Sacrifícios escrita por Shalashaska


Capítulo 6
Ela vai voltar


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoas queridas ♥
Lamento não ter postado antes. Tive problemas de saúde ao fim do ano, então fiquei um tanto debilitada. Mas, em compensação, está aqui um capítulo grandão em homenagem à vocês e à estreia de WandaVision. Eu já assisti e quem quiser comentar comigo, me manda MP ou fala nos comentários o que achou ♥
Muito obrigada e boa leitura!



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02/05/2022
Laboratório da Transigen, fronteira entre México e EUA
19:11

A aeronave foi estacionada ainda no modo furtivo no solo, apenas alguns quilômetros de distância da base que eles iriam invadir. Os muros eram altos e as torres não deixavam dúvidas de que ali existiam câmeras e vigilância constante. Devido a grandeza do local e sua inegável proteção, o grupo de Genosha só pôde se reunir com os mutantes do Instituto Xavier no chão, escondidos pela vegetação local e a escuridão da noite.

Finalmente, estavam reunidos: Magneto. Mística. Psylocke. Scott Summers. Logan Howllet, sujeito que ele conhecia pelo o que conversava com Scott. Uma moça que Pietro não sabia o nome e ele próprio. Seria ótimo se o rosto familiar de Emma Frost estivesse ali também, mas alguém tinha que ficar no Instituto.

O vento soprou de novo, trazendo uma brisa morna. Todos sussurravam e Pietro desligou o som nos fones. 

— Essa é a principal base e laboratório da Transigen, aliada da IMA. Para o público, é só mais uma empresa farmacêutica em busca da cura para o câncer — Scott Summers resumiu, mostrando uma figura holográfica de luz pálida no comunicador de pulso. Pietro se aproximou mais um pouco, observando a imagem tridimensional da imensa construção. — Sabemos que o tráfico de mutantes continua em atividade mesmo após esses anos todos e, aparentemente, a IMA tem feito experimentos. Mas foi só com a denúncia de Gabriela Lopez que enxergamos algo mais sério na fronteira.

Quando a foto da cientista apareceu no lugar do holograma anterior, foi possível notar o desconforto de Logan Howlett. Ele inspirou e expirou fundo, suas narinas dilatadas pela raiva.

— Ela estava procurando ajuda. — Disse ele, a expressão franzida. — Existem crianças lá dentro sendo torturadas. Algumas cometeram suicídio. As médicas do programa tentaram libertá-las, mas… 

Uma pausa. Scott afagou o ombro do parceiro e continuou por ele:

— Dra. Lopez foi assassinada ao nos dar as provas necessárias para que possamos levar a Transigen ao sistema de Justiça internacional, ou o que resta dele. Só que isso não salva as crianças.

Psylocke e Pietro se encararam brevemente, antecipando o peso da missão, já Magneto encarava Summers com palpável foco. É claro que um local onde aconteciam experimentos e extermínio de uma raça mexeria com os nervos dele de maneira profunda, tanto que Pietro não se surpreendia por ele não apenas ter moído a base em si mesma, utilizando seus poderes sobre as estruturas metálicas.

Então Mercúrio cortou o silêncio:

— Qual é o plano?

— Entrar, pegar as crianças e sair.

— Hm, — Ele anuiu a cabeça, impressionado pela resposta sucinta de Logan. Sem falar que era de sua vontade apenas entrar correndo na base. — Mais simples do que imaginei.

Scott segurou seu braço, talvez temeroso em deixá-lo realmente apenas partir.

— Um minuto, rapaz. 

O líder dos X-Men passou a enumerar as etapas que havia planejado para a ocasião:

— Mística e Psylocke vão entrar para acompanhar a missão por dentro através de uma das salas de vigília. — Prosseguiu, entregando um pacote com roupas para Psylocke. Era o uniforme da equipe tática da Transigen, o mesmo tipo que os guardas dos muros utilizavam. — Primeiro irão entrar com o automóvel que  trouxemos. Repassarão status a cada cinco minutos e vão mostrar a localização das crianças para nós através dos comunicadores. Elas vão facilitar nossa entrada e nossa saída. — A figura holográfica da construção voltou, exibindo um outro ponto próximo. — Os Vingadores aproximaram Outer Heaven daqui, então nossos inimigos estarão mais atentos no céu do que em nós.

— Eu só não posso correr e pegar as crianças?

A moça nova, talvez da idade dele, e com os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo, riu com um toque de desdém.

— Boa sorte em fazer isso vinte vezes sem ser pego pelas câmeras.

— Magneto, — Summers prosseguiu, sem se importar com os dois mais jovens da equipe fuzilando um ao outro. — O plano é que você fique. Eles têm unidades aéreas para fuga e ataque, será mais fácil segurá-los aqui de fora.

— Certo. E meu filho?

— Mercúrio vai ajudar na extração das crianças quando já estiver tudo preparado, junto com a Lince Negra.

Pietro franziu os cenhos. Que nome mais pretensioso! 

Quem?

— Eu. — A moça acenou com sua luva roxa. — Me chamo Kitty Pryde e atravesso coisas.

— Ah.

