A linha tênue entre o amor e o ódio escrita por GomesKaline


Capítulo 8
Capítulo 08




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797468/chapter/8

Por que a necessidade de tantas festas? Ela se perguntou.

Teve um baile na semana anterior, qual a necessidade de outro. O que é tão importante? Claro que ela que na mente dessa gente rica é importante ser o anfitrião da festa, e mais importante ainda se essa festa for bem comentada no meio deles. Mesmo assim, ainda são muitas festas para ir. Ela estava se sentindo sufocada. Foi isso que a fez sair do salão, talvez ela encontrasse um jardim e o vento frio a acalmasse um pouco.

Penelope e JJ a deixaram na mão hoje, disseram que tinha outro compromisso que não podiam perder, elas não disseram o que era, mas Emily sabia que era uma festa. Uma festa normal, com pessoas normais, onde você poderia beber e dançar como pessoas normais.

Ela virou um corredor, torcendo para para que a levasse para fora. Ela claramente não lembrava que não estava no térreo e sim no primeiro andar. Ela encontrou o jardim afinal, mas uma pequena sacada e alguns pés de altura a separava.

Ela se aproximou da grade, colocou as mãos nela e então se permitiu respirar. 

— Perdida?

Isso a assusta pra caralho. Todo o seu corpo congelou com o baita estresse que acabou de sofrer. Por alguns instantes ela não conseguiu se mover para ver quem era o dono da voz.

— Aaron?! - ela grita ao reconhecer a figura no escuro - Você quer me dar um ataque cardíaco?

Ele sorriu, mesmo na escuridão ela pôde ver. E mesmo se não pudesse, era fácil para ela agora imaginar como é exatamente seu sorriso.

— Não seja tão dramática. - Ele sai do seu lugar encostado na parede e se aproxima da grade, mas não dela. A distância ainda de um metro ou mais - Como vai sua irmã?

— Por que você quer saber?

Ele dá de ombro com a rispidez dela.

— Eu tenho um irmão mais novo, odiaria encontrar ele bêbado em um bar no meio da noite. - Então ele colocou um pequeno sorriso no rosto - Felizmente, Spencer não bebe.

Ambos permanecem olhando para o jardim abaixo deles. Tentando não tornar a presença do outro consciente.

Eles ficaram em silêncio por muito tempo, fazendo o melhor que podiam para não olhar para o lado. Até que Aaron pigarreia.

— Bom, vou deixar você sozinha. Você certamente não veio aqui procurar companhia. E se estivesse, com certeza não era a minha.

Ele saiu. E ela o deixou ir. Não tinha muito o que ela pudesse fazer.

De alguma forma isso se tornou um ritual. Durante essas festas, na casa dos políticos ricaço, eles sempre se encontravam em um lugar afastado da festa. Às vezes em um jardim, numa varanda, em um escritório. Nas primeiras vezes eles ficavam em silêncio até que o outro levantasse e saísse. Mas à medida que esses encontros foram aumentando, ele começaram a trocar conversas, muitas vezes da festa ou das pessoas da festa.

Depois que eles dançaram naquela festa e da insinuação dos seus irmãos de que eles tinham algo, ela o evitou. Todavia, mesmo que não fosse um ato consciente, ela se pegava procurando por ele no salão. E na maioria das vezes ele estava olhando para ela.

Ele também a evitou, porque pensou que sem ver e falar com ela, sua atração passaria, sua mente masculina não a cobiçaria. Ela era só um rostinho e um corpinho bonito. Simples, ele pensou.

— Você fala sobre a alta sociedade como se ela fosse a escória da terra, mas você nasceu nela. Sempre foi uma menina privilegiada que teve tudo. Aposto que o vestido que está usando é tão caro que é o salário de um mês de uma família de baixa renda. Você adora as joias, roupas e sapatos caros. Aposto que você cruza as pernas em lugares públicos só para as pessoas verem a sola vermelha do seu sapato.

