quando passamos pela casa dos Black tudo estava apagado, o que indicava que eles já tinham saído. Suspirei.

— Você anda meio chateada com essa situação toda com a Bella. O que houve? Achei que você não se importava — Finn perguntou.

— Eu não me importava... Até ela tentar beijar Jake — comentei um pouco emburrada. Era tudo culpa dela! Se ela tivesse permanecido comportada eu não estaria me sentindo assim e poderia estar curtindo mais animada uma noite com os meus amigos e não preocupada se ela ia fazer alguma coisa estúpida com Jacob lá.

Finn ficou um momento em silêncio, então ele suspirou. — Nada que eu diga agora fará alguma diferença, mas se te serve de consolo eu não acho que ela vá tentar nada de novo com ele. Jacob não estaria indo até lá se sentisse que ela faria algo... E não acho que faz muito parte dela tentar algo.

— Eu não achava que ela ia tentar nada com ou sem os Cullen por perto. O que é que deu na cabeça dela?

Finn passou o braço pelos meus ombros — Mana, ela é adolescente como todos nós. Não é justificativa, mas é uma explicação.

Droga de hormônios então, pensei.

Chegamos na casa de Sue e o cheiro de pipoca pronta, salgadinhos e doces preencheu meus sentidos por um momento. Essa seria uma boa distração.

A casa estava animada, só faltava eu e Finn para iniciar os trabalhos — embora a boca de Embry já estivesse cheia de pipoca. Eu me sentei ao lado de Embry no chão e puxei a bacia de pipoca da mão dele.

— Sabe, Raven, se ficar com muito medo você pode se sentar ao meu lado — Paul provocou e então me lançou uma piscadela maliciosa — Eu não conto pra ninguém.

— Paul, se eu assistir um filme de terror do seu lado aí é que vou me assustar mesmo — comentei sorrindo angelical para ele.

Paul fechou a cara para mim e lançou algumas pipocas na minha direção. Os outros do bando riram e então começou um alvoroço para decidir qual filme iria primeiro: A Órfã, Evocando Espíritos, Jogos Mortais VI ou O Mistério das Duas Irmãs. Eu não estava animada por nenhum deles, mas imaginei que Jogos Mortais seria melhor. Era mais agonizante do que de terror. Porém, fui voto vencido — e chamada de covarde por Paul. Todos decidiram por Evocando Espíritos primeiro.

Droga. Eu ia ter que dormir sozinha depois disso!

No entanto, assistir filme de terror com os meninos do bando era mais engraçado do que aterrorizante. Eles caçoavam de praticamente tudo o que acontecia, o que deixava o ambiente mais leve. Só Seth que parecia levemente aterrorizado, o que era um consolo. Mesmo rindo com os meninos eu ainda me assustava com as cenas — o que causava uma nova onda de chacota sobre a minha pessoa — e eu fechava os olhos quando algo muito bizarro estava acontecendo.

Já tinha escurecido quando o filme acabou e Seth colocou logo na sequência A Órfã. Quando os salgadinhos acabaram eu me ofereci para reabastecer. Precisava respirar um pouco depois do último filme e eu já tinha lido a sinopse desse, não era lá o meu favorito.

— Já acabaram com tudo? — Sue perguntou com um sorriso doce, o que era uma raridade. Ela era tão severa quanto Leah.

Eu tinha uma expressão culpada no rosto — provavelmente porque descontei meu medo na comida. Ela riu e se levantou para estourar mais pipoca enquanto eu enchia de novo as bacias de salgadinho.

— Aê! Jake na área! — ouvi Seth dizer.

— Finalmente cara. Vai resgatar sua namorada, ela foi chorar lá na cozinha de medo — Paul disse rindo junto com os outros rapazes.

— Idiotas — eu murmurei, mas certa de que eles podiam me ouvir.

Jacob apareceu na entrada da cozinha com um sorriso amplo para mim. Ele usava uma camiseta branca simples e jeans com botas. O cabelo liso estava parcialmente preso e parecia mais penteado do que desgrenhado do jeito que eu gostava.

— Não me diga que está com medo — ele caçoou.

— Nunca — falei rindo e então o abracei forte — Graças a Deus você chegou — sussurrei baixinho para que ninguém me ouvisse.

