Blood Diamond escrita por BarbieGelada


Capítulo 1
Novos ares


Notas iniciais do capítulo

Gente, se alguém leu a versão anterior, já sabe sobre o que a história se trata, e eu espero que vocês mergulhem nessa versão tão entusiasmados quanto na outra.
Decidi escreve-la, porque percebi muitos pontos soltos e problemas na narração. Minha escrita amadureceu, e sinceramente espero que não fiquem chateados comigo.
Se é a primeira vez que você está lendo, por favor, aproveite.

Comentários são sempre bem vindos e apreciados!



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27 de Julho de 2020. Segunda-feira.

 

Rosalie se acostumou com o frio da madrugada. Dia após dia acordando quatro horas da manhã, a fez se acostumar, e até mesmo sentir o ar gelado, reconfortante.

Mal tinha dado cinco horas, e Rosalie já tinha organizado e reorganizado as cinco malas, três delas estando lotadas de joias e sapatos, e apenas duas, com roupas. Todas as dela, já estavam na nova casa, essas, foram as que Vera, sua melhor amiga, lhe deu como uma despedida.

Rochester era uma cidade com uma área de 96,28 km², sua futura cidade, se totalizava em 10,67 km². Enquanto Rochester chovia 121 dias por ano, Forks chovia literalmente o contrário, 212 dias por ano.

Rosalie, enquanto colocava os últimos sapatos na mala, deixando de fora apenas o que usaria na viagem, se viu pensando, em o que diabos estava passando em sua cabeça, quando escolheu justamente Forks, entre tantas outras cidades do mundo, para ser seu lar. A única coisa que a consolava era o fato de a casa que moraria, linda, por sinal, fora construída em tempo recorde de quatro meses, com uma equipe de 50 homens, incluindo pedreiros e engenheiros civis.

O sol acariciou seu rosto através da janela, e Rosalie percebeu que estava na hora de começar a se preparar.

Ela não tinha muito a fazer, os empregados foram dispensados, não que ela precisasse de muitos, já que praticamente morava sozinha, e algumas vezes quando seus pais estavam em casa, pareciam mais convidados, de tão desajustados que pareciam. William e Amélie eram ótimos pais, algumas vezes um tanto ausentes? Sim. Amorosos e cuidadosos com a filha? Sem dúvida. Donos de algumas das maiores empresas de Advocacia e Moda do mundo? Pergunta estúpida! Claro que sim. Ou eram... Rosalie não tinha certeza.

Sonyah, a mulher que cuidou da jovem desde que tinha apenas quatro anos, a estava esperando no andar de baixo com um sorriso triste e um café da manhã farto.

— Bom dia, Rosalie. - A voz cansada e o peso nos olhos de Sonyah, fizeram com que Rosalie se perguntasse se ela tinha ao menos pregado os olhos naquela noite.

— Olá, senhora Wayne. - Ela cumprimentou, sabendo que suas feições estavam sedentas por aquele banquete. Há meses Rosalie tentava não sentir nada relacionado a comida, ou a qualquer coisa que seu estômago fosse empurrar para fora em questão de horas, mas era difícil, sendo que seus órgãos doíam pela falta dela. Mas isso era um problema dela, então ninguém na casa precisava saber. - Bom dia. - Um sorriso doce, e nem tão verdadeiro, espalhou-se em seu rosto, enquanto ela se sentava na cadeira de cor clara.

— Fiz bolo de chocolate. Aquele com cobertura de avelã, que você gosta... - Disse a senhora de idade, se controlando ao máximo para que sua voz não saísse tão quebrada quanto realmente estava.

— Sério!? - Perguntou Rosalie, tentando não sentir tudo o que estava, de fato sentindo. - Nada de "Doce a essa hora, Rosalie!?" - Imitou a senhora, fazendo-a rir um pouco.

— Criança... - Sonyah riu, já derramando algumas lágrimas. - Tem certeza disso? - A pergunta era desnecessária, porque já foi feita e respondida mais de cinco vezes durante a última semana.

— Absoluta. - Levantando-se, ela caminhou até a mulher, envolvendo seus braços ao redor dela, tendo que se abaixar um pouco para abraça-la. - Você sabe que eu preciso. - Murmurou.

— Eu sei. - Respirando fundo, Sonyah segurou levemente os pulsos de Rosalie e a afastou. - Apenas será estranho saber que a 'minha pipoquinha' não estará aqui amanhã. - Ela sorriu docemente passando os dedos enrugados pela bochecha de Rose, em um carinho gentil e antigo.

— Se precisar de mim, sabe que vou vir o mais rápido possível e impossível. - Respondeu, repetindo o mesmo gesto da senhora, tanto pelo amor que sentia pela senhora que muitas vezes foi chamada de vovó pela loira, quando era menor. - Não precisa chorar...

— Olha quem fala! - A voz inconfundivelmente grave de Michael, assustou Rosalie, a ponto de um grito fino sair de sua garganta.

— Desculpa, desculpa... - Vera pediu, aparecendo atrás do namorado, sua barriga mínima de três meses, marcada pela blusa justa que usava. - Eu que abri a porta. - A chave prateada brilhou em seus dedos, refletindo a luz solar.

— Esqueceu que meu avô morreu de ataque cardíaco, criatura!? - Brigou, se sentando na cadeira que tinha ocupado antes. Seus batimentos cardíacos tinham acelerado de forma alarmante, graças a brilhante ideia de Michael de assustá-la.

Nos últimos meses, qualquer que fosse a voz masculina que a pegasse de surpresa, conhecida ou não, a fazia quase ter um infarte.

— Desculpa, Barbie. - Pediu em seu característico jeito malandro, de qualquer forma, Rosalie sabia ser um pedido verdadeiro.

— Tem comida para um exército aqui, comam comigo. - E esse, foi o encerramento do mini ataque da loira, e Michael sabia que estava tudo bem.

— Oi Rose. - Disse Vera, se aproximando a passos meio lentos da amiga, e beijando o topo dos fios loiros da cabeça dela. - Olá Dona Sonyah.

Durante a refeição, Rosalie continuou tentando manter algo, mas foi em vão.

Vera e Michael eram um casal que ela realmente inveja. Não pela recente gravidez da amiga, não. Rosalie invejava o amor e companheirismo dos deles, assim como também invejava seu pai e sua mãe. Era difícil ver essas pessoas terem o que ela não tinha, e provavelmente não teria. Ela não deixaria que eles vissem isso, é claro, mas também sua felicidade pela dos amigos era imensa. Eles mereciam.