Ela fica boquiaberta e sem palavras por alguns minutos. É claro que ela foi criada em um ambiente em que ela sempre teve coisas boas. Roupas, sapatos e maquiagens de marcas. Ela sempre frequentou restaurantes caros, escola particulares e ao invés de mesada, como todo jovem normal tinha, ela possuía um cartão de crédito. Mas isso não era quem ela era.

— Porque eu sempre tive condição de comprar coisas boas e caras, não significa que eu não saberia viver sem elas, não significa que eu não procure promoções, que não compre em brechós, que não use bijuterias ou coma em restaurantes baratos. E você, Aaron? Não é a melhor pessoa para falar de rico privilegiado. Você que troca de carro todo ano, que tem coleção de relógios caros e não preciso falar do dinheiro que você gasta com aquelas mulheres.

— Eu não pago por aquelas mulheres - ele falou irritado.

É claro, na maioria das vezes eles se atacavam. Ferruadas que perfuravam a alma. É como se eles pensassem que fazer isso, apagaria todas as vezes que ela um admirou seus lábios carnudos, que ele gostou do cheiro agradável que veio dela, que gostou da sensação de estar envolvida pelos braços dele ou toda vez que ele pensou nela usando suas roupas grande e folheadas. Atacar o outro era como qualquer outro escape, álcool, drogas, jogos de azar... eles só precisavam disso, para preencher o vazio do que faltava. Porque é essa a função dos vícios, não é? Tentar preencher o vazio daquilo que está faltando.

Outras vezes eles evitavam tudo que estava ao seu redor, optando por falar sobre qualquer coisa. Passarinhos mortos nas ruas, uma gota de orvalho numa folha que prendeu sua atenção, livros, filmes. O tempo passava mais rápido quando eles conversavam assim. Quando chegava o momento deles se afastarem, começaram a dizer "tchau", o que para pessoas normais era apenas uma coisa simples, para ele, no entanto, era um salto de 2 milhões de anos. A única outra vez que eles fizeram isso foi naquele beco quando ela estava voltando da cabana dele. Era apenas um "tchau" gentil, não vinha acompanho de palavras baixas e ofensivas. Era apenas um "tchau".

Eles não falaram sobre isso, sobre como as coisas estava ridiculamente pacífica entre eles.

Em uma noite, eles invadiram o escritório do Sr. Ballard, ele era um político que não aparecia mais na mídia, um velho de 80 anos que não fazia mais nada do que trair sua esposa e dá festas chiques e chatas. Eles invadiram separadamente, é claro. Aaron invadiu primeiro. Emily o encontrou sentado no tapete, encostado no sofá, lendo um livro da estando do velho. Quando Emily entrou, já foi tirando seus saltos e sentando ao lado dele, deixando pelo menos meio metro de distância.

Ela ficou olhando para frente enquanto ele continuava vidrado no livro. De vez em quando ela suspirava e olhava para unhas feitas recentemente, as quais ela estava tentada a roer. Aaron a olhou pelo rabo de olho e reprimiu um sorriso, ela estava claramente inquieta por está sendo ignorada.

Passou cinco minutos e Emily não aguentou mais. Ela pegou o livro da mão de Aaron e o fechou, jogando-o para trás no sofá.

— Ei!

— Eu gosto de silêncio, tranquilidade. Mas calmo demais é irritante, então fala comigo.

Ele começou a rir. Ele sabia que ela não ia aguentar muito tempo.

— O que você quer que eu fale?

— Eu não sei, apenas fale. Eu não aguento de dividir a sala com outra pessoa e ficar em silêncio, é perturbador.

— Lembro que você me disse que odiava minha voz.

— Quando eu disse isso?

— Em uma festa na casa do Charles, nos trancaram no banheiro porque sabiam que nós não nos suportavam. Naquela noite você disse que odiava minha voz, e que calado eu tinha alguma utilidade.

A boca dela se abriu em surpressa.

— Isso foi no ensino médio. Como você ainda lembra disso?

— Você sabe que quanto mais velho ficamos, mais lembramos das nossas memórias antigas. Você não lembra disso?

— Agora que você abriu essa caixinha, eu lembro. Você foi insuportável, não parou de falar por um segundo. Foi simplesmente irritante.

— Oh, eu sei, por isso eu fiz aquilo.

