E Se... escrita por Vincent Verdt


Capítulo 2
Deturbado


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou com o segundo capitulo. O primeiro teve bastante acessos, mas apenas um comentario. Se possivel deixem um review, isso vai me incentivar a continuar escrevendo e a saber se vocês estão gostando ou não da fic.



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E Se...

Capitulo 02 – Deturbado

O palanque estava montado em meio a praça que pouco mais de dois meses atrás fora testemunha de uma explosão colossal. Perto dos degraus os varios homens dedo e boa parte da segunda linha de comando se posicionavam de prontidão para o caso de algo dar errado.
A multidão se reunia aos poucos, temerosos, famintos e cansados, seus espíritos de luta enfraquecidos diante da nova e rigorosa lei marcial imposta á cidade. Muitos morreram naquela noite do Parlamento, mas ainda mais haviam morrido depois que Creddy assumira o posto do Chanceler e os isolou completamente, tirando os meios de comunicação e de locomoção.
A população ficara revoltada e foi para as ruas protestar, uma verdadeira guerra estourou por varios dias com a máscara de Guy Fawkes como simbolo e V como inspiração, os soldados comandados pelo novo governante revidaram e sob as ordens do regime atual começaram a executar publicamente os lideres dos grupos de resistência que se formavam.
Foram dias sombrios e sangrentos onde a censura e a violência entraram com mais vigor no cotidiano londrino.
Então veio a fome, com Creddy ordenando a total retirada de toda e qualquer comida. Supermercados, cafeterias, lanchonetes e restaurantes foram fechados e seus donos assassinados caso se revoltassem. Demorou apenas alguns dias para o povo não ter mais o que comer.
Mais protestos, mais tiroteios e mais bombas por toda a cidade, enquanto a inanição ameaçava a vida dos civis. As crianças foram as primeiras a sucumbir e por todo lugar se ouviam choros de mães lamentando - se sob os corpos magros de seus pequenos.
Então a quietude voltou a reinar e os londrinos voltaram – se para a casca de onde haviam imergido no dia 5 de novembro, querendo suas antigas vidas de volta, sem mais sangue, tiros e fome.
Foi só então que Creddy decidiu ir a público (com todas as precauções) e lhes falar como seriam as coisas a partir daquele momento. Só quando os espiritos de todos estavam enfraquecidos e abalados que ele se mostrou e subiu naquele palanque com um sorriso vitorioso que somente uma pessoa psicopata poderia sustentar frente a tanto sofrimento alheio.
Seu discurso foi breve e sucinto, primeiramente ele garantiu que nada daquilo teria acontecido se eles não tivessem se revoltado, mas que ainda havia um jeito de remediar as coisas, ainda havia um jeito de consertar aquilo. Suas condições eram simples: Voltem aos seus trabalhos e não havera mais mortes, esqueçam a revolução e a comida voltara as suas mesas, risquem o terrorista V e seus ideiais anarquistas de suas mentes e poderão ter as suas vidas de volta.
No começo houve silencio da população, rostos magros olharam de um para o outro e resmungaram sobre as suas opções, mães choraram as perdas que tiveram e os guarda costas de Creddy flexionaram os dedos que seguravam os fuzis muito prontos para deter qualquer demonstração de rebeldia.
Havia algo fazer a respeito daquilo? Existia verdadeiramente um modo de derrubar por completo aquele governo sem o revolucionario que começara tudo? Onde estava V afinal de contas? Onde estava o homem que os instigara a arriscar as suas vidas?
— Estou com você. - Gritou um dos homens na multidão erguendo o punho com raiva. - Essa revolta toda foi um erro. Quero a minha vida de volta.
Creddy sorriu e foi como o esgar de um crocodilo ao ver a sua presa, feroz e muito satisfeito. Com a cabeça sinalizou a alguns soldados que retirassem o 'redimido' do meio da multidão apatica. Aquele seria alimentado e voltaria a vidinha que tinha antes de toda aquela bagunça.
Ele acompanhou com os olhos o pobre homem esqueletico ser escoltado para a parte de trás do palanque e seu sorriso estava ameaçando abrir - se mais quando alguem gritou a plenos pulmões:
— Não seremos mais os seus peões. Viva a revolução!
E então aconteceu. Algo explodiu aos pés do palanque, derrubando soldados e o proprio Creddy, a multidão se afastou e se espalhou em panico sem saber o que estava acontecendo.
— Ali. - Gritou alguem apontando para o alto de um dos prédios proximos.
