Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 2
Capítulo 2 ❄ Emma




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Faltam poucas semanas para a melhor época do ano, se quer saber minha opinião. Eu amo a atmosfera do Natal; tudo parece mais alegre, mais mágico.

Na minha família, nós temos o costume de reservar um final de semana para decorarmos a casa, enfeitarmos a árvore de Natal e ficarmos juntos. É quase uma tradição na casa dos Wright. A minha parte favorita, definitivamente, é assar biscoitos de gengibre com a minha mãe. Quando eu era menor, eu e minha irmã competíamos para ver quem fazia o biscoito mais bonito. Eu ainda acho que eu era a melhor, embora Lily discorde.

A proximidade do Natal também significa que o evento mais importante do Stepanova Ice Center está chegando: o Especial de Natal. 

Geralmente, na sexta-feira e no sábado que antecedem o dia 25 de dezembro, o Centro deixa o rinque aberto ao público. As pessoas podem ir patinar, comprar doces, salgados e bebidas e ainda adquirir ingressos para as apresentações que acontecem a noite.

Todo o dinheiro arrecadado nas vendas e também em doações é entregue à alguma instituição de caridade que esteja precisando. O Especial sempre mobiliza bastante pessoas, o que é ótimo.

Eu fico feliz por conseguir participar todos os anos, ajudando a causa e também me apresentando no espetáculo que acontece a noite.

Neste ano, eu farei uma apresentação ao som de A Dream Is a Wish Your Heart Makes, de Cinderela. No Especial, nós não somos julgados por juízes, não precisamos realizar todos os elementos obrigatórios ou ficarmos preocupados que um mísero erro num programa de menos de cinco minutos impacte tudo o que fizemos durante o ano. No Especial, nós patinadores podemos nos divertir. Isso não quer dizer que eu faça de qualquer jeito, entretanto. Sempre procuro dar o meu máximo em tudo o que faço; o público merece assistir o meu melhor.

✦✦✦

Quando chego ao Stepanova Ice Center esta manhã, vejo que tudo já foi decorado para o Natal. Um pinheiro enorme está na recepção do Centro, diversos enfeites, pisca-piscas, visco e azevinho também enfeitam todo o local. Nem a porta do vestiário foi poupada; um Papai Noel andando de patins está pendurado nela.

Imagino como deve ser a casa dos Stepanova nesta época do ano. O espírito natalino deles é contagiante.

Sorrindo por causa do Papai Noel de patins, abro a porta do vestiário e caminho até o meu armário. Julie já está sentada no banco, mexendo no celular.

— Você também ganhou um desses? – Julie pergunta assim que me vê, mostrando uma touca de Natal em sua mão e colocando o celular ao seu lado no banco.

— Bom dia para você também – respondo – E sim, John me entregou uma quando entrei.

Mostro a ela o gorro natalino que está na minha mão esquerda.

— O que exatamente eu faço com isso? – Julie questiona, segurando a touca na mão e me encarando enquanto eu digito o código do meu armário.

— Sei lá, Jules. 

Ela solta um suspiro e levanta, guardando o gorro no próprio armário e fechando a porta. Eu também guardo as minhas coisas e fecho meu armário.

— Vamos? – pergunto.

Julie assente com a cabeça e nós seguimos juntas para a sala de aquecimento.

— Será que eu posso obrigar Peter a patinar com a touca de Natal até o final do ano? Ficaria ridículo – minha amiga fala enquanto caminhamos.

Eu rio.

— Não dê ideia, Jules. Você sabe que se desafiá-lo, ele vai usar isto até janeiro.

— Ah, verdade – ela concorda, dando um suspiro derrotado – Quem passaria vergonha seria eu

Falando em Peter, o encontramos na entrada da sala de aquecimento conversando com outro patinador, Theo Oshiro. Eu rio quando percebo que Peter está com a touca que ganhamos enfiada na cabeça, escondendo os cabelos escuros sob ela.

— Ah, não – Julie resmunga do meu lado.

Peter nos vê e seus olhos brilham quando ele percebe a expressão de Julie. Tenho certeza de que ele fez isso só para irritá-la.