Eles olharam um para o outro e começaram a rir, a ironia de que eles estão preso em uma sala sem que jovens maldosos o trancassem lá e que ela esteja disposta a ouvi-lo, e não silenciá-lo, não passou despercebido por nenhum dos dois.

Aaron contou sobre um sonho que teve, era algo totalmente estúpido, contudo ela parecia querer ouvir ofinal. Ele sonhou que era um espelho, Aaron disse a Emily que se ela desejasse ser algum objeto que não fosse um espelho, é algo totalmente bizarro. Ele disse que não é legal ver todos os tipos de pessoas nuas, vê-las sorrindo para si mesmo depois de se arrumarem, fazerem pose como se estivessem sendo fotografadas, ensaiarem discursos. Ela perguntou se ele era um espelho universal ou se era apenas o espelho de uma pessoa. Aaron apenas respondeu que não sabia, mas que ele viu muitas esquisitices de um punhado de pessoas.

Eventualmente Aaron descansou sua mão direita ao seu lado no chão, ela fez a mesma coisa com a mão esquerda dela. Se perguntassem aos dois quem primeiro moveu a mão, nenhum deles saberia responder. Eles arrastaram sutilmente as mãos até que seus mindinhos se tocaram. Ao contrário da outra vez, quando suas mãos se tocaram quando iam pegar o livro, eles não se afastaram. Ficaram apenas sentido a pele um do outro.

Na outra vez que eles se encontraram ela havia brigado com sua mãe.

— Você está bem? - Ele perguntou assim que a encontrou nos fundos da casa dos Bennet.

— Não.

Ele realmente não esperava que ela admitisse, só perguntou porque parecia o certo a fazer. Ela estava com raiva, ele podia ver. No entanto era mais do que isso, ela parecia genuinamente chateada, e pela angústia em seu rosto, ele poderia dizer que ela também estava se sentido sufocada. Antes ele pudesse oferecer qualquer tipo de ajuda, ela fala primeiro.

— Pode me tirar daqui? - Novamente, ele não esperava por isso - Por favor, Aaron, só me tira daqui.

Ele não pensou duas vezes antes de concordar.

— Podemos sair por aquele portão - diz apontando - Não seremos vistos e para sua sorte, estou com minhas chaves. Vamos.

Ela o seguiu. Ela viu Aaron subornar os dois guardas que vigiavam os fundo, para que os dois nunca comentassem sobre o que estavam vendo. Se um deles sussurrassem no ouvido de um jornalista que os viram saindo juntos, teriam pessoas na cola deles rapidinho. E nenhum deles queria isso.

No carro ele perguntou para onde ela queria ir, ela disse qualquer lugar onde ninguém os conhecessem. Ele acabou levando ela para uma praça pouco movimentada, na verdade não havia nenhum movimento. A iluminação era praticamente inexistente, apenas uma pequena lâmpada em cada canto, e com as árvores grandes ficava ainda mais escuro.

Eles desceram do carro em silêncio e continuaram em silêncio quando Emily encontrou seu lugar embaixo de uma árvore, ela não se importou em sentar no banco que estava lá perto. Ela ficou de costas para Aaron. Ele também ficou em pé com as mão escondidas nos bolsos da frente da calça. Ele não perguntou nada, ele não tinha o direito, mesmo que em outros tempos ele agarraria isso para infernizá-la, ele sabia que naquele momento era algo muito cruel de se fazer. Ele não era mais um adolescente cheio de hormônios que a única necessidade era encontrar algo para pertencer.

— Você tem cigarro? - é a primeira coisa que ela diz depois de muito tempo.

— Não. Tenho algumas balas de menta, isso serve? Mas se não quiser, posso comprar um maço para você.

— Não precisa, estou tentando para de qualquer maneira. Acho que estou aceitando as balas de menta.

Em alguns passos ele chega até ela e lhe entrega duas balas de menta. Ela abre e quando estava prestes a descartar a embalagem no chão Aaron segura sua mão e toma o pequeno plástico e coloca no bolso. Isso arranca um pequeno sorriso dela.