Era um poder bem interessante, mas ele não queria dar o braço a torcer. Sua vontade era lhe dar, na verdade, uma resposta malcriada qualquer, mas soube fechar a boca.

— Logan e eu também entraremos para investigar mais e acabar com os registros de pesquisa. — Pietro ficou com inveja da parte deles. Era só recuperar informação e tacar fogo no resto. — Estaremos por perto caso precisem de ajuda. Usem os comunicadores e não saiam da frequência 144.2. Cada dupla levará um codinome, certo? Elizabeth e Raven: Borboleta Azul. Eu e Logan: Carcaju Vermelho. Pietro e Kitty: Lince Prata.

Scott Summers encarou Magneto, que fez um sinal negativo com a mão.

— Dispenso outro nome.

Quem riu foi Mística, sempre tão quieta e tão criteriosa com as reações que permitia a si própria demonstrar. Pietro gostava tanto do jeito dela quanto tinha medo, às vezes. Ficar sob o foco daquele par de olhos amarelos reptilianos era uma experiência um tanto… Diferente. Naquele instante, porém, ela apenas sorriu e comentou:

— Vamos...

A pele azul da mutante começou a descamar rápido, mudando sua forma, seu peso, sua altura. Não demorou mais do que segundos para que ela se transformasse num homem de porte atlético e uniformizado, um dos guardas da Transigen. Por fim, sua voz — agora grave — terminou a frase:

—...Começar?

* * *

A entrada de Psylocke e Mística foi fácil. Elas utilizaram um jipe para entrar na base como se fossem uma equipe de patrulha retornando, e era óbvio que os poderes telepáticos da oriental ajudavam a evitar qualquer suspeita vinda dos guardas. Não demorou para que a mensagem do time Borboleta Azul viesse com a confirmação de que estavam devidamente instaladas em uma das salas de vigilância interna, acomodadas entre dúzias e dúzias de telas das câmeras de segurança.

Carcaju Vermelho deveria entrar na parte oeste, onde faziam o descarte de materiais. Seria mais tranquilo entrar naquele horário, sem falar que estariam perto da área de pesquisa. Lince Prata deveria seguir a oeste, por onde vinha o suprimento alimentício e onde após alguns corredores encontrariam os dormitórios, ou melhor, as celas das crianças. Magneto já estava relativamente longe, perto das aeronaves do grupo, e quando Scott e Logan se foram, deixando apenas Pietro e Kitty, o ligeiro nervosismo deles superou a anterior antipatia entre os dois.

— Então, — Pietro estalou a língua, observando a tal da entrada leste no holograma do comunicador que recebera. O caminho dentro da base não era longo… Mas era fechado. A planta do local indicava inúmeros corredores, salas e andares.

— Como vamos fazer isso?

O rosto dela estava iluminado em ciano pela projeção holográfica, ressaltando seus contornos arredondados e juvenis. 

— Bem, obviamente eu não sou tão rápida quanto você e nem você atravessa paredes feito eu. 

— Deveríamos nos separar?

— Não, — Ela fez uma careta, comprimindo os lábios e olhando para o lado. Estava pensando numa alternativa. — Isso só dividiria a atenção do nosso suporte.

— Eu te carrego, então. — Pietro bufou ao ver a expressão assustada e encabulada dela. Não era hora para vergonha, mas ele decidiu se justificar para acalmá-la. — Costumava fazer isso com a minha irmã. Te seguro no colo ou cavalinho?

— Hã, — Ela engoliu seco, depois mexeu nos próprios cabelos. Até poderia ser adorável se eles não estivessem numa missão séria. — O que for mais conveniente para você. Mas me pergunto se meus poderes vão funcionar acompanhando a sua velocidade… Pode ser um risco.

— Só tem uma forma de descobrir.

Quê?

Cansado já de ficar ali pensando no que deveria ou não fazer, Pietro alimentou-se daquela sua dose costumeira de impulsividade e a pegou no colo, disparando em seguida para a direção que indicada pelo holograma. Vendo a superfície dura, e provavelmente grossa, dos portões aproximar-se mais e mais, Kitty agarrou-se bem na roupa dele e encolheu o corpo. Ela se preparava para o impacto, incerta sobre a eficiência de seus poderes, enquanto o velocista prosseguia a passos largos.

Pietro passou direto, quase sem acreditar. Além dos portões, passou por uma parede, então mais outra e mais outra. Seu corpo corria rápido e sem colidir contra móveis ou até outras pessoas. Ele riu, desejoso por uma trilha sonora para aquele momento imparável, até que parou na primeira cela e apoiou a outra mutante no chão.

A coitada estava trêmula e pálida.

— Seu idiota! Estúpido! — Ela ainda se segurava no ombro dele, mesmo já de pé. Pietro achava que  ela tinha ido bem no trajeto, apesar do medo. Nem gritara. — Podia ter nos deixado presos no concreto! Você tá fora de si? Quase morremos! — Pietro revirou os olhos. — Podia ter acabado com a missão!

— Adrenalina faz maravilhas. — Cortou-a. — Veja, nós estamos bem e é só repetir tudo isso umas… — Raciocinou ida e volta das vinte crianças. — Quarenta vezes. Trinta e nove, agora.