Rosalie terminou o desjejum, querendo gritar, por já sentir seu estômago se revirar e empurrar a comida de volta. Mesmo que Sonyah insistisse para ela ficar e comer mais, a Hale não queria se rebaixar ao ponto de deixar que um dos três visse a cena seguinte.

— Vou ir me arrumar. - Anunciou, limpando o canto da boca com a toalha branca, que antes repousava em seu colo. - Eu desço em... - Ela pensou um pouco e olhou no relógio. 06:10. O avião particular dos Hale a estaria esperando às 07:00. - Meia hora. - Disse, se levantando e caminhando até a escadaria, a uns bons cinquenta metros da sala de jantar. Por alguma razão, não foi a sua avó de consideração não a parou. No meio do trajeto, enquanto atravessava o portal que dividia o cômodo em que estava da sala de estar, Rosalie ouviu:

— Vou cronometrar, Barbie. - Ela sabia que Michael a estava provocando, mas não pode evitar se virar e fulmina-lo com o olhar. Olhar esse, que ela tinha puxado de sua mãe. Rosalie não gostava muito de lembrar o quanto estremecia quando o via. Sorte a dela, nunca ter sido o alvo direto dele. Ser filha única era um tanto quanto chato, especificamente por não ter ninguém para implicar, ou simplesmente para ficar abraçando e brincando. Quando de mudou para Rochester, aos oito anos de idade, Rose sabia que teve sorte de encontrar Vera, e um mês depois, sua sorte deu uma vacilada muito complicada ao encontrar Michael. Apesar de toda a frustração e adrenalina de sempre competir com o seu melhor amigo, Rosalie o amava tanto quanto amava Vera, sua salvação da chatice ocasional do garoto, e amiga para todas as horas.

Seu estômago se fez presente mais uma vez, e a jovem com todo o seu orgulho, jogou o cabelo por cima do ombro e andou o resto do caminho de volta para o quarto, no terceiro andar, ouvindo a risada dos três atrás de si. Se não estivesse apressada, eles teriam visto o pequeno sorriso em seus lábios, antes de cobri-los.

Rosalie chegou no banheiro tendo tempo apenas para ligar o chuveiro para disfarçar o barulho que fez, vomitando tudo.

Todo dia era assim. Infelizmente seu corpo ainda não tinha se acostumado completamente com a comida normal, principalmente depois de passar meses em alimentação intravenosa no hospital. Depois de escovar os dentes, ela tirou a roupa e entrou no chuveiro com água quente o suficiente para deixar sua pele clara e bem cuidada, vermelha.

Talvez esse estivesse na lista de um dos banhos mais rápidos de sua vida. Rose sabia que demoraria para se arrumar, e é claro que ela não daria para Michael, o gosto de vê-la se atrasar. Ela sabia que o infeliz realmente estava cronometrando.

Terminando a ducha, em seu medo habitual, Rosalie prestou atenção nos sons do outro lado da porta, que dividia o banheiro e o seu quarto. Nada. Nenhum som.

Ela sabia que não vivia em um mundo mágico. Não existiam fadas, duendes, príncipes encantados, felizes para sempre, magia... Não! Ela vivia no mundo real, onde existe dor, tristeza, morte, solidão, desespero, pobreza, fome, homens... Homens esses, que ninguém podia saber se eram ou não o único conto de fadas real, monstros. Monstros como Royce King, seu ex-namorado, e os amigos dele, que eram a razão pela qual ela estava saindo de sua casa. Sua cidade.

Enquanto os pensamentos iam e vinham na cabeça de Rosalie, ela sabia que precisava de outro foco, então, enrolada na toalha, Rose pegou as roupas separadas e as vestiu. O conjunto de lingerie preta, depois a blusa simples que ia até os seus cotovelos, também preta, a calça jeans azul, botinha preta, e em cima da cama, ela posicionou o casaco preto e a echarpe bege, ao lado da bolsa fulvo. Cada centímetro do vestuário dela precisava estar perfeito, sem falha alguma. Cada centímetro de tecido deveria estar certo, cada curva se encaixando em seu corpo, apesar de um tanto quanto esquelético, ainda bonito. Uma vez seu pai lhe disse, que mesmo seus ossos eram esbeltos. Bom... Era verdade.

A maquiagem sendo aplicada minuciosamente sob seus olhos com olheiras, escondendo-as. O rímel, e delineado tão fino, que mal era perceptível, mas destacava os olhos, já marcantes dela. O gloss labial vermelho ofereceu a ela um sentimento diferente, poderoso. Um sentimento de inalcançabilidade que ela apreciou muito. Rosalie sabia que era uma armadura, um escudo para manter seus demônios longe, mas de qualquer forma, a fazia se sentir, não mais segura, porque isso ela não estava, mas a fez se sentir menos ameaçada.

A tela do seu celular lhe mostrou exatamente o que ela desejava ver. 06:43. Faltando exatos dois minutos para completar os trinta minutos que Michael estava contando.

Colocando o casaco, e ajeitando-o sobre os ombros, Rose pegou a bolsa, e andou para fora do quarto. Um espelho no corredor mostrou seu cabelo longo, dourado-pálido, ondulado e brilhante como os fios de um anjo, e a obra de arte magnífica em seu rosto. Ela estava perfeita. Com a mão livre, Rosalie pegou uma parte do próprio cabelo e o jogou para trás, deixando-o cair livremente, enquanto voltava a andar. Ela chegou no primeiro piso com um mínimo sorriso debochado e uma sobrancelha levantada, faltando dez segundos para o namorado da amiga poder comemorar.

— Qual é... - Resmungou Michael, se voltando para a namorada e entregando uma nota de vinte dólares para ela. - Você não podia demorar só mais alguns segundos não? - A cara feia dele era impagável, e a loira só pôde pensar que, não. Ela não podia ter demorado aquele tempo. Seu sorriso se tornou ainda mais zombador quando respondeu:

— Não. - Respondeu, se aproximando de Vera. - Como vai o nosso projeto de gente? - Rosalie se abaixou na frente da barriga da amiga, alternando um olhar carinhoso entre a mínima bolinha no útero da morena e no rosto choroso dela.

— Muito triste. - Murmurou Vera, tentando segurar as lágrimas que queimavam seus olhos. Ela não era tão boa nisso quanto Rosalie, e momentos depois seu rosto estava todo molhado. - Porque a melhor amiga da mãe dele vai embora. - A testa franzida e cílios molhados da amiga, fizeram com que ela de sentisse um monstro por ser a causa daquele choro.