— Estamos sempre dizendo aos outro para não sujar as ruas, quando somos os primeiros a fazer isso.

Está ali com ela parecia tão errado. Não era como na cabana dele, eles estavam em um local escuro, sozinhos. O que seu pai diria se descobrisse sobre isso? Ele revirou os olhos internamente, o que seu pai diria não importava, porque ele não dava a mínima. Mas e sua mãe? Ele respeitava sua opinião, era uma das coisa mais importante para ele. E os pais dela? O que ela escutaria dele se eles soubessem que ela estava a sós com um Hotchner? Se bem que eles já ficaram a sós mais de uma dúzia de vezes, mesmo assim havia algo diferente nisso.

Uma brisa soprou, e por algum motivo fez com que ele olhasse para Emily, ele a ver estremecer, então ele percebe que eles saíram tão apressados, como fugitivos, que nenhum deles havia pegado casaco. Mas ele estava mais protegido que ela, por uma bela massa corporal e seu paletó. Ela por outro lado, estava com um vestido de festa na altura do joelho, com alças finas e costas nuas, ele só esperava que ela estivesse usando meias calça.

Eles já estavam próximos, frente a frente, então ele tira o paletó do seu smoking e coloca nos ombros dela. Instantaneamente ela procura seu rosto no escuro, e parece um milagre que ela consiga ver seus olhos. Ele não desvia o olhar do dela e ela não tem certeza do porquê do calor em seu estômago, não é algo ruim, mas ela não tem certeza se é algo bom também.

— Está frio - é só o que ele diz.

Ela acena com a cabeça, realmente estava frio e ela estava sofrendo com isso.

Nenhum deles se movem, a atenção ainda um no outro.

Ela segura a parte superior de sua camisa e o puxa ao mesmo tempo que se inclina. Ela estava de salto e não foi difícil encontrar a boca dele. Há um momento de hesitação, nenhum dos dois tendo certeza se deviam prosseguir, mas isso não dura muito. Então ele a puxa mais para perto envolvendo sua cintura e ela o seu pescoço. Não havia famílias rivais, políticas e nem mesmo dilema moral. Havia apenas lábios macios e corpos quentes. Seus rostos se moviam de um lado para o outro, suave e sem pressa. Suas línguas hábeis se movendo em um ritmo perfeito, nem rápido nem lento, apenas na medida certa. Não jazia mas a bala em sua boca, havia apenas o frescor de menta, que por sinal deixou tudo melhor. Com uma mão ela acaricia seu cabelos e arranha seu coro cabeludo. Ele também arranha suas costas nuas por debaixo de seu próprio paletó, puxando-a mais para perto, e ele a sente derreter em seus braço. A necessidade de respirar leva a melhor, fazendo com que eles se afastem.

— Prometo não contar a ninguém se você também prometer - ela diz, ainda ofegante do beijo que compartilharam.

— Okay - ele não está melhor que ela na luta para respirar. Até onde ele sabia um beijo não roubava o fôlego desse jeito - eu prometo.

Eles ainda permaneceram colocados, rostos ainda bem próximos.

— Acho melhor eu ir.

— Quer que eu te deixe próximo a sua casa?

— Eu estaria abusando demais de você se aceitasse?

— Você nunca encontrará um táxi por aqui, eu sou sua melhor opção.

Ela rir.

— Tudo bem, estou aceitando isso. Mas só porque odeio a ideia de andar nesses saltos.

Eles finalmente perceberam que ainda estavam nos braços um do outro e se afastaram. Se eles tivessem uma boa iluminação, Aaron veria o rubor nas bochechas de Emily, e ela veria sua expressão tímida.

...

Quando Aaron chegou em casa a primeira coisa que ele procurou foi sua cama. Ele caiu de costas no colchão macio e se permitiu voltar ao que aconteceu momentos antes. Ele poderia dizer que foi um sonho, ou pesadelo. Mas ele tem certeza que o nível de cortisol não baixaria e que a oxitocina não aumentaria se fosse um pesadelo. O cheiro dela em seu paletó era outra indicação de que tudo realmente aconteceu. Num ato inconsciente ele leva a mão ao bolso e retira a embalagem que ele guardou, ali estava outro lembrete. Ele podia está em negação, mas isso não mudaria o que aconteceu. Ele e Emily Prentiss se beijaram.