Kitty estava prestes a estourar de novo quando ambos notaram a presença de uma criança no fundo do cômodo. Estava encolhida e vestia roupas tão brancas quanto as paredes e a iluminação do local.

A mente de Pietro saiu dos limites do crânio por alguns instantes.

Recordou-se dos laboratórios em Sokovia, a alguns quilômetros de Novi Grad. As lâmpadas de LED ou fluorescentes dentro dos locais de teste, para então as cobaias voltarem à luz incandescente, amarela e suja, das celas depois. Engoliu seco, como se estivesse subitamente rouco.

Como havia gritado pela irmã. E como ela  gritou de volta.

A voz do garoto o trouxe de volta das lembranças.

— Quem são vocês?

Kitty uniu as mãos na altura do peito, talvez tão despreparada e chocada quanto Pietro. O menino não tinha mais do que dez anos e estava inteiro entrecortado por dúzias de marcas de agulhas nos braços, alguns pontos de sua pele negra até arroxeados de hematomas. Não existia muita coisa além da cama e de um sanitário no local, só uma bola vermelha do tamanho de suas mãos.

Os olhos arregalados do menino contavam tudo. Pietro se aproximou com cuidado dele, ajoelhou-se para ficar na altura de seus olhos.

— Oi, amiguinho. Tá a fim de sair desse lugar podre?

Ele não acreditava. Por que acreditaria? Mas quando o velocista lhe deu a mão e disse que tudo ficaria bem, o menino desistiu de qualquer desconfiança. Era melhor acreditar numa ilusão de escapar do que se prender àquele cômodo até o fim de sua existência. Pegou a bolinha vermelha e saiu na garupa de Pietro, que fazia o máximo possível para continuar correndo com Lince no colo e a criança nas costas.

E fez isso mais trinta e oito vezes. Pelos comunicadores, entre as pausas para conversar um pouco com as crianças e entregá-las às aeronaves — sob os cuidados de um preocupado Magneto — Pietro e Kitty escutavam o desenrolar da missão para os outros times. Grupo Borboleta Azul seguia bem, alertando onde haviam guardas e desligando câmeras em pontos estratégicos por alguns segundos, enquanto Carcaju Vermelho já havia retirado material extra para uma denúncia e destruído o restante das pesquisas.

Era a última viagem que faziam às celas, e nesta havia uma garota de dez a doze anos no máximo, de cabelos lisos e pretos. Assim como as demais, ela vestia roupas brancas e tinha apenas um único objeto pessoal: uma revistinha colorida, algo que Pietro reconheceu como...uma história em quadrinhos de super-heróis.

Seu coração se apertou dentro do tórax.

— Oi, menininha! Tudo bem? — A garota se curvou, depois rosnou alto em aviso. Tanto ela quanto Kitty deram um pulo para trás. — Ela que deveria ser chamada de Lince, não você.

— Cala a boca, Pietro. — A outra disse, por mais que ainda estivesse assustada. Encarou a menina com a expressão mais gentil que podia e tentou se aproximar devagar, já que ela não poderia ser ferida de todo modo. Aos poucos, o semblante dela pareceu relaxar a ponto de Kitty se sentir confiante o suficiente para agachar-se perto dela. Colocou uma mecha de cabelo atrás das orelhas e delicadamente perguntou: — Como você se chama?

Um pausa. Depois, um sussurro:

— X-23.

Mercúrio e Lince se entreolharam rápido. A pobre menina ou não tinha nome, ou tal nome havia sido apagado. Com gentileza, ela continuou:

— Não… O seu nome de verdade.

— … Laura.

A expressão da menina era reticente e simultaneamente esperta, como um animal avaliando o ambiente e a ameaça. Isso ardia revolta no velocista e sua vontade era pedir que seu pai de fato destroçasse aquela base depois de remover as crianças com segurança.

— Laura, — Pietro também se aproximou. — A gente quer te tirar daqui e levar de volta para sua família. Que tal?

— Eu não tenho uma.

Era melhor tentar outra abordagem.

— Você gosta daqui? — A menina esperou um pouco e depois sacudiu o rosto negativamente. — É, eu imaginei que não. Não vi doces. — Ele sorriu para ela após a piadinha tola e quase viu um brilho em sua expressão. — Sabe, Laura… Essas pessoas que te deixaram presa aqui te machucaram, não? E machucaram seus amigos. Nós já tiramos todos os outros daqui, falta só você.

Ela alternou sua atenção entre Pietro, Kitty as histórias em quadrinhos. No título da edição, havia uma prévia da história sobre os heróis descobrindo uma espécie de Éden. Um paraíso pacífico.

— Isso existe. — O velocista comentou, apontando para a capa. Talvez não tivesse o mesmo nome, mas existia o Idílio em Genosha. — E nós podemos te levar até lá. Primeiro tem que confiar na gente, tá? Eu corro rápido e ela atravessa coisas. Juntos, nós vamos até a nossa aeronave. — Ofereceu a mão. — Ok?

— … Tá.

