Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 4
Capítulo 4 ❄ Emma


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, espero que todos estejam bem!
Fiquem a vontade para comentar e tudo mais.
Boa leitura.



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O jantar de final de ano do Stepanova Ice Center estava perfeito, como sempre. A decoração estava linda, a comida ótima e a seleção de músicas foi incrível. Eu tive uma ótima noite acompanhada da minha irmã, Julie, Peter e alguns colegas patinadores.

Quando a família de Julie decide ir para casa, meus pais chegam à conclusão de que também está na nossa hora.

Nós passamos pelo salão, nos despedindo dos demais convidados, antes de chegarmos na minha treinadora e seu marido.

— O jantar estava incrível, Maggie – minha mãe elogia – Obrigada pela noite linda.

— Que bom que gostaram! Nós é que agradecemos a companhia de vocês.

— É sempre uma honra ter a família de vocês conosco, espero que tenham se divertido – Vladmir Stepanova acrescenta.

— Sim, foi excelente.

Minha família troca mais algumas palavras com os Stepanova antes de nos despedirmos de fato. 

Maggie me dá um abraço e sorri para mim, apoiando uma mão no meu ombro.

— Aproveite o domingo para descansar, hein? Te espero na segunda.

Eu assinto.

— Pode deixar, treinadora.

Ela chacoalha levemente meu ombro e me solta. Ao meu lado, minha mãe observa o salão com a testa franzida e pergunta:

— O Jake está por aí? Nós ainda não nos despedimos dele.

Controlo minha cara ao ouvir seu nome porque, apesar da nossa relação, Jake ainda é filho da Maggie e do Vladmir. Eu amo os dois e os respeito demais, não posso ficar demonstrando publicamente meu desafeto com seu único filho. As implicâncias e insultos só acontecem quando eu e Jake estamos a sós.

Minha treinadora olha em volta mas também não encontra o próprio filho.

— Não sei onde ele se enfiou – Maggie diz, ainda correndo os olhos pelo salão.

— Bom, diga que foi um prazer revê-lo! Ficamos felizes que ele esteja se saindo tão bem na faculdade e no hockey, não é Frederick? – minha mãe fala, citando o nome do meu pai, que balança a cabeça em concordância – Jake é um garoto tão bonito e talentoso, merece tudo de bom.

Argh. Minha família tem uma admiração enorme por Jake. Eles o conhecem desde criança e praticamente o viram crescer. Todos o adoram e nunca poupam elogios ao garoto de ouro, Jacob Davis Stepanova. Exceto eu, claro.

Minha treinadora sorri. Posso ver que seus olhos brilham de orgulho ao escutar alguém elogiando seu filho. 

— Pode deixar, vou dizer a ele. 

Nos despedimos mais uma vez e caminhamos em direção a saída do salão de festas do hotel. Pegamos nossos casacos e eu visto meu sobretudo enquanto espero o elevador chegar. 

Mal pisamos na recepção do hotel quando meu pai para, passando a mão por todos os bolsos do seu casaco.

— O que foi, Frederick? – minha mãe questiona.

— Meus óculos. Você pegou?

— Não. Não está com você?

— Não.

Meu pai confere os bolsos mais uma vez. Nada.

— Deve ter ficado lá em cima.

— Eu posso ir buscar – sugiro.

Um trovão soa no céu e um relâmpago ilumina momentaneamente a recepção do hotel.

— Pode ser. Obrigado, filha.

— Nós vamos te esperar ali, ok? - minha mãe avisa, apontando para os sofás atrás de mim.

— Ok. Já volto.

Entro no elevador e subo de volta para a cobertura do prédio. 

Não é difícil encontrar os óculos do meu pai, ele os deixou em cima da mesa onde estávamos sentados. Pego os óculos e sigo de volta para a área onde ficam os elevadores. Nenhum dos dois está mais no andar, por isso aperto o botão e espero.

Assim que o elevador chega, eu entro e aperto o botão do térreo. As portas estão começando a fechar quando uma mão as impede. 

Entre tantas opções possíveis, a pessoa que entra no elevador comigo tem que ser justamente Jake. Maravilha. Cruzo meus braços e dou um passo para trás, deixando espaço para ele ficar na frente. Escuto um trovão fazer barulho lá fora antes das portas se fecharem, dessa vez completamente.

Jake me ignora e puxa o celular do bolso da calça, baixando o brilho de tela e mexendo em qualquer coisa. Pelo movimento dos dedos, acho que ele está digitando algo.

Acho que nunca vi um elevador tão devagar na minha vida. Tenho certeza de que ele funcionou rápido quando eu estava descendo com a minha família; agora, parece que está na velocidade de uma lesma.