Droga! Ele e Emily Prentiss se beijaram. E droga, Por que foi tão bom?

...

Quando acontece de novo era porque realmente era necessário.

Ela o encontra em um corredor deserto, ela o ver de longe, mas quanto mais ela se aproxima, mais percebe que algo não está certo. Ele estava curvado com a cabeça encostada na parede, seu alarme de perigo disparou mais ainda.

— Aaron? - ela o chama, isso faz com que ele levante a cabeça e olhe para ela - Aaron, oh meu Deus, o que está errado?

A expressão no rosto dele era de agonia, além dele está suando e tremendo. Ele tenta dizer algo, mas não consegue, a única coisa que ele consegue fazer é afrouxar a gravata em uma tentativa desesperada de alívio. É aí que ela percebe que ele não está conseguindo respirar.

— Oh meu Deus, você esta tendo um ataque de ansiedade? Sim, definitivamente é isso. Aaron, olhe para mim - diz segurando seus ombros, ela consegue seu olhar - Você tem que respirar, okay?

Ele queria dizer que se fosse fácil já teria conseguido e não estaria há quinze minutos de agonia.

— Aaron, ei, mantenha seus olhos em mim e tente respirar.

Ele estava balançando a cabeça negativamente, indicando que ele não estava conseguindo, ela sabia que só mandá-lo respirar não o faria realmente respirar. Então em uma atitude desesperada, ela o beija. Ele não faz nada inicialmente, sua mente apenas tentando entender o que estava acontecendo. Depois de registrar o que estava havendo, que ela estava beijando-o, ele responde de volta. Antes que ele possa pensar, seus braços já estão ao redor dela. Okay, ele está se perguntando porque seu psiquiatra não recomendou beijo como parte do seu tratamento. Porque isso realmente funcionou com ação imediata. Quando eles terminam o beijo, suas testas permanecem coladas, as mãos dela em seu rosto e as dele na cintura dela.

— A melhor forma de regular a respiração é não pensar em respirar - ela disse ofegante - Então quando eu te beijei...

— Eu não me concentrei em respirar.

— Isso. Além de todos os hormônios que foram secretados, acho que eles fizeram você se sentir melhor.

— Você não precisava fazer isso, iria passar de qualquer maneira, duraria cerca de trinta minutos.

— Você passaria trinta minutos nessa agonia? - ele pensou ter escutado dor e preocupação na sua voz - Droga, Aaron, não tem remédio para isso?

— Não especificamente, eu tomo alguns, mas eles não podem curar minha mente perturbada. Eu não tenho escolha a não ser esperar que eles passem.

— Você tem eles com frequência?

Ele desvia o olhar dela e não responde, isso em si já era uma resposta.

Aaron não precisava de outra pessoa achando que ele era fraco e que não conseguia lidar com suas emoções.

— Você tem um lenço aí? - ela pergunta, sabendo que ele não vai responder sua pergunta anterior. Ele tira um lenço do bolso interno do paletó e ela sorrir - É claro que você tem um lenço. 

Ela enxuga o suor da testa de Aaron. Ele a observa sem protestos. Também enxuga seu rosto e pescoço. Ela refaz sua gravata borboleta, ele se pergunta sobre o que isso deveria significar, isso é algo tão íntimo, nunca em um bilhão de anos ele imaginaria Emily fazendo sua gravata.

Quando terminar, ela alisa o paletó em seus ombros, depois alisando o tecido em seu peito.

— Sua camisa está úmida de suor, seria bom que você tomasse um ar fresco, e beber alguma coisa. Em seguida, faça um favor para si mesmo e vá para casa.

Ele sorriu com a última frase.

— Você não perde a oportunidade de se livrar de mim, não é? - ele brinca.

— Oh sim, isso foi meu plano diabólico desde do início - sua risada se mistura com a dele - Mas sério, Aaron, você deveria ir para casa.