Pietro ajudou a menina a se levantar e explicou brevemente o plano, que envolvia pegá-la de cavalinho e correr o mais rápido que podia até fora daquele local. Primeiro ele sustentou Kitty em seus braços, depois agachou o torso para que Laura pudesse subir nele e entrelaçar seus bracinhos magros em seu pescoço da melhor forma que podia, já que ainda segurava sua história em quadrinhos com uma das mãos. 

Ele soltou um gemido de dor com o peso da garota, o que muito o surpreendeu.

— Talvez… a viagem seja um pouco mais demorada.

Sua colega de equipe assentiu, também tocando em Laura para que seus poderes de intangibilidade a atingissem, e no momento seguinte eles estavam em movimento. Atravessaram uma parede, depois viraram à direita para pegar um caminho mais curto. A travessia por objetos mais densos parecia mais lento e difícil para Kitty, de modo que Pietro decidiu pegar um corredor para evitar maiores problemas. Realmente não parecia bom ficar parado no meio do concreto. Se mantivesse o ritmo da corrida, não seriam perturbados pelos inimigos.

No lugar de uma fuga tranquila, os três foram acertados por um som estridente. Ecoava por todos os lados e a amplitude do som era tal que Pietro sentiu suas ondas reverberarem por sua caixa torácica. Uma onda sônica absurda. Ele gritou e travou na hora, fazendo com que a inércia atingisse os corpos dos três. Pietro, Kitty e Laura vieram ao chão liso do interior da base, todos gritando e tentando tapar os ouvidos com as mãos.

A queda foi bruta.

Entre a dor, a confusão e a certeza de algo tinha dado errado na furtividade da missão, Pietro pôde ouvir as vozes entrecortadas dos outros times nos comunicadores. Algo como Psylocke e Mística terem sido flagradas e ou então o grupo Carcaju Vermelho. Não havia como entender direito, pois o som agudo deixava-os quase que paralisados. Tão súbito quanto o alarme veio, ele se foi.

E quando finalmente Pietro conseguiu discernir algum pensamento claro dentro de sua cabeça, enxergou um grupo de guardas aproximando-se do fundo do corredor branco. Levantou num pulo, já pegando a mão de Laura e Kitty, para que pudessem escapar o mais breve possível. No entanto, em vez de atravessarem as paredes igual das outras vezes, a superfície do concreto parecia uma esponja firme.

E muito sólida.

Os três ficaram no mesmo lugar e o som dos reforços inimigos somente chegava mais perto.

Lince! Que porra é essa?

— Ela… Ela tem ossos muito densos! — Kitty tentou se defender, em pânico. — Eu não consigo me concentrar direito com tudo isso ao mesmo tempo!

Ele sabia o quanto os poderes tinham lá suas limitações, muitas delas sendo até mesmo limites mentais. Quando distraído, temeroso ou impulsivo demais, nem mesmo a velocidade de Mercúrio superava todas as adversidades e foi assim que ele morreu em 2015. Kitty só estava com tanto medo quanto ele, preocupada pela vida da menina e do colega de equipe, sem falar que de fato existia algo em Laura que a deixava mais pesada. Pietro bufou.

— Vai na frente.

Kitty arregalou seus olhos castanhos. Por sua vez, o jovem sokoviano só uniu as mãos da mutante com a da menina.

— Mas…

— Vai na frente! — Depois piscou para a Laura, assegurando que tudo ficaria bem… Mesmo que não tivesse certeza disso. — Vou dar um jeito.

Relutante, a Lince Negra atravessou as paredes para fugir em segurança. No segundo seguinte, os inimigos fizeram contato visual com Pietro e abriram fogo. Foi hora dele começar a correr.

Pietro havia treinado técnicas de auto defesa e ataques brutos com Psylocke ao longo dos meses em Genosha, mas geralmente não tinha que fazer uso disto. Era mais fácil movimentar as pernas, ganhar velocidade e empurrar as pessoas, coisa que poderia ser bem violenta se fizesse isso com força demais. O fato é que ele ainda estava um tanto desorientado e, apesar de ter todo um traje que melhorasse as condições de seus movimentos, o local era pequeno e não iria conseguir uma aceleração excelente. Mais: entre um intervalo e outro, o guinchado sônico ainda ecoava do sistema de som da base. 

Portanto, a primeira meia dúzia de inimigos foi fácil de derrubar, quase como uma bola de boliche acertando pinos num strike. Eles tinham armas, coletes e protetores auditivos, porém não podiam atirar todos ao mesmo tempo. Seria um risco para eles e para a integridade da estrutura da base, ou seja, tal vulnerabilidade abriu margem para Mercúrio justamente derrubá-los.

O resto foi mais… Complicado, principalmente quando ele, tentando desviar dos adversários no piso, levou um tiro de raspão na coxa esquerda. A dor limitou ainda mais seus movimentos e ele trombou contra a parede do corredor, batendo a cabeça devido a força com que foi jogado para trás.

O mundo escureceu por um segundo e ele só conseguiu imaginar, com tristeza, a reação do pai dele quando soubesse que Pietro estava morto, de novo. No próximo instante, ele sentiu uma mão delicada puxar seu ombro para trás, atravessando a parede.