— É ele! - Outra pessoa berrou parecendo a beira das lagrimas enquanto todos dirigiram a sua atenção para aquele lugar.
— Mas que mer... - Começou Creedy se levantando em meios aos destroços do palanque com a ajuda de um soldado.
— Boa tarde Londres. - O mascarado saudou em alto e bom som através dos alto falantes espalhados pela cidade toda, ao passo que o povo abaixo se dividiu entre urros de alegria e questionamentos indignados sobre onde ele estivera durante aqueles dois meses.
— Matem ele. - Ordenou o governante pegando ele mesmo o revolver que carregava, mas o guardou logo em seguida ao se dar conta frustrado de que o seu inimigo não estava ao alcance. - Matem ele agora.
Os soldados ergueram os seus rifles e apertaram os gatilhos, mas ao inves das balas seguirem a trajetoria padrão elas trancaram no focinho da arma e estouraram junto do rosto dos homens os atirando para trás com violencia.
A multidão ofegou de surpresa ao verem aquilo e alguns começaram a juntar pedras no chão para atirar contra os feridos que tanto os subjulgaram por dias a fio.
— Acho melhor recuarmos senhor. - O comandante sugeriu não ousando disparar o seu rifle depois de ver todos os seus companheiros naquele estado, os londrinos revoltados se aproximavam com sede de sangue.
— Maldito. - Creddy berrou e enfim atirou com o seu revolver em direção ao revolucionario, como imaginara o fato dele estar muito no alto impossibilitara o seu alcance. - Vamos voltar a zona segura. Isolem aquele predio, quero o helicoptero lá agora.
— Sim senhor. - O comandante concordou com um aceno de cabeça e sinalizou para os seus subordinados que estavam inteiros pegassem os demais que haviam se machucado.
— Assassinos!!! - Berrava a multidão enquanto o governante e seus homens recuavam.
Do alto do prédio, V observou a sua retirada apressada e o saudou com um toque na aba do chapéu o que causou uma carranca de raiva no inimigo que voltou a apontar - lhe o revolver e o disparou novamente. O angulo era pessimo e o mascarado não ouviu nem o assobio da bala.
— Já foi o suficiente? - Veio a voz baixa de Evey na porta do terraço. Ela empunhava uma das facas dele e o observava com atenção.
— Creio que sim. Os animos foram levantados. Tudo de acordo com o plano. - Observou sabiamente descendo do parapeito com facilidade. - Vamos para casa.
Evey apenas concordou com a cabeça ouvindo ao longe a movimentação do povo atrás dos soldados. Ela sabia que aquilo não iria durar, logo eles se reagrupariam e estariam de volta com armas que realmente funcionavam atrás do simbolo da revolução.
A mão enluvada de V tocou o seu ombro a tirando de seus devaneios, eles estiveram assistindo aquele discurso desde o começo, escondidos no terraço distante e um nó se formara no estomago dela ao ver que Creddy realmente estava a ponto de dobrar a população ao seu regime autoritario.
— Esta tudo bem? - Ele questionou notando a expressão aflita em seu rosto.
— Sim, eu só... - Evey parou por um segundo, tentanto reorganizar as palavras. -... não esperava esse recuo... sei que foram dias muito dificeis, mas não esperava que fossem desistir. Que fossem se curvar a outro tirano.
— Eles não vão, Evey. - O revolucionario rebateu calmo olhando diretamente para ela. - Creddy estar vivo foi uma falha minha, mas acredito que mesmo assim os mais fervorosos ainda não vão desistir, você mesma viu.
Evey concordou com a cabeça, lembrando do homem corajoso que berrara a plenos pulmões segundos antes da bomba plantada no palanque explodir. Era uma carga pequena e discreta com a qual V não esperava matar o governante e seus aliados, apenas desestabiliza - los frente ao povo que torturavam. Colocar uma carga maior teria sido muito arriscado, pois poderia ferir as pessoas mais proximas que apenas foram ouvir o discurso deturbado daquele maniaco.
— Devemos ir, eles logo estarão aqui. - V avisou erguendo a cabeça ao passo que ela fez o mesmo, se concentrando nos sons, era possivel ouvir um helicóptero muito ao longe.
— Ok. - Concordou entregando a faca para ele que a recolocou no cinto e abriu a porta do terraço para ela passar. - Obrigado.
— Cuidado com os degraus. - Alertou ciente da falta de luz naquelas escadas. Apenas algumas lampadas ainda funcionavam e mal iluminavam a descida.
Evey puxou a lanterna do bolso e acendeu, começando a descer o mais rapido que podia com o mascarado logo atrás, o som de seus passos quase passando despercebidos caso ela não soubesse que ele estava ali.