— Cuidado, se não eu vou pensar que você se importa.

— Ei, baixa a bola aí, amigo. Eu só não quero que você morra por falta de oxigênio no cérebro.

— Não havia nenhuma ameaça de morte a minha vida, você sabe. Apesar da sensação de morte está ali, mas estava tudo na minha própria cabeça.

— Sinto muito.

— Não sinta, isso é mais comum do que parece, qualquer pessoas sob influência de um grande estresse pode sofrer isso. Estamos predestinados a cair eventualmente.

— Não pense assim, são os altos e baixos que nos mantém vivos.

— O que isso deveria significar para uma pessoa que não quer viver?

— Aaron...

— Desculpe, eu não deveria jogar essas merdas em você. Então obrigada pela sua ajuda, Emily. E não se preocupe, não vou contar nada do que aconteceu aqui.

Ele faz seu caminho para longe dela, indo em direção oposta da festa, provavelmente ele iria seguir o conselho dela e tomar um ar puro.

Havia tantas coisas que ela poderia fazer para ajudá-lo com sua crise, entre todas as outras coisas, ela acabou beijando-o, e caramba, ele respondeu. A primeira vez ela achou que tinha feito porque estava com raiva da sua mãe, e mesmo que Elizabeth Prentiss não soubesse da existência do beijo, era uma maneira de feri-la terrivelmente.

Se era um ato de vingança, ela não devia ter ficado relembrando aquele momento fugaz numa praça escura por noite a fio. Ela ficou com as marcas dos arranhões  dele em suas costas por alguns dias. Na solidão do seu quarto, ela não deveria sentir seu corpo pressionado contra o dele, tão real, ele não deveria invadir suas fantasias quando ela estava com as mãos entre suas pernas. Isso a fazia se sentir tão exposta, mesmo estando sozinha, apenas o som de sua respiração e gemidos abafados.

Ted tinha razão, ela sempre gostou de fazer escolhas de merda, ela não deixa de pensar que é exatamente isso que estava acontecendo.

...

— Aí está você - Christine disse ao ver seu filho depois de uma hora - Onde estava?

— Estava dando uma volta, precisava de um pouco ar.

— Você tem feito muito isso ultimamente - ela usa um tom pacífico, mas ele sente uma leve acusação na sua voz.

— Sempre é preciso se afastar quando se vem a essas festas.

— Hmm - Christine cantarola um resposta, não acreditando que seja só isso - Sua gravata está bem alinhada. Quem fez para você?

— Você não pode simplesmente acreditar que eu acertei apenas uma vez.

— Não. - Ela não se preocupa em ofendê-lo, porque sabe que não vai - Quando saímos de casa sua gravata já estava torta. Foi aquela garota que estava me falando naquela noite? É com ela que você sempre encontra quando some dessas festas?

Aaron coça a ponta do nariz e tenta não fazer contato visual com sua mãe. Nesses momentos ele tem certeza que ela pode ver sua alma.

— Não.

— Você sempre foi um péssimo mentiroso. - Ela alisa seus ombros como Emily fez anteriormente, só que o sentimento foi diferente - Espero conhecer essa garota um dia.

...

Quando ele abriu o celular quatro dia depois da festa, ele visualizou uma mensagem com horário e local de um café. Ele não tinha ideia do que levou Emily a fazer isso ou suas intenções. Mas ele apareceu no horário e no local dado. Ela estava sentada em um canto, afastados de todos e das janelas, se eles tinham que se encontrar, não precisavam ser fotografados juntos.

— Oi - ele disse ao ocupar a cadeira à frente dela.

— Oi.

Ele acena para a garçonete e logo ela está na mesa deles com um bloco de papel e uma caneta.

— Poderia trazer um café?

— Eu dispensaria o café. Traga um chá de alecrim para ele - ela falou para moça, Aaron não protestou.

Ele espera a garçonete se afastar para falar novamente.

— Alecrim? - ele pergunta com uma sobrancelha levantada.

— Você vai precisar. Como está sua mãe?

As sobrancelhas dele enruga, isso não era o tipo de pergunta que ele esperava dela. Emily nunca foi de rodeios e agora ele se pergunta porque ela estava sendo agora.