Jacob riu ruidosamente ao me abraçar de volta — Corajosa como uma leoa quando caça vampiros e medrosa como uma criancinha assistindo filmes de terror.

— Garras não nos protegem de espíritos malignos — eu contra-argumentei. Ergui-me na ponta dos dedos e lhe dei um beijo de boas-vindas. — Tudo certo por lá?

— Sim... Bom, na verdade foi meio estranho — ele disse.

— Alguém caiu recebendo a colação?

Jacob riu — Sim, mas não foi isso. Antes de irmos embora, entreouvi uma conversa estranha entre Bella e Edward. Acho que eles têm escondido algumas informações da gente.

Meu bom humor diminuiu um pouco e ouvi os meninos na sala pausando o filme para poder ouvir também. Escondendo informações?

— Ela disse algo sobre ele estar errado em achar que estão sendo atacados por todos os lados, que na verdade ela acredita que a pessoa que está confundindo as visões da sanguessuga e os recém-criados, seja lá o que isso significa, estão sendo feitos por uma pessoa só. Bella acredita que o visitante no quarto dela na verdade era um teste para ver se conseguia passar pelas defesas dos Cullen sem ser pego. Parece que algumas roupas dela sumiram e ela acha que pegaram para servir de cheiro para outros sanguessugas.... Não sei, não entendi muito bem essa última parte.

— O que seriam recém-criados? — Paul perguntou, agora logo atrás de Jacob.

Jacob deu de ombros — Não faço ideia, mas parecia fazer sentido para o vampiro dela. Ele ficou chocado. Tive que ir embora logo depois disso com Billy, mas acho que eles têm escondido informações importantes do bando.

— Seria muita burrice fazer isso. Temos ajudado desde o início, por que eles esconderiam algo de nós? — Embry perguntou.

— Porque eles não têm essa consideração — Finn disse — Eles não compartilhariam informações assim, ainda mais se for algo que vai colocá-los em maus lençóis com a gente.

— Recém-criados... — eu murmurei, pensando sobre isso — Será... Será que eles querem dizer vampiros recém transformados? Vampiros novos?

Todos ficaram em silêncio por um tempo. Era claro que eles nunca tinham ouvido falar desse termo, mas fazia sentido. O cheiro dela é para os recém-criados...

— Espera um momento, ela disse isso no plural? — perguntei a Jacob — Recém-criados? São mais de um, então, com o cheiro dela. E se quem quer que seja está com o cheiro dela, ele guia para um só lugar...

— Forks — Jacob disse chocado. Os olhos estavam arregalados de surpresa.

— E La Push — Embry disse — O cheiro dela está na cidade também.

Jacob fechou a boca em uma linha fina rígida — Não dá para ficar aqui especulando isso, é mais fácil irmos direto na fonte.

— Como assim? — perguntei.

— Eles vão dar uma festa de formatura para a Bella na cripta deles. Convidaram Forks inteira.

Um silêncio sinistro caiu por toda a casa. Eu olhei para Sue por cima do meu ombro, ela tinha os olhos severos e rígidos, a boca em uma linha fina. Eu não tinha ideia do que passava na cabeça dela, mas sabia que ela não tinha autoridade para parar Jacob se quisesse.

— Não podemos simplesmente ir até lá, Jake. É o território deles — Quil argumentou.

— Não se a gente receber um convite — Jacob disse despreocupado — Bella me chamou para a festa.

— Mas a casa não é dela — eu falei entre dentes. É claro que ela faria algo insano assim como convidar Jacob para ir até a casa dos Cullen, como se fosse a coisa mais simples do mundo, como se ele fosse se colocar em perigo só para alimentar o egoísmo dela.

— Se a gente não for, eles nunca vão se encontrar com a gente para compartilhar o que sabem — Jacob disse.

Eu sabia que demovê-lo da ideia era causa perdida. Ele nunca ia ficar sem saber se era algo que afetava Forks e La Push como um todo.

— Bom, você não vai sozinho — eu falei firme.

Jacob me olhou e sorriu — Eu não esperava ir sozinho.

— Vamos todos, então. Quero ver filme de terror ao vivo. — Paul disse batendo uma palma na outra, o rosto animado. Ele parecia ter interpretado isso como uma chance para uma briga com os vampiros.