Caiu no chão de outra sala, assistindo a imagem invertida de sua colega de equipe e da menininha de branco observando-o.

— Kitty! Eu disse pra você ir na frente.

— Só agradeça.

Ela o ajudou a se levantar, o que foi um tanto ruim com a coxa sangrando. Pietro não queria que a menina, Laura, assistisse aquela cena horrorosa ou ficasse com medo da fuga, já que era para os dois serem os heróis, mas o rosto dela nada expressava. Kitty o sustentava pelo ombro, enquanto segurava Laura com a mão oposta. Juntos, eles caminharam devagar — pois Pietro mancava — entre saletas e laboratórios iluminados pelo vermelho de alerta na base. O esforço era nítido para Kitty Pryde, mas ao menos o ritmo lento era menos perigoso.

“Borboleta Azul para Lince Prata, Borboleta Azul para Lince Prata.”

Era a voz de Psylocke e, pelo tom dela, a mutante estava correndo. Os três pararam um segundo, no fundo de um corredor largo e deserto, e puseram-se a respirar melhor. Pietro alcançou o comunicador no antebraço e respondeu:

— Estamos na escuta.

"Desligamos o sistema de som ultrassônico, mas a base inteira está em alerta. Temos que sair logo. Não conseguem correr?”

Quem respondeu foi Kitty:

— Pietro está ferido.

Veio um xingamento baixo do outro lado.

”Mais inimigos estão vindo na área onde vocês estão. Carcaju Vermelho está perto, pode ajudar.”

Nem bem Psylocke havia acabado de dizer tal coisa quando outra equipe de soldados uniformizados em preto surgiu na outra ponta do corredor. Nove no total. Pietro considerava aqueles uniformes, o senso de coletividade quase tribal, anonimato e poder simplesmente desumanizantes. Não parecia ter outra pessoa diante dele, apenas um número com uma função a cumprir… E talvez aquele número também não o enxergasse como um indivíduo, mas sim uma espécie distinta e inferior. Um mutuna.

Franziu os cenhos. Aquilo no equipamento deles… Não era apenas munição letal. Ele viu o brilho verde e líquido mesmo a metros de distância no corredor, talvez dardos tranquilizantes. Queriam incapacitá-los, se pudessem.

E sabe-se lá o que fariam com eles no laboratório depois.

Pietro se colocou diante das meninas e tentou ignorar a dor na coxa. O que ele tinha dito para o próprio pai mais cedo, antes da viagem, era verdade: aquelas crianças eram o que ele e Wanda tinham sido no passado. Mercúrio, naquele instante, era a figura que ele precisou quando mais novo, então a decisão não poderia ser outra. Ele inspirou fundo e começou a correr.

O mundo desacelerou por alguns segundos. Ele ouviu os sons lentos dos disparos, viu o brilho dos canos das armas. Esperava que Lince utilizasse seus poderes para manter a si mesma e Laura a salvo, enquanto ele lidava com mais um grupo de adversários. O primeiro impulso, motivado pela raiva e pela lembrança, lhe concedeu velocidade suficiente para chegar até eles com rapidez, no entanto tal combustível não durou muito, mesmo que tenha derrubado três homens apenas com o impacto do próprio corpo. Logo ele foi obrigado a desacelerar até a velocidade normal do mundo e fez o possível para trocar golpes com um soldado, tirar a arma de outro e desviar de golpes de um terceiro. O restante buscava uma abertura para atirar nele.

Uma coronhada no joelho arrancou um grito seu e o jogou no chão. Preparou-se para o ardor de um tiro ou de outro golpe, quando ouviu um grunhido e viu uma sombra se jogar nos soldados.

Era Wolverine.

O homem trajava aquela sua roupa preta e amarela, brandindo suas garras de adamantium já ensanguentadas por algum encontro anterior com soldados. Pietro escorregou para o lado, desviando da fúria do outro, bem a tempo de evitar que uma rajada de líquido vermelho o banhasse. Assistir Logan Howllet atacar daquela forma era uma experiência fascinante e mórbida, pois o mutante mais parecia uma besta em frenesi. Fincava suas lâminas no tronco dos adversários, arranhava e fatiava.

Mas ele não resolveu todos os problemas. Os soldados que Pietro tinha derrubado se levantavam agora, movidos pelo instinto de sobrevivência, e mais dois ainda conseguiam evitar os ataques de Wolverine com um pouco de sorte. Ainda no chão, o velocista chutou o joelho de um inimigo, obrigando-o a cair no piso branco, ao mesmo tempo que viu o cano de outra arma apontada para seu rosto. Naquele átimo, Pietro raciocinou depressa e estava certo de que dali não viria um dardo tranquilizante, mas sim uma bala grossa para estourar seu cérebro.

De súbito, uma mão atravessou o corpo do soldado, indo e voltando na direção de seu tórax. Kitty Pryde remexia os órgãos dele por trás de suas costas, e o homem por sua vez tateava a si mesmo em franco desespero. Ele gritou quando ela acertou o toque em seu coração e depois desmaiou. 

A garganta de Pietro emudeceu ao vê-lo tombar.  

