Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 31
Epílogo




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5 anos depois:

EMMA:

Eu estou na metade do meu treino quando me sinto tonta ao realizar uma sequência de giros a qual estou acostumada. Interrompo o que estou fazendo e fico parada no meio do rinque, observando o gelo enquanto tento me recuperar da estranha sensação.

— Tudo bem, Emma? – ouço meu treinador, Scott, perguntar – Você está pálida.

— Tudo. Eu fiquei um pouco tonta enquanto girava, mas já estou bem.

Ele está treinando outra atleta, mas a deixa por alguns instantes e patina até mim, parecendo preocupado. Scott para ao meu lado e me analisa com cautela.

— Tem certeza? – ele pergunta, com as sobrancelhas franzidas.

Eu assinto; já estou melhor.

— Se você não estiver se sentindo bem, vá para casa, ok?

— Pode deixar. Obrigada, Scott.

Scott Hughes é um homem de trinta e poucos anos, quase quarenta. Apesar de ser novo, é uma referência quando se trata da patinação artística; tenho sorte de contar com ele como meu treinador. É claro que sinto falta de trabalhar com Maggie, mas ela me deixou em boas mãos. 

Por sorte (ou destino, talvez), o treinador Hughes trabalha em Toronto. Faz dois anos que eu mudei para cá, colocando um ponto final no meu relacionamento a distância com Jacob Davis Stepanova. O ponto final, entretanto, não é no sentido negativo. Jake veio para Toronto há uns três anos, para ser defensor no Toronto Maple Leafs

Depois de alguns anos vivendo em cidades diferentes, nós estamos novamente juntos na mesma cidade. Só que agora é bem melhor. Agora nós dividimos a mesma casa, a mesma cama e usamos uma aliança na mão esquerda.

Eu respiro fundo e volto a patinar pelo rinque, torcendo para não me sentir tonta de novo.

Os dias seguintes, porém, não são melhores. Não é como se eu passasse mal o dia todo, mas os enjoos matinais ou ao sentir determinados cheiros me incomodam. Hoje mesmo o cheiro do salmão que Jake fez para o jantar me deixou tão enjoada que eu tenho arrepios só de lembrar. Eu não costumo mentir, mas tive que fingir que havia comido demais depois do treino para não deixá-lo chateado pensando que eu não gostei da sua comida.

Quando o fim de semana chega, eu já tenho uma suspeita do que pode estar me causando todos esses sintomas. Eu sabia que isso poderia acontecer, já que eu e Jake decidimos começar a tentar, mas não esperava que fosse acontecer agora. Quer dizer, minha médica me informou que poderia levar meses; a minha cunhada mesmo demorou dois anos para engravidar.

Se eu estiver certa, não quero descobrir uma das coisas mais importantes da minha vida fazendo xixi num teste comprado na farmácia. Por isso, marco uma consulta com minha ginecologista e um exame de sangue.

 

— Emma, o que há com você hoje? – Scott me pergunta.

Eu provavelmente estou me saindo horrível no treino de hoje, sei disso. Minha cabeça está em outro lugar, pensando no resultado que verei mais tarde. Minha vida toda pode mudar depois que o resultado do exame de sangue sair.

— Desculpa, Scott. Sei que não estou muito concentrada hoje, é só que... eu fiz um exame mais cedo e estou bastante ansiosa – admito em voz baixa.

— Exame?

— É. Aquele exame – digo, esperando que ele entenda.

Scott é meu treinador. Ele sabe tudo a respeito da minha saúde e obviamente também sabe que, para mim, engravidar é uma possibilidade desde que voltei do Campeonato Mundial de Patinação Artística. Se eu estiver mesmo grávida, isso também diz respeito ao seu trabalho. Até onde eu sei, gestantes não saem por aí fazendo AxelsLutzes ou Salchows.

— Emma, que incrível! – ele exclama quando compreende o que eu quis dizer.

— Treinador! – eu repreendo nervosa. Não quero que metade do rinque escute sobre a minha vida pessoal.

— Desculpe – ele murmura, abrindo um sorriso logo em seguida – Jacob já sabe?