— Ela está bem, mas tenho certeza que não estamos aqui para falar da minha mãe. Então, o que você quer?

— Na verdade, viemos sim.

Isso revirou o estômago de Aaron. A sensação em seu corpo sendo aquela quando se encontra em extremo perigo, primeiro você paralisa, depois você corre.

Ela retira uma pasta da sua bolsa e desliza para Aaron. Ele encara como se aquela coisa marrom fosse morder a mão dele, ele não está ansioso para abrir. A expressão no rosto de Emily o deixava menos ansioso ainda.

— O que tem na pasta?

— Melhor você ver com seus próprios olhos.

Ele não estava preparado para ver o que estava naquela pasta. Foi uma sequência se socos em estômago. Naquela pasta dizia que Christine Hotchner tinha Carcinoma ductal invasivo, um tipo de câncer de mama. Negação levou a melhor sobre ele. Aaron teve muitos momentos com mãe nos últimos dias e ela parecia bem, ela contaria se não estivesse, não contaria?

— Isso não pode ser verdade, ela teria me dito.

— Eu tive a sensação de que você não sabia. A equipe da minha mãe vai vazar isso amanhã, não queria que você soubesse pelas manchetes. Eu tentei fazer com que isso não viesse a público, no entanto eu não consegui.

— Vocês não podem fazer isso, podemos processar vocês.

— Eu também poderia ter processado vocês, mas não fiz.

— Acho que preciso daquele chá agora.

Parecia que a garçonete estava esperando esse exato momento para aparecer com o chá. Ele dá um gole no líquido quente e tenta absorver a mais nova informação. O que isso significava para ela? Ela iria morrer? Se sua mãe morresse ele não poderia deixar Spencer sozinho com seu pai. Como ele poderia viver sem o sorriso e os conselhos dela? Era isso que fazia o mundo dele girar. Ela já não sofreu o suficiente?

— Está no estágio inicial, Aaron, a taxa de cura é alta.

— Ela pode fazer parte da porcentagem que não obtém cura.

— Você não pode pensar assim. - Ela pega sua mão na dele, ele não tenta afastá-la, então eles ficam assim - Eu sinto muito.

Ele passa suavemente o polegar nos dedos ela, é estranhamente íntimo, mas ele não se importa, ela também parece que não. Ele olha para suas mãos unidas e fica assim por um tempo. As mãos dela são tão macias, mãos de alguém que nunca teve que fazer um trabalho pesado, mãos de alguém que nasceu privilegiada, mas o pensamento de que ela era uma garota mesquinha já não ocupava mais sua mente. Emily Prentiss é uma mulher de coração grande. E ele com certeza não estava se apaixonando por ela.

— Obrigado, Emily. Seria um jeito horrível de descobrir lendo em um jornal.

Ela lhe mostra o rápido sorriso sem dentes, apenas  um esticar de lábios.

— Converse com sua mãe, não deve está sendo fácil para ela.

— Por que está fazendo isso? Digo, por que você se importa com jeito que descubro? Você, de todas as pessoas deveria ser a que menos se importa.

— Você meio que me deu abrigo quando eu precisei, é minha hora de retribuir.

— É, te dei abrigo depois porque eu te coloquei naquela situação. Não teve nada de altruísta naquilo.

Apesar de tudo, ela rir.

— Então eu acho que estou fazendo isso para mostrar que sou melhor que você.

— Você sabe que não é, você estava rindo da voz da Sra. Morris.

— Foi culpa sua - ela diz e os dois riem.

A cada novo dia, a cada momento que eles têm juntos, ficam mais confortáveis com a presença do outro. Os momentos de constrangimento e silêncio diminuíram significavamente. Mas uma coisa ainda permanecia imutável, eles não confiavam um no outro, a sensação de que tudo era um plano diabólico para destrui-los, a traição a qual eles foram rodeados durante toda a vida os impediam de baixar suas barreiras.

Baixar as barreiras era sinônimo de dor. Nenhum deles queria se machucar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A linha tênue entre o amor e o ódio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.