— Algum dia você vai me ensinar a fazer isso? - Questionou quando sairam do predio e entraram no beco proximo refazendo o caminho pelo qual vieram mais cedo. Logo eles chegariam a entrada do tunel e depois de se embrenhar por um labirinto estariam na segurança da Galeria das Sombras novamente.
— A que você se refere? - V devolveu erguendo - a por cima de uma cerca sem o minimo esforço, como se ela fosse leve como um travesseiro.
— Andar sem fazer barulho. - Respondeu observando - o saltar o obstaculo com facilidade. - Isso tambem seria legal de aprender.
A risada baixa do revolucionario ultrapassou mascara e chegou aos seus ouvidos a fazendo sorrir, enquanto continuava o caminho ao seu lado, faltava pouco para a entrada do tunel agora.
— A arte de se esgueirar sem ser percebido exige certa pratica, mas pode ser ensinada sim, já a de realizar esse tipo de movimento não tenho muita certeza.
— Então me ensine a passar despercebida. - Ela pediu assim que chegaram a entrada do tunel. Ele se voltou para a tarefa em mãos e não respondeu até destravar a tranca. Fazendo - a achar que não o faria nunca.
— Como quiser, Evey. Ensinarei a você tudo o que estiver disposta a aprender. - A resposta dele trouxe outro sorriso ao seu rosto, fazendo V refleti - lo por trás da mascara. - Primeiro as damas.
Ela meneou a cabeça e passou pela entrada estreita segurando - a brevemente para que o mascarado fizesse o mesmo.
— Os preparativos para a distribuição de comida ficaram prontos, enfim o povo de Londres tera alguma coisa a celebrar. - O revolucionario comentou depois de alguns minutos calado e pelo tom empregado em sua voz era óbvio que aquele assunto estivera lhe incomodando.
— Sim. - Evey concordou triste. Ela mesma tinha se arriscado para dividir a comida da Galeria para algumas familias, mas não havia sido o suficiente. - Descarrilhar aquele trem foi algo perigoso, mas pelo menos vai garantir que ninguem passe fome, por algum tempo.
— Quem imaginaria que o Sr. Creddy seria tão sádico? - O mascarado questionou a esmo, meneando a cabeça com raiva. - Devia ter previsto algo assim vindo dele.
— Não vamos voltar a esse ponto V. - Pediu ela com firmeza, eles já haviam discutido sobre aquilo uma centena de vezes e independente da culpa atribuida, ambos estavam fazendo o que podiam para melhorar a situação. - 'Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente'.
Ele suspirou diante da citação de Shakespeare e Evey mais uma vez desejou ser capaz de ver que tipo de expressão se escondia atrás daquela mascara.
— Tem razão. De nada vale lamentar o passado. - Concordou por fim abrindo a porta escondida da Galeria. - Vamos apenas nos concentrar no presente e na refeição que servirei em breve.
— De revolucionario a chefe de cozinha, uma grande transformação. - Ela brincou tentando desviar os seus pensamentos. O que pareceu funcionar, Evey já estava ficando boa em interpretar o seu estado de espirito através de sua linguagem corporal e o que viu foi um relaxar naquela musculatura constantemente tensa.
— De fato. - Devolveu em um tom mais leve e discretamente divertido. - Assim como a sua. Me perdoe a repetição, mas sinto - me tentado a questionar novamente. Ainda pretende participar da distribuição de comida?
— Claro. - Foi a sua resposta imediata e com um estreitar de olhos pode perceber o como aquilo o deixara inquieto. - Não é que não confie no Sr. Finch, só quero estar lá para dar esperança para as pessoas.
— No momento você é tão procurada pelos homens dedo quanto eu, devia se questionar se realmente é necessario correr esse risco. - Advertiu sem olha - lá enquanto retirava a capa, o chapeu e o cinto de facas e os pendurava nos ganchos proximos a porta.
— Quero estar lá esse é o ponto. - Evey disse enquanto o acompanhava para a cozinha, ao vê - lo colocar o avental florido com tanta naturalidade precisou reprimir uma risada pelo contraste berrante que o mesmo causava. - O povo precisa saber que você ainda se importa com eles.
— Pelo meu plano original nem estaria vivo para me importar. - Ele confessou baixinho de costas para a mulher que engoliu em seco, confirmando o que já suspeitava. - Se tudo tivesse ocorrido como o planejado Creddy estaria silenciado tambem...
— Hum... - Evey começou repentinamente sem palavras diante da confissão daquilo que mais temia. -... sei que não quer ouvir isso, mas talvez essa mudança repentina tenha acontecido para o bem.
— Não vejo como. - A faca em sua mão golpeou sem misericordia o pobre pimentão em cima da tabua sobre a pia branca.