— Não – respondo; eu me sinto mal por esconder isso dele, mas não quero dar a notícia de qualquer jeito – Ainda estou pensando em como vou contar se o exame der positivo.

— Minha mulher me fez uma surpresa quando engravidou – Scott me conta – Mas a surpresa mesmo veio no dia do ultrassom, quando dois bebês apareceram na tela.

Meu Deus, eu não havia pensado nessa possibilidade. E se eu estiver grávida de gêmeos?! As filhas de Scott, Cassie e Alyssa, são fofas demais, porém eu não sei se estou preparada para lidar com duas crianças ao mesmo tempo. 

— Não comece a me assustar, treinador. Já estou nervosa o suficiente.

Scott ri.

— Fique tranquila, vai dar tudo certo. Vamos encerrar o treino por hoje, ok? Vá logo buscar o resultado desse exame – ele sussurra para mim, chacoalhando meu ombro.

— É sério? Eu posso ir?

Ele assente com uma cara de quem diz “é óbvio”.

— Obrigada, Scott!

Me despeço dele e patino apressada para fora do rinque.

Consigo ouvir o sangue pulsando nos meus ouvidos quando, mais tarde, pego o envelope do laboratório e entro no carro. Meus dedos passam pelo lacre do envelope e eu respiro fundo, nervosa. É agora.

Com o coração a mil, puxo o papel lá de dentro e abro.

Código: 0042317

Data e hora da coleta: 10/06/2027, 06:14h

Paciente: Emma Wright Stepanova

Médico(a): Elizabeth Jones Carter

 

Beta hCG – Dosagem de Gonadotrofina Coriônica humana:

Resultado: 113.700 mIU/ml ------------ POSITIVO

Passo os olhos pelos valores de referência, mas nem preciso interpretar nada. O resultado é claro e escrito em letras garrafais: Positivo. Eu estou grávida!

Solto um grito abafado, batendo no volante do carro, e começo a rir. Eu sei que eu rio quando estou nervosa, mas aparentemente eu também rio diante de grandes novidades agora. Qualquer um que passar pelo meu carro pensará que eu estou louca, mas eu não ligo. A única coisa que me importa agora é o fato de que eu vou ser mãe.

 

JAKE:

Eu geralmente vou para casa depois do treino, mas hoje precisei passar no mercado. Emma me mandou uma mensagem mais cedo pedindo para que eu fosse comprar algumas coisas que acabaram em casa.

Chego em casa uns quarenta minutos mais tarde do que o normal. Pelo carro estacionado na garagem, sei que Emma já está em casa.

Quando entro, todas as luzes do andar debaixo estão apagadas, por isso decido chamá-la, para confirmar se ela está em casa mesmo ou se saiu a pé.

— Emma? 

— Oi? – escuto ela gritar de volta. Pela voz, imagino que ela provavelmente esteja no quarto.

Guardo as coisas que trouxe do mercado e subo as escadas. Assim que vejo a luz do nosso quarto acesa, começo a contar a Emma sobre o meu dia.

— O treino de hoje foi ótimo. Te contei que o Patterson voltou a treinar no gelo? Ah, sei que você pediu, mas não achei nenhum espinafre bonito no mercado, por isso achei melhor não trazer. E o tomate, eu não... – paro de falar (e andar) quando passo pela porta e vejo que Emma está parada de pé ao lado da cama. Não acho que isso possa significar alguma coisa boa.

Meus olhos desviam lentamente dela para uma caixa de presente em cima da cama.

— O que é isso? – digo apontando para a caixa com o queixo.

— Seu presente – Emma diz com um sorriso.

Um sorriso deve ser um bom sinal, certo?

— Presente? – decido perguntar com cuidado – Meu aniversário é só na semana que vem.

— Eu sei, mas não ia aguentar esperar outra semana.

Olho para ela com desconfiança. Seus olhos verdes sustentam o meu olhar e brilham em expectativa. Descarto a possibilidade de ser alguma pegadinha quando reparo em suas mãos inquietas: Emma está nervosa. Ela não fica nervosa quando vai zoar com a minha cara.

Me aproximo da caixa de presente e coloco as mãos na tampa, prestes a abrir.