— Vera... - Ela tinha uma mente forte e sabia que o que sua melhor amiga estava fazendo.

— Não é justo, que aquele marginal esteja vivo e rindo, enquanto você vai para outra cidade. - Esbravejou a jovem grávida. Rose sabia que ela tinha razão. Não era nem um pouco apropriado que, mesmo tendo sobrevivido, Royce ter conseguido matar uma parte dela. Uma parte grande e brilhante. - Não é justo eu estar perdendo minha melhor amiga por causa dele! - A essa altura, Rosalie não sabia dizer se aquelas palavras estavam mais carregadas de raiva ou da mais pura tristeza.

— Eu sei. - Murmurou a loira abraçando Vera, procurando algum sentimento que pudesse ajudá-la a confortar a outra. Nada. No momento, ela apenas conseguia sentir uma raiva doentia e um medo arrebatador _ o qual ela tentou reprimir ao sentir os braços pequenos e morenos a sua volta. Rose recorreu as suas habilidades de atuação. - Não pense assim. - Pediu, com uma calma falsa. - Se você precisar de mim, vou estar aqui em questão de horas. Por você ou pelo touro-sem-chifres, e você sabe.

— Nós sabemos sim, Barbie. - Michael disse, entrando na conversa, e bufando com o apelido, que ela tinha dado para ele no segundo dia de convívio, justamente por causa de suas bufadas. - Tenho certeza que são os hormônios dela. - O olhar dele era sincero, e ela percebeu que se continuasse muito ali, iria ficar. E se autodestruir no processo. Rosalie precisava ir embora.

— Eu não quero fazer a piloto esperar, - Chamou, se desvencilhando dos braços finos e curtos da amiga menor. - Temos que ir.

Os pequenos gestos era a única coisa que dizia ao casal de amigos que eles de fato não se odiavam. Suas malas estavam todas ao lado de Michael.

Você não vai chorar, Rosalie. Pensou, respirando o mais profundamente que podia, sem fazer som algum. Não seja fraca. Controle-se!

Ela deixou que um mínimo sorriso decorasse seu rosto angelical enquanto andava em direção a ele e pegava duas das malas de cor clara.

A caminhada até o carro de Vera foi mais do que torturante para Rosalie, porque a cada passo, desde que pôs os pés fora de casa e o sol e vento bateram em sua pessoa, ela foi o centro das atenções para todos que estavam passando na rua. Fazia no mínimo, dois meses que Rose não saía de sua casa, que ninguém via nem um mínimo vislumbre da "Beldade da Cidade", um título que ganhara de uma das revistas de fofoca de Rochester.

Enquanto andava, ela manteve sua cabeça erguida e sua expressão facial ilegível. Os olhares que os olhos ágeis da loira captavam, mostravam surpresa, espanto, deleite, malícia, inveja, desejo... Muitas coisas. Coisas essas que Rosalie desejava não ter percebido. Ela sempre pensou que sua cidade era segura, já que todos a conheciam desde pequena. Infelizmente, ela não podia estar mais enganada. Nenhum lugar era realmente seguro.

O caminho para o aeroporto não era longo, e em menos de dez minutos eles estavam lá. Michael, Vera e Sonyah se ergueram aos lados e às costas de Rosalie como guardas, e ela não podia ter ficado mais agradecida, cada mulher levando uma mala, e o rapaz arrastando as duas mais pesadas.

A piloto particular estava esperando por ela, ao lado do enorme jato particular dos Hale.

Ao se aproximar, a jovem milionária percebeu o reconhecimento nos olhos da mulher de meia idade.

— Senhorita Hale? - Perguntou a piloto, estendendo a mão enluvada para ela, que quase sem hesitação a segurou firmemente.

— Eu mesma. - O cumprimento foi rápido e seguido por uma conversa rápida sobre o motor da aeronave, e da copiloto que estava conferindo-o pela quinta vez. Um assunto particularmente difícil para Rosalie. Decidindo confiar na palavra da mulher, e nos sons que ouvira do jato, de que estava tudo certo, ela se virou para a despedida oficial. Três pares de olhos castanhos tristonhos, encaravam as íris azuis-violeta.

— Se cuida, pipoquinha. - Pediu Sonyah, sorrindo em meio as lágrimas que novamente caíam de seus olhos. Suas mãos enrugadas alcançaram as laterais do rosto de Rose, puxando um pouco sua cabeça para baixo. - Je t'aime, mon enfant.— Eu te amo, criança. - Disse na língua nativa das duas. Não importava a distância... Era isso que a senhora queria dizer. Exatamente a mesma coisa que disse para si quando estava indo embora da França, Rosalie percebeu. A diferença, era que dessa vez, a jovem sabia que ela não apareceria de surpresa na porta da sua casa.

Je t'aime aussi, grand-mère.— Também te amo, vovó. - Sussurrou Rose, antes de receber um beijo na bochecha e um abraço da senhora.

— Quando eu sonhava com você indo embora, normalmente eu estava dançando de felicidade. - O resmungo de Michael poderia muito bem ter sido confundido com o de uma criança sem doce.

— E o que está sendo? - Perguntou Rosalie, ainda tendo sua cintura envolvida pelos braços curtos e flácidos da senhora.

— Me recuso a falar. - Pontuou o rapaz de cabelo preto.

— Triste. - Vera respondeu no lugar do namorado. - Eu te entendo, Rose, e espero de verdade, que você encontre o que está procurando. Quero que você viva, não só sobreviva. - O próximo abraço foi destinado a ela, sua amiga de infância, a única verdadeira.

— Eu amo vocês. - As palavras que saíram de sua boca, pareciam não ser dela, de tão carregada de verdade que estavam. Rosalie mentira tanto nos últimos tempos, que uma verdade tão verdadeira quanto essa, era quase sufocante.

Enviando uma advertência para Michael, sobre cuidar de Vera, Sonyah e o filho dele, Rosalie enviou um olhar sincero para ele. Olhar esse que dizia que também o amava, mesmo que fosse de um jeito conturbado e estranho.

Ao se virar, a máscara de indiferença tomou seu rosto, e seus passos foram decididos em direção ao jato.

Quando entrou no avião, ela viu o lugar onde havia passado boa parte da infância, quase uma segunda casa. O bar, ou cozinha, como Rose amava chamar quando era pequena, ainda era exatamente como ela se lembrava, em preto e branco, ao lado do que William e Amélie Hale, diziam ser um porta vinho, para que a mente infantil dela, na época, entendesse.