— Não é uma boa ideia, Paul. Você não tem um bom autocontrole — Jacob disse sério — Eu vou com a Raven e...

— De jeito nenhum eu vou deixar minha irmã ir sozinha com você lá! — Finn disse indignado — Podem contar comigo.

— É, Jake. Você pode ter sido convidado por Bella, mas ir até lá e quebrar o tratado não é algo que se faça sozinho. — Embry disse.

— Não podemos ir todos juntos! — Jacob disse bufando. — Vamos então Raven, Quil e Embry. Os demais vão até Sam e aguardem nossa resposta.

Os outros não ficaram muito felizes com isso, Finn não gostou nada, mas só pelo fato de Quil e Embry estarem indo junto já anuviou um pouco a sombra de contrariedade de seu rosto. Eu entendia a reação dele, não era que eu não conseguia me defender, era que juntos éramos mais fortes.

Partimos quase que imediatamente. Jacob parecia seguro de que os Cullen não iam tentar nada mesmo que a gente aparecesse na casa deles, mas eu não estava tão confiante assim. Corremos em forma humana até a casa deles. Não éramos tão rápidos como em nossa forma lobo, mas ainda era bem mais rápido do que uma corrida humana e nem um pouco cansativa.

Encontramos a casa primeiro pelo cheiro forte dos Cullen e então pela iluminação colocada na floresta para guiar os convidados. A música estava alta e o ar cheirava a suor e excitação. Quil e Embry pareciam mais sérios agora, concentrados em não perder o controle. Jacob manteve sua mão firme na minha, mas a minha reação não era a mesma que a deles. Eu tinha outros motivos para estar concentrada assim e era um que, geralmente como humana, eu não me preocupava: meus pensamentos.

A casa dos Cullen era enorme, graciosa, elegante e antiga. Era toda branca com grandes janelas por toda a fachada. Por mais que o som estivesse alto, era algum rock que eu desconhecia, eu ainda podia ouvir as conversas dentro da casa. Ouvi quando a voz de tinido da pequena Alice perguntou para a Bella quem convidou os lobisomens e Bella assumiu a culpa.

— Bem, então você cuide disso. Preciso conversar com Carlisle — Alice disse seca.

Droga. A recepção não ia ser muito boa.

Jacob entrou primeiro, abrindo a porta sem nenhum embaraço. Ele era maior do que a maioria das pessoas dali e por isso chamou a atenção quando entrou. Fiquei logo ao seu lado, procurando não franzir o meu nariz com o forte cheiro de vampiro enquanto procurava onde os membros do clã estavam, mas eu não os encontrei no primeiro andar. Encontramos Bella no início da escada que dava para o segundo andar, ela parecia assustada, estressada e surpresa. Primeiro olhou para Jacob e então para mim, desviando o olhar em seguida.

—... Estão vindo... — escutei a voz distante de Alice no andar de cima, mas abafada pelo solo de guitarra.

Jacob abriu caminho entre a multidão e me juntou mais ao lado do seu corpo, encarando alguns rapazes na nossa frente.

— Ei, Bella! — Jacob disse animado quando ela fez menção de subir as escadas.

Foquei os meus pensamentos no ambiente, em absorver os sons, os cheiros, as emoções. Absorvendo tudo isso deixava mais fácil de lidar com o estresse, me deixava mais preparada caso alguma coisa desse errado. Eu tentei aguçar a minha audição para o andar superior, mas os vampiros conversavam em sussurros, sabendo da nossa presença. Não consegui captar muita coisa.

Eles começaram a conversar, principalmente sobre a surpresa de Bella dele de fato ter aceitado o convite — ela deixou a entender que ele teria recusado quando ela ofereceu. Jacob não rodou muito ao especular para Bella que ela estava escondendo algo deles, algo grande. Bella não parecia culpada em assumir que sabia, mas avisou que não sabia de tudo. Aparentemente a gente tinha interrompido novas informações de chegarem até ela. Jacob pressionou para saber, mas os passos sussurrados de Alice interromperam a pressão dele, a vampira se colocou ao lado de Bella. Ela tinha a expressão cuidadosamente controlada, mas seus olhos estavam turbulentos.

