Shino não conseguia se reconhecer em suas atitudes.

Mas, sua insegurança estava levando a melhor sobre ele. Quer dizer, para Ino era fácil substituí-lo, por qualquer galãzinho da escola.

Embora, Ino não parecesse ser uma garota leviana, do tipo que brincava com os sentimentos alheios, apenas como um esporte cruel e sem sentido, ele não conseguia evitar pensamentos como esse... E, por causa disto, qualquer situação cotidiana, acabava trazendo a tona esse lado que ele mesmo desconhecia.

Andava com a mão nos bolsos, de cabeça baixa, tentando se acalmar, para não dizer nenhuma idiotice, pela qual fosse se arrepender.

Como tinha despensa da aula de educação física, ele tinha um tempo a mais para pensar nas coisas.

Já Ino, teve que sair dali e correr contra o tempo.

A última coisa que precisava é se encrencar em educação física também. Não queria que seus pais associassem seu repentino baixo desempenho escolar com seu namoro com Shino.

Aliás, a última coisa que ela precisava era ter seus pais como inimigos de seu romance, para isto já bastava o próprio Aburame.

Ela pensara enquanto trocava sua roupa, mas uma fungada de alguém chorando acabou chamando atenção de Ino.

A loirinha conhecia muito bem aquele choro. Aproximou-se da garota, que estava encolhida entre um armário e um banco, sem esboçar nenhuma surpresa por ver a jovem de cabelos róseos ali com os olhos vermelhos de chorar.

— Deixa eu adivinhar? Veio para o vestiário feminino chorar, só para a besta quadrupede do seu pai não a encontrar?

Ino estava tão chateada com o Orochimaru-sensei, que não poupou nos xingamentos a sua ilustre figura.

O incrível é que a garota magricela de testa grande, nem dissera nada para defender o papai esquisito dela.

— Me deixa sozinha, Ino! Por favor! – A outra dissera toda dramática.

— Vai me enxotar é? Vou correndo avisar seu pai, então... – Ino mentiu na cara dura, já que a última pessoa com quem ela falaria seria o pai de Sakura.

Pelo menos por um bom tempo.

— Como se você fosse fazer algo assim, você vive implicando com ele. – Sakura disse enxugando as lágrimas da bochecha, apenas para dar espaço para as outra que continuavam caindo.

— O que o idiota do Neji fez? – Ino perguntou baixinho para a outra, pensando que talvez fosse melhor ela se focar nos problemas amorosos alheios, do que nos seus. Sendo que ela nem sabia o que tinha de errado com Shino, mas já imaginava o que seria, e não estava pronta para lidar com o atrito entre seus diferentes posicionamentos sociais, na escola.

— Não estou chorando por causa do Neji. – Sakura mentiu descaradamente, em meio a um bico.

— Ah, tá! Então, eu acho seu pai um sujeito maneiro! – Ino disse revirando os olhos exageradamente.

— Essa é uma mentira óbvia, até para ser usada como ironia, porquinha. – Sakura disse com um sorriso frasco.

E, Ino engatinhou sobre o banco, e foi socando-se no mesmo canto que Sakura estava, deixando-a ainda mais apertada ali, mas também estava com vontade de se esconder de tudo e de todos.

— Mesma coisa digo sobre, você não estar chorando sobre o Neji. – Ino dissera colocando a cabeça no ombro de Sakura que estava encostada na cabeça e fechando os olhos.

— Foi logo que eu cheguei na escola. – Sakura dissera após ficar um tempo em silencio.

Flashback ON!

— Estamos bem avisadas, Sakura? – Tsunade voltou seus amendoados, para Sakura que estava olhando para a janela, enquanto ia sentada no banco de trás do lado direito.

— Ela está fingindo que não está te ouvindo, Okaa-san. – Um garoto que parecia uma cópia menor de Orochimaru falara, olhando a progenitora dos dois com seus olhos verdes, o que lhe rendeu um doloroso cutuco, por parte de Sakura.

— Estou ouvindo, Okaa-san. – Sakura disse com um sorriso amarelo, e um olhar amedrontado, porque ela já tinha levado bronca o bastante por uma vida, na última semana.

Isso fez com que a mulher loira, de bonitos olhos castanhos atenuasse o olhar.

— Eu sei que você é uma menina inteligente, e já aprendeu sua lição. – Sakura encarou sua mãe, com sua sobrancelha erguida, percebendo que enfim a zanga de sua mãe estava passando.

Ela até deixara-lhe pintar seus cabelos naquele final de semana. Descera toda faceira do veículo, louca para ver suas amigas e claro Neji.

Demorou um pouco a encontra-lo.

E, o que viu não a agradou.

Pois, havia uma garota conversando com ele em uma proximidade exagerada.

Ela tinha seios graúdos, que encostavam no braço do rapaz, que parecia interessado no que ela estava dizendo.

Suas mãos estavam cruzadas sobre seus ombros, e ela tinha cabelos compridos que caiam abaixo do ombro.

Sakura nunca a viu nem mais gorda, nem mais magra, mas certamente já antipatizou de imediato com ela.

— Neji? – Ela chamou pelo garoto, que olhou para ela com seus olhos parolados, fazendo-a sentir-se mais quente.

— Sakura?! – Ele olhara para ela observando-a dos pés a cabeça, estando sério como sempre, não dava nem para adivinhar o que ele estava pensando de sua pessoa.