Abrindo a porta estofada, duas poltronas brancas, se faziam presentes, assim como o sofá em U, todos virados para o centro do carpete bege claro, onde a pequena Rose brincava e dançava incansavelmente durante as viagens.

As lembranças a invadiam como, água de chuva em mar. Tantas e tantas viagens com os pais. Viagens nas quais ela se acomodava entre os pais adormecidos nas poltronas, ficando assim, aquecida entre eles, com a saia bufante espalhada, aquecendo a todos os três.

Com uma ligação antes da aeronave decolar, Rosalie sabia que naquele exato momento, duas guarda costas particulares estavam lendo o relatório do "caso", dela e indo conhecer a casa, antes de irem buscá-la no aeroporto de Forks.

Uma bomba de sentimentos a invadiu e ela se viu afogando-se neles. Tristeza, pela vida ao lado dos amigos que ela estava deixando; medo, do desconhecido, das pessoas que a cercava e que a cercaria na nova cidade; raiva, de Royce, e dos amigos dele; desespero, pelo avião que ela tinha acabado de começar a decolagem; frustração, pela vida que lhe foi tirada; culpa, pelas pessoas que ela sabia que machucaria no caminho de se curar; e enterrado entre tantas coisas, Rosalie quase não captou o sentimento de libertação, alívio. Era como estar saindo de uma gaiola que seu ex-namorado e a sociedade tinham criado para ela. Ela estava livre, ainda com medo, mas livre.

**********

A chuva caia levemente sobre os cachos escuros de Emmett, enquanto ele, juntamente com o casal saltitante, Alice e Jasper, esperavam os dois casais restantes. Ele não conseguia entender o que estava acontecendo para sua irmã estar tão alegre justamente em uma segunda-feira.

— Também adoraria saber, Emm. - Murmurou seu irmão loiro, alternando seu olhar da esposa para a porta, na qual os líderes do clã, e pai e mãe da família tinham aparecido.

Enquanto Alice resmungava alguma coisa sobre ela sair da escola durante o horário de almoço, ele tentava ver se conseguia encontrar na duende algo que desse alguma pista sobre toda a sua animação... Nada.

— Porque? - A voz gentil de Esme, tirou a atenção de Emmett da mini-irmã. - Algum problema? - A mãe deles estava preocupada. Apesar de eles já terem feito o ensino médio inúmeras vezes, as aulas eram ainda um assunto importante para sua mãe e pai.

— Problema não. - O sorriso de Alice se ampliou ainda mais, e Jasper se encolheu minimamente. O vampiro maior imaginou a droga que devia ser, ser um empata. Sentir o que os outros sentem sem saber realmente o porquê de estar sentindo aquilo. Ele estava feliz por ser o forte, e na sua "humilde" percepção, o bonito da família. - Surpresa, com certeza.

— Alice... - Chamou Jasper, tocando levemente o braço da esposa. O olhar que ele enviou para ela, fez com que Emmett sentisse pena do irmão. O vampiro loiro estava quase explodindo com tanta felicidade.

— Sinto muito, Jazz - Desculpou-se a anão-de-jardim. - Mas esperamos muito tempo por ela.

— Eu já estou aqui! - A voz de Bella preencheu o lugar atrás deles, junto com Edward.

Embora Bella fosse uma cunhada legal, e fizesse muito bem para o seu irmão, Emmett reconhecia que o tempo que eles tiveram que protegê-la até da própria sombra, tinha influenciado bastante na forma que ela pensava de todos eles. Eles não viviam em torno dela. Pelo menos ele, não.

Ignorando completamente o irmão mais novo rosnando, Emmett prestou atenção novamente na irmã.

— Esperamos muito tempo por você, Bella, mas eu estou falando da Rose. - Era muito claro o esforço que Alice estava fazendo para não se empolgar tanto de novo.

— Rose? - Questionou a mãe deles, tirando as palavras da boca do vampiro. - Quem é?

— A socialite que todos estão endeusando na escola. - Edward resmungou, virando sua cabeça para Alice, demonstrando clara descrença. - Até você Alice?

— Acredite, Edward. - Alice abriu ainda mais seu sorriso. - Ninguém a está "endeusando". Ainda.

Aquela manhã passou tediosa, assim como todas as segundas-feiras normalmente eram, e agora, na hora do almoço, tudo piorava. Se ele não fosse um vampiro, Emmett se sentiria completamente intimidado pelas garotas de Forks High School. No ano anterior, Edward e ele dividiam a atenção das solteiras de lá, mas agora, que seu irmão era casado, a atenção maçante era toda dele.

Na escola, poucos adolescentes eram compromissados, e com a chegada dessa nova garota a cidade, os rumores de términos por briga e ciúmes estranhos, tinham aumentado consideravelmente. Tanto, que os casais restantes, poderiam ser contados nos dedos das mãos dele. A garota, Rose, de acordo com Alice, já era odiada antes mesmo de chegar a cidade.

— Alice levou o Jasper também? - Perguntou Emmett a Edward, notando a falta do outro irmão.

— Sim. - A resposta seca do ruivo mostrou que ele estava bravo ainda pelo pensamento sobre a Bella recém criada.

Desculpa, Edwi... Sim. Emmett sabia como irritar alguém, e o pior apelido que seu irmão tinha ganhado dele, era uma forma bem eficaz. Mas você só não vê, porque não quer. Sua vida pode girar em torno da dela, mas a minha não. Algo parecido com um rosnado saiu da garganta de Edward, fazendo ele desejar ter falado aquilo em qualquer outro momento, com Jasper por perto. Mas de qualquer forma, Emmett sabia estar certo.

— Eles já chegaram. - Edward respondeu simplesmente, encerrando o assunto sobre a companheira.

— O que exatamente eles estão fazendo? - Questionou, mexendo na maçã intocada em seu prato.

— Alice quer inspecionar a vida da novata. - Bella falou, chegando por trás do marido, e tirando a atenção que Emmett tinha, fazendo-o suspirar e procurar assuntos interessantes no refeitório.

Socialite...

Filha de empresários...

Deusa da beleza...

Filha da marca Amél's C. & Hale 

Modelo...

Todos os termos, Emmett descobriu serem da mesma pessoa. Rosalie Hale.

O alívio por não ser o assunto na boca das garotas era ótimo, mas ele não pôde deixar de sentir pena da garota. Odiada e amada por todos... Coitada.

Um pensamento não pôde deixar de adornar a sua cabeça: O que ela tinha de tão especial?

