Conexão escrita por Júlia Fróis


Capítulo 4
Hannah


Notas iniciais do capítulo

oi! alguém aí?



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                                                           Hannah.

                                              Manhattan, New York. 

Era mais um dia comum de estudante na minha vida, dessa vez no terceiro ano do High School, eu estava cada dia mais ansiosa por uma vaga na Bolshoi Academy as olheiras no meu rosto deixavam isso claro...

Fechei a porta do meu armário com um suspiro, meu emprego começava as 16h logo depois da escola, a minha apreensão era lidar com pessoas eu não tenho paciencia com pessoas, e eu vou estar trabalhando em uma livraria isso era meio irônico, na próxima encarnação quero vir com vocação para veterinária ou nascer um gato, quem sabe...

Com alguma sorte eu conseguiria me manter nesse emprego por tempo o bastante para os meus pais acharem que o meu futuro não é um caso perdido, pelo menos até eu encontrar algo no Ballet.

Ajeitei meus livros de inglês e literatura nos braços antes de caminhar até a sala esperando não pegar no sono em cima de um resumo crítico de Otelo.

E com um gelo na barriga percebi que eu não tinha sequer começado a escrever o ensaio sobre Otelo, fazendo um critica completa da obra.

Maravilha Hannah! Por que você não fez isso mesmo?! Ah é, eu estava ocupada demais flertando com um cara que eu conheci em um café qualquer enquanto eu sofria pelo meu melhor amigo que me largou no dia dos namorados para ficar com uma garota enjoada.

Bufei sentando na carteira da frente e pegando meu material para tentar começar a escrever alguma coisa, tentando fazer algo útil com o meu tempo livre já que eu cheguei mais cedo devido a insônia isso deve servir para produzir alguma coisa além de olheiras horrendas.

Inclusive eu teria que tentar defender o vilão da obra, Iago.

O máximo que eu poderia fazer é escrever sobre como a ambição tem destruído vidas desde sempre, e quando passa do limite e afeta outra pessoa se torna, na minha opinião um misto de burrice e psicopatia.

Suspirei e comecei a escrever:

― “Defender um vilão como Iago no século XXI não é fácil, nem mesmo tem como fazer isso ele é um sinônimo de inveja, ele é um oficial do exército de Otelo que depois de não ter sido promovido ele cria intrigas e convence o general  de que Cassio está tendo um caso com Desdêmona sua noiva, louco de ciúme Otelo a mata e só depois descobre a verdade, pela boca da esposa de Iago que também acaba morta pelo marido que se suicida logo depois...” ― Eu murmuro baixinho conforme escrevo.

É, não tem como defender isso.

Eu só espero que não ganhar uma nota baixa por deixar bem claro que, durante a sua vida Shakespeare não escreveu sobre amor e sim, sobre tragédia, eu sabia que nas próximas semanas eu teria que me preparar para um debate sobre esses ensaios e provavelmente teria que ouvir comentários absurdos com o começo típico de frase: foi por amor.

                                                              *   *   *   *

A insônia depois da terceira aula que foi química, não estava me ajudando a raciocinar como antes na verdade, tudo parecia lento a minha volta quando decidi comprar uma lata de Coca Cola na hora do almoço.

Eu estava pesquisando sobre aulas intensivas de Ballet, já que agora eu tenho um emprego e eu espero poder pagar por isso e ter um pouco de paz de espirito, quando meus olhos caíram pela enésima vez no icone do WhatsApp na barra de início do meu celular indicando as mensagens não lidas.

Suspirei.

Eram dele. Jason.

Mas eu estava decidida a ignora-lo e seguir em frente sozinha, ele me procuraria se quisesse, ele fez a escolha dele. respondi algumas mensagens do Alexander e travei o celular sentindo um frio na boca do estomago cada vez maior a medida em que a hora da saída chegava, e me encaminhei para a sala de aula sentindo um peso invisível pressionar meus ombros para baixo sem nenhuma piedade.

O Sinal da saída pareceu tocar cedo demais ou talvez, fosse só o habito que eu tinha de brincar com o elástico perdido no estojo que fazia o tempo passar mais rápido, eu teria que pegar a matéria depois com alguém porque a folha do meu caderno permaneceu em branco.

Guardei minhas coisas com uma queimação no estômago, minha boca parecia constantemente seca parei e comprei uma água bem gelada, antes de seguir para o ponto de ônibus.

Cheguei dez minutos adiantada e estava sozinha o que resultou em uma espécie de tique nervoso, batendo o pé incessantemente no chão em quanto olhava para os lados, sem conseguir ficar sentada, tenho quase certeza de que se houvesse alguém me observando pensaria que eu estou prestes a ter um ataque cardíaco, ou alguma crise de abstinência de açúcar...

Eu estava quase decidindo ir a pé quando o ônibus finalmente chegou, agora já não tenho certeza de que eu cheguei só dez minutos adiantada pareceu três horas e meia...

Sentei no fundo do ônibus perto da janela e encostei a cabeça no vidro, cansada. Suspirei e simplesmente fiquei esperando chegar ao meu destino, mais cansada do que parecia estar quando levantei.

                                                              *   *   *   *

Depois de mais um ônibus eu cheguei na frente da The Stand Bookstore, conferi o relógio Rosé no meu pulso que tinha uma bailarina desenhada 15h45. dei um meio sorriso quinze minutos adiantada, entrei no estabelecimento e o ar condicionado me deu boas vindas.

Cumprimentei Melissa que estava colocando uma pilha de livros na estante, Stacy que estava descendo as escadas enquanto eu subia para ir ao banheiro trocar de roupa, e Rebecca minha chefe estava saindo do seu escritório quando eu passei no corredor acenei com a cabeça e dei um oi em um tom baixo com um meio sorriso enquanto seguia para o banheiro trocar de roupa.