Aquele dia era de usar aquele uniforme horroroso, mas o acessório de cabelo era livro, e ela escolhera aquelas presilhas de borboleta, achando que esse adorno iria impressioná-lo.

Como a aula ainda não tinha começado, ela não teria de colocar a boina, ainda.

Mas, ao invés disso, ele continuara a olhando, depois de uma semana sem vê-la e ainda deixando aquela estranha, ficar perto dele.

— Não me apresenta sua amiga, Neji-kun? – Ela perguntou olhando para Sakura dos pés a cabeça, e a garota fez questão de olhá-la dos pés à cabeça também.

— É uma amiga. – Neji disse enfim, se afastando da garota que parecia um pouco mais velha.

Sakura nem prestou atenção, no entanto. Ela estava mais preocupada com Hyuuga apresentando-a como uma reles “amiga”.

Depois deles terem dado o primeiro beijo, durante um encontro na praia, por acaso entre suas famílias nas férias.

Por causa disso, ela teve a oportunidade de passar um bom tempo com o garoto, que já chamava sua atenção antes, mas ainda não tinha roubado um pedacinho de seu coração.

Mas, Tsunade quando os pegou no flagra, não reagiu bem, e proibiu o namoro, alegando que ela só poderia fazê-lo aos dezoito anos, assim como Samui. Engraçado, que Atsui nunca enfrentou nenhuma proibição do tipo, tanto que aos quinze anos já namorava Karui, sem problemas.

Mas, Neji assegurou que iria espera-la, mas não parecia estar fazendo isto.

— Achei que fossemos mais... – Sakura disse fazendo bico, sem se importar com a rede de boataria da escola, que certamente levaria suas palavras aos ouvidos de seu pai, e ainda distorceria seu significado.

Neji continuou a encarando com as mãos no bolso, e pareceu por um momento surpreso com o rompante dela. Mas, depois ficou impassível de novo, e ela queria tirar aquela impassibilidade do rosto dele, nem que fosse na base do tapa. Porque não era de bom tom, ele deixar garotas ficarem encostadas nele, com seus seios tocando seu braço, enquanto conversavam ao pé do ouvido um do outro.

— Sakura, somos amigos. – Ele disse em tom contido, e a olhando como se dissesse algo mais, mas Sakura naquele momento não queria ouvir.

Mandou as favas o combinado deles de agirem como dois conhecidos, na escola. Já que ele era do terceiro ano, e ela do segundo.

— Neji-kun, a aula já vai começar... Deixa a pirralha ai. – A garota de cabelos verdes, e pele morena dissera lançando um olhar de desdém para Sakura, que ficou ainda mais amuada com isso.

Para piorar, Neji assentiu o que ela disse e ele levantou a mão para acenar. Mas, foi surpreendido por uma batida em cheio no meio de sua cabeça.

POFT!

E, ela nem olhou para trás para ver a reação dele, saiu correndo dramaticamente em direção a aula, já pensando em uma desculpa.

Depois de contar o que houve, ela se sentia melhor, e Ino também. Já que ela ria copiosamente.

— Você bateu nele? – Ino perguntou, já imaginando-se fazendo o mesmo com Shino.

— Hai. – Sakura admitiu encolhendo-se um pouco mais. E, Neji ficou mais bravo com ela ainda.

“Achei que você fosse madura e que confiasse em mim. Mas, ao invés disso, fica agindo como uma garotinha mimada e insuportável”.

Foram as cruéis palavras dele mais cedo. Sakura queria muito dizer alguma coisa, mas acabou saindo correndo para não se debulhar em lágrimas perto dele. E, estava escondida ali.

— Se não bastasse ter um namorado ciumento, também tenho uma amiga ciumenta... -  Ino dissera sem saber ao certo o que dizer.

— Na verdade DUAS! – Sakura e Ino arregalaram os olhos, quando uma garota de cabelos rubros, apareceu ali na entrada do seu esconderijo não tão secreto.

— Isso não se faz. – Ela dissera entrando no quadradinho que já era apertado, tanto que foi parar em cima das pernas das outras duas. – Só porque vocês tem namorados, ficam de segredinho sem mim.

Karin dissera fazendo caras e bocas exageradas. Um costume que ela tinha herdado de sua mãe.

— E, então vão me informar dos detalhes, ou eu terei de desmentir para Anko-sensei, que você estava com cólicas, testuda! Já até consegui que o padrinho assinasse... – Karin dissera dando um sorriso de triunfo, e Ino pensou que quem sabe fosse melhor usar Karin, para barganhar suas notas com Orochimaru-sensei.

— Como você estava a acompanhando, está tudo certo. – Karin disse por fim, olhando para as duas. – Agora vamos ao que interessa, quero saber as novidades.

Karin dissera se espremendo entre as duas, que acabaram dando uma risada em cumplicidade. Sendo que Ino era quem tinha o maior relato de todos, já que a história de Neji e Sakura, era assunto batido entre elas.

Na biblioteca, muito a contragosto, Shino soltara mais um espirro, recebendo um olhar feio da bibliotecária.

“Kuso! Alguém está falando mesmo de mim”. – Ele dissera fazendo coro a Neji... E, também um loiro de olhos azuis, que acabou expulso por ter um espirro muito exagerado!