**********

— Não que eu esteja reclamando... - Jasper disse para a Alice, sentada ao seu lado, no carro de Edward, que ele sabia que ela não tinha pedido emprestado. - Mas porque eu também estou aqui? - Perguntou, curioso.

— Quero dar as devidas boas vindas a nossa irmã. - A cautela nas palavras da esposa o pegou tão desprevenido quanto a última palavra dita por ela.

— Irmã? - Jasper pensou não ter entendido direito o significado da fala de Alice, então repetiu a palavra uma e outra vez, procurando algum tipo de brincadeira no humor da esposa. Sem nada. Apesar de estar animada com a chegada da garota Hale, ela não tinha nenhum tipo de brincadeira ali. - Você está brincando, certo Alice? - Pergunta idiota, ele sabia. Apenas não conseguia assimilar. Isabella Swan, no ano anterior tinha sido o maior problema que ele e os outros tiveram que enfrentar, pelo menos, até a transformação dela, e agora, Alice estava lhe dizendo que outra humana estragaria a paz recém ganha na família.

— Eu te prometo, Jazz, a Rose não será um problema. - Os sentimentos dela eram mistos. Amor, confiança, esperança, felicidade, e uma pitada de preocupação. Quase parecia uma receita, ele percebeu. - Você não vai precisar se preocupar com ela tropeçando... Ela não é do tipo que vai se machucar com um papel. - Apesar de a piada ter sido engraçada, e ele ter rido, aquele ocorrido, ainda o fazia se sentir mal, pela sua falta de controle. - A Rosalie era quem estava faltando para completar a família.

— Emmett? - O nome de seu irmão se arrastou em sua língua, quando as peças pareceram se ajustar. - Os únicos que vimos acontecer algo assim, foram o Edward e a Bella. E terminou na quase morte dos dois, Alice. É perigoso. - Concluiu, olhando nos olhos dourado-escuro da vampira.

— Sobre ela e o Emm, eu não sei... - A voz fina e melódica de Alice demonstrava frustração, um reflexo perfeito de seus sentimentos. - Não está nada certo. Mas sobre precisarmos dela, tanto quando ela precisa de nós... Disso eu sei.

Jasper analisou a esposa por alguns momentos antes de suspirar e olhar para o lugar onde, a uns bons oito quilômetros de distância, o som de um avião, vinha.

— Dê uma chance para ela, por favor, Jasper. - Apesar de ainda estar muito receoso com a humana, ele concordou e esperou, até que com sua visão aprimorada, o sobrenome Hale pôde ser lido na lateral do avião, com uma letra pequena e cursiva.

— Mais alguém sabe disso? - Perguntou, sem nem precisar excluir Edward da conversa, afinal, ele sabia de tudo, mesmo que a pessoa não quisesse.

— Não! - A resposta foi alegre, assim como a dona dela, que novamente voltava a ficar borbulhante como sempre. - Nem o Edward!

Surpreso, o militar voltou seus olhos para a vampira feliz. O casal se conhecia bem o suficiente para que a surpresa dele não precisasse ser expressa.

— Ele está ocupado com a vida de casado dele agora. - Alice disse, levantando os ombros como se não importasse. Jasper sabia melhor. Sua esposa estava um tanto magoada com o afastamento de seu irmão favorito, assim como o da Bella. Eles faziam bem um para o outro, e Jasper não tinha argumentos contra isso, mas o longo afastamento dos dois magoava sua esposa, e era quase como uma mágoa pessoal. Os pequenos sinais de tristeza no humor de Alice desapareceram completamente quando o som da porta do avião encostando no chão lhe chamou a atenção. Acompanhando o olhar dela, Jasper se sentiu meio confuso quando uma vampira loira saiu desceu as escadas, com as emoções tão perturbadas e misturadas e intensas, que ele não soube dizer de cara quais eram.

Os sons de três corações batendo, o informou que não. Aquela loira não era vampira. Era humana. A tal humana que aparentemente deveria, futuramente, fazer parte de sua família.

Como o carro estava bem longe da pista de pouso, Rosalie não podia vê-los, mas quando seus pés encostaram no chão, Jasper entendeu porque sua esposa o levou junto. Apesar das emoções conturbadas dela, sua face era um poço de indiferença, pelo menos até que mais dois batimentos cardíacos se juntassem, e sua expressão mudar para uma serena.

A força que emanava daquela linda humana era incomum para um adolescente, e até mesmo para um adulto, que com os sentimentos assim, facilmente estariam bebendo, ou na terapia. Ela simplesmente fingia não senti-los.

Lançando um olhar para a sua pequena esposa, Jasper soube o que precisava fazer. A ida dele nunca tinha sido apenas para passar mais tempo com a esposa, para conversarem e nem nada do tipo. Não. Alice queria fazer a futura irmã se sentir segura na nova cidade, nem que fosse por alguns momentos, e preparar Jasper para uma adição repentina a família.

Buscando as emoções necessárias de amor, carinho, segurança e paz, Jasper se viu pegando a mão da vampira ao seu lado.

— Vamos dar nossas boas vindas. - Murmurou Alice, sorrindo.

**********

Forks era pior do que ela imaginava. O ar era frio e úmido, e estava molhando a pequena janela de onde ela observava tudo. Para onde quer que seus olhos deslizasse, árvores cercavam o mini aeroporto.

Entes de dar o primeiro passo para fora, Rosalie desfez coque frouxo, e seu cabelo ficou com cachos largos. Bonito.

Ela se obrigou a manter a mesma expressão neutra que usou em Rochester. A piloto e a copiloto, ainda estavam dentro da cabine, desligando os sensores, então Rose aproveitou para apreciar as árvores que a cercavam... O chão parecia mais interessante e com mais diferença de tamanho e proporção do que a vegetação.

— Senhorita Hale? - Uma voz forte, meio distante chamou-a, e sua atenção foi puxada para duas mulheres vindo em sua direção.

A mente de Rosalie trabalhou um pouco, e ela percebeu que, se aquelas mulheres se aproximando estariam garantindo a sua segurança pelos próximos cinco meses, pelo menos agradável ela devia ser.

— Sou eu. - Tendo o ótimo controle facial que tinha, a jovem mudou sua expressão, para uma minimamente calorosa.

— Eu sou Annelise. - Disse a da direita com cabelo castanho-claro, apontando para si, e depois para a mulher de pele escura ao seu lado. - Essa é a Lyssandra. - A mulher acenou com a cabeça para ela. - Somos as guarda-costas que você contratou.