— Ah, só uma coisa – Emma me interrompe – Antes que você abra, eu preciso te avisar que o presente de verdade ainda vai demorar um pouco para chegar. 

— Você me entrega um presente adiantado para avisar que, na verdade, o presente está atrasado? – pergunto, confuso.

— Exatamente.

— Por acaso você comprou alguma coisa online?

— Não – ela responde com um sorriso.

— Eu juro que às vezes eu não te entendo – murmuro, mais para mim mesmo do que para ela.

— Abre logo.

— Foi você quem mandou eu esperar para abrir – retruco, puxando a tampa da caixa logo em seguida.

Minha primeira reação é ficar completamente confuso. Não sei por quantos segundos, minutos ou horas eu fico encarando uma versão miniatura da minha camisa de jogo até puxá-la de dentro da caixa para observar melhor. Logo acima do meu número, onde deveria estar escrito “Stepanova”, encontram-se os dizeres “Papai”.

Atônito, eu desvio o olhar da mini camiseta do Toronto Maple Leafs para Emma, que me encara com um sorriso enorme no rosto e coloca a mão sobre a barriga, levantando as sobrancelhas sugestivamente.

Parece que a minha capacidade de falar foi perdida, porque tudo o que consigo dizer é algo genial como:

— Eu... você...? É verdade?

Emma assente.

— Parabéns, papai.

Minha visão começa a ficar turva e eu tenho certeza de que são lágrimas se formando nos meus olhos. Eu juro que não lembro de ser tão chorão antes de Emma. Deixo a versão miniatura do meu uniforme na cama e me aproximo de Emma, dando um abraço apertado nela e girando com ela em meus braços.

Quando ela ri, o som da sua risada me traz de volta à realidade. Eu a coloco novamente no chão, mas sem tirar os braços de sua cintura.

— Meu Deus, você pode girar? Quer dizer, eu podia ter te girado? – pergunto, preocupado. Eu não faço ideia de quais coisas podem ser prejudiciais para uma mulher grávida. Na verdade, eu não faço a menor ideia de nada. Preciso urgentemente pesquisar tudo sobre gravidez, bebês e paternidade.

— Pode me girar – Emma garante – Não tem problema, o bebê não vai cair da minha barriga por causa disso.

Solto um suspiro de alívio e a trago para mais perto, apoiando meu queixo em sua cabeça enquanto ela me abraça de volta. Eu não sabia que era possível amar ainda mais essa mulher, mas... puta merda. Emma Wright – minha melhor amiga, minha esposa e agora mãe do meu filho – sempre me prova que é possível sim amá-la ainda mais.

— Meu Deus, Emmys – eu exclamo – Nós... Quer dizer, uau!

— Eu sei. Uau – ela repete, rindo contra o meu peito.

Eu me afasto o suficiente para enxergar seu rosto e beijá-la. Não sei nem como expressar toda a felicidade e amor que estou sentindo agora, mas beijar a mulher responsável por tudo isso me parece um bom caminho.

— Termine de olhar seu presente – Emma diz quando se afasta dos meus lábios – Eu comprei uma coisa muito fofa! Vamos ter que esperar um bom tempo até servir, mas estou ansiosa para ver o bebê usando.

Eu solto minha esposa e volto para a caixa de presentes que deixei em cima da cama. De dentro da caixa, tiro um patins minúsculo. Não é um sapato que imita patins, é um patins de verdade.

— Alguma chance dessa criança escapar da patinação? – pergunto com um sorriso, enfiando um dedo em cada bota e balançando os patins como se estivessem deslizando sobre o gelo.

— Quase nenhuma.

Mal vejo a hora de poder ensinar meu filho ou filha patinar. Segurar seus bracinhos gorduchos e agasalhados e ajudá-lo a deslizar pelo gelo, do mesmo modo que meus pais fizeram comigo. Me pergunto se essa criança vai gostar mais do hockey ou da patinação artística.

A última coisa na caixa é um envelope de laboratório. Tiro o papel de dentro e leio o que está escrito. A única palavra que faz sentido para mim é o “positivo”.

— Não entendi quase nada – comento.