O visor do elevador recém alterou para “2”, indicando que estamos no segundo andar, quando todas as luzes se apagam e nós paramos de descer. Ótimo, o que mais pode dar errado?!

— O que é isso? – Jake pergunta à minha frente.

— Acabou a luz, gênio

Não é óbvio o que acabou de acontecer?

Jake aperta o botão do térreo repetidas vezes, como se isso fosse adiantar alguma coisa.

— Quer parar de apertar isso daí? – exclamo irritada – Você não vai fazer a luz voltar apertando o botão do térreo.

Ele me ignora e aperta mais algumas vezes.

— Não deveria ter um gerador funcionando aqui?

— Você não acha que se tivesse um gerador nós estaríamos em movimento ao invés de estarmos parados aqui com tudo apagado? Esse prédio é antigo, duvido que existissem geradores na época em que foi construído.

Jake para de apertar o botão e olha para a tela do celular, xingando baixinho.

Eu encosto as minhas costas na parede do elevador e solto um suspiro. Tiro meu celular do bolso do sobretudo e percebo que está sem sinal. Tanto faz, meus pais devem saber que acabou a energia. Guardo o celular e os óculos do meu pai no bolso e cruzo os braços, esperando.

Enquanto isso, na minha frente, Jake parece inquieto. Ele passa a mão repetidas vezes pelo cabelo, olha para todos os cantos do elevador e também fica mexendo no celular.

O comportamento apreensivo não combina nem um pouco com o jogador de hockey de mais de 1,80m que está na minha frente. Ele costuma andar por aí sempre tão confiante e seguro de si que estranho o seu jeito.

— Você tem medo de elevador? – decido perguntar.

— Não – ele responde na mesma hora.

Eu respiro fundo. Tenho quase certeza de que ele está mentindo, por isso garanto:

— Está tudo bem se você tiver, Stepanova. Eu não vou te zoar por isso. Não sou baixa a esse ponto.

Jake não diz nada. Ótimo.

Mesmo sem luz, eu consigo perceber seu pomo de Adão se movendo, conforme ele engole seco. Seu tórax também me diz que sua respiração está curta e acelerada.

— A energia já deve voltar, relaxa – eu falo, incomodada com todos os sinais de nervosismo que exalam de Jake. Ele está começando a me deixar nervosa também.

— Eu… – ele começa a dizer e para – Não é que eu tenha medo de elevador, é só que…

— Está tudo bem, não precisa me contar.

— Não é que…

Jake para de falar mais uma vez e leva a mão ao pescoço, tentando puxar a gravata. Seus dedos conseguem afrouxar o nó, mas se atrapalham com os botões da camisa.

Não penso muito no que estou fazendo, apenas me aproximo e afasto sua mão. O cheiro do seu perfume invade meu nariz conforme eu abro os primeiros botões da sua camisa branca, soltando o colarinho do seu pescoço.

— Melhor? – pergunto.

— Sim – ele responde em voz baixa, seu hálito fazendo cócegas na minha pele – Obrigado.

Me afasto rapidamente quando levanto os olhos e percebo que estava com o rosto a centímetros do dele. Eu nunca fiquei tão próxima assim dele, até porque sem o salto alto, eu só tenho 1,63m. A proximidade entre nós me assusta.

— Respire fundo – eu sugiro, tentando me controlar também – Isso costuma ajudar.

Jake assente e inspira, soltando o ar devagar. 

— Olha, eu sei que eu não sou a companhia ideal nesse momento, mas você precisa se acalmar – tento dizer, observando Jake respirar profundamente – A energia deve voltar a qualquer momento.

Ele olha para mim, sem dizer uma palavra, e se aproxima, parando ao meu lado. Estou pronta para ir para o lado quando ele escorrega para baixo, sentando no chão.

— Tudo bem? – pergunto, preocupada.

— Sim – ele responde, com a voz mais firme agora – Já estou me sentindo melhor, só prefiro esperar sentado.

Eu solto um suspiro de alívio. Tudo o que eu não precisava era que ele desmaiasse aqui, enquanto estamos presos no elevador e sem nenhum sinal no celular. 

Jake passa a mão pelo cabelo e tira a gravata frouxa do pescoço, segurando ela nas mãos.

— Eu nunca fiquei preso no elevador antes – ele confessa.

Eu não sei o que dizer, mas não preciso porque ele continua:

— Eu sempre andei no elevador sem problemas, sabe? Mas agora, sem luz e com ele parado… sei lá, parece que as paredes começaram a fechar sobre mim. Me senti com cinco anos de novo, sem ar e sufocado. 