— Preciso conversar com você — ela sussurrou no ouvido de Bella, a mão em seu braço para tirá-la de lá.

— Ei, não tão rápido! — Jacob disse estendendo o braço para a parede, interrompendo a saída de Alice.

A vampira Alice parecia chocada com a imprudência de Jacob. Ela o encarou lívida e murmurou um “Com licença?” entre dentes para ele. O olhar dela era gélido e fez com que um arrepio perigoso percorresse o meu corpo. O vampiro que chamavam de Jasper apareceu meio segundo depois, bem próximo de Jacob ao perceber a parceria presa. Eu me aproximei mais dele. Se ele quisesse manter a cabeça no lugar era bom ele dar um passo para trás.

Jasper me olhou por um longo tempo ele parecia estar testando o ambiente ao meu redor. Algo que ele sentiu ou viu fez com que fechasse a mão em punhos. Bella, sentindo o perigo de tudo, pediu calma a todos. Eu sentia Quil e Embry e aproximando mais de mim agora, prontos.

— Temos o direto de saber — Jacob disse encarando Alice enquanto removia lentamente o braço dele.

Jasper não relaxou a sua posição e nem eu a minha. Eu me sentia pronta. Um movimento em falso dele seria o suficiente, eu não me importava quem estivesse na sala, se Bella estava na minha frente. Eu ia abocanhar a cabeça dele enquanto me transformava.

Eu senti o olhar de Alice em mim e então ela olhou para o parceiro, colocando a mão em seu ombro. Ele recuou um pouco quando ela concordou que a gente tinha o direito de saber.

Alice então nos colocou a par do que estava acontecendo. Um grande número de vampiros estava vindo para a cidade atrás de Bella, ela tinha visto um deles segurando uma blusa vermelha de Bella. Embora Bella tivesse sugerido de ir embora, Alice refutou a ideia. Eles ainda procurariam primeiro em Forks.

— São muitos para vocês? — Jacob perguntou.

Jasper pareceu surpreso com a pergunta de Jacob, mas respondeu com humor. Eu entendi a linha de pensamento de Jacob. Se eles estavam vindo procurar em Forks, procurariam em La Push também se os Cullen não fossem eficientes em interceptá-los antes de chegarem à cidade.

Jasper sugeriu que seria uma luta equilibrada, mas luta equilibrada uma ova. A expressão de preocupação antes de Alice deixava muito claro que era uma situação tensa para o clã.

Jacob então me olhou por um tempo, considerando as opções. Sua mão suavizou na minha, mas a expressão de preocupação cobriu o seu rosto.

Eu olhei para Alice — Vamos precisar nos organizar, não será fácil para alguns membros do nosso bando.

— De qualquer forma, é um trabalho mais nosso do que de vocês — Jacob disse escondendo um sorriso para mim.

Alice me olhou mais animada, embora o seu nariz franzisse por conta do cheiro como o nosso também. Então ela olhou para Jacob e lhe deu um pequeno sorriso empolgado.

— Não! Jake, você não pode! — Bella disse e levantou a mão para tocá-lo. Bella parou no meio do caminho ao ver a minha expressão.

— Eles estão em quantos? — perguntei para Alice.

— O número varia, eles brigam entre si, mas em torno de vinte e um — Jasper disse.

— Alguns são mais certos de que sobreviverão do que outros — Alice disse.

— Eles estão vindo de onde?

— Seattle. — Alice respondeu — Tudo o que vem acontecendo em Seattle é obra desses recém-criados. Podemos nos encontrar mais tarde hoje para passar todas as informações...

— Seattle?! — eu perguntei chocada — O que tem acontecido em Seattle é um ataque da sua espécie?

Alice entreolhou Jasper e então assentiu com a cabeça. Ela parecia confusa pela minha reação, mas eu nunca vi as coisas mais claras na minha vida. Instintivamente eu me aproximei mais de Alice, que travou os seus músculos, mas manteve a posição.

— Como são os integrantes desse clã? — eu perguntei urgente, meu coração batendo rápido no meu peito.

— Desculpe? — ela perguntou confusa.

— Droga — Quil praguejou baixo.

— A aparência! — eu insisti enérgica — Entre eles tem algum alto, cabelos pretos na altura do pescoço, vestindo uma camiseta verde da Seattle SuperSonics?!

