Emma & Jake escrita por Almofadinhas


Capítulo 1
Capítulo 1 ❄ Emma




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O relógio marca 04 da manhã quando meu despertador toca, interrompendo um sonho muito bom que eu estava tendo. Bocejo algumas vezes e esfrego meus olhos antes de me arrastar preguiçosamente pela cama, sentando.

Me espreguiço, bocejando mais uma vez, e tiro o celular da tomada, lendo algumas mensagens e emails que recebi durante a noite – nada de importante.

Finalmente reúno todas as minhas forças para sair da cama, caminhando devagar até o guarda-roupas. Pego uma legging, uma blusa, um casaco fino e outro mais grosso, além de um top e uma calcinha, seguindo direto para o banheiro. Eu gosto de tomar banho logo que acordo, mesmo sabendo que vou ficar suada em poucas horas.

Tento fazer uma trança no meu cabelo, mas não gosto do resultado que vejo no espelho. Passo os dedos pelo cabelo, desfazendo a trança, e opto por um simples rabo de cavalo.

Desço as escadas e vou direto para a cozinha preparar meu café da manhã e meus lanches para levar no treino. Enquanto espero a água do café esquentar, dou comida para o meu cachorro, abro a porta para ele ir fazer xixi e brinco de bolinha com ele algumas vezes. Como sempre acontece nas manhãs de segunda à sexta, minha família toda ainda está dormindo. Meu cachorro é a minha única companhia. 

Termino de comer, lavo a louça, subo para escovar os dentes e saio de casa.

O céu ainda está escuro quando eu chego às 05:28h ao Stepanova Ice Center. O inverno está começando a se aproximar e, com isso, o sol fica cada dia mais preguiçoso. Eu não me importo muito com o horário do nascer do sol, estou acostumada a sair de casa no escuro, mas minha irmã, por exemplo, odeia a duração curta dos dias nessa época do ano.

Abro as portas do Stepanova Ice Center e cumprimento os funcionários com um sorriso, seguindo meu caminho pelos corredores familiares que levam aos vestiários. 

É neste Centro que eu treino desde os quatro anos de idade. Caso você esteja se perguntando, eu sou uma atleta da patinação artística. 

Tudo começou numa aula de ballet, quando uma das garotinhas da minha turma começou a fazer aulas de patinação. Ela vivia contando sobre como patinar era divertido.

Eu lembro que enchi o saco da minha mãe para fazer aulas de patinação também. Depois de muita insistência da minha parte, meus pais me matricularam aqui no Stepanova Ice Center. 

No Canadá, é comum que quase todas as pessoas saibam patinar – é quase uma habilidade inata da população; nós nascemos cercados de gelo – mas acho que ninguém esperava que eu fosse gostar tanto assim. Não demorou muito para a patinação se tornar meu hobby preferido, minha paixão e, posteriormente, minha carreira.

Eu entro no vestiário e guardo a minha mochila no armário, pegando apenas o necessário para ir alongar. 

Meus amigos, Julie e Peter, ainda não chegaram. Eles têm algum compromisso hoje cedo, por isso eu coloco meus fones de ouvido e sigo sozinha para a sala de aquecimento. Como em qualquer esporte, antes de entrar no gelo nós precisamos nos aquecer devidamente para preparar o nosso corpo para todo trabalho pesado que será feito em seguida.

Eu fico quase uma hora aquecendo antes de voltar para o vestiário e substituir meus tênis pelos patins brancos. Amarro bem os cadarços e sigo para o meu lugar favorito do Centro: o gelo.

Nenhum dos meus treinadores está perto do rinque, por isso tiro os protetores de lâminas e entro no gelo sem eles. Como poucos patinadores vêm tão cedo ao rinque, tenho um espaço enorme para treinar, sem precisar me preocupar com ninguém. Dou algumas voltas pelo gelo e faço alguns saltos, me aquecendo. Assim que pouso de um triplo, escuto a voz da minha treinadora.

— Lindo Salchow, Emma – ela elogia.

Ao me virar, vejo que ela e meu outro treinador, Alexei, já chegaram. Patino até eles para discutirmos o que precisamos fazer hoje. Com a proximidade de campeonatos importantes, trabalhamos duro para deixar meus programas dessa temporada impecáveis.

Em cada competição, o patinador deve apresentar dois programas: um curto e um livre (ou longo, como também é conhecido). Há ainda as exibições de gala, que acontecem no encerramento de alguns campeonatos. 

Nessa temporada, diferentemente do meu programa curto (no qual fico na segurança do Double Axel), realizo um Triple Axel no programa livre. O Axel é um dos saltos obrigatórios em todas as apresentações de patinação artística, porém, na competição feminina, a maioria de nós prefere ficar com o Double, já que o Triple é muito mais complicado.