Uma paz tão grande tomou os sentidos de Rosalie, que ela se sentiu tonta. O sentimento de segurança e calma haviam virado suas maiores inimigas, nos últimos tempos. Após meio segundo, ela concluiu que fez certo em ir embora da prisão particular dela. Rosalie estava segura. Ela se sentia bem.

— É um prazer conhecê-las. - Apertando as mãos de cada segurança, ela pegou as malas com as pilotos, e as cinco mulheres andaram até o carro preto, que parecia ser da agência de segurança. Se Annelise e Lyssandra fossem dirigir o carro que Rosalie andaria, então ela tinha mais um problema para resolver... Comprar um carro mais discreto para elas, porque, ela não andaria de limousine para todos os cantos. Se bem que, também não seria nada mal.

As duas mulheres foram na frente, e as pilotos voltaram para o jato, querendo chegar em Rochester o quando antes. Sentada no banco espaçoso no carro já em movimento, ela pensou em como seria essa nova fase.

Rosalie não gostava de Forks. Não era segredo. Mesmo nunca tendo estado no lugar, parecia ridícula, a ideia de uma cidade ter apenas dois quilômetros a mais do que a corrida matinal que ela fazia com seu pai todos os dias. Mas o sentimento tão límpido e leve que teve ao chegar, tinha dado a ela a sensação de que devia dar uma segunda chance a "unha cortada"... Não, não esse termo, porque, até o lugar merecia respeito. Então... A pacata cidade de Forks. A tamanha indiferença que ela tinha para com as pessoas de lá, assustaria muitas delas.

— Senhorita? - Chamou Lyssandra, a olhando pelo retrovisor.

— Sim.

— Bem vinda a Forks. - Perdida em seus pensamentos, Rosalie mal tinha percebido que já tinha chegado no centro.

— Obrigada - Sua voz mal passou de um sussurro, enquanto olhava para os poucos carros que tinha na rua, e as pessoas andando, parando ao ver a limousine passar.

Mais pra frente, Rosalie percebeu uma pequena multidão de jovens reunida, todos pareciam alvoroçados e vibrantes.

— O que é tudo isso? - Ela perguntou, ouvindo gritos e vozes altas do lado de fora, enquanto o carro passava pelos jovens.

— Você estava sendo esperada por aqui. - Disse Annelise.

Com algumas buzinadas para os jovens sem noção, as três conseguiram passar pelo grupo maluco.

Rosalie não era uma celebridade. Ela sabia disso, e exatamente por isso, foi completamente estranho ter pessoas esperando por ela em uma cidade que ela nunca botara os pés antes. Embora fosse engraçado e um tanto quanto legal, ainda era ridículo. Ninguém a conhecia.

Para chegar na nova casa, elas tiveram que passar por todo o centro comercial da cidade, antes de entrar em uma estrada recém asfaltada na floresta, subindo em uma pequena elevação, meio quilômetro dentro da mata. No caminho as seguranças apresentaram para ela os pontos mais importantes da cidade, como o hospital, a escola, e a delegacia de polícia.

Subindo mais um pouco na estrada, Rosalie soube que os 20 milhões de dólares gastos na obra valeram muito a pena. A casa... não, mansão, era absolutamente magnífica.

As paredes altas brancas que brilhavam, tento contato com a luz do sol, faziam uma perfeita combinação com as várias janelas, que preenchiam uma parte enorme da fachada da propriedade. A parte interna da casa era difícil de ver, graças ao vidro espelhado, que para qualquer um que se aproximasse da mansão, fosse incapaz de ver o que acontecia do lado de dentro.

Aquela casa era perfeita. O enorme portal que cercava a porta larga de madeira maciça pivotante, era de um cinza claro, assim como o reflexo das janelas.

Tendo sido construída em uma clareira, todos os 900m², foram ocupados pela mansão, de forma que ela ficou cercada por pinheiros altos e arbustos cheios e floridos. Era uma belíssima visão.

— A senhorita vai querer descer aqui? - Lyssandra se virou, sendo incapaz de ouvir o murmúrio da chefe encantada.

Em questão de um milissegundos, Rosalie se recompôs e respondeu com um breve:

— Eu gostaria de ir na garagem, por favor. - Seu pedido foi cumprido. A limousine parou em frente a uma elevação de pedra, que na verdade, era apenas um toque, para o portão, que se abriu no chão.

Muitas coisas na casa, era inovadoras e tecnológicas. A garagem não poderia ser diferente, com o sensor de movimento, que acendia as luzes, assim que o carro se aproximava. O pequeno caminho subterrâneo, se alargou, revelando um espaço amplo e bem iluminado.

O carro parou em frente a seis outros, cobertos por panos de cor creme.

Colocando os pés no chão, Rose reprimiu a vontade que teve de bocejar e cair adormecida por lá mesmo. O relógio em seu pulso mostrava 02:15pm. Ainda estava cedo para sequer pensar em descansar. Ela ainda tinha muita coisa para fazer.

Enquanto as mulheres tiravam as malas da jovem do porta-malas, ela andava até um dos panos, e o levantava o suficiente apenas para ver o que precisava. Seu bebê estava lá. A BMW 4 Conversível Vermelha, que ganhara em seu aniversário de 16 anos.

Tudo o que Rose mais queria fazer, era pisar no acelerador do seu bebê e correr o mais rápido que pudesse. O único problema, era justamente, para onde? Sua casa estava aqui, e se tudo ocorresse da forma que ela queria, continuaria sendo pelo menos até o fim do ano, em cinco meses.

— Os empregados estão esperando pela senhorita na entrada. - Disse Lyssandra, arrastando as bagagens até o elevador que passava desde o subtérreo, até o segundo andar. - Quer conhecê-los agora?

— Quanto antes melhor, não? - Se forçando a por um sorriso pequeno, Rosalie andou até as seguranças e apoiou as mãos nas alças das bolsas.

Uma fileira de vinte empregadas esperavam pela sua chegada, enfileirados, uma ao lado da outra... Mais uma sensação de alívio percorreu o corpo dela, acalmando todos os músculos que haviam se tencionado ao ver tantas pessoas em um só lugar. Após muitas apresentações, e um pedido para que a chamassem, todos, apenas pelo seu nome, Rosalie decidiu explorar a casa, enquanto elas iam embora.

Apesar de precisar, sem exagero algum de vinte pessoas para limpar a casa, apenas duas das mulheres realmente ficariam por lá. Martha e Judith, a cozinheira e a governanta. Annelise e Lyssandra também ficariam lá, todos os dias, a acompanhando para todo e qualquer lugar que ela pedisse. Duas vezes por semana as outras empregadas iriam fazer uma limpeza geral no horário escolar dela.