Levantou-se para ficar longe das poças de sangue viscoso e quase escorregou. Usar sua velocidade naquele momento seria perigoso, embora a adrenalina anestesiasse um pouco de sua dor na coxa. O corredor branco já estava vermelho, no entanto mais inimigos vinham. Um, dois, três. Vinham em ondas e talvez só estivessem preparando uma reprimenda maior. Wolverine seguia seu ritmo desenfreado, Lince desviava com sua intangibilidade e Pietro fazia o possível para acertar golpes em pontos chaves. Todos faziam o possível para avançar ao menos um pouco em direção à saída, enquanto Laura ficava ao fundo.

Nada impediu, porém, de Kitty ser atingida por um dardo na nuca, vindo de um inimigo que estava longe e que a acertou de costas enquanto ela prestava atenção em outro ponto.

O efeito foi quase instantâneo e ela caiu de joelhos, sonolenta.

O que ninguém podia prever era que a menina magra e quieta viria rosnando em direção ao combate. Pietro gritou para que ela recuasse, ou achou que tinha gritado, mas todos os seus pensamentos se dissiparam quando viu lâminas escapando dos membros de Laura: duas longas lâminas em cada punho e uma pequena em cada pé.

Se achava Wolverine selvagem até aquele instante, vê-la correr, gritar, pular sobre os adversários e fincar suas garras com toda força que lhe cabia, fez Pietro reavaliar suas ideias. Ela mordeu o pescoço de um soldado que lutava contra Wolverine, depois foi atrás do homem que disparou contra Kitty. Talvez tenha sido um efeito de seu cérebro rápido, mas tudo pareceu acabar depressa e de repente a menina estava ali, inteira ensanguentada e ofegante. Ele podia jurar que a viu levar ao menos três tiros, mas Laura não dava sinais que sentia dor alguma. A única coisa que sua boca foi capaz de dizer foi:

Caralho.

Wolverine também a encarava atônito, entretanto o fascínio logo esvaneceu com mais baques do alerta vermelho da base. Ele apontou a direção correta e gritou para os três:

— Saiam logo daqui!

Sem pensar duas vezes, Pietro pegou Kitty no colo, ajeitando-a no ombro com um braço, e entrelaçou sua mão com a de Laura. Não teriam como sair da base atravessando paredes, mas ao menos o caminho parecia mais limpo, o que era perfeito: Pietro não conseguiria usar sua velocidade corretamente daquele jeito. Entre os alarmes horríveis e um senso de urgência crescente, o mutante conseguiu guiar a menina para fora e foi nesse instante que ele começou a apertar o passo.

As aeronaves estavam perto e já preparadas para a decolagem. Scott estava ainda no chão, lançando rajadas laser dos olhos aos inimigos que aproximassem e, desta forma, abrindo caminho para que o jovem sokoviano pudesse subir a bordo.

Foi o que fez. Pediu para Laura entrar logo, enquanto se esforçava para subir a rampa com o peso de Kitty no colo. A dor na coxa era insuportável e ele gemeu ao mancar na superfície inclinada e trêmula da aeronave. Ao fim, colocando sua colega sentada num dos assentos e transpassando o cinto em seu torso, ele assistiu Wolverine chegar apressado, junto de Ciclope. A abertura traseira do veículo fechou-se imediatamente e Erik Lensherr, que pilotava, virou o corpo, encarando os fundos:

— Todo mundo entrou?

— Já. — Summers disse, andando um punhado de passos para frente. Havia sangue e suor em sua pele do rosto. — Psylocke e Mística foram na outra aeronave, com as crianças. Magneto, troque de lugar comigo. Eles podem usar artilharia antiaérea e não o quero distraído.

Ele concordou em silêncio e levantou-se com o olhar sério, pesado. Provavelmente não tinha gostado de ver o filho ensanguentado e ferido. Pietro também conhecia a expressão do pai quando tateava seu entorno com os poderes magnéticos. Magneto piscou por um momento, apenas sentindo.

Houve um solavanco na aeronave ao decolarem.

Pietro segurou Laura, depois a direcionou até outro assento. O local, no entanto, não estava preparado para seu corpo magro e infantil, de modo que os cintos de segurança pareciam completamente ineficientes para ela. Foram projetados para adultos. Então, além de colocá-la sentada, o velocista a abraçava firme no lado direito, sem nem pensar no sangue respingado na menina ou nele próprio. À sua esquerda, havia Kitty, ainda grogue pelo dardo.

Além da turbulência, vieram os ataques aéreos dos quais Ciclope alertou. Mesmo já voando, talvez a quilômetros de distância da base, Pietro ouviu os alertas de aproximação do sistema inteligente da aeronave, detectando mísseis.

A expressão de Magneto se fechou mais ainda. Parado no meio da aeronave e, utilizando suas habilidades para se manter de pé apesar dos solavancos bruscos,  fez um gesto expansivo, como se abrisse uma larga janela. Parar objetos grandes em movimento requisitava um imenso esforço mental e aquele instante carregava tensão palpável. 

Mais ainda: era possível notar quando Magneto conseguia abater um míssil e deixava-o morrer na gravidade. Bastava prestar atenção em sua respiração, pois ele prendia o ar ao usar os poderes e expirava quando soltava os mísseis. 