Coloquei uma legging preta montaria, camisa gola polo branca com o nome da livraria em vermelho, com um tênis preto Fila, guardei a outra roupa na mochila e encarei meu reflexo no espelho, olheiras fundas cada dia mais escuras que pareciam até permanentes já que na noite anterior eu acordei de hora em hora por algum motivo que eu desconheço, pelo menos conscientemente.

Eu só vou começar no meu novo emprego, nada poderia dar errado...poderia?!

Suspirei pesadamente apoiando as mãos espalmadas na bancada da pia enquanto tentava me acalmar, mas as minhas mãos começaram a suar, é não estava dando certo isso de manter a calma...

Vamos lá! Você consegue pensei enquanto pegava a minha maquiagem: base, pó e corretivo para disfarçar a cara de zumbi, prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto e desci para o primeiro piso.

Tentar parecer atenta poderia ser mais dificil do que pensava, meu raciocínio parecia lento e as vezes eu precisava piscar forte para me manter com a mente presente...

As poucas pessoas que estavam na livraria já haviam sido devidamente atendidas, e agora seus olhos vagavam pelos títulos.

Decidi não ficar muito em cima eu sabia como isso poderia ser irritante então, eu comecei a circular pela livraria em passos lentos admirando algumas capas, até que uma capa roxa de um livro grosso me chamou a atenção: As Mil e uma noites.

Chegando mais perto vi que tinha estrelas e um topo de um palácio que me parecia familiar logo abaixo do título contos árabes – Aladim e a lâmpada maravilhosa. Deu origem ao desenho.

Arregalei os olhos.

Eu era completamente apaixonada pelo desenho do Aladdin quando eu era criança, acho que por ser diferente de todas as histórias de princesa da época Jasmine era uma princesa a frente do seu tempo, saia escondida do palácio e o melhor de tudo: Tem um tigre de estimação. Rajah.

Eu preciso desse livro.

O barulho suave da porta se abrindo me fez ter um leve sobressalto, e guardar o livro rapidamente no lugar enquanto ficava ereta e colocava ambas as mãos atrás do corpo, a menina era morena, baixinha, usava óculos redondos estilo coruja em um tom Rosé com uma blusa de bolinhas pretas, uma calça jeans e botas.

Eu estava tomando folego e abrindo a boca quando ela mesma se dirigiu a mim com um aceno. É, foi mais fácil do que eu pensei me aproximei dela.

― Olá, tudo bem? ― cumprimentei ― Precisa de Ajuda?

Ela sorriu.

― Preciso desses livros para as aulas de Artes Cênicas. ―  Ela desdobrou um papel que estava entre os cadernos que ela segurava e me mostrou.

Peguei delicadamente.

 A Preparação do Ator (Constantin Stanislavski).

 A Construção da Personagem (Constantin Stanislavski)

A Criação de um Papel (Constantin Stanislavski)

Corri os olhos pelo papel e fui até a estante correta achando os três títulos com facilidade, estavam lado a lado já que são todos do mesmo autor peguei os três livros e caminhei de volta até a moça que olhava em volta.

― Aqui! ― entreguei os livros e meu cartão para ela ― Algo mais?

― Não ― Negou com a cabeça folheando o livro de cima ― Obrigada ― sorriu.

― De nada ― acenei de leve enquanto ela caminhava até o caixa.

Eu não tentei sorrir para mostrar simpatia se não corria o risco de sair uma careta. É sério, correu tudo bem com a minha primeira cliente suspirei aliviada.

Stacy estava carregando três caixas fechadas de livros para o andar de cima quando me estendeu algumas folhas para passar para o sistema, assenti e fui para o computador.

Suspirei antes de abrir minha bolsa que estava no chão perto do balcão, e pegar meus óculos de grau, coloquei os óculos de armação quadrada e fina azul e eu pisquei algumas vezes para minha visão se acostumar com o brilho da tela do computador, e comecei a digitar.

O Único barulho no primeiro piso era as minhas mãos digitando rapidamente com os olhos grudados no computador a música baixa que tomava conta do ambiente era 7 Rings da Ariana Grande e eu cantarolava o refrão, o tempo passou mais rápido do que eu esperava.

Forcei-me a me afastar do computador quando meu estômago ficou totalmente vazio e roncou me lembrando que eu só tinha tomado uma lata de Coca – Cola no almoço, fechei os olhos e tirei meus óculos massageando a minha têmpora direita.

― Hannah ― tive um sobressalto quando ouvi a voz de Melissa a minha direita olhei em sua direção ― Pode tirar seu tempo de descanso se quiser na verdade ― ela fez uma pausa ― Você está meio abatida...

Contive um suspiro diante do seu comentário e assenti pegando minha bolsa e saindo de perto do balcão, uma hora de descanso deve ser o suficiente para comer alguma coisa, e foi com alivio que eu encarei uma cafeteria do outro lado da rua.

Sentei em uma das mesas disponíveis na calçada e corri os olhos pelo cardápio e pedi as primeiras coisas que meus olhos bateram, Milkshake de chocolate e panquecas com Nutella.

 Vamos esquecer momentaneamente a regra de que uma bailarina não pode ter seios e nem bumbum grande e tentar, deixar esse dia menos deprimente com um pouco de açucar, mesmo comigo mexendo distraidamente no celular o meu pedido pareceu demorar ou talvez, fosse apenas o meu estômago vazio pregando peças no meu cérebro cansado.

Eu apoiei a cabeça na mão direita e fiquei analisando ´preguiçosamente os quadros do estabelecimento com frases do tipo: Bom dia só depois de um café ou apenas me dê um pouco de café.

― Moça, você está bem?

Continua...


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