Alice parecia confusa, mas demorou meio segundo antes de confirmar com a cabeça.

— Puta que pariu — ouvi Embry dizer, mas foi a única coisa que escutei.

Chuck... Não!

— Qual o problema? — Jasper perguntou.

— Preciso tirar ela daqui — Jacob murmurou e começou a me puxar pelo braço. Eu devia estar tremendo, era a única explicação para a forma de Alice, Jasper e Bella estarem meio distorcidas.

Eu nem conseguia entender direito o que Quil e Embry acertavam com Jasper, talvez a localização que a gente ia se encontrar, eu só sentia a mão firme de Jacob me puxando para longe da casa, longe de pessoas e olhares curiosos.

Meu irmão... Não! Não um deles, por favor! Não vindo nos atacar!

O bando não teria misericórdia, eles iam matar qualquer um que apresentasse perigo, qualquer assassino... Mas Chuck não era um assassino, ele certamente... Certamente não...

Meus joelhos baquearam e fui ao chão quando atingimos a floresta ao redor da casa dos Cullen. Jacob se ajoelhou na minha frente, ele me dizia alguma coisa, mas eu não conseguia ver. Seu lindo rosto estava borrado pelas lágrimas que caiam sem parar. Eu me sentia sombria, me sentia perdida, sem rumo.

Eu não poderia matar o meu irmão. Não poderia deixar que matassem o meu irmão.

Jacob segurou meu rosto com ambas as mãos e parecia falar mais firme comigo. Então ergueu a cabeça para falar com alguém que estava atrás de mim. Escutei passos pesados, alguém tinha se transformado. Jacob me ergueu pelos braços e então me puxou para mais dentro da floresta.

Era demais para mim, eu queria desmaiar, queria ficar inconsciente por alguns minutos para poder assimilar tudo isso. Mas esse corpo forte e poderoso nunca permitiria isso. Eu passaria por tudo isso de forma consciente e alerta. A pior dor de todas.

Minha mãe...

Empurrei Jacob para longe quando segurar a transformação não era mais uma opção. Cai na terra molhada com as quatro patas. Não consegui andar, no entanto. Eu me agachei na terra, acuada, amedrontada. Meu irmão...

Jacob se transformou logo depois, seu grande rosto marrom-avermelhado encostando no meu. Anjo.

Não! Finn gritou quando recebeu o relato de Quil e Embry. Todos os membros do bando estavam nos aguardando ansiosamente, mas se mantiveram em um macabro silêncio quando souberam de Chuck.

Eu me encolhi ainda mais no chão, sentindo meu corpo tremer de medo. O que aconteceria agora? O que a gente ia fazer? Uma imagem distorcida se formou em minha mente do meu irmão mais velho em um deles. Era uma imagem inventada uma vez que eu não sabia como ele devia parecer agora.

É mentira dela! Finn disse irritado.

Vamos ficar calmos, são muitas informações para assimilarmos, Sam disse com a voz séria, estressada. Jacob, Raven, juntem-se a nós. Vamos pensar em tudo isso.

Ele não falou muito, mas eu senti a direção dos seus pensamentos. Eu entendi a inclinação do que ele quis dizer. Sam queria discutir estratégias e no fundo de sua mente a estratégia não envolvia salvar meu irmão. Ele podia não querer pensar nisso, mas assim como nós, ele não conseguia esconder tudo.

O que faremos sobre meu irmão, Sam? Eu perguntei sentindo minha visão ficar vermelha aos poucos.

Jacob se colocou na minha frente, um movimento que me pedia calma.

Eu não sei ainda, Raven. Precisamos levar tudo em consideração ainda, ele respondeu.

A fúria cresceu em mim ao ponto homicida. Resposta errada, eu pensei. Uma força que eu não sabia de onde vinha, se era da minha cabeça, do meu corpo ou de algo mais profundo do meu subconsciente tomou conta de mim. Eu me ergui do chão e em um rápido movimento contornei Jacob.

Raven! Ele disse, mas já tinha ficado para trás.

Você acha que é assim que vai resolver as coisas?! Sam gritou de volta para mim. Brigando com o seu próprio bando?! A sua família?!