Seu tom de voz me faz sentir pena dele. Independente de ele ser Jake Stepanova ou não, se sentir apreensivo, com medo, sufocado ou qualquer coisa nesse sentido é horrível. Eu sei que preciso fazer ele se sentir bem e tranquilo novamente. Porém, suas palavras despertam minha curiosidade.

— Cinco anos? – pergunto, acrescentando rapidamente – Não precisa responder, se não quiser.

— Não, tudo bem. Eu estava brincando de esconde-esconde um dia e acabei ficando preso num baú. Foi uma besteira de criança, mas eu meio que tive um ataque de pânico.

Eu estico minha mão e aperto seu ombro gentilmente. O mínimo que eu posso fazer nesse momento é ser compreensiva e prestar meu apoio; eu faria isso com qualquer pessoa.

Seguro a barra do meu vestido e sento no chão ao seu lado, esticando as pernas para frente e cruzando os tornozelos. 

— Me conte alguma coisa – eu peço.

— O quê? – Jake exclama, confuso.

— Me conte alguma coisa – repito – Isso vai ajudar você a distrair seu pequeno cérebro.

Jake dá um sorriso fraco.

— O que você quer que eu conte?

— Sei lá, qual sua comida preferida, em que posição você joga, como é o seu curso na…

— Em que posição eu jogo? – ele me interrompe.

— É. Você não joga hockey pela universidade?

— Sim, mas… eu jogo na mesma posição desde sempre. Você não sabe qual é?

Dou de ombros. Por que eu deveria saber? Minha irmã assiste ele jogando, não eu.

— Eu sou defensor – ele responde, parecendo um tanto quanto decepcionado, talvez, com a minha falta de interesse em sua vidinha perfeita.

— Ah, legal.

Jake deve ter reparado que meu “legal” soou meio desinteressado, porque ele se detém no assunto hockey. 

— Você torce para algum time? 

Eu suspiro. Que péssima hora para discutir hockey com alguém que joga desde criança. Diferente da minha família, eu não assisto nenhum jogo, a não ser durante as Olimpíadas. Meu esporte preferido sempre foi e sempre vai ser a patinação artística. Enquanto meu pai e meus irmãos podem passar horas assistindo jogos de hockey, eu posso passar horas assistindo competições de patinação.

— Minha família torce para os Oilers — eu respondo.

— Tá, mas e você? 

Minha vontade é de dizer que não é da sua conta, mas o hockey parece ter distraído ele. Eu não me importo com sua opinião, então melhor que ele se ocupe me julgando por não gostar do esporte mais importante do país do que surtando por causa do elevador.

— Eu não torço para nenhum time, e você?

— Para os Canucks.

— Ah. Eles são bons, não são?

— São ótimos.

O silêncio paira entre nós e, antes que eu possa pensar no que perguntar, Jake volta a falar:

— Eu te vi treinando esses dias.

Eu viro o rosto, o encarando. Não lembro de ter visto Jake no Centro nesses últimos dias, pelo menos não no período em que eu treino.

— Você anda me stalkeando agora?

— Vá sonhando, Wright – ele diz, me fazendo revirar os olhos – Enfim, eu estava no escritório, mas dá para ver o rinque lá de cima. Sendo sincero, acho que esse ano você tem chances enormes de conseguir o ouro nas Nacionais esse ano.

Eu fico em silêncio. O que diabos eu devo responder? Nunca na minha vida eu recebi um elogio dele sobre o meu trabalho. Na verdade, eu nunca recebi um elogio dele sobre nada.

Agora, entretanto, eu estou sentada ao seu lado num elevador parado e escuro, tentando conversar decentemente com ele para distraí-lo e do nada recebo um comentário positivo. Me questiono se a Terra saiu de órbita e me levou para um universo paralelo, onde tudo é bizarro.

— Hm, obrigada.

— É sério. Acho que você…

O que quer que Jake iria dizer é interrompido por um leve solavanco. As luzes do elevador voltam a acender e o painel brilha. Nós voltamos a descer.

— Graças a Deus – Jake murmura aliviado.

Eu me levanto do chão, ajeitando meu sobretudo sobre o vestido. Estendo minha mão na direção de Jake, num último gesto de educação da noite.

Sua mão fria contrasta com a minha pele quente, causando um arrepio que percorre do meu braço até minha espinha. Assim que ele a solta, eu enfio a mão no bolso do casaco.

As portas do elevador abrem no térreo e Jake sai apressado, querendo fugir dali, provavelmente.

— Boa noite, Wright – é a última coisa que ele me diz.

— Boa noite, Stepanova.


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