Porém isso não trazia alento à Pietro, pois ele notara o movimento da respiração dele diversas vezes, ainda que sobrevoassem um terreno quilômetros depois de onde saíram. Houve mais de uma turbulência devido a explosões próximas até que finalmente… Estivessem sozinhos no céu.

Magneto respirou aliviado e foi se sentar.

Com delicadeza, Pietro afrouxou o aperto em Laura, mas notou que ela o segurava de volta. Estava totalmente diferente da criaturinha selvagem de apenas vinte minutos atrás. Aos poucos, os dois se desenlaçaram e ele achou melhor tentar conversar com a garota:

— Onde você deixou sua história em quadrinhos?

Ela baixou os olhos e apontou para Kitty.

— Tá dobrada no bolso dela.

Ah, ele pensou. Um bolso lateral no traje. Útil, para falar a verdade, e Pietro até tinha também um compartimento e outro na própria roupa. Nunca sabia-se quando iria precisar e aquela ocasião foi bem vinda. Só não iria devolver o objeto agora para a Laura porque ela estava suja de sangue e não era nada respeitoso mexer num bolso que ficava na altura do quadril de Kitty, estando ela um tanto sonolenta ou não.

— Depois a gente vê isso, pode ser?

Laura anuiu com leveza, agora mais calma. Pietro também optou por suspirar e recuperar o fôlego afinal, esticando as pernas e sentindo os músculos arderem. Ouviu Scott falando com Psylocke e Mística pelo sistema de comunicação entre as aeronaves, viu Magneto encostado e de olhos fechados. De repente, paz. A primeira coisa a fazer quando chegasse em casa, ou até mesmo se pousassem antes no Instituto Xavier, seria tomar um longo banho.

Ele apertou de leve o ombro da menina quando a viu distraída, a expressão entre o vazio e a tristeza. Queria fazê-la se sentir um pouco melhor.

— Laura… Aquilo foi irado. — Referia-se ao momento em que ela virou um pequeno demônio com garras. — Estupidamente violento, mas…

Kitty inspirou e disse, quase que imersa num sonho.

— Pietro tem razão. Impressionante.

Foi então que notou Logan Howllet encarando-os do outro lado da nave, sentado no banco oposto. Já tinha tirado a parte pesada e superior do traje, ficando com uma regata branca que usava por baixo. Ele encarou a menina com atenção, buscando nela um traço qualquer de familiaridade. 

— Ei, guria. — Chamou atenção dela com sua voz grave, rouca. — Vem cá.

Ela olhou de soslaio para Pietro, para Kitty ainda desacordada, e depois deu pequeninos passos na direção de Logan, tão ensanguentado quanto ela. A menina sentou-se ao lado dele, quieta e observadora. Lentamente, ele mostrou o trio de garras entre seus dedos, as lâminas longas e afiadas de adamantium.

As narinas de Laura se mexeram um pouco, tal qual um filhote farejando um animal maior de mesma espécie. Um parente, talvez. Em seguida, revelou suas próprias garras em uma das mãos, menores em relação a do homem ao seu lado… E também suas garras nos pés.

Jamais Pietro pensou que veria regozijo genuíno na voz daquele mutante carrancudo, uma risada fácil e franca:

— Pelo visto, não tô sozinho. — Ele passou a mão no topo da cabeça dela, mexendo em seus cabelos pretos. —  E nem você tá.

Como se lessem o pensamento um do outro, Pietro e Erik se entreolharam sérios. Não parecia ser só coincidência, na realidade. Parecia… Aquele estranho e incerto reconhecimento de duas almas próximas, tal qual aconteceu entre o jovem sokoviano e seu pai, dois anos atrás. Mas não era nada que fossem descobrir ainda naquela noite.

Cansado e ferido, Pietro apenas fechou os olhos e apoiou a canela no encosto do assento, deixando o cansaço escorrer do corpo.

* * *

Nenhuma organização do mundo seria capaz de impedir Mercúrio e Magneto, não importasse o quanto estivessem empenhados em neutralizá-los. Transigen foi denunciada e fechada. Ao fim, as crianças estavam a salvo. Aquelas que ainda tivessem pais ou parentes foram devolvidas a seus lares — desde que fosse seguro também — e as outras que não tinham assistência puderam optar pelo Instituto Xavier ou Genosha. 

Pietro particularmente se afeiçoou pela garotinha de doze anos, que adotou o nome de Laura Howlett. Ela era a razão por Logan estar lá, tanto figurativamente quanto literalmente falando: a menina tinha seu DNA, além das garras ferozes nos punhos e pés. Mesmo sem falar muito, seu rosto era expressivo e imitava bem a carranca do mutante canadense, pai dela em termos nada técnicos. E bem, ela pareceu gostar de correr de cavalinho, nas costas de Pietro, em alta velocidade. Pietro prometeu visitá-la no Instituto Xavier, onde ela ficou aos cuidados de Logan, Scott, Emma e Kitty Pryde.