— Você pode testemunhar a força do povo e o quanto a sua existencia alterou o destino de todos... inclusive o meu.
A faca parou por alguns segundos e o mascarado enfim virou a cabeça para observa - lá sentada tranquilamente a mesa, tão diferente de como estivera quando fora mantida presa ali contra a sua vontade pouco mais de um ano antes.
— É um jeito... diferente de encarar os fatos... - A voz dele saiu baixa, levemente alterada e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa o mesmo voltara para a sua tarefa com um pouco mais de calma.
— Por isso quero estar lá... para assegurar as pessoas que elas não estão sozinhas. - Continuou vendo - o colocar os legumes picados em uma frigideira.
— Não vou impedi - lá Evey. - Assegurou movendo - se pelo comodo com rapidez e pegando ingredientes sem olhar, ele fazia aquilo quase que por instinto, era como uma segunda natureza assim como o arremesso de facas da qual por motivos obvios era mais notavelmente conhecido. - Prometi a você, sem portas trancadas, nunca mais.
Um arrepio cruzou a espinha da mulher ao lembrar da ocasião em si, fora quando ela o abandonara pela segunda vez, machucada demais para aceitar ficar no subsolo ao seu lado, a recem nascida Evey se aventurou em Londres e ficou meses distante daquele lugar e... dele. Quando retornou, ja mais calma e disposta a perdoa - lo percebeu que independente de seus sentimentos ele mesmo era incapaz de perdoar - se por tudo o que fizera.
As memorias a torturaram e seu estomago se encolheu ao lembrar da sensação esmagadora que sentiu ao lembrar daqueles minutos torturantes em que chegou a cogitar te - lo perdido para sempre.
— Evey? - O questionamento baixo do mascarado a tirou de seu estupor e a fez voltar ao que estava acontecendo, nublando os seus temores, ele estava ali vivo e inteiro lhe oferecendo um prato com legumes refogados, bacon e algumas iscas de peixe.
V a observava curioso e se não estivesse usando aquela mascara sorridente Evey podia jurar que estaria vendo o seu cenho se franzir em confusão pelo 'desligamento' dela. A mulher deu de ombros mentalmente e tentou se recompor, não queria ter que lhe dizer em que direção seus pensamentos haviam ido diante de suas palavras. Aquela memoria podia desencadear certos assuntos incabados e sinceramente ela preferia lidar com uma coisa de cada vez se fosse possivel.
— O - Obrigado. - Agradeceu pegando os talheres e começando a comer com gosto. - Esta ótimo.
O revolucionario aceitou o elogio com um baixar modesto de cabeça e voltou a fita - lá de uma maneira tão insistente que quase a fez corar.
— O que foi? - Perguntou parando de comer brevemente e vendo - o suspirar cansado. - V?
— Estou esperando a sua resposta. - Foi tudo o que disse.
— Sobre o que?
Ele suspirou novamente, tudo em sua linguagem corporal indicando cansaço e tensão, tanto que a fez engolir em seco.
— Não vou impedi - lá de participar da distribuição de comida. - Voltou a afirmar sem desviar o olhar dela. - O questionamento que fiz e volto a fazer é se... posso acompanha - lá até lá.
— O que!? - Evey teve a impressão de que se ainda estivesse comendo teria se engasgado mortalmente. - Você...
— Não me entenda mal. - V adiantou - se apressado. - Não pretendo aparecer ao publico. Apenas quero estar por perto, caso algo dê errado.
E em meio ao choque de ve - lo se voluntariando para fazer algo com que definitivamente não queria se envolver (exceto a parte de descarrilhar o trem, afinal alguem precisara fazer o trabalho pesado) Evey foi capaz de sorrir, internamente satisfeita pela preocupação e cuidado dele. Sua liberdade fora um presente intencional, mas a proteção e a companhia que vinha lhe fazendo naqueles dois ultimos meses tinha um valor por igual em sua opinião.
— Não vejo problema nisso, V. Vou me sentir mais segura sabendo que você estará comigo.
O revolucionario pingarreou e concordou com a cabeça, sinalizando para que voltasse a comer, coisa que ela fez ainda sorrindo o deixando levemente desconcertado com o motivo para tanta alegria, afinal ele não lhe oferecera nada de extraordinario, apenas uma camada extra de defesa e um pouco de seu tempo.


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Notas finais do capítulo

Por enquanto é isso. Creedy começou o seu proprio governo tirano, enquanto V e Evey começaram a se mover tambem. Deixem comentarios! Até o proximo.



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