As seguranças foram para a ala leste da mansão, onde ficavam os projetados espaçosos quartos dos funcionários.

A pequena versão da sala de estar em que estava, ficava ao lado entre uma parede de cobogó de cor bege claro, e uma parede normal branca, que ostentava um conjunto de cinco quadros em preto e branco, que quando colocados um ao lado do outro, ganhava a imagem de um leão. Rosalie sempre gostou deles, da força que sempre apresentaram.

Quatro poltronas brancas grandes estavam espalhadas em volta de uma mesinha de centro redonda de mármore, em baixo de um lustre também da mesma forma.

A parede cobogó dividia a pequena sala do elevador de portas de vidro pelo qual ela tinha subido e uma mesa, com um vaso italiano com lírios.

Andando pelo corredor claro, ela viu que o interior da sua casa, era ainda mais impressionante do que o de fora. Todas as paredes pintadas de branco e a visão da floresta pelos vidros era uma coisa que Rosalie descobriu amar. Uma visão tão pacífica, que quase ofuscava o lustre na sala de estar principal. Quase.

O vidro cercava uma grande parte da casa. Ninguém de fora poderia ver nada, mas por dentro, a visão era perfeita, e completamente deslumbrante. Em todas as enormes janelas, tinham cortinas brancas e leves, com um pequeno toque de transparência, que quando escurecesse, Rosalie sabia que implorariam para serem fechadas. A noite nunca foi a melhor amiga dela.

O design interior da casa, tinha sido planejado pela própria jovem e pelos pais, tempos antes, quando planejavam se mudar para Paris novamente, portanto, ela sabia de tudo, ou pelo menos a maioria, já que quando estava no hospital, a design de interiores acrescentou algumas coisas.

No canto esquerdo da sala, uma escada tão larga, que sete pessoas, uma do lado da outra, poderia passar sem nem se encostar, em forma de espiral levava até o segundo andar, onde ficava os quartos e a biblioteca pessoal dela.

O segundo piso, era praticamente resumido em um corredor enorme. Como não tinham janelas aparentes, todo o caminho era iluminado, pelo painel de LED embutido no teto, que o ocupava por completo.

A porta do elevador se abriu do outro lado do corredor e ela foi até ele, pegando cinco malas com a facilidade que apenas uma pessoa que viaja mais de cinco vezes por ano tinha.

O caminho entre os quartos era largo, e entre algumas portas tinham quadros e em outras tinham vasos de planta.

Abrindo a única porta-dupla do corredor, na qual ele terminava, a única reação que Rosalie teve, foi uma risada. Estava aí uma reação que ela não esperava de si mesma, mas de fato, Rose não estava preparada para a imagem a sua frente...

Uma família de oito pessoas poderia viver confortavelmente em seu quarto, e nem precisariam se ver se não quisessem.

O espaço era magnificamente gigante. A primeira coisa que veio ao seu campo de visão, foi a janela, que ocupava 90% do quarto. Como sua casa estava em uma elevação, ela tinha a melhor visão do lugar. Entre as árvores espalhadas, montanhas altas, com neve no topo, podiam ser vistas, assim como um lago, com pedras em volta, no meio das árvores. Talvez, aquela fosse uma janela que ela não fechasse ao anoitecer. Ela queria ver a imagem das milhares de estrelas e da lua acima de tudo aquilo e refletida no lago.

As paredes, onde tinha, eram da cor creme, assim como as poltronas grandes e estofadas, ao redor de uma mesinha de vidro, onde tinha o controle do que Rosalie pensou ser o controle do aquecedor, no canto esquerdo, perto de duas portas brancas afastadas.

No canto direito do cômodo, em uma mesa para estudos, feita sob medida para ocupar o espaço grandioso de oito metros, tinha tudo que ela precisaria para completar o ano letivo. Com a mobília presa na parede acompanhando perfeitamente a quina da parede, o computador da Apple estava desligado, posicionado junto com papéis em branco, e alguns blocos de nota vazios, antes da dobra, e logo depois, ao lado de uma luminária, tinham quatro livros grossos de escritório e uma impressora. Cadernos, canetas, marcadores, clips, poustit, documentos, calendários, outro computador... Nada estava faltando. Enquanto observava tudo e colocava a bolsa em cima do cabideiro, Rosalie imaginou como seria, realmente usar aquele espaço apenas para estudos, e não para o gerenciamento de duas empresas multimilionárias. Com certeza seria bem menos exaustivo.

Ela caminhou até o vidro que cercava a maior parte do quarto e o abriu, recebendo o vento gelado, antes de passar para a varanda e fecha-lo atrás de si.

— Feliz aniversário, mamãe. - Ela sussurrou para o vento, apoiando os cotovelos no parapeito de madeira e vidro, desejando que ela estivesse ao seu lado para ouvir. - Você teria adorado isso aqui.

Tendo passado uns dez minutos, Rosalie tomou coragem para voltar para dentro e encarar o que tinha evitado desde que entrara no quarto.

Passando novamente pela porta e girando a chave, ela viu, que a porta não era no centro com quarto, assim como tinha pedido, ela estava entre a mesa de estudos e trabalho e a cama, que sim, estava gloriosa no centro do cômodo.

A cama era, assim como qualquer outra coisa que pertencia a Rosalie, enorme. Ela sempre amou coisas grandes e brilhantes, assim como a parede creme atrás da cabeceira da cama. Nela, tinham listras retas, mas não proporcionais em relação uma a outra, se encontrando e cruzando. Ela sabia que não estava exatamente pintado de dourado. Era ouro, embutido na parede.

Um sorriso lentamente se espalhou pelo seu rosto, enquanto ela olhava tudo. Desde o vinílico do piso e o teto branco, com um lustre de cristal, que descia como cascata, até o quadro glamouroso, na parte que era parede, entre as janelas.

Na moldura de ouro, com detalhes em rubi, a arte de um pintor francês, estava exposta. A primeira coisa que se via nele, era o sorriso brilhante do homem, olhando diretamente para o pacotinho cor de rosa, nos braços da mulher de cabelo castanho médio. William Hale e Amélie Hale, com sua filha de apenas três semanas nos braços. Uma grande parte de sua vaidade, se dava ao orgulho que ela tinha por ter os mesmos fios de dourado-pálido de seu pai, assim como os cachos largos e soltos do cabelo de sua mãe. Os olhos azuis-violeta foram herdados da avó materna.