O que você esperava, Sam? É irmão dela. Leah disse.

O bando vem em primeiro lugar! Sam respondeu de volta.

Eu corria com tanta vontade que tinha me tornado um borrão pela floresta. Eu sabia onde Sam estava, sabia que estava mais próximo dele agora do que Paul e Jared, que corriam para flanquear Sam. Eu escutava a mente de Jacob de fundo, o esforço que ele estava fazendo em sua própria corrida para tentar me alcançar.

Eu não senti a mente dos outros, não senti ninguém mais indo até Sam a não ser por Paul e Jared, embora nenhum dos dois desejava lutar comigo. Eles só queriam estar lá para acalmar as coisas, não deixar evoluir para algo pior. Porém, o estrago já estava feito. A minha raiva era muito superior à minha razão.

Eu finalmente sentia o que devia sentir. Finalmente eu estava pronta.

Cheguei a Sam antes de Paul e Jared, que assim como Jacob se esforçavam para nos alcançar. Finn vinha de outra direção, mas sua mente estava confusa com as consequências de qualquer ação que ele tomaria nos próximos momentos.

Sam estava me esperando, estava preparado em uma posição de ataque na direção que eu surgi, os pelos arrepiados, os dentes à mostra. Ele podia ser grande, ele podia ser o Alfa, mas ele não podia se comparar a mim nesse momento. Não hoje. Não agora. Eu tinha a plena convicção que poderia cuidar de Sam sozinha. E, na verdade, não era apenas eu. Era o lado selvagem que eu vinha refreando desde a primeira transformação. Era o lado indomável que quando agia por instinto não podia ser parada.

Eu era uma loba por completo. Ela finalmente despertou e nunca mais voltaria a adormecer.

Sam pulou para frente, tentando antecipar o meu ataque. Deslizei para a esquerda e então travei as patas traseiras, deixando meu corpo derrapar de forma controlada. Impulsionei-me para frente e abocanhei a perna traseira de Sam com toda a minha força. Senti o osso se partir na minha mordida enquanto ele uivava e rosnava. Sam virou o corpo para me morder e me acertou no pescoço, mas não conseguiu fechar os dentes.

Eu me afastei só para correr de volta para ele, trombando o meu corpo no dele e o derrubando. Mordi seu pescoço, senti meus dentes passarem pela camada de pelo e afundarem na carne dele. Sam ganiu e tentou me chutar para longe. Sua mente estava um caos de surpresa, raiva e um pouco de medo. Ele não esperava esse nível de agressividade.

Já chega! Ele comandou em minha mente. Eu continuei a balançar a minha cabeça com seu pescoço entre os meus dentes, afundando ainda mais os dentes. Eu disse já chega, Raven!

O comando não funcionou, mas eu larguei seu pescoço por vontade própria. Aproximei o meu rosto do de Sam, que rosnava para mim, o pelo negro agora brilhando avermelhado de sangue.

Não funcionou, eu pensei com ferocidade para ele.

Fui para abocanhar mais uma vez ele, mas Paul mordeu a minha perna traseira e usou toda a sua força para me arrastar dali. Eu virei o meu corpo para mordê-lo, mas só consegui arranhar a orelha dele com os meus dentes. Paul rosnou de volta. Ele estava em fúria que eu tinha atacado Sam daquela forma.

Jacob surgiu de repente e trombou com o corpo de Paul, caindo por cima dele e rosnando próximo ao rosto dele.

Nem pense nisso, Jacob disse a Paul.

Sam se ergueu com dificuldade, seus olhos e pensamentos ainda em mim. Jared o ajudou a se erguer ao mesmo tempo que Finn chegada.

Todos vocês... Com exceção da Raven... Saiam, Sam comandou, mas sua voz estava falha, dolorida, cansada, sobrepujada. É uma ordem.

Jacob balançou a cabeça ao sair de cima de Paul. Ele não ia me deixar sozinha. Colocou-se ao meu lado protetoramente, embora quem mais precisasse de proteção nesse momento era Sam. Eu podia sentir o meu ferimento cicatrizando.

Endireitei o meu corpo e me sentei. Está tudo bem, Jacob. Pode ir. Eu preciso conversar com Sam de qualquer jeito.