— Foi o que eu imaginei – Emma diz, sorrindo – Mas achei que você quisesse ver, mesmo assim. Se você olhar a dosagem do hormônio e o valor de referência, dá mais ou menos oito semanas, que era a minha idade gestacional no dia do exame. Hoje eu estou com dez semanas. Entendeu?

— Ah, agora entendi tudo. Obrigado, meu amor, pela explicação em semanas.

Emma ri, parecendo se divertir com a minha falta de entendimento.

— É horrível, não é? Ouvir grávidas falando o tempo de gestação em semanas. Eu nunca soube dizer se vinte semanas eram três ou oito meses, por exemplo. Agora o meu momento de confundir os seres humanos normais que contam o tempo em meses finalmente chegou.

Eu a encaro. Será que ela não percebeu que ainda não me explicou absolutamente nada? Devolvo o papel para o envelope e pergunto:

— Você não vai mesmo me dizer o que são dez semanas? Eu não faço a menor ideia, Emmys.

— Ah é, desculpa! São mais ou menos três meses.

— Três? – eu me surpreendo – Já?!

— É.

— Então faltam o quê, seis meses? Nasce em...

Tento fazer a conta e Emma me ajuda, dizendo:

— Janeiro. A data provável do parto é 21 de janeiro.

— Já tem até data?!

— É. A médica faz um cálculo, com base nas semanas e na minha última menstruação, algo assim... Ei, falando em médico, eu preciso fazer um ultrassom daqui duas semanas. Você quer ir comigo? Eu não queria ir sozinha e...

— É lógico que eu vou com você – interrompo, sentando na cama e guardando tudo de volta na caixa de presente – Que tipo de pai eu seria se não fosse? Eu vou a todos os exames e consultas que você precisar fazer, Emmys.

Posso ver o alívio em seus olhos quando eu falo isso. Ela sorri, agradecida, e senta ao meu lado na cama. Eu passo o braço pelos seus ombros e coloco a outra mão em sua barriga, ainda inexistente.

— Você já sabe o que é? – pergunto, me referindo ao sexo.

— Um feto humano.

Eu tiro a mão da sua barriga a empurro de leve com a lateral do meu corpo.

— Você entendeu, bobona.

Ela ri.

— Eu ainda não sei. A gestação é muito recente e eu estava esperando você para fazer os exames.

Eu balanço a cabeça. Para mim, não faz muita diferença se nascer menina ou menino, vou amar e criar da mesma forma. Lembro que um dia minha mãe me disse que eu tinha cara de “pai de menina”; acho que ela vai gostar de saber que sua dúvida logo será esclarecida.

— Meus pais vão pirar com a notícia – eu comento, pensando em como eles vão reagir à gravidez.

— Vão mesmo.

Meus pais sempre quiseram ter mais filhos, mas por alguma condição de saúde da minha mãe, eu fui a única gestação que evoluiu. Imagino que os dois vão ficar radiantes quando descobrirem que vão ganhar um neto ou neta.

— Precisamos pensar em como contar para as nossas famílias – Emma fala.

Eu assinto, tentando pensar numa boa forma de dar uma notícia dessas.

— Podemos contar nas férias, quando formos para Edmonton – sugiro – Você ainda pode viajar?

— Acho que sim. E é uma boa ideia, na verdade. Eu já vou ter saído do primeiro trimestre e prefiro mesmo contar pessoalmente.

— Então contaremos pessoalmente, no mês que vem – concluo.

Não sei se já me senti tão feliz assim antes. Talvez no dia do meu casamento, mas... isso daqui é completamente diferente e novo para mim.

Penso com quem o bebê vai parecer – quando crescer, eu digo, porque todos nascem com a mesma cara redonda e amassada. Uma mistura minha e de Emma seria legal, mas eu não me importaria se nascesse a cara da mãe.

Outro pensamento preocupante surge na minha cabeça: e se o bebê nascer com a minha personalidade? Não sei se estou pronto para lidar com uma criança cheia de confiança e teimosa.

É, talvez não seja uma boa ideia começar a surtar com isso agora; ainda temos longos 6 meses pela frente.


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Notas finais do capítulo

Preciso compartilhar essa coisinha mais fofa: https://i.pinimg.com/originals/09/1c/03/091c0351ae99d51816b76234234add79.jpg



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