Gravado na parte de baixo, entre dois botões de rosa de rubi, estava escrito, "Notre petit ange." - "Nossa pequena anjinha."

Ela sentia falta deles. Mais do que pensava ser possível. Ela os amava demais para simplesmente deixá-los ir. Rosalie sentia demais; amava demais. Ela tinha passado muito tempo tentando sobreviver, e sabia que a perda deles a destruiria, ela também sabia que se desmoronasse, não conseguiria se reconstruir sozinha, como tinha feito várias e várias vezes nos últimos meses.

Seu sorriso cresceu ao ler aquelas palavras, e as memórias felizes deles a invadiram novamente.

O tour pelo quarto estava quase completo, faltavam apenas as duas portas da direita para serem exploradas. Entre as duas portas, havia um vaso com uma bambu áurea artificial, deixando um toque sofisticado.

A porta mais perto da janela foi a primeira que ela abriu. O banheiro todo em branco e creme era espaçoso e bonito ao extremo. Uma pia creme grande e suspensa era a primeira coisa que se percebia, junto ao grande espelho, preso na parede, acima da pia. Em baixo, embutido na parede e iluminado por um fio de led, tinha uma prateleira de madeira, com toalhas enroladas preenchendo o espaço. Entre esse espaço e a parede da porta, havia um vaso de flor alto, na mesma altura do começo do espelho. Folhas verdes artificiais se seguiam dele. Um vaso e cadeira eram as próximas coisas que se viam. Uma parede bogodó branca, separava essa área, da banheira, que parecia ser uma piscina, com dois metros, em uma forma triangular, ao lado do box com o chuveiro quadrado embutido no teto. Uma janela larga na parede, se estendia entre a parede divisória, e tinha uma cortina elétrica. O caminhão de mudança tinha sido enviado semanas antes da mudança, e os utensílios pessoais de Rosalie já estavam em seus devidos lugares. Cortesia da design de interiores e dos empregados, ela imagina.

Ela saiu do banheiro e fechou a porta, entrando na outra em seguida. Seu queixo caiu.

No lugar do que Rose esperava ser seu closet, tinha um shopping.

As quinas da parede foram arredondadas, de forma que o cômodo, ganhou a forma de um círculo. Rosalie só foi capaz de ver a cor da parede, em sua maioria coberta por roupas penduradas nos cabides, graças ao único espaço livre, no qual repousava um quadro, moldurado com ouro. A foto havia sido tirada no ano anterior, no dia de seu aniversário de dezessete anos. Ela e seus pais tinham viajado até a ilha Phuket, na Tailândia, e tinham se divertido tanto... Ela se lembrava muito bem daquela foto. Seus cabelos ainda estavam secos, e a luz solar fez com que os fios claros dela ficassem ainda mais brilhantes. Sua bochecha tinha ficado meio queimada daquela vez. Sua mãe tinha pedido uma pose, e Rosalie, mesmo estando com uma saída de praia branca por cima do biquíni da mesma cor, ela fingiu estar em uma sessão de fotos, e a foto saiu perfeita.

A pessoa completamente saudável e feliz na foto, estava de lado, com a cabeça meio virada e o pescoço elevado, a boca entreaberta, e com um olhar, que parecia estar realmente olhando de volta para quem a olhasse. Aquela tinha sido uma das fotos mais bonitas que ela já tirara, apenas era uma pena, ela não ser mais aquela pessoa.

O próximo um metro, de cada lado do quadro era coberto por espelhos, e do lado direito, uma passagem, na qual Rosalie tinha acabado de passar.

Olhando embasbacada mais uma vez para trás, ela contemplou as suas roupas penduradas uma ao lado da outra, organizadas por ordem de cor, e para a cômoda larga e redonda no centro, que continha as roupas íntimas dela. Apesar das suas peças estarem claramente lá, o lugar parecia vazio, e com certeza cabia mais coisas lá dentro.

A escada em ziguezague a levou para o segundo andar do closet, que ocupava a extensão um pouco maior do que o closet de baixo, também sendo em forma circular.

Em fileiras diversas e intermináveis, estavam os sapatos dela. Mais especificamente, os saltos e tênis de corrida. Dividido por uma parede, as roupas surradas e simples que ela usava para mexer nos carros, estavam também penduradas e algumas dobradas.

Suas joias todas foram organizadas em prateleiras, em manequins expositores, exclusivos para porta-los.

Um espelho terminava de preencher as bordas do lugar. No centro, uma mesinha baixa era cercada por duas poltronas e um sofá da cor bege.

Alguns pontos de brilho espalhados pelo lugar chamaram sua atenção, e quando ela olhou para cima, viu que o teto, em uma grande parte, era de vidro, e os pontos espalhados de luz, era por causa de um lustre de cristal, sustentado por cordas firmemente presas, que espalhava a luz fraca de fora, em pontos por causa dos reflexos.

O projeto da casa em si havia sido feito por ela e seus pais, mas nenhum deles sonhava que o resultado teria sido esse. Era absolutamente perfeito. Tudo.

Rosalie bocejou e decidiu tomar um banho, para espantar o sono que a cercava. Ao tirar as botas e joias que usava, e guarda-los, ela desceu as escadas, descalça.

Em uma segunda olhada, Rose sentiu falta de, provavelmente metade de suas roupas. Decidindo que desceria para perguntar para Judith, ela cruzou o cômodo, aparentemente, pelo menos para ela, e qualquer outro que já tinha visto a quantidade de peças que ela tinha, vazio, Rosalie apertou o que imaginou ser o interruptor. O som de algo se mexendo chamou sua atenção, e ela contemplou, gargalhando, o que devia ser apenas um guarda-roupas, agora, estava saindo do lugar, para preencher o espaço vazio, revelando mais duas fileiras de roupas escondidas.

Ela fez certo, em se mudar para Forks. Tanto o sentimento calmante que teve ao chegar na cidade, quanto essa mansão, confirmavam isso.

O resto do dia se passou com Rosalie deixando o banho para depois de guardar as roupas, joias e sapatos novos que ganhara de Vera, assim como as malas.

O jantar ficou pronto perto das 19:00, e ela pôde conhecer um pouco mais as mulheres com quem ela dividiria a casa. Desde Royce, seus sensores de julgamento estavam a mil, e mesmo assim, ela se viu gostando das senhoras que trabalhavam para ela.

Uma mudança de ares era tudo o que faltava para ela conseguir terminar de se curar, e ela já estava conseguindo isso. Esse foi o seu último pensamento antes de cair em um sono sem sonhos.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado...
Beijos! Até o próximo!
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