Jacob me olhou por um longo momento, mas não encontrou nada além de resoluta decisão em minha mente e nas minhas feições. Relutante, tanto ele quanto Finn, se viraram e correram para longe, como Sam tinha em mente. Ele queria um tempo sozinho comigo.

Com alguma dificuldade, Sam sentou-se à minha frente, a pata traseira quebrada esticada de uma forma estranha. Se eu não estivesse me sentindo tão fria eu até me sentiria culpada.

Depois de alguns minutos estávamos sozinhos. Esperei que ele começasse.

Sam me analisou por um tempo, medindo as minhas reações em sua mente, avaliando a minha postura, o que emanava de mim. O fato dele não conseguir concluir o meu estado o preocupou.

O que você fez afeta o bando como um todo. Nós não podemos ter um membro que não esteja em sincronia com o bando, Sam disse sério. Eu podia sentir o esforço que ele estava fazendo para manter a voz composta. O ferimento no pescoço tinha sido profundo.

E o que você vai fazer? Perguntei com humor. Não pode me tirar do bando. Essa precisa ser uma decisão unanime e sabe que Jacob nunca concordaria com isso, nem Finn, Seth, Leah, Colin, Quil e Embry. Eles ficarão do meu lado.

Sam trincou os dentes e rosnou baixo. Você sempre foi uma excelente estrategista, a melhor do bando. Imagino que já tenha planejado essa situação.

Em atacá-lo? Seria hipocrisia minha dizer que não pensei nisso, mas nunca achei que fosse de fato concretizar. Ou você quer dizer sobre o apoio dos outros? Isso sim, eu sempre soube. Respondi de forma calma.

Você vai dividir o bando, Sam disse.

Eu nunca faria isso de forma consciente, retorqui ofendida. Eu amo o bando como a minha família. Foi você quem nos trouxe nessa situação, Sam. Foi você quem puxou o meu limite.

Um líder sempre pensa no bando em primeiro lugar, ele respondeu sem se deixar abalar.

Mas um líder também pensa no que é bom para o bando em si. Você deveria ter calculado essa situação melhor, deveria ter visto que se me pressionasse dessa forma essa seria a única reação possível, falei com calma. Eu me sentia no controle da situação, muito certa do caminho que tinha para seguir agora.

E onde isso nos leva, então? Sam perguntou cansado.

Você não é o meu líder, eu falei. Eu não o escolhi, eu não o aceito. É por isso que o comando não funcionou dessa vez e não funcionará nunca mais. Não vindo de você.

Sam arregalou os olhos e então controlou melhor sua surpresa, embora os lábios ainda repuxavam sobre os dentes de adaga. Ele relembrou o ataque, relembro a força de voz que colocou no comando e o terror que sentiu quando não funcionou nas duas vezes que falou.

Eu respeitarei suas ordens, porque acredito que a maioria das suas decisões são sensatas. Porém, se isso afetar a minha vida, afetar os meus valores, você encontrará oposição, Sam, eu o avisei. É claro que não posso seguir sozinha, sem um líder. Lobos são naturalmente criaturas de bandos.

Você parece ter pensado muito a respeito, Sam disse controlando sua raiva.

Mais do que você pode imaginar. Eu me levantei e andei lentamente até ele. Sam ainda era uma cabeça maior do que eu, mas isso não representava mais nada para mim. Você disse que eu sou uma boa estrategista e você está certo, eu sou um dos seus maiores trunfos em uma batalha. Por isso, vou te dizer um caminho que visualizei quando pensava sobre isso, um caminho que pode acontecer. Se você não tomar cuidado, Sam, você vai puxar o limite de outras pessoas. Minha mente trouxe a imagem de Jacob e então de Bella, dessa vez com os olhos vermelhos. E todo mundo aqui sabe que Jacob é o verdadeiro Alfa.

Isso precisa ser uma decisão unânime do grupo e isso nunca vai acontecer. Jacob teve a chance dele. Sam disse enfurecido.

Não digo pelos outros, não agora. Mas é ele quem eu escolho seguir, Sam. É só por causa dele que eu ainda faço parte do bando. Quando você puxar Jacob além do limite dele, eu vou estar logo atrás. Então eu me virei e corri de volta para a casa de meu avô.


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