— Bom dia – Peter cantarola para nós.

— Bom dia – cumprimento os garotos, me virando para encarar Julie.

— Bom dia, Theo – minha amiga fala, virando para Peter logo em seguida – Sério, Gilles? Eu não vou ficar ao seu lado se você estiver usando isto. Está parecendo o pirralho do meu irmão e olha que ele só tem 12 anos.

Ela levanta a mão e puxa o gorro da cabeça de seu parceiro. Com um sorriso de triunfo, Julie dá um tapinha no ombro dele e entra na sala.

Eu sorrio. Os dois podem tirar sarro um da cara do outro e se irritarem o quanto quiserem, porém nunca se desgrudam. No gelo então, são tão perfeitos e exalam tanta química que é difícil acreditar que eles não estão perdidamente apaixonados (e pode acreditar, eles realmente não estão – o que é uma pena, na minha opinião).

Na sala, eu estico meu colchonete perto de Julie e coloco meus fones de ouvido, dando play na minha música. Peter logo chega e começa a se alongar ao lado da parceira. Pelos movimentos labiais e expressões faciais, sei que os dois estão discutindo qualquer besteira, como fazem todos os dias.

De volta no vestiário, calço meus patins e sigo direto para o rinque. Maggie, minha treinadora, me avisa que hoje a tarde um dos meus coreógrafos estará aqui, para me auxiliar na minha apresentação de Natal.

Na patinação artística, quando falamos do público em geral – e não dos juízes – tudo se trata de atuar bem em cima das lâminas e ter movimentos graciosos; as pessoas querem ver a arte e não o esporte com todos seus detalhes técnicos, como por exemplo sobre qual lâmina nós estamos saltando. É justamente por isso que precisamos de coreógrafos; eles nos ajudam, além de tudo, a deixar os programas mais bonitos e harmônicos.

— O treino de hoje foi muito bom, Emma. Parabéns – Maggie elogia ao final da tarde, quando encerramos o treino do dia.

— Obrigada, treinadora – respondo, colocando os protetores nas lâminas antes de deixar o gelo.

— Ah, Emma – ela me chama – Eu preciso entregar os seus convites do Especial e do jantar. Passe no escritório antes de ir embora, ok? Eu sei que você vai malhar agora.

— Ok, pode deixar!

Além do Especial de Natal, o Stepanova Ice Center faz todos os anos um jantar de final de ano para os atletas, suas famílias e também para os patrocinadores. É como um jantar desses que acontece na maioria das empresas; uma formalidade para nos divertimos e interagirmos fora do ambiente de trabalho.

Minha treinadora me dá um sorriso afetuoso e aperta gentilmente meu ombro antes de partir. Eu sigo um caminho diferente, indo direto para o vestiário tirar meus patins e esperar Julie para irmos à cafeteria e depois à academia. 

Assim que termino de malhar, volto ao vestiário para pegar minha mochila e a chave do carro. Visto meu casaco mais grosso por cima das vestes e me observo rapidamente no espelho antes de sair. Eu estou péssima. Minha cara está vermelha, meu cabelo bagunçado e a franja suada está grudando na minha testa. Desvio o olhar do espelho; que se dane, eu já estou indo para casa mesmo.

Já estou quase chegando na saída quando lembro que preciso pegar meus ingressos com Maggie no escritório. Dou meia volta e caminho para lá, subindo apressada as escadas que levam até ele.

Dou três batidas na porta e escuto uma voz masculina dizer “Pode entrar”. Eu jurava que encontraria o Sr. Stepanova lá dentro; ao invés disso, abro a porta e vejo seu filho sentado atrás da mesa, olhando concentrado para a tela do computador.

— Ah caralho – resmungo baixinho.

Minha vontade é de fechar a porta e ir embora, já que ele ainda não me viu. A última pessoa do mundo que eu gostaria que me visse nesse estado pós-treino é ele. 