Para quem está assistindo, esse salto é o mais fácil de reconhecer, pois é o único em que o patinador entra de frente. Justamente por iniciar o salto de frente, precisamos de mais meia-rotação para conseguirmos pousar da maneira correta. Ou seja, no Triple Axel, são necessárias três rotações e meia, o que é muito complicado de se fazer, pois exige muito controle, força e velocidade para realizá-lo corretamente. A questão é: vale muitos pontos se bem executado. Já faz anos que eu treino o Triple Axel e quero fazer dele um dos meus diferenciais no gelo. 

É justamente o Triple Axel que estou treinando agora. Na maioria das vezes eu acerto, mas hoje não é um desses dias. Meu joelho está doendo de uma queda que levei antes e agora todos os meus saltos estão saindo uma merda. Sinto minha cabeça bater no gelo quando caio de um Axel mal feito e fecho os olhos, respirando fundo.

— Chega, Emma – ouço minha treinadora dizer, em algum lugar à minha direita.

Abro os olhos e me apoio no gelo, me recuperando da queda. 

— Vamos deixar seus saltos de lado por enquanto.

— Eu consigo fazer – digo.

— Eu sei que consegue, Emma. Mas também sei que se cair mais uma vez, vai passar o dia todo irritada consigo mesma. Esse não é nosso objetivo, ok? – Maggie me fala, séria – E eu não quero que você force mais o seu joelho por hoje.

Eu estou irritada comigo mesma e acabo ficando um pouco irritada com Maggie também, por ela não me deixar treinar meus saltos. No fundo, entretanto, eu sei que ela está certa. Por isso, apenas assinto e patino para a borda do rinque, indo beber minha água.

— Nossa manhã já está acabando, de qualquer maneira – Alexei fala, consultando o relógio em seu punho – Vamos aproveitar para repassar as transições iniciais do programa curto, pode ser? 

— Pode – eu respondo, fechando minha garrafa e patinando de volta para terminar meu treino da manhã.

Na hora do almoço, volto para casa e coloco gelo no meu joelho. Foi realmente um azar eu ter caído de mal jeito, mas já tive contusões e lesões muito piores. Dessa vez, por sorte, foi só uma pancada; com gelo, amanhã mesmo meu joelho estará completamente recuperado.

A tarde já me sinto bem melhor. Apesar disso, meus treinadores preferem que eu repita os programas ignorando os saltos que exigem mais impacto das minhas articulações. Sei que com a proximidade das competições eu não deveria estar ignorando nada, mas mesmo assim eles me dão uma folga no dia de hoje, o que torna o treino bem mais simples.

Quando saio do gelo, encontro com meus únicos amigos no Centro para irmos à academia. Julie e eu nos conhecemos há oito anos, quando ela veio treinar no Stepanova Ice Center. Diferente de mim, que sou da modalidade individual, Julie compete na dança. Quando seu último parceiro decidiu sair da patinação, ela encontrou Peter – os dois já são parceiros há seis anos. Me tornar amiga dele também foi automático, Peter é um cara legal.

— Como está o joelho? – Julie me pergunta.

— Melhor.

— Vê se coloca mais gelo nisso daí.

— Já coloquei na hora do almoço – respondo – E antes de dormir vou colocar mais, pode deixar.

— Acho bom. E vê se não coloca muito peso nisso – Julie me avisa, ao me ver indo para o aparelho de leg press.

Eu sorrio. Mesmo sendo só um ano mais velha do que eu, às vezes Julie age como se fosse minha mãe ou minha treinadora.

— Sim, senhora – brinco.

Como hoje é quarta-feira, saio do Centro e vou para a aula de ballet. Eu fazia ballet mais vezes na semana quando mais nova, porém agora um dia é o suficiente. 

Em contrapartida, comecei a fazer aulas de yoga na segunda e na sexta – o que é muito bom para minha flexibilidade. Já as minhas terças são ocupadas com visitas à minha psicóloga, o que me deixa apenas com a quinta-feira e o fim de semana de folga.

Gosto de aproveitar esse meu tempo livre com minha família e meu cachorro, definitivamente. Também aproveito para me dedicar ao meu outro hobby: a música. Eu não sei tocar muitos instrumentos, mas aprendi a tocar violino com minha irmã e sou razoável no piano.

Só chego em casa às 21:20h. Vou direto tomar um banho e desço para jantar com minha família (ou parte dela, porque meu irmão mais velho está em outra província fazendo faculdade). Quando é 22:30h eu já estou indo dormir, verificando primeiro se meu despertador está ligado.

Às vezes eu gostaria de ter uma rotina mais fácil, mas não me arrependo de nada. Patinar é a minha paixão e eu não trocaria isso por nada.


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Notas finais do capítulo

Editando os capítulos, eu percebi que eu adoro deixar links aqui nas notas. Eu sou uma pessoa muito visual, então acabo vendo muitos vídeos e procurando imagens para me inspirar.
Como ninguém quer ler isso, vou deixar logo o "primeiro" link, para quem quiser: https://www.youtube.com/watch?v=QSU3knjl_mo&feature=youtu.be



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