E entre outras atividades na agenda dele, como terapia, xadrez com seu pai e mais missões, ele cumpriu sua promessa. Outro ano escorreu de suas mãos e Pietro continuava a encarar a constelação de Órion, pensando em quando ele e Wanda eram crianças e como tudo agora não podia ser mais diferente do que era, embora seguisse com certa calmaria em sua nova vida.

Até certa noite.

Era 2023, um ano que parecia até fictício para Pietro. Algo de um suposto futuro distante e que de repente estava logo ali, na sua cara e escorrendo pelos dedos. Ele já tinha feito suas corridas habituais por Idílio, tomado banho e também devorado dois sanduíches na cozinha; agora se debruçava na ampla sacada do apartamento. Aliás, pensava o quanto sacada era um nome muito pequeno para aquele pátio imenso, talvez fosse melhor chamar logo de terraço. O fato é que estava apoiado com os cotovelos nas grades, com os cabelos prateados ainda molhados e a barba feita, escutando música nos fones enquanto o cenário vivo abaixo de si se movia lentamente. Veículos. Transeuntes. A primeira linha de metrô em Idílio. 

Pietro não conseguia reclamar muito de sua segunda vida. Em termos materiais, era superior a vida que tinha deixado para trás, mas… A que custo? Seus olhos ainda buscavam sempre a cor escarlate no horizonte, buscavam o tom de verde que só existia nas íris de Wanda. Ele pensava sobre ela, sobre os sonhos estranhos que sempre lhe assombravam, porém que nunca se recordava ao certo. Parecia que ela sussurrava em seus ouvidos, envolta em névoa e sua voz um tom acima de uma multidão distante, presa em outra realidade.

Ele tropeçou em seus devaneios quando a figura de Erik Lensherr surgiu na porta atrás de si. Seu pai disse alguma coisa que não ouviu, o que o obrigou a endireitar a postura e diminuir o volume da música. No fim, por ver o rosto preocupado do pai e ainda não entender o motivo dele aparecer ali tão subitamente, decidiu tirar os fones do ouvido:

— O que foi, pai? — Ele sorriu, mas era de nervoso. Erik, líder na nação mutante é dono da expressão mais severa do hemisfério, agora ansioso? Não parecia bom. — Diga logo, não sou telepata.

— Romanoff acabou de ligar.

— Algum problema?

— Não. — Uma pausa. — Não, pelo contrário. — Ele se aproximou das grades da sacada, apoiou os cotovelos e sorriu para o nada. Pietro somente estreitou os olhos, pois a visão de Erik tão embasbacado e feliz lhe assustava. Será que finalmente tinha admitido seu lance com tia Natalya? —  Aquele miserável conseguiu. Pietro, — Encarou-o diretamente. — Stark inventou uma forma de viajar no tempo. Eles, Rogers, Romanoff, Stark e até aquele guaxinim do espaço, vão recuperar as Jóias do Infinito e trazer todos de volta. Então isso significa que…

O chão abaixo do rapaz pareceu se dissolver. Sua mente fervilhava, eletricidade corria por seus neurônios de lá pra cá em inúmeras hipóteses e contra argumentos desconexos. Havia uma única conclusão que importava:

Wanda. A minha irmã, ela vai…

Ela ia voltar.

— Silêncio, entendeu? — Erik colocou as mãos nos ombros dele, muito sério – embora com os olhos vivos e esperançosos. — Ninguém pode saber até conseguirem. Não queremos dar falsas esperanças para o povo.

— Tá, tá… Mas suponho que eles vão precisar de ajuda nessa história toda.

— Pietro… — Seu pai fechou a expressão. — É perigoso.

Ele apenas virou os olhos, sem conter aquela reação um tanto adolescente. Já tinham tido aquela conversa, ou melhor, aquela briga, e Pietro não era conhecido por sua paciência.

— Eu quero a minha irmã de volta e você também quer. Não me importo com mais nada. — Disse e soube naquele instante que Erik pensavam o mesmo. — E se alguma coisa acontecer, você e Natalya podem só me ressuscitar de novo.

— Pietro! — Censurou-o, depois ficou em silêncio e massageou as próprias têmporas, com os olhos fechados. Era óbvio que estava pensando e parecia se arrepender do que tinha decidido. — Vamos para o Complexo dos Vingadores amanhã de manhã. Sua tia vem nos buscar, então… — Suspirou, agora com as pálpebras  abertas. — Arrume suas coisas e descanse, certo?

Pietro sorriu. Nem sabia ao certo como tudo seria, mas naquele instante só conseguia imaginar que ia buscar a sua irmã em algum lugar, como um aeroporto ou rodoviária, após uma longa viagem. Queria rir, queria gritar, queria correr para circular toda aquela euforia dentro de si e chegar no escritório de Nova York para brigar com Stark até a tal máquina do tempo funcionar. Ao fim, só inspirou fundo e colocou as mãos nos bolsos do agasalho.

— Whisky para comemorar?

Erik sorriu de lado.

— Nós não conseguimos nada ainda, mas… Você sabe onde ficam os copos.


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Notas finais do capítulo

* Nada como uma missão pra trazer os X-Men de volta, né? Saudades deles.

*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela I.M.A. Caso encontre algum erro (seja gramatical ou de continuidade), favor reporte à Shalashaska.