Jake Stepanova parece ter saído de algum filme adolescente. Se quiser uma dica de como ele é, pense no clássico estereótipo de atleta universitário. Ele é popular, uma estrela no time de hockey da faculdade, bom aluno, queridinho por todos e provavelmente o desejo da maioria das garotas que cruzam seu caminho. 

Prefiro quebrar os dois braços do que ter que admitir isso para alguém, mas ele é realmente bonito. Jake é alto, tem o cabelo loiro na altura perfeita, olhos castanhos emoldurados por longos cílios, um nariz reto de dar inveja, lábios que estão constantemente exibindo um sorrisinho irritante e um corpo atlético que foi moldado ao longo de todos esses anos (com uma forcinha extra da genética incrível que ele herdou de seus pais).

Resumindo: uma beleza desperdiçada em alguém tão petulante.

Jake é o único filho da minha treinadora e seu marido. Diferente dos pais, campeões olímpicos na patinação artística, Jake decidiu se dedicar ao hockey. Apesar de não ter participado do draft, por querer concluir a graduação ao invés de ir jogar direto na liga, ele é muito bom e talentoso no esporte – pelo menos é o que dizem.

Eu não me lembro muito de Jake até começar a treinar com sua mãe, quando tinha nove anos. Nossa relação nunca foi muito agradável; ele tem o poder de me irritar de um jeito que ninguém mais consegue. Para nossa sorte, nós dois temos agendas lotadas e completamente diferentes, então mal nos encontramos durante todos esses anos.

Em câmera lenta, Jake ergue os olhos do computador e percebe que sou eu quem está entrando no escritório.

— Precisa de alguma coisa, Wright? – ele pergunta; seus olhos percorrem de maneira presunçosa o meu rosto, que obviamente está horrível – Além de um banho, eu diria.

— Haha, que engraçado! – digo sem a menor emoção, fechando a porta atrás de mim – Você não deveria estar na faculdade ou em qualquer outro lugar, não? Enchendo o saco de outra pessoa.

— Não acho que a minha vida seja da sua conta, Wright. E então, precisa do quê?

Auch. Eu respiro fundo, tentando controlar minha irritação. Menos de cinco segundos com ele foram o suficiente para estragar o meu dia.

— Estou atrás da sua mãe, ela me disse para passar aqui antes de ir embora. Preciso dos meus convites para o Especial e para o jantar de fim de ano. 

Jake não diz nada, apenas abre uma gaveta da escrivaninha e mexe nas coisas, tirando um bloquinho de convites e uma folha.

— Quantos para o Especial?

Faço os cálculos mentalmente. Preciso de convites para mim, meus pais, meus irmãos e para dois dos meus avós.

— Sete – falo.

Ele conta os convites e me entrega, empurrando a folha e uma caneta em minha direção.

— Assine aí.

Pego a caneta e ajeito o papel, assinando meu nome no local indicado, confirmando que retirei os convites que preciso para o Especial.

— E para o jantar? – ele pergunta.

— Quatro.

— Não são cinco?

— Não – respondo secamente.

Jake franze a testa e separa os quatro convites, me estendendo eles e uma outra folha para eu assinar. Por via das dúvidas faço uma conta rápida, mas tenho certeza de que estou certa. Este ano eu só preciso de quatro convites, pois meu irmão só virá para casa nos dias que antecedem o Natal. Ele faz faculdade em outra província e sua vida universitária está muito corrida agora.

— Obrigada – agradeço educadamente, apesar de tudo, devolvendo a folha e a caneta e guardando meus convites na mochila.

Jake se ajeita na cadeira, cruzando os braços na frente do peito e me observando com atenção. Dou as costas para ele e abro a porta, pronta para sair. 

Antes que a porta se feche, entretanto, escuto Jake dizer:

— De nada, Docinho.

Reviro os olhos e bato a porta com uma força muito maior do que a necessária.

“Docinho” foi o apelido que ele me deu há muitos anos, por causa da personagem de As Meninas Super Poderosas. Eu até que gostava dela, mas isso foi antes dele começar a me chamar assim.

Achei que ele tivesse esquecido este maldito apelido; pelo visto eu estava muito enganada.


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